• Nenhum resultado encontrado

3.6 Avaliação do Ciclo de Vida como Ferramenta de Gestão Ambiental

3.6.2 Fases da Avaliação do Ciclo de Vida

3.6.2.1 Definição do Objetivo e Escopo

O objetivo de uma ACV deve declarar a aplicação pretendida e as razões para a execução do estudo. A definição do público-alvo, aquele a quem se pretende comunicar os resultados do estudo, também deve ser esclarecida, bem como se existe a intenção de utilizar os resultados em afirmações comparativas a serem divulgadas publicamente (ABNT, 2009a).

2 Na norma ISO 14.040 (ABNT, 2009a), o termo “produto” inclui serviços.

FASE 1 Objetivo e Escopo FASE 2 (ICV) Análise do Inventário FASE 3 (AICV) Avaliação de Impacto F ASE 4 Inter pr etaç ão Aplicações:  Desenvolvimento e melhoria do produto  Planejamento estratégico  Elaboração de Políticas Públicas  Marketing  Outras

54

De acordo com a NBR 14.040 (ABNT, 2009a), o escopo deve assegurar que a abrangência, profundidade e detalhamento do estudo sejam compatíveis e suficientes para atender ao objetivo declarado. Para isto, o escopo inclui os itens detalhados a seguir.

 Sistema de produto

O sistema de produto compreende o conjunto de etapas a serem analisadas pela ACV. Este sistema é composto por um conjunto de unidades de processo, conectadas material e energeticamente, que realiza uma ou mais funções definidas. A Figura 14 traz uma representação genérica, dos fluxos elementares que podem compor o sistema de produto, bem como, das correntes de matéria e energia, que entram e saem deste sistema para outros sistemas ou mesmo, para o ambiente (SOUSA, 2008; ABNT, 2009a; PAES, 2013).

Figura 14. Exemplo de um sistema de produto para ACV.

Fonte: elaborado pelo autor baseado em NBR 14.040 (ABNT, 2009a).

 Função, unidade funcional e fluxo de referência

Como ilustrado na Figura 14, o sistema pode ter várias funções possíveis, no entanto, aquela(s) selecionada(s) para um estudo dependem do objetivo e escopo da ACV. A unidade

55

funcional é a base comum para comparação entre todos os resultados da ACV, e pode ser definida como “a menor porção de um produto ou sistema para o qual os dados são coletados quando se realiza uma avaliação do ciclo de vida" (CLIFT; DOIG; FINNVEDEN, 2000; TOSTA, 2004; CHANG; MASANET, 2014).

A Figura 15 ilustra uma unidade funcional genérica. Ao lado esquerdo estão indicadas as entradas de matérias-primas e energia necessárias para manufatura de um produto ou realização de um sistema. E, no lado oposto, estão as saídas de emissões para o ambiente e os co-produtos associados ao processo (CHANG; MASANET, 2014).

Figura 15. Unidade funcional genérica.

Fonte: traduzido e adaptado de Chang e Masanet (2014).

E, segundo a NBR 14.040 (ABNT, 2009a), fluxo de referência é a medida das saídas de processos em um sistema de produto, requeridas para realizar a função expressa pela unidade funcional.

 Fronteira do sistema

A fronteira do sistema implica em determinar quais processos elementares devem ser incluídos no estudo de ACV. Todos os critérios utilizados na elaboração da fronteira do sistema devem ser identificados e explicados. A exclusão de estágios do ciclo de vida, processos, entradas ou saídas, que não provocam mudanças significativas nas conclusões gerais do estudo, devem ser registradas e justificadas de forma clara (ABNT, 2009b). Para descrever esta etapa, a maioria dos estudos faz uso de um fluxograma de processo, como exemplificado anteriormente na Figura 15, esclarecendo os processos elementares e suas inter-relações.

Existem algumas fronteiras usualmente utilizadas, estudos que consideram todas ou apenas algumas etapas podem ser descritos da seguinte forma:

56

 Estudos do “berço ao berço” (cradle-to-cradle): abordagem específica, onde a etapa de eliminação geralmente considera um processo de reciclagem, originando produtos semelhantes aos originalmente produzidos no processo em questão ou novos produtos;  Estudos do “berço ao túmulo” (cradle-to-grave): consideram todas as etapas desde a

extração da matéria-prima até a disposição final;

 Estudos do “berço ao portão” (cradle-to-gate): consideram as etapas iniciais, extração da matéria-prima e manufatura do produto;

 Estudos do “portão ao portão” (gate-to-gate): consideram o processo de produção;  Estudos do “portão ao túmulo” (gate-to-grave): consideram as etapas relacionadas ao uso

e a disposição final (KEELER; BURKE, 2010; PAES, 2013; ROSSI, 2013).

 Procedimentos de alocação

A alocação pode ser definida como a divisão adequada dos fluxos de entrada ou saída de um processo ou sistema de produto entre o sistema de produto em estudo e outro(s) sistema(s) de produto. Os procedimentos de alocação são indicados quando se tratar de sistemas que envolvem múltiplos produtos e sistemas de reciclagem (ABNT, 2009a).

Por exemplo, no caso do estudo do ciclo de vida da gasolina, o impacto ambiental do processo de fracionamento não pode ser totalmente atribuído a gasolina, pois ela não é o único produto gerado neste processo. Portanto, é necessário encontrar uma forma de calcular (alocação) a quantidade das emissões e consumo de recursos que deve ser atribuída ao produto gasolina e quanto deve ser atribuído aos demais (RAMÍREZ, 2009). Independentemente do método utilizado, este deve ser claramente especificado no relatório do estudo (SOUSA, 2008).

Para diminuir as incertezas, quando possível, é recomendado a subdivisão do processo multifuncional em processos unitários, evitando assim, o uso dos procedimentos de alocação (EUROPEAN COMISSION, 2010).

 Metodologia para avaliação de impactos do ciclo de vida (AICV) e tipos de impactos

Neste item, devem ser determinadas quais categorias de impacto, indicadores das categorias e modelos de caracterização serão utilizados no estudo de ACV, os quais devem ser consistentes com o objetivo do estudo (ABNT, 2009b). Estes termos serão detalhados de uma melhor forma no item 3.6.2.3.

57  Tipo e fonte de dados

Os dados a serem selecionados para uma ACV podem ser divididos em:

 Dados primários: coletados nos locais de produção associados aos processos elementares dentro da fronteira do sistema, ou seja, dados obtidos diretamente na fonte (ABNT, 2009b; ROSSI, 2013).

 Dados secundários: podem ser obtidos junto aos bancos de dados próprios para ACV, em valores de referência em literatura específica ou dados fornecidos por terceiros como empresas, órgãos governamentais, laboratórios de análise, entre outros (KULAY; SEO, 2006).

Na prática, estes dados podem ser utilizados em conjunto. No entanto, ambos devem ser documentados e as escolhas devem ser justificadas (ABNT, 2009b; EUROPEAN COMISSION, 2010).

 Requisitos de qualidade dos dados

A qualidade desejada para todos os dados deve ser descrita no escopo da ACV. Os principais itens que definem a qualidade dos dados são: precisão, completeza do inventário, consistência, reprodutibilidade das informações, tipos de fontes dos dados e as respectivas incertezas (ABNT, 2009b).

Os requisitos da representatividade dos dados devem abranger as coberturas temporal, geográfica e tecnológica. A representatividade geográfica identifica a proximidade dos dados do inventário com a realidade da localização do estudo. A representatividade temporal indica a idade dos dados e o período mínimo de tempo durante o qual os dados deveriam ser coletados. E, a última representatividade abrange a tecnologia específica ou o conjunto de tecnologias envolvidas no estudo. Todos esses aspectos são relevantes devido às alterações de dados segundo as particularidades de cada local (ABNT, 2009b; ROSSI, 2013).

 Comparação entre sistemas

Em um estudo comparativo, é essencial que os sistemas sejam comparados usando a mesma unidade funcional e considerações metodológicas equivalentes, tais como desempenho, fronteiras do sistema, qualidade dos dados, procedimentos de alocação, regras para decisões quanto à avaliação de entradas e saídas e avaliação de impacto (ABNT, 2009b).

58  Considerações quanto à análise crítica

A necessidade da análise crítica deve ser definida no escopo, bem como o método de conduzi-la. Uma análise crítica pode ser realizada por um especialista interno ou externo, desde que este não possua envolvimento com a condução da ACV. Os resultados da análise devem ser incluídos no relatório (ABNT, 2009b).

As NBR 14.040 e 14.044 (ABNT, 2009a; ABNT, 2009b) estabelecem padrões para o objetivo e o escopo de um estudo. No entanto, a ACV é uma técnica iterativa, por isso, à medida que se obtém uma maior percepção do trabalho, pode-se reformular a definição do escopo. É importante que as modificações e respectivas justificativas sejam documentadas.