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Defender para atacar

No documento Braulio da Silva Machado (páginas 153-155)

3 PRIMEIRO JOGO DA FINAL DA LNF 2019: PATO FUTSAL X MAGNUS FUTSAL

3.3 SEGUNDO TEMPO (1º JOGO)

3.3.5 Defender para atacar

A importância da relação entre ataque e defesa foi tomando forma por força do desenrolar dos acontecimentos, que impuseram sobre as apreciações jornalísticas o reconhecimento de sua onipresença na constituição do jogo de Futsal. Ao esforço avaliativo sobre qualquer aspecto e a qualquer tempo do jogo impera a necessidade de observação do resultado da partida e do comportamento tático das equipes, geral e específico conforme o caso, como elementos compositivos da apreciação a ser produzida.

Por este motivo, na medida em que a materialidade do jogo foi se desenhando, elementos que caracterizam a complexidade do Futsal passaram a aparecer nos comentários, de forma intermitente e insuficiente, na tentativa de ajustar as explicações à realidade. No exemplo abaixo é possível vislumbrar pistas importantes a respeito da relevância de aspectos relacionais entre conteúdos esportivos tão distintos à compreensão do jogo de Futsal.

Daniel Pereira: Sorocaba dá um abafa agora, hein Marcelo.

Marcelo Rodrigues: É, tá diminuindo um pouco a marcação, tá tentando pressionar, pra diminuir o marcador (...) Marcação muito boa do Pato, dos 5 (cinco) minutos do primeiro tempo em diante, uma aula de marcação.

Em face do aumento da intensidade defensiva da equipe do Magnus Futsal, percebido pelo narrador da partida, o comentarista ofereceu explicação contraditória aos agendamentos e sentidos produzidos desde o início da transmissão, que por não contemplarem a realidade material dos acontecimentos não poderiam abranger a totalidade do jogo de Futsal, mas apenas demandas produtivas que, sob a referência de Luhmann (1997), podem ser identificadas como distintivas do sistema midiático.

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Neste contexto, como os atributos midiáticos identificados por Schmitz Filho (1999) não são capazes de esgotar as demandas para a compreensão do jogo, somente elementos impostos pela realidade concreta materializada em quadra oferecem os subsídios para a apresentação de noções de jogo pertinentes à explicação, neste caso, de um comportamento defensivo mais intenso, considerando a desvantagem no placar do jogo por parte da equipe do Magnus Futsal.

Ao observar o acúmulo de atos táticos praticados desde o início da partida por ambas as equipes fica descoberta a obviedade das relações entre ataque e defesa que forneceram as bases para a reciprocidade necessária à atuação individual e coletiva no jogo de Futsal. Por isso qualquer estranhamento a respeito da apreciação do comentarista só pode ser interpretado na perspectiva da incoerência daquilo que foi, pelo próprio profissional, anunciado ao longo da transmissão.

O comportamento de ambas as equipes e aquilo que haviam logrado no ambiente de jogo até o momento em questão legitimam a preocupação com aspectos defensivos do jogo, primeiro, por parte do Pato Futsal como forma de construir um resultado positivo e, segundo, por parte do Magnus Futsal como forma de buscar o controle das ações de jogo para diminuir a desvantagem no placar.

Desde a discussão levantada a respeito da possibilidade do Magnus Futsal utilizar o goleiro linha, o comentarista já havia assinalado a necessidade da equipe buscar o equilíbrio de suas ações de jogo. Embora não tenha mencionado antes a importância da preocupação com a resolução de problemas defensivos como condicionantes da qualidade do ataque, as ações de jogo executadas na sequência pela equipe denunciaram a dimensão de sua relevância.

3.3.6 É o líder

O trecho abaixo foi extraído da transcrição para retomar uma discussão iniciada no processo de descrição e análise do período pré-jogo da transmissão do evento, quando os desfalques de ambas as equipes para a primeira partida foram apresentados ao público sem a devida avaliação das possíveis repercussões de cada uma das ausências ao desempenho de suas respectivas equipes.

Por volta dos 8 (oito) minutos do segundo tempo o narrador da partida mencionou, especificamente, o desfalque da equipe do Magnus Futsal. Para avaliar a ausência de Rodrigo, fixo e capitão da equipe, o comentarista da partida foi acionado

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e ofereceu um parecer alinhado ao de seu interlocutor, como é possível verificar abaixo.

Daniel Pereira: Hoje o Sorocaba tem um desfalque importantíssimo que é o Rodrigo, hein. O Rodrigo tá suspenso, não tá no time hoje, porque o Rodrigo não é só a parte técnica, a parte emocional do time também fica abalado, oh Marcelo, o Rodrigo é o líder dessa equipe, é o artilheiro do campeonato. Marcelo Rodrigues: Sim, e aí ele, ele consegue incendiar o próprio grupo, né, ele dentro de quadra também é sempre muito importante pra equipe.

Se na abertura do evento a temática interessava porque poderia servir de ponto de partida ao entendimento de noções gerais a respeito de aspectos ofensivos e defensivos que seriam possivelmente prejudicados pela ausência do jogador na partida, no segundo tempo, considerando a necessidade de equilíbrio entre os dois polos denunciada nas apreciações formuladas a partir do terceiro gol do Pato Futsal, o desfalque de Rodrigo ganha relevância sustentado por um dado concreto da realidade.

É preciso chamar atenção, no entanto, que embora a pauta tenha voltado a ser abordada, o aprofundamento necessário da discussão continuou à margem das apreciações apresentadas ao público. A necessária reflexão a respeito do que o fixo e artilheiro da competição poderia incrementar tanto ao ataque, quanto à defesa da equipe, considerando a demanda por equilíbrio assinalada pelo comentarista, permaneceu negligenciada. Como provavelmente Rodrigo foi lembrado por conta do resultado da partida e das dificuldades encontradas pela equipe do Magnus Futsal, poderia ter sido aprofundado o debate sobre desdobramentos técnicos e táticos pertinentes à compreensão do jogo de Futsal.

Ainda que a dimensão psicológica, citada tanto pelo narrador, quanto pelo comentarista para abordar o tema, possua papel central na performance esportiva, os apontamentos formulados até então para conciliar as escolhas táticas das equipes e o placar da partida exigiam o aprofundamento e a contextualização da discussão acerca do equilíbrio entre ataque e defesa.

No documento Braulio da Silva Machado (páginas 153-155)