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Intervenção na pessoa idosa: a dependência nos autocuidados deambular/transferir-se

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Intervenção na Pessoa Idosa: A Dependência nos Autocuidados

Deambular/Transferir-se

Estágio e Relatório

Mestrado em Enfermagem Comunitária

Sílvia Raquel Ferreira Rodrigues Calçada

Orientador

Mestre Catarina Renata Moura Chaves Ribeiro

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Intervenção na Pessoa Idosa: A Dependência nos Autocuidados

Deambular/Transferir-se

Estágio e Relatório

Mestrado em Enfermagem Comunitária

Sílvia Raquel Ferreira Rodrigues Calçada

Orientador

Mestre Catarina Renata Moura Chaves Ribeiro

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Este trabalho foi expressamente elaborado como Estágio e Relatório original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Comunitária, sendo apresentado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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“Saber envelhecer é a obra-prima da sabedoria e uma das partes mais difíceis da grande arte de viver”.

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Dedico este relatório à minha família, especialmente aos meus filhos, Catarina Raquel e Octávio Afonso, por eles, ultrapassei obstáculos e encontrei perseverança para prosseguir e terminar esta longa caminhada.

Quero ainda dedicar este relatório ao meu marido, António Calçada, não só pela motivação constante mas acima de tudo pela amizade, testemunho e dedicação incondicionais.

Aos meus pais, Marcial e Helena, por terem contribuído para a minha educação, formação do meu carácter e personalidade. Empregaram o seu tempo a educar os meus filhos…

Finalmente, gostaria ainda de contemplar nesta dedicatória todas as mulheres, que prosseguem a sua investigação e atualização profissional, ao mesmo tempo que são mães, esposas e que continuam a exercer a sua atividade profissional. Elas são o testemunho de que é possível ultrapassar dificuldades para alcançar as metas estabelecidas.

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A

GRADECIMENTOS

Endereçamos palavras de sincera e profunda gratidão:

Gostaríamos de expressar o nosso reconhecimento e gratidão, primeiramente à Professora Catarina Ribeiro, orientadora deste trabalho, pela disponibilidade, incentivo e sugestões apresentadas, ao longo de todo este processo de investigação.

Ao Professor Doutor Amâncio Carvalho, pela disponibilidade, partilha do seu saber e paciência ao longo desta caminhada.

Agradeço a colaboração de várias instituições que, permitiram a realização deste projeto de intervenção: Unidade de Cuidados na Comunidade de Ribeira de Pena – Agrupamento de Centros de Saúde do Alto de Trás-os-Montes II - Alto Tâmega e Barroso, Junta de Freguesia de Alvadia, Escola Superior de Enfermagem de Vila Real – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, pela resposta afirmativa e imediata à realização deste trabalho.

Agradecemos ainda o apoio e a colaboração de todas as pessoas que direta ou indiretamente colaboraram neste projecto de intervenção, nomeadamente no fornecimento de bibliografia, na seleção da população alvo, na recolha de dados, implementação do instrumento, execução do projecto de intervenção e elaboração deste documento, querendo salientar quatro pessoas em particular, a Senhora Enfermeira Chefe, Isabel Luísa Ferreira, pelo incentivo inicial e final, que nos momentos difíceis conseguiu mostrar-nos que era possível ultrapassar todas as adversidades, à D. Teresa Carvalho, pela força constante, apoio emocional e organização deste relatório de forma a estar “perfeito” e, por último, à Nélia Lousada e à Joana Costa, colegas de trabalho e do Mestrado de Enfermagem Comunitária, pelos momentos e experiências partilhadas e pelo incentivo no decorrer de toda esta jornada.

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R

ESUMO

O envelhecimento da população representa um dos fenómenos demográficos mais preocupantes das sociedades modernas do século XXI. Este fenómeno tem marcadamente reflexos de âmbito socioeconómico, com impacto no desenho das políticas sociais e de sustentabilidade, bem como alterações de índole individual através da adoção de novos estilos de vida (Instituto Nacional de Estatística, 2012).

A importância do impacto do envelhecimento demográfico nas alterações no padrão epidemiológico, na estrutura e comportamentos sociais e familiares da sociedade portuguesa, tem determinado novas necessidades em saúde, para as quais urge organizar respostas mais adequadas. O envelhecimento populacional envolve não apenas o aumento do tempo de vida médio do indivíduo, mas também a capacidade reprodutiva da população, ou seja, há o aumento da proporção de pessoas com idade avançada na população às custas da diminuição de jovens nesta mesma população. Tal impacto constitui um desafio que pode potenciar crise e vulnerabilidade, mas também oportunidades para repensar as necessidades em saúde, levando-nos, neste trabalho, a prosseguir vários objetivos: determinar o grau de dependência dos idosos com 65 ou mais anos nas atividades de vida diária (com maior relevância na atividade transferência cadeira-cama e deambulação), a residir na freguesia de Alvadia, que se encontram inscritos no Centro de Saúde de Ribeira de Pena e responder aos problemas de saúde identificados e definidos como prioritários nesta população.

Este foi o ponto de partida para o desenvolvimento de um estudo do tipo transversal, de natureza descritiva, com base no método quantitativo, com a finalidade de aprofundar o conhecimento sobre a determinação do grau de dependência bem como alguns aspetos inerentes à sua saúde que consideramos pertinentes. Para a recolha de dados procedeu-se à implementação de um formulário, que cada idoso respondeu no seu domicílio.

Os resultados principais apontam que dos 71 idosos, 53,5% são do sexo feminino e 46,5% do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 65 e os 98 anos. Do total de idosos 26 referiram nunca terem recorrido ao centro de saúde para consultas com o enfermeiro de família, enquanto que para consultas médicas, apenas 4 nunca frequentaram. Após aplicação do Índice de Barthel, pode concluir-se que existe 1 idoso totalmente dependente, 1 moderadamente dependente, 3 ligeiramente dependentes e 66 são independentes.

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xii

No âmbito do programa de intervenção foi então concebido o projeto: “Mexa-se pela sua Saúde”, implementado e avaliado, visando a promoção da opção informada, desenvolvimento de competências na gestão dos processos de saúde/doença, através de sessões de educação para a saúde, dotando o idoso para a prática do exercício físico, alimentação saudável, prevenção de quedas, prevenção de doenças cardiovasculares e de visão. Durante as 4 sessões de educação para a saúde, frequentaram um total de 37 idosos de uma população de 71 idosos.

Foi realizada uma avaliação retrospetiva, através da implementação de um questionário. O projeto de intervenção foi avaliado pelos idosos como positivo e inovador, apreciaram de forma enriquecedora as atividades implementadas mas também por nunca ter sido desenvolvido nada deste género na freguesia.

Concluindo, após a avaliação do grau de dependência observou-se que a população em questão era maioritariamente independente para a realização das suas atividades de vida diária, o que propiciou a implementação do projeto de intervenção acima mencionado.

Palavras-chave: Enfermagem Comunitária; Intervenção; Idosos; Atividade Física; Educação para a Saúde.

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A

BSTRACT

The aging of the population represents one of the most worrying phenomenons of modern societies of the 21st century. This phenomenon has noticeably reflections on a social economical extent, with an impact on the social and sustainability politics, as well as individual nature changes through the adoption of new lifestyles (National Institute of Statistics, 2012).

The importance of the impact of demographical aging in the changes of epidemiological pattern, on the social and familiar structure and behaviours of the Portuguese society, has determined new health needs, to which more adequate answers should be urgently organized. The population aging involves not only the increase of the individual average life time, but also the reproductive ability of the population, this is, there is the increase of the proportion of the elderly people in the population meanwhile the decrease of youngsters in this same population. Such an impact consists in a challenge that may lead to crisis and vulnerability, but also opportunities to rethink the health needs, taking them, in this work, to proceed several goals: to determine the degree of dependence of the elderly with 65 or more years old in the daily life activities (with a bigger emphasis on the transference chair-bed and ambulation), living in the small village of Alvadia, that are registered in the Health Center of Ribeira de Pena and to answer to the health problems identified and defined as priorities in this population.

This was the basis to the development of a study of transversal type, of a descriptive nature, based on the quantitative method, with the goal of deepen the knowledge on the determination of the level of dependency as well as some aspects related to their health that we considered relevant. To the data collecting we applied a form that each elderly answered in their house.

The main results of the situation diagnosis show that of the 71 elderly, 53,5% are feminine sex and 46,5% are masculine sex, between 65 and 98 years old. From the total elderly, 26 mentioned that they had never gone to the Health Service to appointments with the family nurse; meanwhile to medical appointments only 4 had never attended them. After applying the Barthel Index, we may conclude that there is 1 old person totally dependent, 1 moderately dependent, 3 slightly dependent and 66 old people are independent.

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xiv

On the extent of the intervention programme the project was then conceived. “Move yourself for your health”, implemented and evaluated, with the purpose of promoting the informed option, skills development on the management of the processes of health/ disease, through education sessions to health, providing the elderly to the practice of physical exercise , healthy eating, fall prevention, prevention of cardiovascular and vision diseases. The 4 sessions of education to health were attended by a total of 37 elderly people from a total population of 71 elderly.

It was made a retrospective evaluation, through the implementation of a questionnaire. The project was evaluated by the elderly as positive and innovative. They appreciated on a rewarding way not only the implemented activities but also because anything of this type had been developed in the small village.

In conclusion, after the evaluation of the level of dependency, we checked that the mentioned population was mainly independent on performing their daily life activities what made possible the implementation of the above mentioned project.

Keywords: Community Nursing; Intervention; Elderly; Physical Activity; Education to Health.

(17)

Í

NDICE PENSAMENTO ... v DEDICATÓRIA ... vii AGRADECIMENTOS ... ix RESUMO ... xi ABSTRACT... xiii

ÍNDICE DE FIGURAS ... xvii

ÍNDICE DE TABELAS ... xix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS... xxi

INTRODUÇÃO ... 1

1. ADEPENDÊNCIA NOS AUTOCUIDADOS (DEAMBULAR E TRANSFERIR-SE) NA POPULAÇÃO IDOSA ... 5

1.1. O fenómeno do envelhecimento ... 5

1.1.1. Teorias do envelhecimento ... 8

1.1.2. Índices de envelhecimento e dependência ... 12

1.2. Envelhecimento e capacidade funcional ... 16

1.2.1. Autocuidados nas atividades de vida diária ... 21

1.2.2. Deambulação e transferência na idade avançada ... 23

2.METODOLOGIA ... 29

2.1. Metodologia do planeamento em saúde... 30

2.2. População alvo ... 42

2.3. Instrumento de recolha de dados ... 42

2.4. Procedimento de recolha de dados ... 43

2.5. Tratamento de dados ... 43

3. PLANEAMENTO EM SAÚDE DEPENDÊNCIA DOS IDOSOS NOS AUTOCUIDADOS DEAMBULAR E TRANSFERIR-SE ... 45

3.1. Diagnóstico de situação da população idosa de Alvadia ... 45

3.1.1. Caracterização da comunidade populacional do concelho de Ribeira de Pena ... 45

3.1.2. Caracterização sociodemográfica da população da freguesia de Alvadia ... 50

3.1.3. Apresentação e discussão dos resultados do diagnóstico de situação ... 54

3.2. Determinação de prioridades ... 61

3.3. Fixação de objetivos ... 63

3.4. Seleção das estratégias ... 65

(18)

xvi

3.6. Projeto de intervenção: “Mexa-se pela sua Saúde” ... 67

3.7. Avaliação do projeto de intervenção ... 83

4. OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ... 87

4.1. Atividades desenvolvidas na Unidade de Saúde Pública ... 87

4.2. Atividades desenvolvidas na Unidade de Cuidados na Comunidade ... 89

4.2.1. Programa Nacional de Saúde Escolar – Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral ... 90

5.CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 99

APÊNDICES ... 105

Apêndice A - Formulário do Diagnóstico de Situação ... 107

Apêndice B - Consentimento Informado Livre e Esclarecido ... 115

Apêndice C - Planos do Projeto de Intervenção: “Mexa-se pela sua Saúde” ... 119

Apêndice D - Cartazes para promover as sessões do Projeto de Intervenção: “Mexa-se pela sua Saúde” ... 125

Apêndice E - Apresentação de Diapositivos 1ª sessão - Dia Internacional da Pessoa Idosa ... 131

Apêndice F - Fotografias da 1ª sessão - Dia Internacional da Pessoa Idosa ... 137

Apêndice G - Fotografia da Newsletter da Secção Regional do Norte – Ordem dos Enfermeiros ... 143

Apêndice H - Fotografias da 2ª sessão - Rastreio Visual e Exercício Físico ... 147

Apêndice I - Apresentação de diapositivos da 2ª sessão - Rastreio Visual e Exercício Físico... 151

Apêndice J - Apresentação de diapositivos da 3ª sessão - Alimentação Saudável e Exercício Físico ... 159

Apêndice K - Apresentação de diapositivos da 4ª sessão - Prevenção de Quedas e Exercício Físico ... 169

Apêndice L - Questionários de Avaliação do Projeto de Intervenção: “Mexa-se pela sua Saúde” ... 181

Apêndice M - Plano de sessão: “O Reino dos Dentes e das Cáries” ... 185

Apêndice N - História: “O Reino dos Dentes e das Cáries” ... 189

(19)

Í

NDICE DE FIGURAS

Figura 1. Determinantes do envelhecimento ativo ... 7

Figura 2. Índice de dependência de idosos, por freguesia, no concelho de Ribeira de Pena em 2011 ... 15

Figura 3. Tipo de dificuldade na realização das atividades da população com 65 ou mais anos, 2011 ... 26

Figura 4. Etapas do planeamento em saúde ... 32

Figura 5. Interação de múltiplas determinantes de saúde ... 34

Figura 6. População residente em 1991/2001/2011, por sexo ... 51

Figura 7. Evolução da estrutura etária da população entre 1991 e 2001 ... 52

Figura 8. Grau de dependência - Índice de Barthel ... 56

Figura 9. Comemoração do dia Internacional da Pessoa Idosa, UCC de Ribeira de Pena ... 73

Figura 10. Escala Optométrica de figuras, Tavola Ottometrica decimale per Bambini ... 74

Figura 11. Roda dos alimentos portuguesa ... 79

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Í

NDICE DE TABELAS

Tabela 1. Índice de envelhecimento no concelho de Ribeira de Pena em 2011 ... 14

Tabela 2. Índice de envelhecimento, por freguesia, no concelho de Ribeira de Pena em 2011 ... 14

Tabela 3. Índice de dependência de idosos no concelho de Ribeira de Pena em 2011 ... 15

Tabela 4. Grau de dificuldade na realização das atividades diárias ... 24

Tabela 5. População presente, por freguesia, no concelho de Ribeira de Pena em 2001 ... 47

Tabela 6. População presente, por freguesia, no concelho de Ribeira de Pena em 2011 ... 47

Tabela 7. População, por faixa etária, no concelho de Ribeira de Pena em 2001 ... 48

Tabela 8. População residente no concelho de Ribeira de Pena, por grupo etário e sexo, em 2011 . 48 Tabela 9. População residente em 2001 e 2011, segundo o grupo etário e sua evolução entre 2001 e 2011 ... 50

Tabela 10. População residente – Analfabetismo em 1991 e 2001 ... 53

Tabela 11. População residente segundo o nível de instrução em 1991 e 2001 ... 54

Tabela 12. Grau de dependência na deambulação ... 57

Tabela 13. Grau de dependência na transferência cadeira-cama ... 57

Tabela 14. Distribuição por grupo etário em função do Índice de Barthel (transferência cadeira-cama) ... 58

Tabela 15. Distribuição por grupo etário em função do Índice de Barthel (deambulação) ... 58

Tabela 16. Distribuição por sexo em função do Índice de Barthel (transferência cadeira-cama) ... 59

Tabela 17. Distribuição por sexo em função do Índice de Barthel (deambulação) ... 59

Tabela 18. Distribuição da presença de barreiras arquitetónicas em função do Índice de Barthel (transferência cadeira-cama) ... 60

Tabela 19. Distribuição da presença de prestadores de cuidados informais em função do Índice de Barthel (deambulação) ... 60

Tabela 20. Cronograma de atividades ... 67

Tabela 21. Distribuição dos resultados do IMC ... 70

Tabela 22. Resultado do rastreio visual ... 74

Tabela 23. Distribuição dos resultados relativos à perceção sobre a visão ... 75

Tabela 24. Distribuição dos resultados em função da consulta de oftalmologia ... 75

Tabela 25. Distribuição dos resultados relativos à perceção de segurança de problemas relacionados com a visão ... 76

Tabela 26. Distribuição dos resultados relativos à perceção sobre a limitação para a realização das atividades diárias ... 76

Tabela 27. Distribuição dos resultados relativos à perceção sobre a necessidade de ajuda para realizar as AVD ... 76

(22)

xx

Tabela 28. Distribuição dos resultados em função da avaliação da saúde ... 84 Tabela 29. Distribuição dos resultados em função do estado de saúde atual (comparação com a

(23)

L

ISTA DE

A

BREVIATURAS E

S

IGLAS

ACES - Agrupamento de Centros de Saúde ADN - Ácido Desoxirribonucleico

AIVD - Atividades Instrumentais de Vida Diária AIVQ - Atividades Instrumentais de Vida Quotidiana AVD - Atividades de Vida Diária

CERN - Conselho de Enfermagem Regional da Secção Regional do Norte CIE - Conselho Internacional de Enfermeiras

CIF - Classificação Internacional da Funcionalidade

CIPE - Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem CS - Centro de Saúde

DGS - Direção Geral da Saúde

EBR‟s - Estabelecimentos de Bebidas e Restauração

EEEC - Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária Enfª - Enfermeira

Enfº - Enfermeiro hab. - habitantes

IMC - Índice de Massa Corporal INE - Instituto Nacional de Estatística

IPSS - Instituições Particulares de Solidariedade Social Kg - quilograma

Km2 - Quilómetro quadrado m2 - metro quadrado

MEC - Mestrado em Enfermagem Comunitária MGFamiliar - Medicina Geral e Familiar NUT III - Unidades Territoriais Estatísticas III OMS - Organização Mundial de Saúde

p. - página

PASSE - Programa de Alimentação Saudável em Saúde Escolar PELT - Programa Escolas Livres de Tabaco

PNPSO - Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral PNSE - Programa Nacional de Saúde Escolar

SNS - Serviço Nacional de Saúde

SPSS - Statistical Package for the Social Science UCC - Unidade de Cuidados na Comunidade

(24)

xxii UCSP - Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados USP - Unidade de Saúde Pública

UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

(25)

I

NTRODUÇÃO

O Estágio é um espaço e tempo, por excelência, para o desenvolvimento de competências cognitivas, instrumentais, de relação interpessoal e crítico-reflexivas. É igualmente um período em que se gera inquietação quando nos deparamos com realidades distintas da nossa experiência profissional. A abrangência dos cuidados faz antever a oportunidade de mobilizar para a prática os conhecimentos teóricos apreendidos na componente teórica do Mestrado em Enfermagem Comunitária (MEC), bem como os que advêm da nossa atividade profissional e experiências pessoais e académicas. Por outro lado, esta abrangência estimula o nosso desejo de aprendizagem e evolução pessoal e profissional e, certamente, favorece o percurso de desenvolvimento de competências especializadas, primordiais para alcançar o propósito de excelência profissional e os objetivos do referido curso.

Segundo Teixeira (1991), um relatório consiste na “descrição de factos passados analisados com o objectivo de orientar o serviço interessado, ou o supervisor hierárquico imediato, para determinada acção” (p.12), isto é, reporta-se ao produto final de um trabalho, que descreve de forma clara e numa sequência lógica, os passos dados para alcançar determinados objetivos, num determinado local e espaço de tempo pré determinado.

A enfermagem é, cada vez mais, uma profissão dinâmica na procura de uma melhoria contínua, tornando-se indispensável a elaboração de trabalhos científicos entre os quais se encontram os relatórios. Do enfermeiro especialista espera-se que possua e demonstre não só conhecimento científico, técnico e relacional, baseado na experiência, mas também um olhar crítico e reflexivo sobre as situações que se lhe deparam. É baseado nestes pressupostos que se insere a aquisição e desenvolvimento de competências inerentes ao grau de Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária (EEEC), competências estas que nos permitem exercer de forma mais autónoma, aperfeiçoar a prática diária e adaptar a um ambiente em constante transformação e evolução, quer a nível científico quer técnico. Uma vez que nos encontrámos num percurso de aprendizagem avançado, consideramos fundamental adotar uma postura ainda mais ativa e assertiva no que concerne à responsabilização pelo nosso

(26)

Introdução

2

processo de aprendizagem. Neste sentido, iremos refletir e analisar de forma crítica todo o conjunto de atividades desenvolvidas, tendo por base os objetivos inicialmente traçados.

O relatório final de estágio é elaborado no âmbito da Unidade Curricular Estágio e Relatório/ Dissertação de natureza aplicada, inserida no MEC, da Escola Superior de Enfermagem de Vila Real - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que decorreu no período de 10 de setembro a 21 de dezembro de 2012, na Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) de Ribeira de Pena e Unidade de Saúde Pública (USP) do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Alto Trás-os-Montes II - Alto Tâmega e Barroso (Chaves).

Nesta fase, foram desenvolvidas atividades inerentes ao conteúdo funcional da categoria de Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública, delineadas pela Ordem dos Enfermeiros, de acordo com o estabelecido no Regulamento nº 128/2011, de 18 de fevereiro de 2011.

No ingresso de qualquer curso, impõe-se a necessidade de pôr em prática os conhecimentos adquiridos nas temáticas lecionadas em sala de aula, daí reconhecermos ser imprescindível a realização de um estágio na área de intervenção, pois é de extrema importância estudar um fenómeno e tirar conclusões sobre o mesmo, mas também é fundamental a intervenção para solucionar uma problemática analisada, o que nos levou para a realização do planeamento em saúde. Realizar este relatório legar-nos-á uma panóplia de conhecimentos e também experiência, que facilitará trabalhos realizados futuramente.

O estágio na área de saúde comunitária tem como objetivo maioritário dar continuidade à aplicação da metodologia do Planeamento em Saúde, iniciada no estágio precedente. O Planeamento em Saúde requer o estudo de uma problemática sentida pela comunidade, que necessite ser investigada. A problemática existente no concelho de Ribeira de Pena, onde realizamos o estágio está relacionada com o grau de dependência da população com 65 anos ou mais, nas atividades de vida diária (AVD), principalmente na atividade transferir-se e deambular. Este planeamento foi implementado na área de abrangência do Centro de Saúde (CS) de Ribeira de Pena, freguesia de Alvadia, a toda a população idosa ali inscrita.

A necessidade de planear, decorre da carência dos recursos disponíveis na comunidade e das múltiplas necessidades das populações. Neste contexto, mais do que cumprir uma tarefa académica, constitui um instrumento de avaliação, pois este trabalho pretende dar resposta a

(27)

Introdução

uma necessidade sentida pelo CS de Ribeira de Pena, de forma a permitir a operacionalidade do planeamento em saúde de acordo com as necessidades identificadas.

A UCC de Ribeira de Pena está situada no CS de Ribeira de Pena, freguesia do Salvador, e surgiu em resposta às necessidades da população residente. A coordenadora da equipa é a Enfª Chefe, Isabel Luísa da Cunha Ferreira. Este CS beneficia de duas unidades funcionais, a UCC e a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), que engloba duas unidades, a da sede e a Extensão de Saúde de Cerva. Abrange a população das freguesias de Salvador, Cerva, Santa Marinha, Alvadia, Santo Aleixo de Além Tâmega, Limões e Canedo.

Este CS está incluído no ACES do Alto Trás-os-Montes II – Alto Tâmega e Barroso, onde estão integrados também os CS de Montalegre, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar, Chaves e Boticas. É neste CS que se procede à esterilização e lavagem de todos os equipamentos e roupas dos CS do ACES do Alto Trás-os-Montes II – Alto Tâmega e Barroso.

Assim, neste trabalho ambicionamos:

 Analisar os objetivos de estágio estabelecidos;

 Relacionar as competências científicas, técnicas e humanas inerentes às funções de Enfermeiro Especialista de Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública, com as atividades desenvolvidas que dão resposta às unidades de competências;

 Apresentar o Planeamento em Saúde desenvolvido em estágio;

 Relacionar as atividades desenvolvidas no decorrer do Planeamento em Saúde, com as competências exigidas para a aquisição do grau de mestre em Enfermagem Comunitária;

 Conceber um documento de consulta e avaliação;

 Dar resposta a uma exigência do plano de estudos.

Com o intuito de concretizar estes propósitos, realizamos um trabalho constituído por cinco capítulos. No capítulo 1, intitulado “Enquadramento teórico”, procedemos a uma abordagem teórica sobre o envelhecimento demográfico, as alterações no padrão epidemiológico, capacidade funcional no envelhecimento e autocuidados na deambulação/transferir, que vêm determinar novas necessidades de saúde para as quais é fundamental encontrar respostas mais adequadas.

(28)

Introdução

4

Por sua vez, no sentido de conhecermos o contexto metodológico, no capítulo 2 intitulado “Metodologia”, salientamos a importância de se adoptar uma estratégia metodológica adequada para cada contexto em saúde, pelo que elegemos o método exploratório descritivo com recurso a pesquisa bibliográfica, orientação pedagógica, assim como conhecimentos adquiridos na experiência pessoal, profissional e na formação pós-graduada.

Considerando de uma forma mais exaustiva cada capítulo, podemos referir que, no capítulo 3 “Planeamento em saúde”, definimos, caracterizamos e delimitamos as noções de cada etapa do planeamento. Pensamos que este capítulo se reveste de uma grande importância, uma vez que nos permitiu rentabilizar todos os conhecimentos obtidos acerca do planeamento em saúde. Desta forma, pudemos contribuir para clarificar as fases deste processo tão pertinente nos dias de hoje. Estas fases passam pela elaboração do diagnóstico de situação, onde se delimitam objetivos, estabelecem prioridades e prevêem os recursos existentes conducentes a um plano de intervenção eficaz para solucionar os problemas identificados, para assim se desenvolver um conjunto de atividades que, neste caso, resultou no projeto de intervenção “Mexa-se pela sua saúde” na população de idosos da freguesia de Alvadia, concelho de Ribeira de Pena. A população do CS de Ribeira de Pena (sede e extensão de saúde de Cerva), corresponde à área de 223 Km2 distribuída por 7 freguesias e 102 povoações de zona rural, tendencialmente envelhecida, com grande dispersão geográfica e deficitárias ou inexistentes redes de transportes públicos. No final de 2012, encontram-se inscritos no CS de Ribeira de Pena, 6461 indivíduos, distribuídos pela sede e extensão de saúde de Cerva, respetivamente 3821 e 2640. Aqui, prestam-se serviços de cuidados de saúde diversificados com pessoal especializado para o desempenho de cuidados de excelência.

Por ser também importante para este relatório, decidiu-se acrescentar mais um capítulo, o 4º, intitulado “Outras atividades desenvolvidas”, onde se faz referência a todas as atividades que desenvolvemos, colaboramos, participamos e assistimos.

Por último, surge o 5º capítulo, a conclusão, com apresentação das considerações finais, resultados mais relevantes, competências desenvolvidas do enfermeiro especialista, contributo da intervenção comunitária para os ganhos obtidos em saúde, bem como sugestões futuras.

Para elaboração deste trabalho, foi seguido o guia de elaboração de trabalhos escritos e as normas regulamentares de elaboração de estágio e relatório do MEC em vigor na instituição.

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1.

A

D

EPENDÊNCIA NOS

A

UTOCUIDADOS

(D

EAMBULAR E

T

RANSFERIR

-

SE

)

NA

P

OPULAÇÃO

I

DOSA

Neste capítulo, abordam-se temáticas relacionadas com a pessoa com idade avançada, que nos remetem para a necessidade de se conhecer com mais minúcia para melhor se intervir. Nos subcapítulos que se seguem damos relevância a alguns temas relacionados com a pessoa idosa, a fim de se entender a tendência da nossa população para o envelhecimento e subsequentemente para a dependência física, que leva a necessidades de apoio de terceiros para a sua subsistência durante esta fase do ciclo de vida, por vezes difícil.

1.1. O fenómeno do envelhecimento

O envelhecimento da população na Europa, em geral, e em Portugal, em particular, constitui uma questão cada vez mais central, assumindo reflexos, consequências e implicações num espetro cada vez mais amplo e diverso de dimensões da vida social. Segundo Costa (1999), a pessoa começa a envelhecer desde o dia em que nasce, os marcos da velhice são o passar inexorável do tempo, qual areia que forma a duna, qual vento que fere a rocha ou qual linha que se perde no horizonte. De acordo com Moniz (2003), a conceção da pessoa idosa resulta da fixação de uma idade cronológica que são os 65 anos.

O envelhecimento humano é definido como um processo natural, irreversível, atinge todo o ser humano e provoca perda estrutural e funcional progressiva no organismo. O processo de envelhecimento traz consigo várias alterações fisiológicas, como progressiva atrofia muscular, fraqueza funcional, descalcificação óssea, aumento da espessura da parede dos vasos, aumento do nível de gordura, diminuição da capacidade coordenativa, entre outras. Problemas estes que, na sua maioria, têm os seus efeitos minimizados pela assimilação de um estilo de vida ativo. Ribeiro e Paúl (2011), revelam que “um envelhecimento „bem-sucedido‟, „satisfatório‟ ou „activo‟ não depende exclusivamente de factores como a sorte ou o património genético. Depende de cada um, das acções e responsabilidades individuais” (p.1).

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A dependência nos autocuidados (deambular e transferir-se) na população idosa

6

Alguns autores remetem-nos para a importância do idoso viver o máximo de tempo com a qualidade necessária:

…os idosos de hoje vivem mais tempo, mas é premente que vivam em qualidade, integrados na sociedade e na família, com garantias de meios de subsistência e apoios necessários. Ou seja, é necessário „dar vida‟ aos anos e não apenas anos à vida. A medicina não pode fazer tudo sozinha, a maior fatia de responsabilidade está na própria pessoa. (Carvalho & Mota, 2012, p.71)

O envelhecimento humano trás modificações fisiológicas que têm efeitos sobreponíveis, que se constroem de uma forma crescente, sendo irreversíveis e finalmente nocivos para todos os humanos. O processo de envelhecimento é um fenómeno natural e universal, ao contrário da doença. As alterações causadas pelo envelhecimento desenvolvem-se em cada pessoa a ritmos diferentes, dependendo de fatores externos, como o estilo de vida, as atividades e o ambiente, e de fatores internos, como a carga genética e o estado de saúde (Berger, 1995).

Para Cabete (2005), quanto mais tempo vivemos mais probabilidade temos de ter uma doença e mais tempo levamos a acionar os mecanismos internos de adaptação.

Ermida (1999), defende que existe um envelhecimento biológico, expresso pelas alterações estruturais e funcionais que ocorrem no organismo e que nem sempre coincidem com o envelhecimento cronológico medido pelo calendário. Acrescenta ainda que o envelhecimento é um processo contínuo, trazendo consigo a diminuição física, mental e social, consequência das alterações estruturais e funcionais que experimenta o corpo e a mente, que embora não possam ser evitadas, podem ser minimizadas e proteladas.

Já para Cordeiro (1999), como refere Gomes (2011), o envelhecimento tem três componentes:

i) o processo de envelhecimento biológico, que resulta da vulnerabilidade crescente e de uma

maior probabilidade de morrer, a que se chama senescência; ii) um envelhecimento social, relativo aos papéis sociais apropriados às expectativas da sociedade para este nível etário; iii) o envelhecimento psicológico, definido pela autorregulação do indivíduo no campo de forças, pelo tomar decisões e opções, adaptando-se ao processo de senescência e envelhecimento. Ou seja, o crescimento e o envelhecimento nunca são o produto exclusivo de um único conjunto de determinantes, mas a consequência da nossa base filogenética, a nossa hereditariedade única, o meio físico e social, no qual estas predisposições genéticas se exprimem e, no caso do homem, ainda o efeito do pensamento e escolha.

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A forma como se envelhece e a maior ou menor valorização dada a esse processo depende mais das sociedades humanas do que da natureza. Consoante as épocas e as culturas e, consequentemente, consoante os modos de vida e os meios científicos, médicos e tecnológicos, assim varia o modo como envelhecemos (Pimentel, 2001).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) avançou, em 2005, com um novo conceito, o de Envelhecimento Ativo, que surge na sequência do envelhecimento saudável preconizado até então, e que pretendia ser mais abrangente, estendendo-se, para além da saúde, a aspetos socioeconómicos, psicológicos e ambientais, integrados num modelo multidimensional que explica os resultados do envelhecimento (Ribeiro & Paúl, 2011).

Este modelo depende de uma diversidade de fatores designados determinantes (Figura 1), que são de ordem pessoal (fatores biológicos, genéticos e psicológicos), comportamental (estilos de vida saudável e participação ativa no cuidado da própria saúde), económica (rendimentos, proteção social, oportunidades de trabalho digno), meio físico (acessibilidade a serviços de transporte, moradias e vizinhança seguras e apropriadas, água limpa, ar puro e alimentos seguros), sociais (apoio social, educação e alfabetização, prevenção de violência e abuso), e ainda relativos aos serviços sociais e de saúde de que as pessoas beneficiam (orientados para a promoção da saúde e prevenção de doenças, acessíveis e de qualidade), (Ribeiro & Paúl, 2011).

Figura 1. Determinantes do envelhecimento ativo (OMS, 2005) SERVIÇOS SOCIAIS E DE SAÚDE DETERMINANTES ECONÓMICOS DETERMINANTES SOCIAIS DETERMINANTES COMPORTAMENTAIS AMBIENTE FÍSICO DETERMINANTES PESSOAIS GÉNERO ENVELHECIMENTO ATIVO CULTURA

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Compreender o envelhecimento como um processo dinâmico, conduz necessariamente a uma mudança de atitudes em relação às pessoas idosas e permite aos enfermeiros elaborar ações específicas direcionadas a estas pessoas (Moniz, 2003).

Assim, como podemos depreender da análise dos autores anteriormente considerados, o envelhecimento da população em Portugal reconhece-se como uma questão cada vez mais central na prestação de cuidados de saúde primários. Nesta linha de análise, e com base nestes pressupostos, procedemos a uma reflexão sobre as teorias do envelhecimento.

1.1.1. Teorias do envelhecimento

Durante séculos, o envelhecimento humano constituiu-se como um mistério que preocupava as pessoas, principalmente aquelas que tinham a esperança de atingir a juventude eterna e que procuravam descobrir a chave para a imortalidade. Com efeito, ao longo da história são várias as descrições, como a famosa fonte Ponce de Léon, fonte da juventude. As antigas relíquias egípcias e chinesas, os regimes dietéticos especiais, destinados a prolongar a vida ou a atingir a imortalidade, são outros exemplos dessa procura. Contudo, dificilmente existirá o elixir da juventude ou o gene que controla o envelhecimento ou o tratamento rejuvenescedor (Jeckel-Neto & Cunha, 2006).

O processo de envelhecimento físico é gradual, caracterizado por um conjunto de fatores biológicos específicos de cada indivíduo, com efeitos cumulativos que atingem progressivamente todos os órgãos e sistemas do organismo. A este propósito, Antunes e Guimarães (1998) reforçam que:

O ser humano não envelhece de uma vez só, mas antes de uma forma gradual, e a velhice parece instalar-se sem que se dê por isso. No processo de envelhecimento são atingidos todos os sistemas importantes do organismo, e o efeito dessas mudanças nos contextos ambientais específicos modificam os comportamentos individuais. Trata-se de processos normais, e não sinais de doença (p. 23).

Quanto às teorias psicossociais, Mailloux-Poirier (1995), Birchfield (1999) e Eliopoulos (2005), consideram-nas de primordial importância, pois enfatizam os aspetos psíquicos, sociais e os fatores culturais, ajudando à compreensão global e abrangente do processo de envelhecimento e a enquadrá-lo na interação entre a pessoa e o ambiente que a envolve.

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As teorias do envelhecimento oferecem, assim, a estrutura concetual à compreensão dos fatores que podem influenciar, quer positivamente quer negativamente, a saúde e o bem-estar das pessoas idosas. Ninguém envelhece de uma forma idêntica, mas segundo Eliopoulos (2005), existem várias teorias que podem explicar o envelhecimento, e que passamos a descrever.

A) Teorias gerais do envelhecimento biológico

As teorias biológicas pretendem explicar que o processo de envelhecimento biológico é diferente de um ser humano para outro e de uma espécie para outra espécie. Segundo Eliopoulos (2005), estas teorias defendem que todo o organismo multicelular dispõe de um tempo limite de vida, em que as probabilidades de sobreviver vão sendo cada vez menores à medida que a idade avança. Como resultado do envelhecimento, advêm alterações moleculares e celulares que culminam em perdas funcionais progressivas dos órgãos e do organismo, com muitos fatores responsáveis, como se pode observar nas teorias a seguir.

Teoria Imunitária – Alterações na capacidade de resposta imunológica têm como

consequência uma menor resistência à infeção e à doença, é o que esta teoria defende para explicar o processo de envelhecimento.

A base da imunologia é o reconhecimento de uma substância estranha realizado através das células. Estas, responsáveis pela resposta imunitária, devem não só reconhecer o que é específico de um organismo, isto é, as suas componentes normais (o eu), mas também identificar as macromoléculas do invasor (não eu) estranhas a esse organismo (Mailloux-Poirier, 1995). Num organismo envelhecido, o sistema imunitário parece deixar de distinguir o “eu” do “não eu”, neste caso o sistema imunitário ataca certas partes do corpo como que fossem agentes invasores, desenvolvendo estratégias de ataque.

Teoria Genética – Fundamenta a importância que o programa genético herdado determina na

expectativa de vida específica da pessoa. As mutações e a deterioração da informação genética, mais especificamente do ácido desoxirribonucleico (ADN), levam a uma perpetuação da mutação durante a divisão celular, conduzindo ao aumento do número de células mutantes no organismo e, por arrastamento, a um funcionamento deficitário e declínio das funções orgânicas e dos diferentes sistemas. Admite-se, ainda, que as ligações cruzadas de ADN são responsáveis pela perda de capacidade de funcionamento e divisão celular. No

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entanto, há autores que referem que não somos apenas aquilo que os nossos genes determinam. O meio ambiente, a educação, a atividade de cada um e a condição social, de maneira favorável ou desfavorável, podem alterar a determinação dos nossos genes.

Teoria do erro na síntese proteica – As roturas a nível da cadeia da molécula do ADN ou as

mudanças de posição dos compostos químicos dessa cadeia adulteram a informação genética, impedindo, consequentemente, a célula de produzir as proteínas essenciais à sobrevivência das células, resultando da morte celular (Shock, cit. por Mailloux-Poirier, 1995).

Teoria do Desgaste – Alguns autores defendem que o organismo se assemelha a uma

máquina, ao longo do tempo, com o uso, a deterioração é inevitável. Este desgaste provoca anomalias, advindo daí uma paragem desse mecanismo. O envelhecimento é-lhe atribuído, à medida que o organismo humano desempenha as suas funções altamente especializadas.

Teorias dos Radicais Livres – Os radicais livres provocam a peroxidação dos lípidos não

saturados e transformam-nos em substâncias que envelhecem as células. Os radicais livres são moléculas altamente reativas e com uma grande carga elétrica, que podem danificar as proteínas, as enzimas e o ADN, substituindo moléculas boas por moléculas defeituosas, provocando assim um distúrbio genético. Como diz Shock, cit. por Mailloux-Poirier (1995), “o envelhecimento e a morte celular provêm dos efeitos nefastos causados pela formação dos radicais livres” (p.102). Nesta teoria, os fenómenos surgem ao acaso e têm um impacto nefasto e imprevisível sobre o organismo.

Teoria Neuro-endócrina – Com a modificação na produção ou libertação de certas hormonas,

que agem sobre as glândulas endócrinas, nomeadamente a hipófise, dá-se a falha dos sistemas imunitário e circulatório. Os relógios hipofisários ou celulares desencadeiam os grandes processos humanos, como crescimento, puberdade, menopausa e envelhecimento. Para Zarit, como refere Mailloux-Poirier (1995), “a modificação da produção ou da libertação de certas hormonas teria efeitos diretos sobre o envelhecimento através de um ciclo de retroação negativa” (p.102).

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B) Teorias do envelhecimento psicossocial

O envelhecimento psicossocial suscitou tanto a curiosidade dos investigadores e levantou tantas dúvidas, como o envelhecimento biológico. Neste domínio também não há consenso. Os inúmeros estudos em gerontologia social, elaborados com o objetivo de explicar a influência dos fatores culturais e sociais sobre o envelhecimento, culminam em várias teorias, a saber.

Teoria da Atividade – Aponta para que o idoso se mantenha ativo no sentido de obter mais

satisfação na vida, manter a autoestima e conservar a saúde. Na ocorrência de perdas associadas ao envelhecimento, elas devem ser substituídas por novos e diferentes papéis, interesses ou pessoas. Muitos idosos, de forma inconsciente, acreditam nestes princípios, recusando-se a aceitar estereótipos de que agem de acordo com a velhice, mantendo uma vida ativa, produtiva e alegre. Mailloux-Poirier (1995), especifica que “a velhice bem sucedida pressupõe a descoberta de novos papéis ou uma nova organização dos já desempenhados” (p.104).

Teoria da Desinserção – Esclarece que o envelhecimento é acompanhado de uma separação

recíproca entre o indivíduo e a sociedade. Assim, o indivíduo põe fim, de forma gradual, ao seu empenhamento e participação, libertando-se dos papéis sociais, para poder refletir e pensar nele. Para a sociedade, é a passagem do poder dos mais velhos para os mais novos. Esta teoria, ao entender o afastamento do meio físico e social durante o envelhecimento como uma etapa normal do desenvolvimento humano, não enquadra o comportamento de muitos idosos que permanecem como elementos ativos e produtivos da sociedade. Deste modo, é presumível pensar-se que as pessoas se afastam da participação na vida social não tanto como parte do processo de envelhecimento, mas muito mais pela precariedade e exiguidade de propostas sociais dignificantes.

Teoria da Continuidade – Sustenta que o envelhecimento é entendido como parte integrante

do ciclo de vida e não período final, separado de outras fases. O idoso mantém os seus hábitos de vida, as preferências, experiências e compromissos adquiridos e elaborados durante a sua vida. Reconhece a individualidade de cada pessoa e, consequentemente, a sua capacidade de adaptação às situações, “cada pessoa adapta-se nos anos tardios da vida, em grande parte, da mesma forma como se adaptava ao período anterior” (Birchfield, 1999, p.639). O envelhecimento circunscreve-se no ciclo de vida e dele é parte integrante, e o seu sucesso

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depende da capacidade de cada um para manter e continuar padrões de comportamento anteriores.

Para Dias (1999), alguns dos distúrbios psicológicos no idoso, atribuídos à idade avançada, podem estar associados a dificuldades e limitações decorrentes da própria longevidade, tais como a viuvez, as dificuldades financeiras, a perda de parentes e amigos, as disputas familiares, entre outras. Deste modo, podemos afirmar que os problemas psicológicos ligados ao envelhecimento podem não ser só provocados pela diminuição das funções cognitivas, mas também devido às perdas dos papéis sociais, crises, múltiplas patologias, situação socioeconómica, desenraizamento e múltiplas situações geradoras de stresse.

Para finalizar, podemos dizer que o envelhecimento é um processo diferencial, onde a vida e a adaptação são realidades inseparáveis. Para Zimerman (2000), o envelhecimento pode resultar:

…além das alterações no corpo, o envelhecimento traz ao ser humano uma série de mudanças psicológicas, que podem resultar em dificuldade de o idoso se adaptar a novos papéis, à falta de motivação e dificuldade de planear o futuro, à necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afetivas e sociais, à dificuldade de se adaptar às mudanças rápidas que têm reflexos dramáticos nos idosos, às alterações psíquicas que exigem tratamento, à depressão, à hipocondria, à somatização, à paranoia, aos suicídios, à baixa autoimagem e autoestima. (p. 25)

Desta forma, o envelhecimento ativo desenvolve atitudes, tais como o espírito de iniciativa, a criatividade, a descoberta de novos interesses e aptidões, reforça a autoestima, evita o isolamento e fomenta novas fontes de interesse e alegria de viver.

Depois da exposição de algumas teorias, torna-se evidente que estudar, conhecer e explicar o fenómeno do envelhecimento não é tarefa fácil. No ponto seguinte, pretendemos contribuir para a clarificação dos índices de envelhecimento e dependência da população para podermos compreender melhor a propensão para o aumento da esperança média de vida.

1.1.2. Índices de envelhecimento e dependência

Nesta secção, daremos especial ênfase aos índices de envelhecimento e especialmente, ao índice de dependência total, com o intuito de se contribuir para a compreensão da tendência

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do envelhecimento do indivíduo e a sua propensão para a adquisição de dependência física.

a) Índice de envelhecimento

Relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos (expressa habitualmente por 100 pessoas dos 0 aos 14 anos), (Instituto Nacional de Estatística [INE], 2012).

O envelhecimento da população representa um dos fenómenos demográficos mais preocupantes das sociedades modernas do século XXI. Este fenómeno tem marcadamente reflexos de âmbito socioeconómico, com impacto no desenho das políticas sociais e de sustentabilidade, bem como alterações de índole individual através da adoção de novos estilos de vida (INE, 2012).

Em Portugal, a proporção da população com 65 ou mais anos é, em 2011, de 19%. Este valor contrasta com os 8% verificados, em 1960, e com os 16% da década anterior.

O índice de envelhecimento da população reflete também esta tendência. Em 2011, o índice de envelhecimento acentuou o predomínio da população idosa sobre a população jovem. Os resultados do censos 2011 indicam que o índice de envelhecimento do país é de 128, o que significa que Portugal tem hoje mais população idosa do que jovem e que por cada 100 jovens há hoje 128 idosos. Em 2001, havia 85 municípios com o índice de envelhecimento menor ou igual a 100. Em 2011, este valor é de 45 (INE, 2012).

Segundo o INE (2009), como referido por Ribeiro e Paúl (2011), nas projeções de população residente em Portugal 2008-2060, a proporção de jovens com menos de 15 anos diminuirá, a par de um aumento do peso relativo da população com 65 ou mais anos, que se prevê que duplique nestes próximos 50 anos, ou seja, passe de 17,4% (116 pessoas por 100 jovens) em 2008, para 32,3% (271 pessoas idosas por 100 jovens) em 2060. Para o aumento da população mais velha contribuirá, sobretudo, o grupo de 80 ou mais anos, que passará dos atuais 4,2% para 12,7% - 15,6%, em 2060.

Na Tabela 1 podemos analisar o Índice de Envelhecimento no concelho de Ribeira de Pena, relacionando com o nosso país, que apresenta valores aproximados de 128. Neste concelho, por cada 100 jovens existem 197,5 pessoas idosas.

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Tabela 1.

Índice de envelhecimento no concelho de Ribeira de Pena em 2011

Local de residência

Índice de envelhecimento (N.º) por Local de residência 2011 Portugal 127,6 Continente 130,5 Ribeira de Pena 197,5 Fonte: INE, 2012

Na Tabela 2 estão definidos os mesmos dados para as 7 freguesias do concelho, observando, podemos tirar conclusões sobre a freguesia em estudo, Alvadia, a segunda freguesia com valores mais elevados no envelhecimento. Nesta freguesia, por cada 100 jovens existem 447,1 pessoas idosas.

Tabela 2.

Índice de envelhecimento, por freguesia, no concelho de Ribeira de Pena em 2011

Local de residência

Índice de envelhecimento (N.º) por Local de residência 2011 Alvadia 447,1 Canedo 620 Cerva 156,2 Limões 250

Ribeira de Pena (Salvador) 209,3

Santa Marinha 270,7

Santo Aleixo de Além-Tâmega 264,3

Fonte: INE, 2012

b) Índice de dependência de idosos

Relação entre a população idosa e a população em idade ativa, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos (expressa habitualmente por 100 pessoas com 15-64 anos), (INE, 2012).

A Tabela 3 apresenta valores relacionados com o índice de dependência de idosos no mesmo concelho, em que por cada 100 pessoas em idade ativa existem 42,3 idosos, relacionando com o país, o concelho apresenta valores mas elevados em 13,5%.

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Tabela 3.

Índice de dependência de idosos no concelho de Ribeira de Pena em 2011

Local de residência

Índice de dependência de idosos (N.º) por Local de residência 2011 Portugal 28,8 Continente 29,3 Ribeira de Pena 42,3 Fonte: INE, 2012

Figura 2. Índice de dependência de idosos, por freguesias, no concelho de Ribeira de Pena em 2011 (INE, 2012)

A Figura 2 remete-nos para a realidade das freguesias do concelho relacionado com a mesma temática. Na freguesia que mais importa analisar, temos 73,8 idosos por cada 100 pessoas em idade ativa, Cerva é a freguesia que revela menor índice de dependência, 36,4 idosos.

c) Índice de dependência total

Relação entre a população jovem e idosa e a população em idade ativa, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos conjuntamente com as pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos (expressa habitualmente por 100 pessoas com 15-64 anos), (INE, 2012).

Alvadia; 73,8 Canedo; 73,8 Cerva; 36,4 Limões; 60,8 Salvador; 42,2 Santa Marinha; 45,8 Santo Aleixo de Além-Tâmega; 51,6

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O índice de dependência total é um indicador que permite uma perceção sobre os esforços que a sociedade exerce sobre a população ativa. Os resultados do censos 2011 permitem quantificar que o esforço da sociedade sobre a população ativa se agravou na última década em 4% e que, a menos que se verifique uma inversão da diminuição da natalidade, este indicador tenderá a agravar-se (INE, 2012).

O Censos de 2011 revela também que, na última década, o índice de dependência total aumentou de 48, em 2001, para 52, em 2011 (INE, 2012). O agravamento do índice de dependência total é resultado do aumento do índice de dependência de idosos que aumentou cerca de 21% na última década. O índice de dependência de jovens teve, no mesmo período, um comportamento contrário, assinalando uma diminuição de cerca de 6%.

d) Índice de longevidade

Relação entre a população mais idosa e a população idosa, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 75 ou mais anos e o número de pessoas com 65 ou mais anos (expressa habitualmente por 100 pessoas com 65 ou mais anos), (INE, 2012).

O índice de longevidade relaciona a população com 75 ou mais anos com o total da população idosa com 65 ou mais anos. Na região Norte, o índice de longevidade aumentou na última década, passando de 40,4, em 2001, para 46,8, em 2011. As mulheres, em 2011, apresentam um índice de longevidade superior ao dos homens, 49,7 e 42,6, respetivamente. A evolução verificada na região é coincidente com o que ocorreu em termos nacionais em que este indicador cresceu de 41,4, em 2001, para 47,9, em 2011 (INE, 2012).

Referenciados os índices de envelhecimento, dependência e longevidade, importa agora fazer a caracterização do envelhecimento e capacidade funcional.

1.2. Envelhecimento e capacidade funcional

O processo normal de envelhecimento envolve uma perda da capacidade funcional, mais ou menos significativa, causada pela deterioração dos sistemas fisiológicos. Desenvolvendo-se de uma forma individual, esta perda pode não significar incapacidade, limitação da atividade ou restrição da participação permitindo ao idoso a independência necessária a uma vida autónoma (Novo et al., 2011).

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Segundo Lithgow e Kirkwood (1996), o funcionamento do organismo humano é mantido por mecanismos comuns a todos os processos biológicos que com a velhice, estão sujeitos e entrar em falência, ocorre degeneração estrutural e funcional em vários tecidos e órgãos, com a consequência do aparecimento de doenças. O processo de envelhecimento deriva da combinação entre fatores intrínsecos ou genéticos e fatores extrínsecos ou ambientais a que este seja exposto (Kirkwood, 1996).

Como refere Ramos (2002), a maioria dos idosos apresenta pelo menos uma doença crónica, e nem todos ficam limitados por essa mesma doença e muitos vivem com expressa satisfação na vida e com os seus problemas de saúde controlados, já outros apresentam o mesmo tipo de doença/doenças, porém não controladas e com sequelas decorrentes de incapacidades associadas. A ausência de doenças nesta fase da vida é privilégio de poucos e o completo bem-estar pode ser atingido por muitos, independentemente da presença ou não de doenças.

O que mais importa na velhice é a autonomia, ou seja, a capacidade de determinar e executar as suas próprias vontades. Segundo Ramos (2002), um idoso com 80 anos e que seja capaz de gerir a sua própria vida e determinar quando, onde e como se realizarão as suas atividades de lazer, convívio social e trabalho, certamente será considerado uma pessoa saudável, independentemente de ter um problema de saúde, o importante é preservar a sua capacidade funcional, seja feliz, integre a vida social e, para todos os efeitos, seja uma pessoa idosa saudável.

Um dos primeiros autores a trabalhar esta questão do estado funcional da pessoa idosa foi Lawton em 1982, referindo-o como a interação entre dois conjuntos de varáveis: as varáveis individuais ou competências e as variáveis ambientais. As competências individuais incluem a saúde física e mental, capacidades cognitivas, afetividade, qualidade de vida, auto eficácia e controlo de si e do meio. As variáveis ambientais incluem a habitação, o ambiente social e as relações de vizinhança. O mesmo autor refere ainda que a relação entre estas duas variáveis determina o estado funcional da pessoa idosa.

Existem fatores sociodemográficos que influenciam a capacidade funcional da pessoa idosa, como o género, a idade, a situação familiar e o nível educacional (Alves et al., 2007). Estes autores referem que o conceito de dependência não se aplica exclusivamente a pessoas idosas, mas sim a qualquer indivíduo que não consegue alcançar um nível aceitável das suas necessidades que desempenha através das ações que o próprio realiza sem a ajuda de

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terceiros. Acrescentam ainda que o comprometimento da capacidade funcional do idoso trás implicações importantes não só para o próprio mas também para a família, comunidade e sistema de saúde, uma vez que a dependência contribui para a diminuição do bem-estar e qualidade de vida dos idosos.

O termo dependência, na prática geriátrica, liga-se à fragilidade, entendida como uma vulnerabilidade que a pessoa apresenta face aos desafios próprios do ambiente. Diversos autores referem que a dependência nos idosos tem vindo a aumentar. Para Garcia (1993), este aumento deve-se a uma deterioração do processo de envelhecimento, onde as perdas, nomeadamente a nível da coordenação motora, se aliam a medos crescentes (solidão, negligência, incapacidade em se adaptar a novas situações, entre outras). As causas que poderão dar origem a esta deterioração podem ser: a) diminuição da capacidade da adaptação do indivíduo à mudança; b) diminuição da acuidade visual e auditiva; c) redução dos recursos

financeiros; d) isolamento social; e) perda do contacto com o seu círculo de amigos; f) invalidez por doença incapacitante.

Assim, a dependência é um estado no qual se encontram as pessoas que, por razões ligadas à falta ou perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, necessitam de uma assistência e/ou ajuda de outra pessoa para realizar os atos correntes de vida (Caldas, 2003).

A transição para a dependência é um processo complexo, multidimensional e multicausal. Quando o envelhecimento está associado à dependência, é fundamental criar as condições necessárias para a assistência nas AVD que promova a dignidade do alvo dos cuidados. O aparecimento de uma dependência implica uma transição para uma nova vida, devido a um acontecimento não antecipado que pode surgir de forma abrupta ou de forma progressiva, na maioria dos casos associado a uma diminuição da capacidade das estruturas ou funções do organismo (Sequeira, 2010).

A compreensão do envelhecimento e da capacidade funcional tem suscitado inúmeros estudos e teorias. Assim, e dada a necessidade de compreender as relações existentes entre ambos, surgiram os primeiros autores preocupados com aspetos relacionados ao envelhecimento.

Neste sentido, Sousa (1993), citado por Pereira, Rancom e Carvalho (2011), propôs que a diminuição da autonomia do idoso está relacionada com a incapacidade física e/ou psíquica mas também devido às suas condições precárias. Conclui-se também que os idosos

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demonstram necessidade em conviver, convívio este que poderá ser atingido em meio institucional junto de outros idosos e não em meio domiciliar junto dos filhos e netos.

Por sua vez, Pereira e cols. (2011) preocuparam-se especificamente com o estudo do contexto, salientando a sua relação com o ambiente físico e também com as atitudes e os comportamentos das pessoas que o rodeiam e que podem provocar a autonomia ou, por outro lado, contribuir para o seu declínio. Nesta perspetiva, podemos considerar que existem diversos fatores que podem desencadear a dependência no idoso: físicos, psicológicos e o próprio contexto em que o indivíduo está inserido.

Especificamente, Botelho (2005) referiu, no seu estudo sobre a avaliação da capacidade funcional de um idoso que, a capacidade funcional deve ser classificada de acordo com o grau de autossuficiência. Este autor admitiu que, o indivíduo independente é aquele que, recorrendo apenas a auxílios mecânicos como andarilhos e canadiana, consegue satisfazer as suas AVD, tais como as tarefas relacionadas com o cuidado pessoal (tomar banho, vestir-se pentear-se, ir à casa de banho, controlar os esfíncteres, levantar-se, deitar-se, andar, alimentar-se), e o indivíduo dependente corresponde aquele que necessita de ajuda regular de terceiros, na execução de pelo menos uma das tarefas de funcionalidade. Consequentemente, a capacidade locomotora contribui principalmente para a funcionalidade dos indivíduos, podendo constituir um motivo real de dependência.

Posteriormente, no sentido de classificar a funcionalidade, a incapacidade e a saúde, surgiu a Classificação Internacional da Funcionalidade – CIF, que após alguns anos de desenvolvimento e contando com a participação de mais de 60 países, se tornou padrão em quase 200. A CIF permite relacionar condições de saúde, fatores pessoais e fatores ambientais, com alterações orgânicas e/ou funcionais, também designadas deficiências, e as suas consequências no grau de atividade e de participação dos indivíduos (Botelho, 2005).

As referidas AVD são definidas por Sequeira (2007),como o conjunto de atividades primárias relacionadas com o autocuidado e a mobilidade que permitem ao indivíduo viver sem necessitar de ajuda.

A avaliação do estado funcional do indivíduo compreende essencialmente três níveis: o desempenho de atividades sociais e ocupacionais, as AVD e o desempenho de tarefas necessárias à vida quotidiana denominadas atividades instrumentais de vida diária (AIVD),

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como usar os transportes públicos ou conduzir, fazer compras, usar o telefone e gerir dinheiro (Cabete, 2005).

Ainda na mesma linha de pensamento, a avaliação do estado funcional das pessoas idosas é importante para podermos compreender a capacidade de autocuidado dos indivíduos, não só no que diz respeito às AVD, como em relação a outras atividades mais complexas, como sejam as AIVD, cuja execução é fundamental para a manutenção de uma autonomia de vida (Cabete, 2005).

O envelhecimento ativo deve ser fomentado através de ações capazes de dotar as pessoas de uma tomada de consciência acerca do poder e controlo que têm sobre a sua vida, a promoção de mecanismos adaptativos, de aceitação e de autonomia assumem-se como uma prioridade, (Ribeiro & Paúl, 2011).

Este novo paradigma leva-nos a refletir sobre alguns conceitos que os autores nos indicam como muito importantes, para além das variáveis biológicas, os processos de autorregulação emocional e motivacional (Ribeiro & Paúl, 2011). Para estes autores, a autonomia é considerada no sentido do controlo individual sobre a vida e a capacidade inalienável de decisão; a independência, nas AVD e nas AIVD, ou seja, a capacidade de cuidar de si próprio, na manutenção básica do seu corpo, e no exercício de competências de manipulação do mundo externo, igualmente essenciais à rotina diárias; a expectativa de vida saudável, traduzível no tempo de vida que se pode esperar viver sem precisar de cuidados especiais e a qualidade de vida, a qual incorpora, de modo complexo, a saúde física, o estado psicológico, o nível de dependência, as relações sociais, as crenças pessoais e as características do ambiente em que a pessoa se encontra inserida.

Para garantir a capacidade funcional no idoso que permita independência, tanto nas AVD como nas AIVD, é essencial que lhe seja possível continuar a viver com qualidade e a envelhecer de forma mais autónoma e saudável. Paúl (1997), cit. por Novo e cols. (2011), identificou a perda da capacidade funcional como a principal razão encontrada na decisão de institucionalização de indivíduos idosos.

Independência e autonomia são termos que definem situações complementares, mas não são idênticas. A autonomia está relacionada com a capacidade da pessoa para gerir a sua vida, ou seja, tomar decisões sobre si. De acordo com a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), o conceito de autonomia é descrito como um direito do utente:

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Figura 1. Determinantes do envelhecimento ativo   (OMS, 2005)  SERVIÇOS SOCIAIS E DE SAÚDE DETERMINANTES ECONÓMICOS DETERMINANTES  SOCIAIS  DETERMINANTES  COMPORTAMENTAIS AMBIENTE FÍSICO DETERMINANTES PESSOAIS GÉNERO ENVELHECIMENTO  ATIVO CULTURA
Figura 2. Índice de dependência de idosos, por freguesias, no concelho de Ribeira de Pena em 2011  (INE, 2012)
Figura 3. Tipo de dificuldade na realização das atividades na população com 65 ou mais anos, 2011
Figura 4. Etapas do planeamento em saúde  (Adap. Imperatori & Giraldes, 1993)
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Referências

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