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1 INTRODUÇÃO

2.3 INOVAÇÃO

2.3.2 Redes interorganizacionais e inovação

O desafio atual da inovação incentiva as empresas a buscar estabelecer relações interorganizacionais com parceiros heterogêneos que lhes permitem acessar um conjunto de recursos e assim superar as dificuldades relacionadas a este desafio (BUENO; BALESTRIN, 2012; DAGNINO; LEVANTI; PICONE, 2015). Como resultado, as redes interorganizacionais surgem como o lócus da inovação, como alguns autores estabelecem (POWELL; KOPUT; SMITH-DOERR; 1996; DAGNINO; LEVANTI; PICONE, 2015; ROTHWELL, 1994). Nesse sentido, a inovação tornou-se um jogo de muitos players, onde grupos regionais, cadeias de fornecimento, consórcios de desenvolvimento de produto ou alianças estratégicas que agrupam organizações de diferentes formas e tamanhos para

trabalharem em forma de redes para o desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; SODA, 2011).

Uma das razões que as inovações surgem por meio das redes interorganizacionais é o acesso a recursos estratégicos propiciada. Assim, Tidd, Bessant e Pavitt (2008) e Soda, (2011) colaboram evidenciando que a exploração de recursos e capacidades de organizações externas, por meio de acordos e de cooperação, é capaz de reduzir os custos de desenvolvimento tecnológico, os riscos de entrada no mercado e o tempo de desenvolvimento de um novo produto. Além disso, Tidd, Bessant e Pavitt (2008), explora que as dificuldades em se estabelecer processos de inovação por meio de uma única empresa, estão relacionadas principalmente com a necessidade significativa de variedade de conhecimento que a inovação exige.

Em adição, Powell (1990) revelou que as formas de organização em redes representam um meio de ter acesso rápido a know-how que não pode ser produzido internamente. Desse modo, para o autor, por meio de redes baseadas na comunicação e em obrigações mútuas, criam-se diferentes lógicas e combinações de informação e recursos que sustentam importantes condições para a inovação. Além disso, as redes apresentam maior grau de vantagem em lidar com o ambiente que premia a inovação ou produtos customizados, as firmas juntas com outras companhias e/ou universidades são capazes de reduzir os riscos e de compartilhar os custos do desenvolvimento de produtos.

Neste sentido, algumas pesquisas empíricas (RITTER; GEMUNDEN; 2003; ZENG; XIE; TAM, 2010; LEE et al.; 2010) também colaboram com a proposição de que o acesso a recursos por meio de redes interorganizacionais está relacionado com inovação. Ritter e Gemunden (2003) compreendem que uma empresa que participa de uma rede precisa desenvolver uma ‘competência de rede’ (network competence), como sendo uma competência essencial (Core Competence). Para o atingimento de uma competência de rede são necessários quatro fatores: o acesso aos recursos (financeiros, físicos, pessoal e informacionais), a orientação da rede para a gestão de recursos humanos, integração da estrutura de comunicação, e abertura da cultura corporativa. Desse modo, para os autores, as trocas de produtos, serviços, dinheiro, informação e mão de obra são consideradas uma parte essencial de uma relação interorganizacional. Além disso, os autores confirmaram através da pesquisa empírica quantitativa, que o grau de competência da rede influencia no grau de sucesso das inovações.

Zeng, Xie e Tam (2010), por sua vez, verificaram que a cooperação está positivamente relacionada à performance de inovação de pequenas e médias empresas. Desse modo, as pequenas e médias empresas podem utilizar-se de diferentes formas de cooperação para ter acesso a conhecimento e demais recursos externos para a inovação. Entre as formas de cooperação destacam-se as com outras empresas, com organizações governamentais e com instituições de pesquisa e ensino (ZENG; XIE; TAM, 2010).

Lee et al. (2010) simularam o comportamento a longo prazo de firmas que possuem alianças estratégicas de P&D comparando com o comportamento de firmas que não possuem. Assim, verificaram que a longo prazo, as empresas que formam alianças de P&D para ter acesso a ativos ou recursos complementares de seus parceiros tem melhores resultados do que as empresas que atuam de forma individualizada. Em adição, verificaram também que quanto maior a sinergia de recursos e capacidades entre as firmas, maior a sua competitividade e desempenho. Neste sentido, Lee et al. (2010) concluem que as alianças estratégicas não devem ser apenas utilizadas para reduzir os custos de P&D, mas também para obter sinergia de recursos e capacidades.

Portanto, o acesso recursos, pode ser considerado uma das importantes condições para a inovação propiciada pelas redes interorganizacionais. Dessa forma, as seguintes hipóteses de pesquisa foram formuladas:

H7: O acesso aos recursos físicos, por meio de redes interorganizacionais, influencia positivamente a inovação das empresas.

H8: O acesso aos recursos financeiros, por meio de redes interorganizacionais, influencia positivamente a inovação das empresas.

H9: O acesso aos recursos humanos, por meio de redes interorganizacionais, influencia positivamente a inovação das empresas.

H10: O acesso aos recursos organizacionais, por meio de redes interorganizacionais, influencia positivamente a inovação das empresas.

H11: O acesso aos recursos reputacionais, por meio de redes interorganizacionais, influencia positivamente a inovação das empresas.

Ainda, o efeito da inovação no desempenho das empresas também pode ser analisado. Neste sentido, a relação entre inovação e o desempenho tem sido estabelecida por vários estudos nas últimas décadas, mostrando que as atividades de inovação e os seus resultados

(outputs) são importantes correlatos e até mesmo determinantes para o desempenho superior das empresas (GEROSKI; MACHUN; VAN REENEN, 1993; LEIPONEN, 2000; BRITO; BRITO; MORGANTI, 2009; LOVE; ROPPER; DU, 2009; ROSENBUSCH; BRINCKMANN; BAUSCH, 2011; GRONUM; VERREYNNE; KASTELLE, 2012).

Segundo Love, Ropper e Du (2009) a investigação sobre a ligação entre o produto da inovação e rentabilidade na empresa sugere que os inovadores são persistentemente mais rentáveis do que não inovadores. Segundo o autor, isso pode estar relacionado a posição no mercado das empresas inovadoras, as quais são capazes de proteger os novos produtos da concorrência que normalmente prejudica os lucros, ou também porque as empresas inovadoras são capazes de introduzir várias inovações ao longo do tempo, e, portanto, são capazes de manter altos lucros, embora o efeito de lucro de qualquer inovação individual pode ser transitório. Outros autores (GEROSKI; MACHUN; VAN REENEN, 1993; LEIPONEN, 2000), concluem que os efeitos de rentabilidade de inovações individuais são relativamente passageiros, e que os inovadores são persistentemente mais rentáveis do que os não inovadores porque eles possuem capacidades internas superiores.

Rosenbusch, Brinckmann e Bausch (2011) que realizaram uma meta-análise da relação entre a inovação o desempenho de pequenas e médias empresas, relatam que embora as considerações teóricas sugerem efeitos positivos da inovação no desempenho das empresas, a literatura também aponta uma variedade de efeitos negativos. Entre os efeitos negativos os autores citam que a inovação é um empreendimento arriscado que consome recursos e capacidades substanciais da empresa. Por fim, Rosenbusch, Brinckmann e Bausch (2011) verificaram que o efeito final da inovação para a empresa é positivo, porém a força da relação entre inovação e desempenho é dependente do contexto em que a empresa inovadora opera.

Brito, Brito e Morganti (2009) constataram que as evidências empíricas não suportam consistentemente a relação entre a inovação e o desempenho ao nível da empresa. No trabalho dos autores, que utilizaram uma amostra de empresas do setor químico brasileiro, analisando por meio da técnica de regressão linear múltipla a relação entre a atividade de inovação e o desempenho em termos de crescimento da receita liquida e da lucratividade. Os resultados mostraram que não ocorre relação significativa entre os indicadores de inovação e as métricas de lucratividade. Por outro lado, foi encontrada uma relação positiva e estatisticamente significativa com o crescimento da receita líquida. A conclusão dos autores é de que a inovação tende a influenciar mais no crescimento da empresa do que em sua lucratividade.

Além disso, Gronum, Verreynne e Kastelle (2012) realizaram um estudo com dados de 1435 pequenas e médias empresas da Austrália e verificaram que as redes têm um impacto positivo na inovação. Outro resultado dos autores é que a relação entre redes e inovação foi mais pronunciada do que a relação entre redes e desempenho. As redes têm uma relação positiva pequena com o crescimento das vendas, e nenhuma relação evidente com rentabilidade e crescimento da produtividade.

No entanto, quando nas redes estão envolvidos processos e resultados de inovações, o desempenho é maior. Neste sentido, os autores consideram que a inovação é simplesmente um dos vários mecanismos pelos quais as empresas podem desbloquear ou acessar os benefícios de atuar em rede. Este trabalho retoma a evolução do processo de inovação

trabalhado por alguns autores (ROTHWELL, 1994; AHUJA, 2000; BALESTRIN;

VERSCHOORE, 2008), em que a inovação por meio de redes interorganizacionais tem se tornado cada vez mais importante para as empresas.

Porém, os mecanismos através dos quais os benefícios do desempenho das redes se traduzem em desempenho para a empresa nem sempre é evidente a partir dos resultados de pesquisa (GRONUM; VERREYNNE; KASTELLE, 2012). Embora a relação entre redes e desempenho parece clara, Gronum, Verreynne e Kastelle (2012) verificaram que a inovação atua como mediador da relação entre a rede e o desempenho. Além disso, a inovação também foi apontada como o mecanismo que facilita o acesso aos benefícios derivados do capital social incorporado na estrutura de rede e da heterogeneidade do conhecimento adquirida por meio da rede (GRONUM; VERREYNNE; KASTELLE, 2012). Neste sentido, apresenta-se a seguinte hipótese de pesquisa:

H12: A inovação influencia positivamente o desempenho das empresas inseridas em redes interorganizacionais.