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Quando a intenção é analisar mais profundamente a composição da imagem e seus sentidos, é preciso o domínio mínimo das linguagens envolvidas. No caso da linguagem audiovisual, um elemento importante é o enquadramento, que dependerá do tipo de câmera utilizada. Os tipos de enquadramento que existem são o horizontal, vertical e quadrado, sendo que, nesse aspecto, estão presentes também e, talvez com maior relevância, os tipos de planos audiovisuais, os quais permitem uma informação do(s) sujeito(s) que está(ão) dentro do quadro. Duarte (2000) fez uma lista de planos que são considerados para uma análise audiovisual. São eles: Grande Plano Geral (GPC), Grande Plano (GP), Plano Geral (PG), Plano Americano (PA), Plano Médio Fechado (PMF), Close up (CUp) e Plano Detalhe (PD).

Dentro de um enquadramento é possível notar que alguns objetos se sobressaem mais do que outros e isso acontece quando existe o foco. O objeto está nítido e visível, diferenciando-se do resto.

Os aspectos cromáticos de uma imagem vão depender das tonalidades das cores. Para Duarte (2000), existem três categorias: as denominadas cores quentes, compreendidas pelo vermelho, laranja e amarelo; as cores frias, que incluem o azul, verde e violeta; e as cores neutras, que são o branco, preto e cinza. Da mesma forma, a intensidade e a saturação dos tons permitirão saber o contraste deles numa composição da imagem.

Pretende-se ilustrar o aspecto cromático trazendo uma imagem do dia 9 de agosto de 2018, quando ocorreu o primeiro debate eleitoral da campanha do Brasil pela emissora Bandeirantes. As cores frias, com o azul em sua tonalidade mais escura, caracterizaram o cenário, deixando pouco contraste com a vestimenta do candidato.

Figura 19 – Alckmin no debate da Band

Fonte: Band (2018a)44.

Em algumas cenas apresentadas na televisão pode-se observar como o sujeito é visto desde a perspectiva da câmera que, em algumas ocasiões, gerará ilusões óticas exageradas. Por exemplo, quando a câmera está alta (em picada) o sujeito tende a parecer pequeno, diminuindo o peso visual; enquanto isso, se fizermos algumas tomadas com a câmera embaixo (contra plongé) o sujeito tende a crescer, invertendo-se as proporções. O ângulo mais utilizado é quando a câmera está no mesmo nível dos sujeitos, dando a percepção de que estão na mesma altura dos olhos, sem gerar superioridade nem inferioridade frente à audiência.

Para ilustrar, durante a campanha do Peru, a ex-candidata Keiko Fujimori usava como padrão dos seus vídeos e fotos o ângulo de câmera embaixo, conotando superioridade frente aos seus seguidores.

Figura 20 – Keiko Fujimori

Fonte: DW (2017)45.

Outro dos elementos que se considera é a relação entre luz e sombra, que permite que cada objeto que compõe a imagem ganhe ou perca volume. O objeto apresenta sua própria sombra e pode ser intensificado dependendo das fontes de luz, como naturais e artificiais. Para Duarte (2000), existem três tipos de fonte: reduzidas, médias e extensas. As fontes reduzidas caracterizam-se por emitir luz a partir de um único ponto. A luz média é a encarregada de produzir luz a partir de uma área em específico, obtendo pouco contraste nas sombras. As fontes extensas referem-se a quando o objeto recebe mais de um ponto de luz ao mesmo tempo. A imagem na televisão permite a exibição de um registro cultural e, através de enquadramentos, planos e efeitos, é possível guardar parte da memória de uma sociedade, permitindo também o reconhecimento de outras culturas. A composição da imagem em movimento, como é vista na televisão e em plataformas digitais, nos faz pensar em suas origens, de onde vem, e é aí que retomamos a época da antiga cultura grega. Os gregos desenvolveram uma técnica, denominada ponto dourado, que consiste “na regra dos terços, cinco oitavos, divina proporção ou seção de ouro” (COCA, 2017, p. 89).

A regra consiste em dividir uma imagem em linhas paralelas na horizontal e na vertical, mantendo o foco nos pontos de intersecção das linhas. Desse modo, a imagem proporcionaria estabilidade e uma melhor leitura visual para o espectador. Por exemplo, na seguinte imagem apresentamos uma figura do vídeo de divulgação

45 Disponível em: https://www.dw.com/es/perú-hábeas-corpus-para-excarcelar-a-fujimori/a-38913282. Acesso em: 15 dez. 2019.

do candidato Pedro Pablo Kuczynski que cumpre com o ponto de ouro. O presidenciável aparece no meio do quadro, sentado numa cadeira. Sem um fundo colorido, nem outro fator de distração, o candidato é o único elemento que aparece na cena.

Figura 21 – Enquadramento segundo o princípio do ponto de ouro em vídeos de divulgação no Peru

Fonte: Kuczynski (2016c)46.

Outro aspecto a ser considerado para analisar uma imagem é o que aponta Balan (1997 apud COCA, 2017), ao lembrar que a imagem audiovisual adotou algumas características da pintura renascentista, como a triangulação, a assimetria e a perspectiva. O triângulo, composto por 3 linhas imaginárias, permite observar o ponto mais importante da imagem. Na parte de cima do triângulo está o elemento mais relevante, ficando nas partes inferiores os elementos menos visíveis.

Na seguinte imagem, por exemplo, temos o triângulo invertido, em que o candidato Jair Bolsonaro se encontra no topo do triângulo e os jornalistas na parte inferior, sendo ele o ponto que mais importante. Apesar de existirem outras pessoas na cena, a composição da imagem foi feita dessa maneira para que o candidato fosse o foco.

Figura 22 – Enquadramento segundo a triangulação na entrevista para a TV Cultura em 30 de julho de 2018

Fonte: Roda Viva (2018)47.

Os dois conceitos mencionados anteriormente (pontos dourados e triangulação) têm sido uma regra relevante para observar as imagens de culturas antigas, mas se tornam importantes também para a análise de imagens em movimento ou de programas ao vivo, já que podem ser abordados em uma etapa prévia à presença de novos conceitos e até de tecnologias, como, por exemplo, efeitos, enquadramentos, planos etc.