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3.2 Resíduos da Construção Civil

3.2.7 Reutilização e Reciclagem de Resíduos da Construção Civil

O concreto é o material mais utilizado na indústria da construção, estima-se que a produção mundial seja de 6 bilhões de toneladas por ano, ou seja, 1 tonelada por pessoa por ano (ISO, 2005). No Brasil, pesquisas estimam que a produção de concreto atingirá 72,3 milhões de m3 em 2017, crescimento de 41,2% no período de cinco anos, a uma taxa anual de 7,1% (ABCP, 2013).

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Como consequência, o consumo de agregados naturais, um dos maiores componentes do concreto, está em constante e rápido crescimento. Dados indicam que três bilhões de toneladas de agregados são produzidos a cada ano nos países da União Europeia. Para precaver a escassez das fontes dos agregados naturais, muitos países europeus estão cobrando impostos sobre a utilização de agregados virgens (EEA, 2008).

Por outro lado, os resíduos resultantes do setor de construção também são uma preocupação relevante na proteção do meio ambiente. Atualmente, a prática mais comum de gerir este material é a sua disposição em aterros, criando dessa forma imensos depósitos de resíduos. Por essa razão, muitos países, dentre eles o Brasil, criaram leis que regulamentam a criação dessas áreas.

Nesse contexto, a reciclagem tem o potencial de reduzir a quantidade de RCC a ser depositada em aterros, bem como auxiliar na preservação dos recursos naturais, considerando que os resíduos podem ser transformados em produtos secundários, como os agregados reciclados (BLENGINI; GARBARINO, 2010)

Apesar da existência de inúmeros estudos sobre o uso dos agregados reciclados, a sua aplicação para fins estruturais ainda não é indicada, pois sua qualidade geralmente é menor em relação as características dos agregados naturais. Isso pode ser justificado pela presença de materiais indesejados e contaminantes, podendo comprometer o uso do RCC reciclado em determinadas aplicações que exijam uma maior qualidade, tais como a produção de concretos e argamassa (SANTOS, 2007; MARINKOVIC´ et al., 2010).

Por outro lado, no processo de beneficiamento há uma grande geração de finos, os quais podem ser utilizados em aplicações onde as exigências com relação aos materiais não são muito rígidas, como os requisitos para materiais de aterro. Nesse contexto, Santos (2007) investigou o potencial de utilização dos RCC reciclados como material de aterro em estruturas de solo reforçado e, como resultado o material apresentou excelentes propriedades de resistência, e comportamento mecânico que justificam a sua utilização na aplicação proposta.

Atualmente, as principais aplicações para os RCC reciclados são: base para pavimentações, agregados para concretos sem função estrutural, fabricação de artefatos de cimento (blocos, bloquetes, bancos, pisos em concreto), argamassas de assentamento de tijolos ou revestimentos (CÓRDOBA, 2010).

Para disciplinar algumas das aplicações dos agregados reciclados, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou duas normas:

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 NBR 15.115:2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Execução de camadas de pavimentação – Procedimentos (ABNT, 2004e);

 NBR 15.116:2004 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos (ABNT, 2004f).

De acordo com Santos (2007), ao analisar o aspecto econômico, a reciclagem dos RCC apresenta-se como uma alternativa vantajosa por representar uma possibilidade de converter encargos econômicos do setor público e dos construtores (gerenciamento dos resíduos, custos de transporte, taxas e multas) em uma fonte de renda.

No entanto, ao considerar que o processo de beneficiamento dos RCC envolve várias atividades: coleta, transporte até as centrais de reciclagem, triagem, britagem, peneiramento, e estocagem; a economia de energia com a tecnologia de reciclagem é questionável (BLENGINI; GARBARINO, 2010). Por isso, os agregados reciclados devem ser produzidos e utilizados de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável.

Segundo Mercante et al. (2011) uma das ações para minimizar os impactos nas instalações de reciclagem é a adoção da triagem na própria obra/demolição, pois evitaria a etapa de separação das frações leves (rejeitos) nas plantas de reciclagem.

De acordo com o Sindicato da Construção do Estado de São Paulo, atenção especial deve ser dada para a possibilidade da reutilização de materiais ou mesmo a viabilidade econômica da reciclagem dos resíduos no canteiro, evitando sua remoção e destinação final. O correto manejo dos resíduos no interior do canteiro permite a identificação de materiais reutilizáveis, que geram economia tanto por dispensarem a compra de novos materiais como por evitar sua identificação como resíduo e gerar custo de remoção.

De acordo com Pinto (2005), em relação à reciclagem em canteiro dos resíduos de alvenaria, concreto e cerâmicos, devem ser examinados os seguintes aspectos:

 Volume e fluxo estimado de geração;

 Investimento e custos para a reciclagem (equipamento, mão-de-obra, consumo de energia etc.);

 Tipos de equipamentos disponíveis no mercado e especificações;

 Alocação de espaços para reciclagem e formação de estoque de agregados;  Possíveis aplicações para os agregados produzidos;

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 Custo dos agregados naturais e da remoção dos resíduos.

A decisão por reciclar resíduos em canteiro somente poderá ser tomada após o exame cuidadoso dos aspectos acima mencionados e uma análise da viabilidade econômica e financeira (PINTO, 2005).

O Ministério de Meio Ambiente (BRASIL, 2012b) define as seguintes orientações para recuperação de resíduos e minimização dos rejeitos na destinação final ambientalmente adequada: segregação dos RCC com reutilização ou reciclagem dos resíduos de Classe A (trituráveis) e Classe B (madeiras, plásticos, papel e outros); segregação dos resíduos volumosos (móveis, inservíveis e outros) para reutilização ou reciclagem e, encerramento de lixões e bota foras, com recuperação das áreas degradadas.

3.2.7.1 O Desperdício e a Vida Útil dos Materiais

Em cada uma das etapas de uma obra civil ocorrem perdas e desperdícios de materiais, gerando resíduos da construção civil tanto na sua concepção quanto na execução e posterior utilização. Na fase de concepção é corriqueiro acontecerem diferenças entre as quantidades previstas e as realmente utilizadas na obra.

A Tabela 5 apresenta taxas de desperdício de materiais na qual aparecem diferenças consideráveis entre os valores de mínimo e máximo, diferenças estas devidas às variações entre metodologias de projeto, execução e controle de qualidade das obras (LIMA; LIMA, 2009).

Tabela 5. Taxa de desperdício de materiais de construção.

Materiais Taxa de Desperdício

Média Mínimo Máximo

Concreto usinado 9 2 23 Aço 11 4 16 Blocos e tijolos 13 3 48 Placas cerâmicas 14 2 50 Revestimento têxtil 14 14 14 Eletrodutos 15 13 18

Tubos para sistemas prediais 15 8 56

Tintas 17 8 24

Condutores 27 14 35

Gesso 30 14 120

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Compreender a vida útil dos materiais contribui para solucionar o problema do desperdício, os conceitos de “lixo”, “reuso” e “reciclagem” são compreendidos de maneira mais eficiente, no contexto da vida útil dos materiais. Muitas das práticas mais recentes e atuais tendem a estabelecer um fluxo linear na vida útil dos componentes, algo como “do berço ao túmulo”, apresentada na Figura 7 (ADDIS, 2010).

Figura 7. Ciclo de vida útil para materiais e produtos.

Fonte: adaptado de Addis (2010).

Além da preocupação com o redirecionamento dos resíduos da construção civil, a adoção de práticas com o objetivo de limitar a quantidade de resíduos gerada no início das atividades de demolição e construção. Esse tipo de prevenção pode ocorrer nas fases de construção bem como de operação e manutenção de prédios, da seguinte maneira:

 Projetos que abordam os processos de desmontagem, a durabilidade e o uso mínimo de materiais;

 Operação e manutenção realizadas com a finalidade de manter a edificação em boas condições, uma vez que o aumento da vida útil e a funcionalidade e durabilidade contínuas postergam a necessidade de demolição (KEELER; BURKE, 2010).

Na prática, alcançar esse cenário ideal é um desafio para a maior parte dos projetos de construção civil; porém, uma contribuição importante que engenheiros e arquitetos podem oferecer nesse sentido é projetar e construir de maneira diferente: as edificações poderiam ser projetadas de forma a fazer uso das práticas de prevenção, reaproveitamento e da reciclagem.

Segundo Hendriks e Janssen (2003), o modelo Delft Ladder pode ser utilizado como um exemplo de gestão baseado na hierarquia dos resíduos, sendo delineada como uma maneira de representar em um diagrama os vários estágios possíveis no ciclo de vida útil dos materiais (Figura 8). Extração Manufatura Produto Uso Demolição Entulho Aterro

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Figura 8. O modelo Delft Ladder para o fluxo do ciclo de vida dos materiais.

Fonte: Addis (2010).

No momento de tomar decisões a respeito de seu projeto, o engenheiro ou arquiteto pode considerar, em sequência, cada estágio do ciclo de vida: prevenção, reforma, reuso de componentes, reuso de materiais e aplicações úteis, analisando como os materiais ou componentes podem ser reciclados ou reutilizados em novas aplicações (ADDIS, 2010).