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Discussões Pré-jogo (1º jogo)

No documento Braulio da Silva Machado (páginas 68-74)

3 PRIMEIRO JOGO DA FINAL DA LNF 2019: PATO FUTSAL X MAGNUS FUTSAL

3.1 PRÉ-JOGO (1º JOGO)

3.1.11 Discussões Pré-jogo (1º jogo)

Embora pequenos trechos da transcrição do evento (em anexo) não tenham sido descritos e analisados durante o período pré-jogo, pelo fato das apreciações jornalísticas abordarem conteúdos esportivos sem relação direta com a temática de estudo, a maior parte dos 45 (quarenta e cinco) minutos de duração desta etapa da transmissão, constituem desdobramentos dos comentários extraídos para o texto dissertativo que poderiam ser explorados com maior profundidade.

As intervenções da equipe de transmissão durante este período foram fundamentadas predominantemente pelo atributo midiático caracterizado por Schmitz Filho (1999) como falação e fabulação esportiva. Um grande volume de informações foi apresentado ao público, carregado de jargões, gírias e terminologias próprias da modalidade e esvaziadas de significado para o ensino esportivo.

Na mesma medida em que elementos importantes à compreensão de jogo não foram devidamente discutidos, abordagens desconexas e até contraditórias dos diferentes conteúdos esportivos ganharam espaço, como no exemplo da discussão relacionada ao favoritismo, quando ao apontar as possibilidades de vitória do Pato

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Futsal, o comentarista Marcelo Rodrigues descaracterizou o próprio argumento apresentado no início da transmissão ao descrever as qualidades da equipe.

Considerando, ainda, que o tempo disponível para a elaboração das apreciações durante o período pré-jogo de transmissão oferece a possibilidade de esgotamento das diferentes pautas, a estimativa é de que durante o andamento da partida, devido à dinâmica de execução das diferentes ações de jogo, a atuação da equipe de transmissão seja restringida à ordem dos acontecimentos, sempre imprevisíveis e de curta duração.

Neste sentido, se houve dificuldade em aprofundar as discussões antes do início da partida, é possível que aqueles trechos da transmissão apontados como prováveis agendamentos para discussões posteriores, como no caso dos desfalques fora e dentro de quadra, de Sergio Lacerda, treinador do Pato Futsal, e de Rodrigo, capitão do Magnus Futsal, respectivamente, não sejam devidamente retomados ao longo do evento.

Para cada subcapítulo desenvolvido, pelo menos um ponto central poderia ter sido mais bem abordado pela equipe de transmissão no intuito de oferecer maior compreensão do fenômeno esportivo aos telespectadores. No exemplo dos desfalques, para além do possível agendamento a respeito da discussão que esclareceria a motivação de ambas as ausências, perdeu-se a oportunidade de inaugurar, já no início do evento, um debate a respeito da influência que os dois personagens exerciam sobre aspectos ofensivos e defensivos de suas equipes.

O caráter inaugural sugerido diz respeito a todos os desdobramentos capazes de sustentar discussões desenvolvidas a partir das relações entre ataque e defesa presentes em cada uma das intervenções jornalísticas descritas e analisadas no estudo. Eleger a compreensão de jogo como pano de fundo para os sentidos a serem produzidos ao longo da transmissão, exigiria que as apreciações costurassem entre si, cenários que permitissem a observação de uma circularidade noticiosa coerente.

Neste sentido, o estabelecimento de uma comparação entre a final da LNF 2019 e o último capítulo de uma novela, sob a justificativa de que parte do público só procura o evento por conta de tratar-se do desfecho da competição, exigiria uma preocupação maior com o esclarecimento de questões relativas à compreensão de jogo, preservando a perspectiva de captar novos telespectadores.

Como a comparação estabelecida não é capaz, por si só, de sustentar noções de jogo relacionadas com a temática de estudo, a própria composição geral do cenário

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esportivo midiatizado poderia retomar constantemente elementos capazes de transformar os atributos finalísticos do evento em ancoragens voltadas à criação e fortalecimento de vínculos entre o público mais recente e a modalidade.

A apresentação dos motivos pelos quais a equipe do Pato Futsal chegou até a final da competição constitui um exemplo de atributo finalístico do evento que continha elementos capazes de apresentar aspectos relacionais entre diferentes conteúdos de jogo ao público e passíveis de compor um cenário de ampliação e aprofundamento da compreensão do fenômeno esportivo.

No entanto, o que poderia ser uma oportunidade para discussões relativas à complexidade técnica e tática presente nos enfrentamentos entre ataque e defesa de ambas as equipes foi reduzido a uma abordagem restritiva, do ponto de vista do atendimento de demandas oriundas dos sistemas esportivo e educacional.

O individualismo transferido da força defensiva formada pelo conjunto de atletas à figura do goleiro Djony atende lógicas de produção consolidadas pelo sistema midiático e que dificultam a apreensão de noções de jogo perspectivadas no que cada equipe pode de fato oferecer em quadra a partir de seus comportamentos coletivos mais recorrentes ao longo da competição.

Já para a situação em que uma câmera panorâmica foi apresentada como novidade para a transmissão do evento, embora tenha se tratado de um agendamento que previa sua utilização durante o desenrolar do jogo, a equipe de transmissão, especialmente o comentarista, poderia ter justificado a adoção da ferramenta.

Ao discutir que a câmera seria um sonho para qualquer comentarista e uma atração para quem gosta de tática de Futsal, Daniel Pereira e Marcelo Rodrigues não esclareceram quais seriam as diferenças entre uma câmera tradicional, posicionada geralmente em um ponto elevado de uma das laterais da quadra e uma visão a partir do teto do ginásio.

Foi deixada de lado uma potencial discussão a respeito da importância de uma câmera panorâmica como forma de verificar aspectos táticos específicos do Futsal (outras perspectivas de análise), como posicionamentos e movimentações das equipes durante a execução de ações coletivas de ataque e defesa, que poderiam contribuir desde antes da partida na preparação do público, para o que poderia vir a compor um cenário favorável à compreensão do jogo.

A entrevista do ex-jogador Fininho, na mesma esteira em que a apresentação das qualidades que levaram a equipe do Pato Futsal até a final da competição, em

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resposta ao atendimento de demandas jornalísticas, ofereceu destaque a aspectos individuais do jogo em detrimento dos coletivos, o que é incompatível com uma abordagem voltada para o entendimento das relações entre ataque e defesa que sustentam as diferentes ações em quadra.

Entretanto, foi uma passagem da transmissão que oportunizou um contraponto ao telespectador, oferecido pelo próprio entrevistado do quadro, que embora não tenha sido aprofundada pelo entrevistador, tampouco esgotada pela breve intervenção de Fininho, levantou a possibilidade de se discutir a realidade concreta do jogo de Futsal; quando ao escalar sua seleção dos sonhos sugeriu uma equipe sem o seu próprio nome, com mais de um jogador por posição e composta por mais do que os 5 (cinco) jogadores solicitados por Daniel Pereira.

O trecho extraído do período pré-jogo para o texto dissertativo que contempla uma breve discussão a respeito de um lance executado pelo comentarista Marcelo Rodrigues, em jogo festivo dos profissionais de imprensa, em que realiza uma movimentação (diagonal) para a tentativa de recepção de um passe (paralela), poderia ter sido apresentado como exemplo de característica específica do jogo que a câmera panorâmica permitiria apresentar ao público.

Depois, quando os jogadores Djony e Leozinho são comparados como se isto possível fosse, ao adotar uma postura de enfrentamento para a apresentação das qualidades de ambos os atletas, além da descaracterização dos atributos coletivos que cada jogador, a princípio, seria capaz de representar (defesa e ataque respectivamente), a discussão das relações presentes entre ambos os conteúdos na efetiva atuação dos jogadores não foi suficientemente desenvolvida.

Se por um lado prevaleceu o comportamento midiático de valorização de características individuais de cada atleta (espetacularização), como se Djony fosse capaz de enfrentar sozinho o ataque do Magnus Futsal, enquanto Leozinho representaria talvez o único perigo à defesa do Pato Futsal, o prejuízo à compreensão de jogo restou depositado sobre a desconsideração das possíveis implicações da atuação de ambos os jogadores ao contexto ofensivo e defensivo geral de suas respectivas equipes.

O papel de Djony na distribuição de jogo, armação de contra-ataques e participação como goleiro linha na equipe do Pato Futsal foi tão desprezado na composição do cenário comparativo, quanto a capacidade de Leozinho atuar no sistema defensivo da equipe do Magnus Futsal, comportamento necessário a

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qualquer jogador, devido a aspectos relacionados ao dinamismo do jogo e que são cruciais para a compreensão dos comportamentos individuais e coletivos em quadra. A escolha dos 10 (dez) gols mais bonitos da competição e o anúncio da hashtag intitulada #FutsalNoSportv, destaca de forma diferente um mesmo entendimento que compõe a atuação do jornalismo esportivo, em que a interação do público não é relevante para a definição das pautas que integram o cenário esportivo midiatizado.

A escolha dos gols mais bonitos foi realizada exclusivamente pela equipe de transmissão, enquanto o convite à participação do público via redes sociais, que poderia ter elegido a seleção de lances apresentados, foi estimulado por Daniel Pereira, narrador da partida, através de exemplos restritos ao envio de fotos e à declaração de torcida por uma ou outra equipe.

Embora a participação efetiva dos telespectadores só possa ser concretamente avaliada ao longo do evento e via exploração detalhada da hashtag, o cenário esportivo descrito e analisado sugere que as interações dos torcedores não serão utilizadas pela equipe de transmissão como temas geradores de conteúdos pertinentes à compreensão de diferentes contextos esportivos.

Portanto, a possibilidade de estabelecimento de um espaço reservado à apresentação de dúvidas, impressões e opiniões sobre diferentes aspectos do jogo, que poderiam revelar tanto o nível de compreensão de jogo, quanto a expectativa do público em relação às pautas abordadas pela equipe de transmissão, parece não compor o horizonte da atuação jornalística.

Por último, o apontamento de favoritismo entre as duas equipes não aprofundou a discussão a respeito das qualidades que, embora tenham sido apresentadas muito timidamente durante o período pré-jogo, definiram os perfis predominantes de ambas as equipes na competição.

O comentarista apontou o Magnus Futsal como mais provável campeão pelo fato de jogar a segunda partida em seu próprio ginásio, reforçando como incremento ao status de favorito; a força ofensiva da equipe. Já ao discutir as possibilidades de vitória do Pato Futsal, Marcelo Rodrigues mencionou as bolas paradas, a utilização do goleiro linha e até a torcida da equipe como razão capaz de mitigar a atuação do Magnus Futsal e inverter a situação prescrita.

Há uma ausência de coerência na argumentação que recai, portanto, na necessidade de hierarquização de conteúdos ofensivos como prevalentes em relação aos defensivos. A discussão necessária neste caso precisaria retomar os atributos

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defensivos apontados desde o início da transmissão como responsáveis pela equipe do Pato Futsal ter chegado até a final. A indicação justificada destes aspectos como características capazes de levar o Pato Futsal ao título da competição permitiria ao público entender com maior clareza as relações entre o ataque e a defesa que constituem a atuação das equipes em um jogo de Futsal.

Da mesma forma, se a capacidade de sustentação defensiva de uma equipe é capaz de inverter uma situação de favoritismo da outra, seria necessário apontar quais fragilidades um comportamento predominantemente ofensivo pode oferecer ao desempenho esportivo.

Esta é uma discussão que acabou perdida, ao menos no período pré-jogo da transmissão, e que poderia contribuir tanto para a manutenção da coerência dos argumentos apresentados ao longo das apreciações jornalísticas, quanto para o entendimento de determinadas noções de jogo a partir de aspectos relacionais entre diferentes conteúdos esportivos e seus desdobramentos.

Todos os elementos retomados constituem exemplos de conteúdos potencialmente passíveis de ressignificações dentro da própria transmissão do evento e que poderiam contribuir para a compreensão de jogo de maneira que lógicas de produção características do sistema midiático fossem preservadas. A impossibilidade de transformação do contexto produtivo do jornalismo esportivo permite, por outro lado, que estes elementos sejam extraídos do cenário produzido pela mídia na forma de temas geradores de conteúdos capazes de responder demandas próprias dos sistemas esportivo e educacional.

A coerência entre a abordagem dos diferentes conteúdos numa perspectiva que considere os aspectos relacionais entre ataque e defesa e todos os seus desdobramentos na dinâmica da modalidade é um primeiro ponto chave na composição de roteiros para produtos tecnológicos educacionais que contemplem a compreensão de jogo.

Um segundo aspecto importante tem relação com a participação efetiva do público na definição de pautas a serem abordadas ao longo da produção dos conteúdos audiovisuais. A necessidade de apresentar ao público, seja ele qual for, conteúdos que contenham significado e ao mesmo tempo potencial de ampliação de sua capacidade e autonomia para discutir o objeto de estudo deve nortear a produção de roteiros com caráter educativo.

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Estes encaminhamentos preliminares são propostos na perspectiva de encontrar sustentação nas orientações gerais elaboradas por Comparato (1995) para a concepção de roteiros que, no contexto do desenvolvimento de produtos tecnológicos voltados ao ensino esportivo, oferecem o respaldo necessário e referenciado em Freire e Guimarães (2013) e Kaplún (2002) à ressignificação de conteúdos mediados pela educomunicação.

Os temas geradores (ataque, defesa, suas relações e desdobramentos) e os demais elementos extraídos nas próximas etapas da investigação encontram-se reunidos ao final do processo descritivo-analítico para a formulação definitiva das indicações estruturais e transversais para roteiros de produtos tecnológicos educativos.

No documento Braulio da Silva Machado (páginas 68-74)