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DEFINIÇÃO DA EXPRESSÃO PLÁSTICA COMO ÁREA CURRICULAR

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1. DEFINIÇÃO DA EXPRESSÃO PLÁSTICA COMO ÁREA CURRICULAR

A definição do que é a Expressão Plástica tem evoluído conforme o modelo de Educação Artística referente. Houve tempos em que a Expressão Plástica era considerada unicamente um espaço de expressão em que as crianças podiam divertir- se, fazendo habilidades manuais com o fim de se distraírem ou descansarem. Hoje, a concepção é diferente. Para além da área ser integrada no conjunto das actividades artísticas, funcionando como peça de uma “engrenagem conjunta”, ela tem importância estabelecida, objectivos próprios que coadjuvam na consecução de uma formação pessoal global.

Se nos limitarmos à etimologia, o termo “expressão” tem a sua origem no verbo latino exprimere que quer dizer, entre outras coisas, “fazer sair”, “revelar-se”, “manifestar-se exteriorizando-se”. A junção do termo “plástica” foi, segundo Sousa (2003), uma adopção para o âmbito escolar do termo assumido nas artes portuguesas, para designar o “modo de expressão-criação através do manuseamento e modificação de materiais plásticos” (p.159).

Lowenfeld (1977) afirma que a Arte (o desenho) para a criança é a expressão do seu pensamento. Os desenhos infantis reflectem os sentimentos e pensamentos, as percepções, as criações, os gostos, o desenvolvimento físico e social da criança como indivíduo. Para este autor e seus seguidores esta actividade gráfica de expressão de emoções e pensamentos é a Expressão Plástica.

Pensamos que o conceito assim explicado, estando tão significativamente associado ao nome da área disciplinar, a deixará refém do Modelo de Expressão descrito no capítulo anterior. Durante muito tempo atribuiu-se à Expressão Plástica o estatuto de ser o único espaço de valorização da actividade criativa que, por sua vez, se via praticamente reduzida ao desenho. Actualmente a criatividade assume-se como

transversal a todas as áreas e a expressividade também, logo a área da Expressão Plástica será mais do que isso.

Na perspectiva actual, a expressão não é uma simples saída de sentimentos - supõe a transposição com visualidade desse sentimento, imagem ou ideia para certo material (Eisner, 1995). A Expressão Plástica enquanto parte do currículo pretende que os estudantes adquiram um “reportório de habilidades” que posteriormente lhe possibilitem a expressão e, na sua planificação, deve antever-se a transversalidade dos conhecimentos,

Uma das considerações a tomar na hora de planificar as actividades de aprendizagem é a determinação do seu valor de transferência. Em que medida os resultados que se desejam produzir com aquela actividade concreta se relacionam com acontecimentos externos à aula? (…) Significa ensinar a transferência, assinalando as relações aí onde elas existem e fazer com que os alunos as encontrem (Eisner, 1995, p. 151).

Juntando as referências dadas, localizando a Expressão Plástica como disciplina na escola do 1.º Ciclo actual, pensamos que a mesma continua a ser espaço relevante para a expressão de sentimentos e emoções mas deve fazê-lo em associação e sinergia com as restantes expressões, inclusive a verbal, falada e escrita. Para além disso, ela deve objectivar uma alfabetização no âmbito visual e plástico, contribuindo para que os alunos, desde cedo, adquiram e reconheçam critérios válidos para interpretar, desfrutar e elaborar representações artísticas e formas de comunicação visual.

A Expressão Plástica, fazendo parte da área das “Expressões Artísticas Integradas”, submete-se ao conceito de currículo integrado com carácter globalizante, na medida em que as áreas que o constituem são transversais e se articulam entre si. As Expressões, ainda que tendo linguagens específicas, fazem parte de um todo indivisível, fora do qual, cada uma delas perderá parte do seu sentido pois interrompe a relação de reciprocidade (Lopes, 2003). Aí, enquanto parte disciplinar, mantém o seu valor de actividade simbólica e de comunicação visual. Contudo não se subordina ao valor da expressão individual e da produção artística, contempla outras prioridades que ultrapassam as fronteiras disciplinares tais como: sensibilidade, intuição, pensamento criativo, pensamento visual transversal a todas as áreas do conhecimento.

Mas, antes de concretizar o lugar específico atribuído à Expressão Plástica no 1.º Ciclo do Ensino Básico, é importante explicitar um conjunto de significados que, daqui e diante, associaremos à ideia de currículo.

Diversos autores (Goodlad, 1979; Brophy & Good, 1981; Estebaranz, 1994; Diogo & Vilar, 1999) destacaram etapas específicas para a decisão e o desenvolvimento curricular. Entre as classificações apresentadas por estes autores, podemos resumir quatro etapas coincidentes:

· O currículo oficial (Diogo & Vilar, 1999), formal (Goodlad, 1979) ou prescrito (Brophy & Good, 1982) – é aquele que é definido em termos de linhas gerais nos documentos oficiais, nomeadamente no currículo nacional, nas metas de aprendizagem e nos programas.

· O currículo percepcionado ou instrucional (Goodlad, 1979), interpretado ou planificado (Brophy & Good, 1982), traduzido (Diogo & Vilar, 1999) – é aquele que os professores destacam após a leitura e análise do currículo formal oficial e que explicitam, verbalmente ou por escrito, nas suas planificações.

· O currículo operacionalizado (Goodlad, 1979), real ou trabalhado (Diogo & Vilar, 1999), implementado ou em acção (Brophy & Good, 1982), dado ou vivenciado (Estebaranz, 1994) – corresponde àquele que tem concretização pedagógica na sala de aula.

· O currículo avaliado (Brophy & Good, 1982), concretizado (Diogo & Vilar, 1999), aprendido ou recebido (Estebaranz, 1994) – corresponde à súmula das aprendizagens realizadas pelos alunos, aquilo que os alunos efectivamente aprendem.

Constata-se que, grosso modo, os autores citados estabelecem distinção em pelo menos três fases de desenvolvimento do currículo e que assumem sempre existir confronto e alguma distância entre o que está prescrito, o que é implementado e o que é aprendido.

Um dos grandes objectivos do currículo prescrito é orientar o professor no sentido de uma base comum havendo rumos de flexibilização e adequação curricular. Porém, é sabido que o próprio professor coloca em prática o currículo prescrito consoante a interpretação que dele faz, teorias que defende e o contexto em que trabalha. Ao longo desta investigação formularemos questões que se enquadram, precisamente, nesta linha de tensão: o confronto entre o prescrito e o traduzido; entre o traduzido e o operacionalizado; entre o formal e o concretizado.