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DEFINIÇÃO DO CENÁRIO DA PESQUISA E DOS SUJEITOS PARTICIPANTES

CAMINHO METODOLÓGICO

3.1 DEFINIÇÃO DO CENÁRIO DA PESQUISA E DOS SUJEITOS PARTICIPANTES

O município de Jandaíra está localizado na região do Mato Grande, do Estado do Rio Grande do Norte, situado a 118 Km de Natal, com 6447 habitantes, sendo 3684 residentes na zona urbana e 2763 residentes na zona rural. Sua principal atividade econômica é a produção de mel. Na pecuária, destaca-se a criação de bovinos e caprinos. Na lavoura destaca- se o cultivo do tomate, mamão, melancia, melão e manga.

No que diz respeito aos serviços de saúde, o município conta com três equipes de ESF, acrescidos de três equipes de saúde bucal distribuídos por toda a cidade, perfazendo uma cobertura de 100%. Ainda conta com a Unidade Mista da saúde e laboratório com atendimento terceirizado.

Quanto à estrutura educacional que atende a adolescentes de 10 a 19 anos, no âmbito Municipal, Jandaíra tem nove escolas de ensino fundamental, sendo sete escolas rurais e cinco unidades de EJA. Destas, quatro localizam-se na zona rural. Esta última modalidade de ensino atende a um público que se apresenta excluído do sistema regular de ensino, com destaque para a faixa etária a partir de 14 anos. Além dessas existem mais duas escolas, sendo essas com administração Estadual que atendem ao ensino fundamental 1, EJA, e ensino médio, perfazendo um total de 1.050 alunos.

Desse montante, foi definido como critério de inclusão os alunos matriculados na EJA,. localizados no centro urbano, com idade entre 15 a 19 anos. Destes, 23 estão na Escola

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Municipal Prefeito José Assunção Costa e 53 na Escola Estadual Fabrício Pedrosa. Além de matriculados no EJA., os alunos deverão estar frequentando a sala de aula no momento da coleta de dados da pesquisa.

Destacamos que a faixa etária dos sujeitos da pesquisa atende, de um lado, às recomendações da OPAS e OMS (10 a 19 anos), e do outro, àquela estabelecida na E.J.A (15 a 19 anos), cuja matrícula é deferida a partir dos 15 anos.

Como critério de exclusão foi estabelecido a não participação dos menores de 18 anos, cujos pais não autorizassem a participação na pesquisa, mesmo quando o adolescente desejasse participar da mesma. Além disso, foram descartados aqueles alunos adolescentes matriculados na EJA, onde as atividades são desenvolvidas na zona rural do referido município; desse grupo fazem parte cinco alunos, que residem em três localidades distintas e de difícil acesso.

Ressaltamos que a participação na pesquisa foi vinculada à vontade de contribuírem para o estudo. Portanto, diante dos critérios explicitados anteriormente, obtivemos um total de 13 participantes, este número esteve abaixo do esperado devido à alta evasão escolar que ocorre nas escolas, particularmente nas turmas da E.J.A.

Dentre as várias proposições para trabalhar com grupos de adolescentes, optamos por aquela, não menos importante que as demais, mas que significa uma ruptura com o transcurso natural da adolescência, ou seja, com a gravidez precoce. A partir desse ponto de

coorte, espera-se suscitar uma reflexão sobre a sua própria sexualidade, assim como a

emersão de efeitos ansiogênicos, defesas, ideação e simbolização sobre a temática. No desenvolvimento deste procedimento de coleta de dados, pouco usual, acredita-se na instalação de uma zona de transicionalidade, algo próximo, aos procedimentos projetivos, usados na Psicologia Clínica.

Concebemos que o adolescente, ao situar-se nesse campo transicional, participa ativamente do processo emitindo conteúdos discursivos e/ou não verbais sobre o que sabe ou não a respeito da sua própria sexualidade. Dessa forma, adquire importante significado na apreensão das representações sociais, pois é um meio de expressão e comunicação na área intermediária entre realidade interna e externa, e, ainda, possibilita o relacionar-se com a vivência do mesmo e o drama que nele se desenvolve. (WINICOTT, 1975; MIRANDA; FUREGATO, 2006; VAISBERG, 1995).

Este rearranjo possibilita um questionamento no nível da ação, da decisão e da reação próximo às regras do brincar. Dessa forma, favorece uma investigação em nível

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inconsciente, devido à diminuição das atitudes defensivas, evitando respostas racionais e socialmente corretas. (MIRANDA; FUREGATTO, 2006).

Tanto o psicodrama como o sociodrama são considerados, para efeito deste estudo, uma interface dinâmica entre os objetivos de pesquisa: de um lado, os adolescentes, do outro, a sexualidade, considerados dois temas polêmicos, ambíguos e polissêmicos com vistas à apreensão das representações sociais do seu próprio processo de adolescer e da percepção das manifestações da sexualidade, sumariamente explicitadas a seguir.

Consideramos o Psicodrama, então conhecido como Psicologia do Encontro, como uma técnica criada pelo psiquiatra Jacob Levy Moreno (1889-1974), em 1921, que privilegia o encontro consigo mesmo através da relação com-o-outro e a ação, em detrimento das palavras. Fazendo um paralelo deste com a dança e a máscara, percebe-se que as mesmas proporcionam, assim como o Psicodrama, a ação por meio do encontro não-verbal, por exemplo, em situação de crise, com maior destaque da ação prospectiva das atitudes, isto é, do aqui e agora, com o fazer pensar sobre o que foi ou o que está sendo realizado. Ele atua principalmente nas causas e na interpretação dos fatos, dando importância às imagens e demais formas de expressão simbólicas do ser humano, tais como: a expressão corporal, as cenas, os silêncios e as expressões artísticas, privilegiando o tratamento e a interação dos adolescentes no grupo. (VALADARES et al 2005).

O Sociodrama, segundo Valadares et al (2005), é um tipo especial de intervenção, tendo como foco um dado grupo. Nele, considera-se como protagonista sempre o próprio grupo que está sendo investigado, privilegiando o tipo de grupo social ao qual o mesmo pertence. Há distinção entre psicodrama e sociodrama, visto que, no primeiro, o sujeito é o indivíduo que sofre, e nele priorizam-se os aspectos individuais. No segundo, o sujeito é o grupo, e a preocupação é o sofrimento de uma coletividade. (MORENO, 1994). No caso, são as inquietações das manifestações da sexualidade na adolescência e o seu sistema de crenças e representações.

Prosseguindo, ambas as técnicas escolhidas e descritas, anteriormente, priorizam a dramática da vida dos sujeitos psicossociais. As técnicas constituem uma dinâmica de grupo, algo assemelhado ao funcionamento dos grupos focais. (KRUEGER, 1988).

Neste sentido, o grupo focal, segundo Krueger (1988), pode ser considerado uma espécie de entrevista do grupo, embora não no sentido de ser um processo onde se alternam perguntas do pesquisador e resposta dos participantes. Diferentemente, a essência do grupo focal consiste justamente em se apoiar na interação entre seus participantes para colher dados,

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a partir de tópicos que são fornecidos pelo pesquisador (que vai ser no caso o moderador do grupo). Uma vez conduzido, o material obtido foi transcrito de uma discussão em grupo, focada em um tópico específico (por isso grupo focal).

Miranda e Furegato (2006) e Vaisberg (1995) concordam que a apreensão de uma RS relaciona-se com a capacidade que os sujeitos têm de “brincar” com significados e imagens, dentre outros aspectos motivacionais. Nesta visão, as regras são desconhecidas para os sujeitos, embora os instrumentos utilizados revelem conteúdos das atividades propostas remetendo-os às dimensões mais descontraídas para dar respostas ao que lhe é perguntado pela associação de imagens e significados. Estes, no entanto,entendidos como discursivos não conceituais que refletem a capacidade lúdica, onírica, psíquica e inconsciente do sujeito.

Realizamos a coleta de dados deste estudo em dois momentos específicos e complementares.

No primeiro momento, os adolescentes responderam a uma entrevista semiestruturada com nove questões abertas, além dos dados sociodemográficos, gravadas em MP4 e posterior transcrição. Logo após, digitamos os dados para análise de conteúdo. Os dados sociodemográficos por ser uma questão sine qua non, foram tabulados pela pesquisadora e as falas transcritas e, posteriormente, agrupadas em três dimensões.

Primeira Etapa da Coleta de Dados

No segundo momento, definidos os sujeitos participantes da pesquisa mediante os critérios de inclusão foram convidados a participar da dinâmica de grupo. Embora distintas, esta dinâmica está embasada em duas técnicas conjugadas: o sociodrama e o psicodrama, a partir da dramatização de uma história. A história adaptada para o linguajar local baseia-se no Estudo de Caso da História de Camila (ABEn, 2001, p.214). O exercício proposto subdivide- se em dois atos: a dramatização e o grupo focal propriamente dito. (Apêndice C).

Segunda Etapa da Coleta de Dados

Para a realização do primeiro ato foram convidados três adolescentes voluntários para interpretação dos personagens da história de Camila. Após a encenação, os adolescentes ,inclusive os que participaram da peça, em um total de nove, discutiram sobre a situação encenada; nesse momento foi configurada a coleta de dados com o grupo focal, através de gravação previamente autorizada, garantindo-se sempre o anonimato das falas, e da mesma forma na transcrição.

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3.2 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE e INTERPRETAÇÃO

Bauer; Gaskel; Allum apud Arruda (2005.p.229), referem-se à pesquisa qualitativa como um “pesadelo didático” pela pouca clareza e falta de orientação encontrada na literatura para seus procedimentos; a preocupação costuma centrar-se nas escolhas e procedimentos para obter e processar dados, mas muito pouco se diz sobre a interpretação dos resultados, e isto não é diferente no território das representações sociais. Da mesma forma, para estudos quantitativos, pois os dados não falam por si mesmos, ainda que sejam processados cuidadosamente, com modelos estatísticos sofisticados. A interpretação integra os achados entre si e a teoria, assim como não é o método que, ao ser aplicado, torna o conhecimento em científico.

Prosseguindo, Arruda (2005. p.232) ressalta que a substância operante da representação social, se entendermos como construção da realidade, é o significado que ela dá ao objeto. Alcançar a representação social é, portanto em si, um exercício de interpretação: a pesquisa visa exatamente à coleta de indícios e a sua sistematização pelo(a) pesquisador(a), a partir dos referenciais do próprio grupo e de vários recursos. Portanto, a coleção de dados obtidos e processados não é ainda a representação social; ela surge da costura que só o olhar do pesquisador(a) pode fazer, numa perspectiva holística e integradora, uma vez que a representação social é uma forma de expressão criativa dos sujeitos, situada na interface do psicológico e do social.

A preparação do corpus segundo Arruda (2005.p. 245), inclui a escuta e transcrição das gravações e a releitura das notas de campo ou a organização dos textos, bem como a formatação para os programas de computador, sendo uma boa ocasião para mergulhar no material, embeber-se dele e exercitar a primeira interpretação do material sistematizado. Quanto maior o interesse pelo caráter simbólico da representação social, maior será o peso da interpretação. Isso não isenta as técnicas que buscam um recorte mais estreito e focalizam um aspecto mais restrito das representações sociais. Nesse sentido, as entrevistas semiestruturadas têm sido uma escolha preferencial da maioria dos pesquisadores brasileiros.

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No presente estudo utilizou-se a Análise de conteúdo proposta por Bardin (1977) que consiste em

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (pág.42).

Dessa forma, a análise de conteúdo investiga a comunicação entre indivíduos, sendo seu objeto a linguagem. Desse modo sua aplicação é vasta, pois, a principio toda comunicação é passível de análise.

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