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3. A NOVA AGENDA DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO: A AGENDA DA EFICÁCIA

3.1 OS FÓRUNS DE ALTO NÍVEL SOBRE A EFICÁCIA DA AJUDA

3.1.2 Declaração de Paris sobre a eficácia da Ajuda ao Desenvolvimento

A Declaração de Paris sobre a Eficácia da Ajuda data de março de 2005, ocasião na qual foram acrescentadas outras dimensões de trabalho para uma ajuda mais eficaz, tomando-se “a resolução de empreender ações de longo alcance, monitorizáveis, com vista a reformar as modalidades de entrega e de gestão da ajuda” (OCDE, 2005, pág. 1)

2. Neste Fórum de Alto Nível sobre a Eficácia da Ajuda, seguimos a orientação da Declaração adotada em Roma (Fevereiro de 2003), no Fórum de Alto Nível sobre a Harmonização, bem como os princípios fundamentais propostos durante a Mesa Redonda de Marrakech (Fevereiro de 2004) sobre a gestão centrada nos Figura 1: Pirâmide da Eficácia da Ajuda: Harmonização e Alinhamento

resultados em matéria de desenvolvimento (...29), porque acreditamos que eles aumentarão os efeitos da ajuda na redução da pobreza e das desigualdades, incrementando o crescimento, o desenvolvimento das capacidades e a aceleração da realização dos ODM (OCDE, 2005, pág. 1).

Nessa declaração as organizações e países presentes reafirmam os compromissos assumidos em Roma para harmonizar e alinhar a entrega da ajuda, assim como o compromisso de acelerar os progressos na sua aplicação. Reconhece que para isso será necessário “um constante apoio político de alto nível, pressão dos pares e ações coordenadas à escala mundial, regional e local”. Dessa forma, os presentes comprometem-se a acelerar o ritmo da mudança, por meio da implementação de cinco Compromissos de Parceria(OCDE, 2005, pág. 3). Como se percebe a seguir, as três primeiras estratégias desse Compromisso de Parceria já estavam presentes no texto da Declaração de Roma, ainda que de forma “difusa”, diferente da Declaração de Paris, cujos compromissos apresentam-se pontuados, como exposto a seguir:

- Apropriação: os países parceiros exercem liderança efetiva sobre as suas políticas e estratégias de desenvolvimento e asseguram a coordenação das ações de desenvolvimento;

- Alinhamento: os doadores baseiam todo o seu apoio nas estratégias nacionais de desenvolvimento, instituições e procedimentos dos países parceiros;

- Harmonização: as ações dos doadores são mais harmonizadas, transparentes e coletivamente eficazes;

- Gestão centrada nos resultados: gerir os recursos e melhorar a tomada de decisões centradas nos resultados;

- Responsabilidade mútua: os doadores e os países parceiros são responsáveis pelos resultados obtidos em matéria de desenvolvimento;

Para cada uma dessas dimensões foram traçados Indicadores de Progresso, num total de 12, a fim de monitorar os progressos nos Compromissos de Parceria até o ano de 2010. O estabelecimento desses Indicadores de Progresso fez da Declaração de Paris o documento mais importante e conhecido entre os acordos firmados em prol da eficácia da ajuda ao desenvolvimento. Faz-se necessário esclarecer aqui a diferença entre alinhamento e harmonização nesse documento,

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“(...)seguimos a orientação da Declaração adotada em Roma (Fevereiro de 2003), no Fórum de Alto Nível sobre a Harmonização, bem como os princípios fundamentais propostos durante a Mesa Redonda de Marrakech (Fevereiro de 2004) sobre a gestão centrada nos resultados em matéria de desenvolvimento” (IBIDEM)

sendo que o primeiro termo diz respeito ao ajustamento das políticas de cooperação às estratégias de desenvolvimento, assim como às instituições e procedimentos dos países parceiros. Harmonização, por sua vez, refere-se às ações dos doadores, os quais se comprometem a, dentre outros, “aplicar, onde seja possível, disposições comuns à escala nacional para planejar, financiar, desembolsar, supervisionar, avaliar e informar o governo sobre as atividades dos doadores e os fluxos de ajuda” (idem,ibidem, pág.8). Nota-se que se tratam de compromissos assumidos ainda no nível da cooperação oficial dos países mas que, posteriormente, como se verá no Plano de Ação de Acra, virá a ampliar-se num chamado às instâncias da Sociedade Civil para que passem a compartilhá-los.

No âmbito da Harmonização destaca-se ainda o compromisso em “trabalhar em conjunto para reduzir o número de missões em campo e de análises de diagnóstico duplicadas e separadas (INDICADOR 10), e encorajar a formação conjunta, a fim de partilhar os ensinamentos da experiência e criar uma comunidade de práticas”. Ainda em relação ao compromisso de harmonização de políticas, os doadores comprometem-se a:

Harmonizar as suas atividades. A harmonização é muito mais crucial quando não exista uma forte liderança governamental. Ela deve focalizar-se em análises a montante, avaliações conjuntas, estratégias comuns, coordenação do compromisso político, bem como em iniciativas práticas, tais como a criação de escritórios comuns para vários doadores (OCDE, 2005, pág. 9).

HARMONIZAÇÃO METAS PARA 2010

9 Utilização de dispositivos ou

procedimentos comuns – Percentagem

de ajuda fornecida através de abordagens baseadas nos programas.

66% dos fluxos de ajuda são fornecidos no âmbito de abordagens baseadas em programas.

(a) 40% das missões de campo dos doadores são efetuadas conjuntamente. 10 Encorajar as análises conjuntas –

Percentagem de (a) missões de campo e/ou (b) trabalho analítico por países, incluindo estudos de diagnóstico que são efetuados em conjunto

(b) 66% dos trabalhos analíticos por países são efetuados conjuntamente.

Quadro 6: Indicadores 9 e 10 da Declaração de Paris e respectivas metas - Compromisso Harmonização .

Fonte: Declaração de Paris sobre a Eficácia da Ajuda ao Desenvolvimento, 2005

O compromisso com as metas acordadas nessas duas declarações explica a tendência observada de busca, sem precedentes, de uma homogeneização de práticas das Agências de Cooperação para o Desenvolvimento observadas nos últimos anos, inclusive na inclinação das

agências não governamentais nessa mesma perspectiva. Explica também o fato de a Alemanha, por exemplo, em janeiro de 2011 ter efetivado a fusão de suas duas agências oficiais de cooperação, o que já vinha sendo anunciado cerca de dois anos antes, formando uma única agência oficial de cooperação, a GIZ (Geselschaft für Internationale Zusammenarbeit), como será detalhado no capítulo quatro. De fato, segundo o documento, nesse fórum estiveram presentes os Ministros de países desenvolvidos e em desenvolvimento responsáveis pela promoção do desenvolvimento, Diretores de instituições multilaterais e bilaterais de desenvolvimento e Organizações da Sociedade Civil que praticam a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, os quais retornam a seus países com o firme propósito de aplicar os compromissos assumidos nos acordos internacionais.

Em 2008, três anos após a Fórum de Alto Nível sobre a Eficácia da Ajuda de Paris, foi realizada pelo Grupo de Trabalho sobre Eficácia da Ajuda30 uma avaliação que ficou conhecida como Pesquisa Sobre Monitorizarão da Declaração de Paris: Ajuda Mais Eficaz até 2010. Esse documento identificou a existência de uma relativa distância entre o cumprimento dos compromissos e as metas estabelecidos em Paris. A pesquisa apresenta os resultados totais dividindo os indicadores nos grupos daqueles que Podem ser Atingidos até 2010, Metas que Requerem Esforços mas Podem ser Atingidas e as Metas que Exigem Esforços Muito Especiais (grifo nosso). Este último grupo trata de seis objetivos de Paris (do total de 12) que “estão descarrilados e serão difíceis de atingir, a menos que os países parceiros e doadores intensifiquem muito seriamente os seus esforços”. Dentre os seis indicadores “desacreditados”, encontram-se o 9 e o 10 do quadro anterior, referentes ao Compromisso de Harmonização de políticas31. Essa informação faz-se importante quando se observa que o Fórum de Alto Nível de Acra, três anos depois, terá como um de seus principais focos, mais uma vez, a harmonização das políticas de cooperação tanto em nível global quanto nacional.

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Parceria internacional de doadores e países parceiros, coordenado pela OCDE/DAC. Vale registrar que os Grupos de Trabalho Sobre a Eficácia da Ajuda são grupos formados por representantes de governos dos “países doadores” e “receptores”, assim como representantes de organizações da sociedade civil articuladas nas plataformas internacionais, que trabalham sob o abrigo da OCDE no monitoramento dos compromissos estabelecidos na Declaração de Paris. O documento fornecido por estes grupos de trabalho, representam o principal subsídio para a elaboração da próxima declaração sobre a eficácia da ajuda.

31Vide resultado completo em Pesquisa Sobre Monitorizarão da Declaração de Paris: Ajuda Mais Eficaz ATÉ 2010 (www.oecd.org/dataoecd/41/39/41770958.pdf)