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1 INTRODUÇÃO

2.3 INOVAÇÃO

2.3.1 Definição e Classificação das Inovações

As primeiras discussões sobre inovação provêm do século XVIII, quando imperou a Teoria Econômica Clássica desenvolvida a partir do liberalismo econômico e da incorporação das inovações tecnológicas da Revolução Industrial. O marco histórico desta teoria foi a publicação do livro ‘Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações’ de Adam Smith em 1776 que defendia através do liberalismo econômico que a livre concorrência entre os empresários regularia o mercado, provocando a queda de preços e as inovações tecnológicas necessárias para melhorar a qualidade dos produtos e aumento do ritmo de produção (GOLLO, 2006).

No final do século XIX surge a perspectiva Neoclássica, que focou o debate para o mercado, suas relações e para a investigação de como as firmas alocavam os seus recursos (entre eles a tecnologia), e como buscavam a maximização dos lucros. Nesta perspectiva o processo de inovação era encarado como uma mera atividade de alocação ótima de recursos (GOLLO, 2006).

No entanto, em 1912, foi Schumpeter que deu lugar de destaque para a inovação na teoria econômica. Schumpeter (1960) defende que a essência do processo de desenvolvimento

econômico é a inovação. Para este autor as inovações podem ser de cinco tipos (SCHUMPETER, 1960):

a) introdução de um novo produtos ou mudança qualitativa em produto existente; b) introdução de um novo modelo de produção ou processo que seja novidade para

determinada indústria;

c) abertura de um novo mercado;

d) introdução de uma nova fonte de matéria prima ou de insumos; e) alteração na nova forma de organização da indústria.

Para que seja considerada uma inovação Schumpeter (1960) destacava que ninguém poderia ter lançado ou experimentado algo igual ou semelhante anteriormente. Uma nova combinação ou inovação tem que ser algo realmente inédito para o mercado ou para o segmento de atuação da empresa.

No entanto, uma inovação também requer outros atributos. Desse modo, com frequência alguns termos são erroneamente confundidos com inovação, como os descobrimentos e as invenções. Estes termos apresentam diferenças importantes. A inovação possui racionalidade econômica, devendo ser comercializável e ter utilidade de mercado. Os descobrimentos respondem a uma racionalidade científica de busca pela verdade, mas não envolvem necessariamente um efeito econômico. A invenção é a ocorrência de uma ideia de um novo produto ou processo, ou seja, é uma novidade, possui racionalidade técnica, porém a viabilidade econômica também não é considerada. A inovação, possuindo racionalidade econômica é a comercialização de invenções, ou seja, as invenções são elementos necessários, mas não suficientes para que se processe a inovação (GOLLO, 2006).

Outro conceito muito similar ao de Schumpeter sobre inovação, é o de Dosi (1988) que entende inovação como um processo de busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, processos de produção e arranjos organizacionais. Já Tidd, Bessant e Pavitt (2008), ao invés de cinco formas de inovação, assimilam em quatro formas:

a) inovação de produto ou serviços: que envolve mudanças na estrutura ou nas características dos produtos ou serviços que a empresa desenvolve, como por exemplo o novo design de um carro, um novo pacote de seguro contra acidentes para bebês recém-nascidos e um novo sistema de entretenimento doméstico;

b) inovação de processo: que caracterizada por mudanças na forma em que os produtos ou serviços são criados ou entregues, como por exemplo a mudança nos métodos e nos equipamentos utilizados na fabricação desse carro, ou do sistema de entretenimento doméstico, e até mesmo nos procedimentos administrativos, no caso do seguro;

c) inovação de posição: que aborda as mudanças no contexto em que produtos ou serviços são introduzidos, como quanto Henry Ford com a produção em massa tornou os carros mais acessíveis;

d) inovação de paradigma: que referencia as mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam o que a empresa faz, como por exemplo mudanças como nas companhias aéreas de baixo custo e no reposicionamento de commodities como sucos e cafés que passam a ser comercializadas com maior valor agregado – como no caso da Nespresso.

Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008) pode ocorrer muitas vezes uma inovação hibrida, ou seja, a ocorrência de uma mudança que envolve mais de um tipo de inovação. Um exemplo é o que ocorreu na revolução fordista, quando a nova forma de produção de carros acabou por trazer inovações de processo, de paradigma e de posicionamento.

Neste sentido, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estabelece o Manual de Oslo com algumas definições dos autores supracitados, com destaque para Schumpeter. O Manual de Oslo (OCDE; 2005, p. 55) define inovação como “a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”. Desse modo, o Manual de Oslo classifica os tipos de inovação em quatro tipos: inovações de produto, inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing.

O Manual de Oslo (OCDE, 2005) declara que o requisito mínimo para se definir uma inovação é que o produto, o processo, o método de marketing ou organizacional sejam novos ou significativamente melhorados para a empresa. Isso inclui produtos, processos e métodos que as empresas são as pioneiras a desenvolver e aqueles que foram adotados de outras empresas ou organizações. Dessa forma, a inovação não é necessariamente uma inovação para o mercado, pode ser apenas uma inovação para empresa que a desenvolveu, como por exemplo quando a empresa altera o seu processo de produção.

Nesse ínterim, as inovações podem ser ainda estudadas de vários modos e/ou perspectivas (DAMANPOUR; GOPALAKRISHNAN, 1998; YANG; HSU, 2010). A inovação pode ser dividido em inovação incremental e radical de acordo com o grau de alterações que ocorrem nos produtos, serviços e/ou processos (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; YANG; HSU, 2010). A inovação radical refere-se a mudanças fundamentais nas atividades da organização das práticas existentes, ao passo que a inovação incremental refere- se ao menor grau de alterações (DAMANPOUR; GOPALAKRISHNAN, 1998; YANG; HSU, 2010). Conforme Tidd, Bessant e Pavitt (2008), a maioria das inovações em processos podem ser classificadas como inovações incrementais, pois a empresa busca executar as mesmas atividades que seus concorrentes, porém com menores custos e mais eficazmente. As inovações incrementais constituem-se de melhoramentos ou simples ajustamentos a tecnologias de produtos e de processos em curso. Já as inovações radicais são mais raras e custosas, pois sua introdução no mercado leva à revogação da tecnologia anterior e transforma a maneira como algo é utilizado, sentido ou visto. São como mudanças paradigmáticas, constituindo-se em alterações significativas nas práticas e no conhecimento existente (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).

Além disso, a inovação pode ser estudada sob as perspectivas tecnológicas e humanas (YANG; HSU, 2010). A perspectiva tecnológica posiciona a pesquisa e desenvolvimento (P&D) como os principais motores da inovação. Embora, a inovação não possa ser totalmente de base tecnológica, a tecnologia é muito destacada nas pesquisas sobre inovação (CLAVER et al., 1998). Neste sentido, o investimento em atividades de pesquisa e desenvolvimento comprovadamente está relacionado a inovação (YANG; HSU, 2010).

Do outro lado, a perspectiva dos fatores humanos possui um papel importante na inovação das empresas (KANDEMIR; CALANTONE; GARCIA, 2006). Uma vez que a inovação se origina de converter ideias em algo rentável, as organizações devem desenvolver um ambiente que suporte a geração de ideias (YANG; HSU, 2010). Portanto, é necessário criar um ambiente interno que incentiva as pessoas a estar dispostos a inovar (YANG; HSU, 2010).

Corroborando com o papel que o investimento em pesquisa e desenvolvimento e que o incentivo aos fatores humanos tem na inovação, pode-se citar a Pesquisa de Inovação, PINTEC (2011). A PINTEC apresenta indicadores setoriais das atividades de inovação das empresas brasileiras, tendo como referência conceitual e metodológica o Manual de Oslo (OCDE, 2005) e o modelo proposto pela Statistical Office of the European Communities,

EUROSTAT, consubstanciados nas versões 2008 e 2010 da Community Innovation Survey – CIS.

Desse modo, a PINTEC (2011) trata que as atividades que as empresas desempenham para inovar são de dois tipos: pesquisa e desenvolvimento, envolvendo a pesquisa básica, aplicada ou experimental e as atividades não relacionadas a pesquisa e desenvolvimento, consistindo na aquisição de bens, serviços e conhecimentos externos. A mensuração os investimentos realizados nestas atividades revela o esforço empreendido pela empresa para a inovação de produto e processo e é um dos principais objetivos das pesquisas de inovação (PINTEC; 2011).

A partir da bibliografia analisada sobre inovação elaborou-se o conceito que será utilizado na pesquisa. No entanto, ficam fora do escopo da pesquisa as inovações de marketing e inovações organizacionais. Para a variável inovação apenas serão abordadas as inovações de produto e processo. Assim, o conceito de inovação utilizado no estudo pode ser observado no Quadro 4.

Quadro 4 – Conceito de inovação do escopo do estudo

Variável Conceito Autores

Inovação

A implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado e o investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em recursos humanos para as atividades de inovação.

SCHUMPETER, 1960; OCDE, 2005; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; YANG;

HSU, 2010; PINTEC, 2011 Fonte: Elaborado pela autora (2015).