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5. E-GOV E GESTÃO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

5.4. Governo eletrônico e gestão de informação e tecnologia

5.4.1. Que decisões devem ser tomadas?

Weilll e Ross (2006) afirmam que cinco escolhas básicas precisam ser feitas pelas organizações na administração da tecnologia da informação. Elas podem ser visualizadas em suas interrelações a partir da figura 11.

Figura 11: Decisões sobre os princípios e políticas de TI Fonte: Weill e Ross (2006).

5.4.1.1. Decisão 1: princípios de TI

De acordo com Weill e Ross (2006), os princípios de TIC são declarações que definem como a tecnologia da informação será utilizada e podem ser materializados em um conjunto de normas, políticas e diretrizes específicas.

Por meio das políticas, a organização define o conjunto de diretrizes que governará as outras quatro definições expostas na figura 11. Em função disso, as políticas são vistas como o primeiro elemento do diagrama. Weill e Ross (2006) asseveram que os princípios de TIC deixam claras as expectativas de uma organização em relação aos benefícios e potenciais usos das TIC.

Princípios de TI são essencialmente regulatórios e normativos, segundo uma visão institucional do conceito. Isso porque não são exaustivos, mas fornecem diretrizes para as demais políticas de TIC da organização, além de definirem o comportamento desejável para os profissionais e os usuários de TIC (WEILL e ROSS, 2006). A esse respeito, o modelo de Scott (2001) destaca que o pilar normativo da escola neo institucional é fundamentado em um conjunto de normas, formais ou informais, que definem o que é preferível ou desejável e um conjunto de estruturas e comportamentos capazes de colocar em prática o padrão de referência. Normas especificam como as coisas deveriam ser feitas; elas definem formas legítimas de perseguir fins desejados (SCOTT, 2001: 54).

No caso da administração pública, os princípios de TI são materializados nas políticas de tecnologia da informação e comunicação, também conhecidas como políticas de governo eletrônico. São elementos de definição macro e não podem ser confundidas com instruções normativas, que estabelecem um conjunto detalhado de procedimentos para a gestão de TIC.

5.4.1.2. Decisão 2: arquitetura de TI

Observamos que níveis avançados de governo eletrônico dependem da interoperabilidade de aplicações. (ONU/ASPA, 2008) Na perspectiva tecnológica, a chave para a integração de processos é o gerenciamento efetivo dos dados da organização. Quando se disponibilizam dados padronizados, os gerentes de negócio podem integrar efetivamente seus processos. Dessa forma, a informação será íntegra, não será divergente para cada processo de negócio organizacional (COBIT, 2004).

O requisito fundamental da definição da arquitetura de TI é a padronização dos dados, tarefa difícil e que demanda profundo planejamento. Ao tratar do assunto, os procedimentos de auditoria do Cobit (2004) destacam que a definição da arquitetura da informação e sua administração são questões centrais que mostram a maturidade e o exercício de boas práticas de gestão de TIC. Para o Cobit (2004), a arquitetura é composta pelos seguintes elementos:

o modelo de arquitetura da informação;

o dicionário de dados e regras de sintaxe dos dados corporativos; os esquemas de classificação de dados; e

os níveis de segurança para os dados.

Weill e Ross (2006) definem a arquitetura de TIC como a organização lógica de dados, aplicações e infraestruturas, definida a partir de um conjunto de políticas, relacionamentos e opções técnicas adotadas para obter padronização e a integração técnica e de negócios desejada (p. 32).

Pode-se afirmar que a integração de dados é necessária para toda organização, notadamente para os processos corporativos que perpassam mais de uma unidade de negócio. Sem a devida preocupação com a arquitetura da informação e integração dos dados de governo, é impossível atingir níveis avançados de governo eletrônico e prestação de serviços de forma totalmente digital. De acordo com a ONU/ASPA (2008), o nível mais avançado de e-gov é caracterizado pela conexão horizontal entre os órgãos de governo e os padrões arquiteturais integrados. Também o modelo de Davidson, Wagner e Ma (2005) já afirmara que a maturidade em e-governo representa um back-office plenamente integrado com aplicações governamentais favorecidas pelo alto grau de integração.

Para Weill e Ross (2006), a arquitetura de TI é resultado da conjugação de variáveis técnicas e institucionais, pois demanda a criação de estruturas de gestão e padrões de operação em que responsabilidades e deveres são claramente estabelecidos.

5.4.1.3. Decisão 3: infraestrutura de TI

A infraestrutura de tecnologia da informação geralmente inclui serviços de redes de comunicação, a provisão e o gerenciamento de computadores em larga escala (servidores e mainframes), gerenciamento de bases de dados compartilhados, serviços de

armazenamento e segurança oferecidos pelos data centers27 (WEILL e ROSS, 2006). Além dos elementos expostos, um número cada vez maior de organizações possui em sua infraestrutura de TI um conjunto de aplicações compartilhadas e padronizadas. São exemplos comuns os sistemas de gerenciamento empresarial (ERP), os sistemas de gerenciamento de relacionamento com clientes (CRM) e os sistemas de gerenciamento da cadeia de suprimentos (SCM). Na administração pública, as aplicações compartilhadas são comumente chamadas sistemas corporativos e envolvem funções com finanças públicas, RH e sistemas de gestão de compras e suprimentos, entre outros.

Assim como exposto para o item arquitetura de TI, a integração da infraestrutura de TI é condição para o alcance de níveis avançados de e-governo (WEILL e ROSS, 2006).

5.4.1.4. Decisão 4: necessidade de aplicações de TI

As decisões sobre aplicações de negócio envolvem a identificação dos processos centrais da organização e a determinação dos sistemas informatizados necessários para atendimento dos requisitos desses processos. (WEILL e ROSS, 2006). A adoção bem sucedida das aplicações de TI precisa associar um conjunto de áreas de conhecimento.

Primeiramente é fundamental que as aplicações estejam alinhadas às diretrizes estratégicas da organização, pois uma lacuna estratégica é um sério inibidor de aplicações bem sucedidas (VENKATRAMAN, 1991). O mesmo Venkatraman (1991) salienta que o segundo aspecto importante é a revisão e redefinição dos processos de negócios, para não incorrer na velha máxima de automatização de processos ineficientes. Além disso, a gestão efetiva dos projetos de tecnologia é fundamental para que as aplicações não fujam ao controle de prazos, escopo, metas e marcos (Cobit, 2004).

É importante destacar a correlação entre o desenvolvimento de aplicações, a arquitetura de TI e a infraestrutura de TI. A condição fundamental é que sejam escolhidas aplicações que se ajustem ao contexto da arquitetura de TI da organização. As exceções devem ser tratadas mediante procedimentos e normas que só permitam alterações se representarem oportunidades de aprendizado e avanço tecnológico (WEILL e ROSS, 2006).

27

Os Data Centers são Centros de Processamento de Dados onde são concentrados os computadores e sistemas de uma empresa ou organização. O termo é utilizado por caracterizar ambientes com alto grau de segurança no armazenamento dos sistemas e dados. A tese utilizará sempre o termo data center.

Para Weill e Ross (2006), as organizações que possuem modelos maduros de governança de tecnologia da informação também utilizam um conjunto padronizado de regras decisórias para a escolha das aplicações que serão desenvolvidas. Para os autores, o foco de organizações bem sucedidas está em aplicações alinhadas às necessidades de negócio e na existência de modelos decisórios capazes de permitir a efetiva resolução de conflitos organizacionais na definição de prioridades de desenvolvimento. Ademais, os modelos decisórios são importantes para minimizar a existência de redundâncias e o desenvolvimento de aplicações desnecessárias.

5.4.1.5. Decisão 5: investimentos e priorização de TI

Os proponentes do modelo, Weill e Ross (2006), afirmam que não haverá governança de TI se não existir a definição de onde e quanto investir em cada aplicação. Para os autores, organizações que obtêm maior valor da TI são aquelas que concentram seus investimentos nas prioridades estratégicas. Para isso é fundamental definir quanto gastar, em que gastar e como reconciliar visões diferentes no mesmo ambiente organizacional.

Provavelmente o atributo mais importante seja o estabelecimento de mecanismos para gerenciar a escolha dos projetos e das atividades que receberão investimentos. No caso dos governos, significa administrar a tensão entre os investimentos de diversos órgãos que, muitas vezes, têm prioridades distintas da visão agregada do governo. Em face do exposto, Weill e Ross (2006) afirmam que é fundamental estabelecer mecanismos de escolha dos investimentos.

5.4.2. Quem deve tomar as decisões? Arquétipos da gestão de TI para alocação de