• Nenhum resultado encontrado

7.4 NO AR: O DEBATE ELEITORAL

7.4.2 Debate eleitoral Jair Bolsonaro

O candidato participou de dois debates durante a campanha eleitoral. O primeiro deles foi da Band, no qual teve uma participação de 21 minutos, enquanto no segundo debate, da Rede TV, contou com 12 minutos com 14 segundos de discurso. Conforme já esclarecido, ele não participou dos debates seguintes porque foi esfaqueado.

Destaca-se a postura do Jair Bolsonaro nos primeiros minutos do debate da Band como incongruente, já que aparece sentado enquanto os outros candidatos estão de pé. Pela expressão facial ele se mostra sisudo e contrariado, enquanto os demais apresentam um leve sorriso. Nesse caso específico, estar em pé demonstra estar pronto para o debate, respeitando os normas desse tipo de programa, enquanto estar sentado, diferenciando-se dos demais, traz o sentido de informalidade, mas também de contrariedade e, até, de descortesia.

Figura 49 - Jair Bolsonaro no debate da Band

Fonte: Band Jornalismo (2018b)104.

Nesse contexto, se sobressai também o fato de que o presidenciável, ao estar sentado, deixa de lado a postura ereta, os ombros para trás, para optar por uma curvatura na parte superior das costas. O candidato está sentado com as pernas aberta e, aparentemente, com os braços apoiados sobre as pernas, gerando uma postura diferente das que costumeiramente vemos em seus vídeos de divulgação, trazendo sentido de informalidade, mas, também, de aparente desânimo.

Figura 50 - Algumas posturas do candidato Jair Bolsonaro nos debates da Band e Rede TV

Fonte: Band Jornalismo (2018b)105; Rede TV (2018) 106.

Os debates também permitiram observar outros gestos incongruentes do ex- militar, como mover-se constantemente enquanto está em pé, alternando entre o apoio de uma perna e de outra. Nesses casos, quando o diretor usava primeiro plano, teve-se a sensação de que o candidato sairia do enquadramento. Ainda demonstrando inabilidade com a linguagem televisual, quando estava na bancada, por diversas vezes, o político bateu com as mãos nos microfones e tentou ajustá-los, também usou posturas impróprias como curvar as costas, apoiar os braços na bancada, inclinar o ombro direito para baixo e elevar o esquerdo, formando uma linha oblíqua.

Chamou a atenção o gesto de levar a mão ao bolso esquerdo da calça quando responde pergunta de Henrique Meirele no debate da Band, assim como quando é questionado pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Apesar da postura ereta, a mão no bolso conota certa insegurança, indiretamente esconde-se a mão. Em vários trechos do texto, enquanto comenta uma resposta do seu adversário, Bolsonaro leva a mão ao bolso e vira o corpo para as câmeras, como também para o adversário. Olha para a câmera e para seu opositor. Esse tipo de postura pode ser entendido como nervosismo ou ansiedade.

O gesto mais repetido pelo político é o movimento das mãos, mas com menos intensidade que nos vídeos de divulgação. No debate da Band ele só começa a usá- lo com mais ênfase no meio do programa, quando também acentuou um pouco o tom de voz. Aliás, a regularidade do tom de voz enérgico dos vídeos de divulgação se alterou nos debates, construindo sentidos de um candidato menos intenso. O tom de voz era mais baixo, sem enfatizar tanto determinadas palavras e com mais linearidade,

105 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9EnJeUKwX_c. Acesso em: 23 jan. 2020. 106 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=99SmMo1XqzQ&t=5700s. Acesso em: 24 jan.

mas o ritmo da pronúncia das palavras entremeadas por pequenos espaços de tempo permaneceu.

Como gesto inusitado, durante o debate da Band, ele segura a cabeça com a mão, inclinando-se para frente, ao anotar pergunta de Álvaro Dias, fazendo lembrar a postura de um aluno com sono, ao qual a professora tende a chamar a atenção. O que mais rompeu com o esperado de um candidato foi ler anotações feitas nas mãos. Lembremos que no debate da Rede TV, no enfrentamento com a ex-candidata Marina Silva, o candidato levou uma ‘cola’ com os temas que devia abordar. Esse gesto quebra com o comportamento de um candidato presidencial. A ação constrói sentidos de uma atitude infantil (já que as crianças se sentem mais à vontade para escrever na mão com caneta) ou de extrema informalidade (quando não se tem onde anotar um telefone numa paquera, por exemplo), além, é claro, de falta de memória. Contudo, esse último sentido poderia ser ressignificado se o candidato levasse um pedaço de papel com as anotações. Da mesma forma, o político pareceu não mostrar muito compromisso com o cerimonial do evento.

Figura 51 - Bolsonaro escreve ‘cola’ na mão durante o debate da Rede TV

Fonte: Jovem Pan (2018)107.

Também chamou atenção, como irregularidade, os poucos segundos em que Bolsonaro apareceu colocando a camisa para dentro das calças, em pé, durante o debate da Rede TV. A imagem foi cortada para outra com rapidez, mas ficou a mensagem de ação corporal inapropriada para um programa ao vivo.

107 Disponível em: https://jovempan.com.br/eleicoes-2018/presidenciais/bolsonaro-escreve-cola-na-

Com os enquadramentos frontais repetidos e o uso do primeiro plano foi possível perceber com mais evidência o franzimento da testa e a ligeira paralisação do lábio superior, fazendo com que o lábio inferior se movimente mais, dando maior evidência aos dentes inferiores. Em geral, os músculos do rosto ficam contraídos, o olhar é intenso para o oponente. Ao contrário dos vídeos de divulgação, o candidato parece não ter um domínio do discurso oral.

No início do debate da Rede TV, ele responde à pergunta feita a todos os candidatos sobre sua proposta de governo sendo guiado pela leitura de anotações. O tom do discurso muitas vezes é irônico, como, por exemplo, no enfrentamento com o ex-candidato Guilherme Boulos, do MTST, em que se percebe um leve sorriso no canto da boca, os olhos um pouco apertados, complementando com uma linguagem verbal agressiva, inclusive nomeando Boulos de “cidadão desqualificado”108. Percebe-

se que o ex-militar está na defensiva, responde com uma linguagem coloquial acompanhada de um sorriso que, aparentemente, inferioriza a fala e a presença do oponente.

Mesmo em um evento formal, ao vivo, o candidato não parece ter domínio da linguagem corporal apropriada para a televisão. Algumas das posturas do candidato evidenciam o certo desconforto de participar de tal evento, como o excesso de movimentos do corpo, coçar o ouvido, levar a mão ao rosto. As principais singularidades são também irregularidades, como iniciar o debate sentado enquanto seus pares estavam de pé e ler anotações registradas nas mãos.