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Definição de Qualidade de Vida e a Importância da sua Avaliação em Doentes

Capítulo 3 – Qualidade de Vida

3.1. Definição de Qualidade de Vida e a Importância da sua Avaliação em Doentes

O conceito de Saúde Mental aparece muitas das vezes intimamente relacionado com o conceito de Qualidade de Vida, envolvendo não só a satisfação de necessidades básicas e sociais mas também a autonomia, para que se possa apreciar a vida e participar ativamente na sociedade na qual estamos incluídos (Quartilho, 2010). O Grupo da World Health Organization Quality of Life, em 1995, durante a construção do instrumento para medir tal construto, definiu a Qualidade de Vida como sendo “a perceção do indivíduo acerca da sua

posição na vida, dentro do contexto, da cultura e do sistema de valores onde está inserido, em relação aos seus objetivos, expetativas, padrões e preocupações” (World Health

Organization Quality of Life Group, 1995, p. 1405). Esta definição vem de encontro com muitos autores, que indicam que esta é a perceção do indivíduo acerca do seu bem-estar, da sua posição na vida e do nível de satisfação com as áreas importantes da sua vida (Fleck, 2008, cit in Santana, Chianca & Cardoso, 2009; Becker, Diamond & Saifort, 1993, cit in Cardoso et al., 2006). Incorpora tanto os aspetos da existência individual como do sucesso pessoal relativo ao alcançar de determinados objetivos, estados ou condições desejáveis, bem como o sentido de bem-estar e de satisfação experienciado pelas pessoas na situação atual (Canavarro, 2010).

Este é um conceito multidimensional e abrangente, que incorpora domínios da saúde física, do estado psicológico, do nível de independência, dos relacionamentos sociais, das crenças pessoais (espirituais e religiosas) e das relações entre todos estes domínios com características ambientais (Knapp & Isolan, 2005; Fleck et al., 1999; WHOQOL Group, 1995; Pais-Ribeiro, 2007; Canavarro, 2010). O conceito tem ainda presente o facto de ser subjetivo, uma vez que o que se pretende é a perspetiva do sujeito, tendo por isso mesmo um valor intrínseco e intuitivo ligado ao que o sujeito percebe e sente e a presença de dimensões positivas e negativas, ou seja, exige-se que alguns elementos (positivos como por exemplo a mobilidade) estejam presentes e que outros não tão positivos (como por exemplo a dor) estejam ausentes (WHOQOL Group, 1995; Canavarro, 2010).

As pesquisas em Saúde Mental têm vindo cada vez mais a dirigir o seu foco para a avaliação da Qualidade de Vida dos serviços comunitários, cujo objetivo primordial é a reinserção e uma boa Qualidade de Vida (Barroso, Bandeira & Nascimento, 2007; Souza &

Coutinho, 2006). A Organização Mundial de Saúde tem apontado para a necessidade crescente de se avaliar continuamente estes serviços, com uma abordagem integrativa que inclua a perspetiva de todos os intervenientes, nomeadamente o doente, o profissional de saúde e o familiar (Wong et al., 2012). Esta defende que os serviços de Saúde Mental devem propiciar a cada um dos pacientes cuidados clínicos visando reduzir o impacto da doença mental e, a par disso, melhorar a Qualidade de Vida (OMS, 2005). Nos contextos de saúde o interesse na Qualidade de Vida advém das consequências da medicina moderna, que dispõe de tratamentos muitos deles não curativos, mas que permitem o controlo sintomatológico ou um abrandamento do curso da doença, sendo por isso utilizada como medida de resultados em saúde (Fleck, 2008 cit in Canavarro, 2010).

Em condições crónicas, a Qualidade de Vida ganha ainda maior relevo uma vez que o tratamento não é curativo mas sim profilático, sendo por isso importante investir no bem- estar dos doentes mentais crónicos (Violante, 2012; Ridder et al., 2008; Vilhena et al., 2014). Também por este motivo as avaliações acerca da Qualidade de Vida de pacientes institucionalizados devem ser frequentes (Souza e Coutinho, 2006; Pais-Ribeiro, 2007). A Qualidade de Vida torna-se assim um precioso meio de avaliação do impacto das doenças na vida do doente crónico, pois insere um componente subjetivo que abrange as perceções do indivíduo sobre si próprio e sobre os prejuízos que a doença lhe provoca (Heslegrave, Awad & Voruganti, 1997, cit in Cruz, Salgado & Rocha, 2010).

Na atualidade começa também a surgir de um conceito semelhante mas mais específico, a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde, que representa o impacto que uma doença e o seu tratamento têm na perceção do sujeito sobre o seu bem-estar, uma medida que pode ser muito útil em cuidados de saúde (Rodriguez-Vidal et al., 2011; Romero, Vivas- Consuelo & Alvis-Guzman, 2013; Pais-Ribeiro, 2009). Esta medida pode assim ser influenciada pelo estado de saúde atual do paciente, nomeadamente acerca da sua capacidade para realizar atividades importantes para si, pela duração da doença e das limitações por ela provocada, sejam físicas, psicológicas ou sociais, pela diminuição de oportunidades, pelas sequelas causadas e ainda pelos tratamentos e suas consequências (Patrick & Erickson, 1993 cit in Rodriguez-Vidal et al., 2011; Pais-Ribeiro, 2007; Canavarro, 2010; Vaz Serra, 2010).

Além disto, a Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde depende também da personalidade do paciente, do apoio social percebido e da etapa do ciclo vital em que se encontra quando surge a doença (Schwartzmann, 2003). É por isso um conceito multifatorial, pois abrange mais que um aspeto ou domínio, percecionadas pelo próprio, sendo por isso uma medida de autoavaliação, sujeita a variações temporais e subjetiva, pois baseia-se na perceção pessoal do sujeito avaliado (Pais-Ribeiro, 2007). Após o exposto, fica latente que é de extrema importância avaliar a Qualidade de Vida na Esquizofrenia e na Perturbação Bipolar uma vez que estes pacientes são os únicos que podem fornecer dados mais específicos e expressar-se, sobre o que está ou não a resultar para eles, nas suas vidas e tratamentos e providenciar desta forma mais conhecimento sobre o que pode causar impacto negativo na sua Qualidade de Vida (Brissos et al., 2008).