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Dimensão 2: o saber compartilhado sobre a sexualidade

ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.2 DESCORTINANDO OS ATORES

4.2.2 Dimensão 2: o saber compartilhado sobre a sexualidade

Nesta dimensão verificamos como ocorre a conversa sobre sexualidade no contexto do adolescer. Identificamos com quem ocorre a construção do conhecimento sobre sexualidade, procurando-se também identificar o diálogo, entre os pares, na família e na escola.

Jodelet (2007) diz que as pesquisas em RS se apoiam sobre as características dos fenômenos representacionais destacados pela própria teoria, na medida em que deve contemplar a troca dos saberes sobre um determinado objeto, particularmente sobre o senso comum versus o conhecimento científico, na medida em que os conflitos estabelecem o papel dos aspectos sociocognitivos e simbólicos subjacentes que os norteiam.

Dessa forma, o estudo sobre as habilidades de vida dos adolescentes investigados ligados à sexualidade se apresentam sob uma legitimidade intergrupo a partir do conhecimento cotidiano e da experiência vivida, revelando o contexto de produção e circulação dos conteúdos sobre as manifestações da sexualidade na adolescência.

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Concordamos com Moscovici (1978.p.51), ao afirmar que

toda ordem de conhecimento, a observação é banal, pressupõe uma prática, uma atmosfera que lhe são próprias e lhe dão corpo. E também, sem dúvida alguma, um papel particular do indivíduo conhecedor. cada um de nós preenche de modo diferente esse papel.

4.2.2.1 Diálogo sobre sexualidade no contexto do grupo de pertencimento dos adolescentes

Para verificar as origens do conhecimento sobre sexualidade indagamos aos adolescentes se eles conversavam sobre sexualidade e com quem ocorriam as conversas. A maioria referiu que a conversa sobre sexualidade ocorre entre os pares, sendo esses diálogos entre amigos (a), sexo oposto e namorado (a).

Moscovici (1978), em seu estudo sobre a psicanálise, observou que, dentre os sujeitos pesquisados, a posição assumida pelos adolescentes (estudantes e alunos de escolas técnicas) encerra uma equação simbólica entre a idade em que se formulam os problemas da autonomia individual e a ajuda que a psicanálise propõe, cujas respostas dos sujeitos revelaram uma atitude favorável. Dessa constatação, contrariamente observou que os adultos não querem tomar posição ou não têm ideias claras sobre a temática. Portanto, “o indivíduo é observado e compreendido através de traços próprios da tipologia dominante, exercendo-se por vezes uma pressão coletiva para fazer coincidir o comportamento real com as categorias geralmente admitidas”. (MOSCOVICI, 1978. p.142).

Sabemos que na adolescência ocorre a busca de identidade e geralmente os adolescentes procuram as pessoas fora da família para servir como referência à formação de personalidade e, conseqüentemente, às atitudes. Desta forma, a influência dos pares adquiriu caráter fundamental na vivência do processo de adolescer. Neste contexto, a maioria referiu conversar sobre sexualidade com outros adolescentes do mesmo sexo, como se observa nas falas a seguir transcritas no Quadro Sinóptico 1.

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Quadro Sinóptico 1. A troca de informações sobre sexualidade

Conversa com adolescentes do mesmo sexo Conversa com o namorado(a) Conversa entre adolescentes do sexo masculino com amigas Conversa com a familiares

“Converso com amigos”

(Hermes) “Com minha namorada quando a gente fica só, só ficar mesmo”(Helio)

“Converso só com as

meninas” (Adonis) “Com minha irmã de 26 anos” (Atena)

“Assim, às vezes eu converso com minhas amigas, muito raro, não gosto de falar sobre esse assunto não” (Demeter)

“Só converso com ele”

(Ártemis) “Converso, com uma doidinha que mora perto da minha rua”(Doinísio) “Às vezes com minha mãe” (Hestia) “Às vezes com as

coleguinhas... (Hestia) “Converso com meu namorado” (Hera) “Converso com minhas amigas, mas é muito difícil” (Hércules) “Converso com minhas

amigas” (Hebe)

“Só converso com minhas amigas de vez em quando” (Afrodite)

Neste contexto apenas um adolescente relatou que não conversa sobre sexualidade. Os resultados obtidos neste estudo estão compatíveis com a pesquisa realizada por Soares, Amaral, Silva e Silva (2008), onde os amigos foram apontados pela maioria dos adolescentes como o grupo em que se sentem mais à vontade para conversar sobre sexualidade. Beserra, Pinheiro e Barroso (2008) também referiram que o momento com amigos também propicia discussões da vivência sobre sexualidade.

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4.2.2.2 Diálogo sobre sexualidade no contexto da família

A ausência de diálogo na família sobre sexualidade foi marcante; 11 adolescentes referiram não conversar com os pais sobre sexualidade, vejamos:

“Converso com ela não, eu tenho vergonha de falar sobre isso” (Hermes) “Minha mãe ainda não conversou sobre isso não” (Hércules)

Está última fala remete a uma espera, pois o adolescente usa o termo ainda, e, dessa forma, entende-se que ele aguarda que sua mãe irá conversar sobre sexualidade em algum momento de sua vida.

Soares, Amaral, Silva e Silva (2008) referem que o despreparo dos pais para assumir o papel de educadores sexuais apresenta como justificativa o fato de não estarem aptos para discutir temas que interessam ao adolescente ou por não terem vivenciado essa experiência com seus pais, quando adolescentes.

Cano e Ferriani (2000) relatam que os pais compreendem que os adolescentes estão vivenciando em seu dia - a- dia situações que envolvem a sexualidade; no entanto, ocorre dificuldade em aceitar e lidar com elas.

Souza, Fernandes e Barroso (2006) apontaram que o diálogo entre pais e filhos adolescentes é restrito. Dessa forma, a dificuldade em procurar os pais para esclarecer dúvidas sobre assuntos relacionados à sexualidade está associada à possibilidade das atitudes repressoras dos pais, tendo em vista que tabus e preconceitos impedem o indivíduo, de até mesmo, buscar aprender. Diante disso, o adolescente busca auxílio de outros adolescentes, visando à troca de ideias ou mesmo ao compartilhamento de medos.

Em concordância neste tema, Beserra, Pinheiro e Barroso (2008), em pesquisa realizada com adolescentes, identificaram um discurso onde o relacionamento entre mãe e filha está pautado na proibição do sexo, ausência de diálogo, tons de ameaça, impedindo a fluidez da conversa em família.

Neste sentido, os pais, embasados pela crença que a conversa sobre sexo serve como indução ao início da atividade sexual, protelam o diálogo sobre sexualidade. (SOUZA; FERNANDES; BARROSO, 2006).

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Suplicy (1991) afirma que em tempos antigos as famílias não tinham dúvidas em saber o que era certo ou errado. No entanto, atualmente, devido à transição na construção de um sistema de valores sexuais ocorrem dificuldades e dúvidas de como orientar.

Bretãs et al (2002) referem que os adolescentes, em sua maioria, costumam conversar sobre assuntos relacionados à sexualidade com amigos (as).

Apenas duas adolescentes informaram conversar sobre sexualidade com a mãe, como exemplificado, o conteúdo reporta à condição reprodutiva, atribuindo alguns valores socialmente compartilhados. Evitar a gravidez exige alguns cuidados, e que se dirigem em duas direções quando se é casada ou solteira, portanto, ficante. Para estas condições há uma indicação para os métodos contraceptivos, camisinha para solteiras, anticoncepcional para as casadas:

“...como todas as mães diz ... a mulher é fazer de tudo para não pegar um bucho, porque se pegar fora de casa... Ela já falou para mim assim... casal casado e aqueles ficantes... comprimido só presta quando é casado mesmo que tem relações todos os dias mas a camisinha já ...é para quem não tem relações todos os dias.”(Hestia)

“Converso só com minha mãe...Eu pergunto muito a ela assim sobre comprimidos a camisinha esses negócios sabe? Fico perguntando, fico curiosa assim pergunto como é que toma um bocado de coisa também... Ela diz lá que a cada dia... é 21 comprimidos para ficar tomando...ela fica explicando lá.”( Hera)

Bretãs et al (2002) relatam que a mãe é a segunda escolha dos adolescentes femininos para falar, conversar, informar-se sobre questões pertinentes às manifestações da sexualidade e a quarta opção entre a população masculina.

4.2.2.3 Diálogo sobre sexualidade no contexto da escola

A importância de trazer a discussão da sexualidade para o âmbito público visa quebrar a noção de que essa é uma experiência que se desenha exclusivamente no espaço privado ou individual, revelando sua trajetória no espaço social. Neste sentido, são inúmeros os debates que se originam deste campo, mas a escola que pretende desenvolver uma educação sexual não pode deixar de mobilizar–se em direção ao entendimento de que a escola atua sobre o corpo e sobre a sexualidade. (FONSECA, 2002).

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Fonseca (2002, p.73) também enfatiza a importância de vincular o prazer à sexualidade, como é percebido na fala:

Não podemos porém, recomendar uma reflexão sobre a sexualidade que, de tão preocupada em preservar a especificidade da escola como forma de acesso ao saber científico, distancie-se do fato de que a sexualidade deve ser antes de tudo reconhecida como uma experiência prazerosa. Apostamos que a forma como são tratados esses assuntos também deve ter essa dimensão do prazer envolvido.

Quando indagamos sobre a escola e sexualidade, foi observada a ocorrência de discussões nas escolas, apesar de três adolescentes relatarem que a conversa sobre sexualidade não ocorre na escola, no entanto, a maioria referiu nas falas a existência de pouca frequência e pouco conteúdo, como se percebe nas falas seguintes:

“Muito difícil, mas já conversaram uma vez.”(Dionísio)

“Já conversaram...tem que usar preservativo, só isso mesmo.” (Hermes)

“Conversa as vezes não sempre...fala para se proteger...para a pessoa não se envolver com qualquer pessoa, só isso mesmo.” (Atena)

“Falaram mas já faz muito tempo no colégio onde eu estudava....” (Ulisses) “Muito raro.” (Demeter)

“Conversam algumas vezes...Assim eles falam o que precisa usar quando faz sexo assim na matéria de ciência.” (Hebe)

“Conversam. Eles falam que caso a gente quiser fazer é para usar camisinha para evitar doenças nesse meio de mundo ai...ensinando assim as doenças, uma vez eles mostraram umas feias que só ai distribuíram camisinhas.” (Hera)

Tanto o autoconceito, quanto a autoestima são a base da representação social que o adolescente tem de si mesmo. São atributos profundamente individuais, embora moldados nas relações cotidianas desde a primeira infância. São também fatores decisivos na relação do indivíduo consigo mesmo e com os outros, exercendo uma marcante influência na percepção dos acontecimentos e das pessoas, influenciando de forma considerável o comportamento e as vivências do indivíduo.

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No conteúdo das discussões percebemos a ênfase na importância do uso da camisinha na prevenção de doenças, (Quadro Sinóptico 2)

Quadro Sinóptico 2. A troca de informações sobre contracepção, prevenção de doenças, vivência da sexualidade.

Discussão com ênfase no uso da camisinha e prevenção de doenças

Discussão de temas diversos

“Conversam... Assim falam na parte das ciências, ensinam como você se prevenir...Aprendi que quando a pessoa for ter relações tem que usar preservativo, tomar pílula.” (Ártemis)

“Sobre sexualidade teve uma de religião sobre opção do sexo, sobre gays”. (Demeter)

“Falou sobre camisinha da mulher.. .De que tem

que usar devido a doenças....” (Adonis) “...Só teve uma aula ...a gente ta estudando sobre ficar...Ela utilizou um trabalho...o que é ficar para você?” (Hestia)

“...falaram sobre um bocado de coisa, sobre doenças, a aids.” (Ulisses)

Como visto no quadro anterior, os conteúdos sobre sexualidade foram abordados de maneira superficial, gerando lacunas na construção de conhecimentos.

Soares et al (2008) identificaram que a escola e os professores não foram identificados espontaneamente como fontes de informação.

Entendemos a escola como espaço primordial na vida de crianças e adolescentes independentemente de concepções político-educacionais. Neste sentido, a OMS vem incentivado os programas de ensino das Habilidades de Vida como forma de reduzir os comportamentos de risco à saúde.

Gorayeb (2002) relata que programas de ensino de Habilidades de Vida vêm sendo desenvolvidos desde 1998 em Ribeirão Preto/ São Paulo, onde a escola constitui-se num espaço fértil devido ao grande número de crianças e adolescentes, atingindo professores os quais têm credibilidade com os pais e a comunidade, possibilitando avaliações a curto e longo prazo.

Diante das falas expostas e de outras realidades percebe-se que as ações intersetoriais são primordiais para criação de rede de referência em torno das questões que permeiam a adolescência, entre elas a sexualidade.

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4.2.2.3 Dúvidas sobre sexualidade

Indagamos aos adolescentes se tinham dúvidas sobre sexualidade e 62% referiram que sim. Destaca-se a diferença de gênero entre os meninos, pois 50% referiram ter dúvidas e a outra metade não admitiu tê-las; já entre as adolescentes do sexo feminino, 71% referiram ter dúvidas sobre sexualidade e apenas as meninas quiseram compartilhar dessas na entrevista, vejamos:

“ Assim a gente já teve aula...se eu estiver usando um preservativo e se ele estiver furado, não sei o que, tem condição de pegar doença?...Quando se esquece duas ou três vezes a pílula tem problema?” (Ártemis)

“ O que é sexualidade? Eu não sei realmente o significado de sexualidade.” (Atena)

“Assim porque eu não tive a oportunidade de fazer, eu tenho dúvidas assim se dói, se machuca.“(Hera)

“Quando perde a virgindade o que acontece? Geralmente quando perde a honra, tenho medo assim se pega filho, assim num instante...Só essas duas que vive atormentando meu pensamento, fico assim pensando...porque geralmente as meninas de hoje tem medo de perder e se pega menino, embora tenha muitas que pegam porque quer”. (Afrodite)

Essas falam demonstram a falta de conhecimento sobre o significado da palavra sexualidade, prevenção de DSTs e maneiras de evitar uma gravidez não planejada. Além disso, destaca-se a preocupação em ser virgem e o momento da primeira relação sexual.

Outra adolescente admitiu ter dúvidas, mas não estava à vontade para perguntar, vejamos:

“Tenho um pouco porque nunca falo assim com ninguém, então tem hora, tem coisas que não sei nem o que é fico por fora mesmo”.(Demeter)

Esta fala remete à necessidade de informação atrelada à vergonha de perguntar questões relacionadas à sexualidade, gerando assim uma situação de vulnerabilidade.

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4.2.3 Dimensão 3: tomada de posição frente à sexualidade

Entendemos que no contexto do adolescer muitas serão as tomadas de decisões que os adolescentes irão vivenciar. Neste sentido, procuramos apreender a partir de sua compreensão as atitudes dos mesmos, especialmente quanto ao uso de contraceptivos, bem como ações de prevenção de DSTs e aids com o uso da camisinha.

4.2.3.1 Sexualidade e métodos contraceptivos

No que concerne à sexualidade, contracepção e adolescência muitas são as discussões sociais que permeiam essa vivência, haja vista as muitas implicações advindas desta fase da vida. A exemplificar, a não permissão social para o início das relações sexuais e a ocorrência natural dessas.

A sexualidade é descrita por Alferes (2004 ,p.141) como:

A sexualidade não se circunscreve às situações românticas ou amorosas. A conjugação amor/sexo não é uma necessidade biológica, nem um imperativo social, mas, apenas, uma das possíveis soluções histórico-culturais para o problema da articulação entre reprodução biológica e vinculação social.

Neste sentido entendemos que a escolha, bem como a forma do uso dos métodos contraceptivos, também são socialmente construídas, aja vista que seu uso está atrelado a diversas formas de como o individuo tem acesso à informação e ao próprio método, como a sociedade aceita o seu uso, os tabus advindos das práticas por outros vivenciados.

Dessa maneira, investigamos se os adolescentes conheciam métodos contraceptivos e todos os adolescentes do sexo masculino referiram que não, e 71% das adolescentes também referiram não conhecer métodos contraceptivos. Mas esse dado foi apenas com relação à terminologia, pois quando refeita a pergunta da seguinte forma: Você conhece formas de evitar filho? O conteúdo das respostas mudou totalmente. Todos os adolescentes do gênero masculino citaram a camisinha, 83%, a pílula e apenas um referiu a injeção. As adolescentes demonstraram um conhecimento bem superior aos adolescentes, pois

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todas elas referiram a camisinha e a pílula, a injeção foi citada por 43% e apenas uma adolescente citou o DIU.

Outro ponto importante observado foi a forma que se referiram a pílula, pois 46% utilizaram a palavra comprimido e 46% a citaram como remédio, apenas uma adolescente usou a palavra pílula. Exemplificamos com as seguintes falas:

“Sei, tem que usar sempre camisinha e a mulher tem que tomar remédio para evitar”. (Hércules).

“Usando camisinha e a mulher tomando remédio”. (Adonis) “Remédios, ciclo 21” (Atena)

Esta última fala remete ao nome comercial de um contraceptivo, o qual tem pouco custo nas farmácias do comercio local e também está disponível gratuitamente no posto de saúde. Essa citação enfatiza a importância da disponibilidade do método.

Pesquisa realizada por Dib (2007) em escolas Municipais de Ribeirão Preto, demonstrou que 45% dos adolescentes entrevistados não conheciam nenhum método. O que difere dos resultados obtidos no estudo em Jandaíra. Esse conhecimento adquirido pode está relacionado a mídia através de propagandas do MS, novelas e programas diversos onde é enfatizada a importância do uso de camisinha na prevenção da aids.

No entanto, as pesquisas entram em concordância quando relatam a pouca diversidade de conhecimento sobre métodos contraceptivos. Nos dois estudos foram citados apenas três tipos de métodos contraceptivos.

Quando indagados sobre o uso de métodos contraceptivos, 50% dos meninos referiram ter vida sexual ativa e fazer uso de contraceptivos e 50% disseram que são virgens. Quanto às meninas, 57% relataram não ter ocorrido a primeira relação sexual e das que tinham vida sexual ativa uma referiu ter iniciado há pouco tempo e que não havia utilizado nenhum método, como podemos visualizar a fala:

“Porque não quis... na hora eu não pensei... agi pelo coração.” (Afrodite)

Quando perguntado o que determinou para a decisão de vivenciar a primeira relação, ela falou:

“Porque geralmente eu ouvia falar das minhas colegas que era bom, que só ia saber mesmo se a gente provasse...” (Afrodite)

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É nítida a presença da curiosidade nesta fala, onde essa foi à propulsora da primeira relação sexual; quando indagada à mesma adolescente se ela amava a pessoa com quem ela teve relação, a mesma referiu que não. Perguntei também se houve um aconselhamento sobre prevenção de gravidez e DSTs a mesma disse que não, só se falava no grupo que era bom ter relação sexual.

Neste sentido, Mandú (2001 p.65) afirma:

O caráter de novidade das relações sexuais, desejos inconscientes de testar a virilidade ou a capacidade reprodutiva, cobranças do grupo em torno do início da experimentação sexual, traduções negativas da sexualidade, assim como ausência de projetos e perspectivas futuras de vida, frequentemente implicam no descuido com a prevenção.

Outro ponto importante a ser discutido é o modo de como o método contraceptivo foi adquirido; apenas um adolescente referiu ter adquirido camisinha no posto de saúde, outra adolescente referiu que havia obtido a informação com uma colega sobre o nome de uma pílula e pediu que comprasse por ela. Esta adolescente relatou não ter procurado nenhum profissional de saúde que lhe orientasse sobre o uso correto. Outra adolescente também referiu a mesma situação, como percebemos na fala a seguir:

“Sempre a gente ia dormir lá na casa de uma coleguinha minha... sempre diziam tomem remédio... eu fui e comprei .”(Hestia)

Concordamos com Mandú (2001) quando diz que os adolescentes requerem um suporte de vários setores sociais através de políticas, recursos e processos de trabalho intersetoriais, interdisciplinares e participativos, em que se disponibilize uma atenção integral, específica a suas necessidades com ações desenvolvidas em diferentes espaços, haja vista que estão vislumbrando a possibilidade de reprodução e experiências novas no âmbito da sexualidade.

Também se observou o motivo da escolha do uso do método contraceptivo.

“Porque sou muito novo para ter filho”. (Hermes)

“Porque uma vez eu tava com suspeita de gravidez e tomei aquele microvlar, só tomei um mês eu não tomei mais e agora só faço na camisinha.” (Hestia)

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Outro ponto de destaque nas falas concerne à diferenciação na utilização de métodos entre mulheres, de acordo com o estado civil. Quando perguntado qual método usaria no caso de iniciar a vida sexual, obtivemos as seguintes respostas:

“Se fosse minha primeira vez eu ia utilizar camisinha, mas se eu fosse casada alguma coisa, eu usaria injeção. Porque você toma injeção e não precisa ficar se preocupando com que vai tomar. Também depende do marido...Se o marido for muito festeiro é melhor você usar camisinha porque você não sabe o que ele fez mas se tiver confiança é melhor tomar injeção... Porque se for solteira todo mundo vai ficar sabendo que você tomou e você casada não, você já pode ter relações então entre o comprimido, eu preferia a injeção.” (Hebe) “Para evitar doenças... homem você já sabe. Fica com uma, fica com outra e ai preferia a camisinha para evitar alguma coisa. Porque eu tenho medo, as coisas de hoje em dia, as doenças feias do mundo, Deus me livre, eu vejo os comentários da mulher na televisão dizendo aqueles negócios. Dizendo que se tivesse usado camisinha não tinha sido contaminada com as doenças, se elas tivesse usado.”(Hera)

Outra adolescente atrelou o uso de pílula à ocorrência de aumento de peso, relatando reações adversas, como observamos a seguir:

“Eu era mais magra depois que tomei esse remédio eu engordei mais...tinha aquela vontade de botar para fora.” (Hestia)

4.2.3.2 Doenças sexualmente transmissíveis e o uso da camisinha

Novamente emergiu o desconhecimento de terminologias; neste caso, 67% dos adolescentes do gênero masculino desconhecem o termo doenças sexualmente transmissíveis