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3.2 Resíduos da Construção Civil

3.2.5 Geração e Composição dos Resíduos da Construção Civil no Contexto

De acordo com o relatório da Franklin Associates (1998), a quantidade de RCC gerada nos Estados Unidos em 1996 era de aproximadamente 136 milhões de toneladas, excluindo os resíduos de construção de estradas, de limpeza de terrenos e solos de escavação.

Em 2009, surge um novo relatório contendo estimativas para o ano 2003, considerando os RCC gerados a partir de construções, demolições e reformas de edifícios residenciais e não- residenciais. O total estimado foi de quase 170 milhões de toneladas, sendo 39% provenientes de residências e 61% a partir de fontes não-residenciais (USEPA, 2009).

Neste mesmo relatório, é apresentada a taxa de recuperação dos RCC para oito estados, que representam 21% da população dos Estados Unidos (Tabela 3). O termo “recuperação” é utilizado em substituição ao termo "reciclagem", pois os números apresentados podem incluir materiais recuperados para outros usos que não se enquadram na definição de "reciclagem".

Tabela 3. Quantidade de RCC disposto em aterro e recuperado de acordo com informações dos órgãos ambientais estaduais.

Estado Quantidade de RCC, 2003 (toneladas)

Taxa de Recuperação 2003

Disposto em aterro Recuperado Flórida 5.577.259 1.998.256 Marilândia 1.193.774 2.270.100 Massachusetts 720.000 3.360.000 Nova Jérsei 1.519.783 5.582.336 Carolina do Norte 1.844.409 20.002 Utá 1.054.296 46.461 Virgínia 3.465.548 95.131 Washington 1.780.356 2.640.560 Total 17.575.425 16.012.846 48% Fonte: USEPA (2009).

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De acordo com Cochran e Townsend (2010) a quantidade real dos RCC gerados nos Estados Unidos é desconhecida. Nesse sentido, os autores utilizaram a análise de fluxo de materiais para estimar a geração e composição dos RCC no país. O resultado obtido estimou que cerca de 610 a 780 milhões de toneladas de RCC foram geradas em 2002. Este valor ultrapassa estimativas anteriores que utilizaram outra metodologia e reflete o grande fluxo de resíduos que existe neste setor.

Na União Europeia (UE) os RCC são considerados um dos maiores fluxos de resíduos, a geração anual estimada é de 850 milhões de toneladas, o que representa 31% da produção total de resíduos na UE (FISCHER; WERGE, 2009). A Tabela 4 apresenta os dados de geração dos resíduos da atividade de construção para cada país da UE, no ano de 2012.

Tabela 4. Geração dos resíduos da atividade de construção nos países da UE em 2012.

País Quantidade de RCC 2012 País Quantidade de RCC 2012 Total (toneladas) per capita

(kg/hab.) Total (toneladas)

per capita

(kg/hab.) Bélgica 16.271.796 1.463 Hungria 4.015.161 405

Bulgária 1.032.651 141 Malta 1.085.571 2.588

República Checa 8.592.900 818 Países Baixos 81.354.111 4.856

Dinamarca (*) 3.175.530 568 Áustria 19.470.934 2.310 Alemanha 197.527.868 2.456 Polônia 15.367.995 399 Estônia 657.089 497 Portugal (*) 928.394 88 Irlanda (*) 1.609.762 351 Romênia 237.502 12 Grécia 812.519 73 Eslovênia 535.153 260 Espanha 26.129.151 559 Eslováquia 806.184 149 França 246.256.594 3.763 Finlândia 16.033.874 2.962 Itália (*) 59.340.134 997 Suécia 7.655.935 804

Chipre 965.177 1.117 Reino Unido 98.923.947 1.553

Letónia 7.509 4 Islândia 15.790 49

Lituânia (*) 356.773 119 Noruega 1.880.543 375

Luxemburgo 7.079.473 13.334 Croácia 682.058 160

Nota: (*) dados estimados. Fonte: EUROSTAT (2012).

Para a classificação destes resíduos, os países membros utilizam a Lista Europeia de Resíduos (LER), que divide os resíduos em 20 capítulos, sendo que os RCC estão representados no capítulo 17 (Quadro 3). Esta classificação é necessária para tornar a gestão de resíduos mais eficaz, unificando os critérios de caracterização dos RCC entre os países membros da UE (MELO, 2013).

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Quadro 3. Classificação dos RCC de acordo com a Lista Europeia de Resíduos.

CÓDIGO LER DESIGNAÇÃO

17 Resíduos de construção e demolição (incluindo solos escavados de locais contaminados):

17 01 Concreto, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos: 17 01 01 Concreto.

17 01 02 Tijolos.

17 01 03 Ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos.

17 01 06 (*) Misturas ou frações separadas de concreto, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos contendo substâncias perigosas.

17 01 07 Misturas de concreto, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos não abrangidas em 17 01 06.

17 02 Madeira, vidro e plástico: 17 02 01 Madeira.

17 02 02 Vidro.

17 02 03 Plástico.

17 02 04 (*) Vidro, plástico e madeira contendo ou contaminados com substâncias perigosas. 17 03 Misturas betuminosas, alcatrão e produtos de alcatrão:

17 03 01 (*) Misturas betuminosas contendo alcatrão.

17 03 02 Misturas betuminosas não abrangidas em 17 03 01. 17 03 03 (*) Alcatrão e produtos de alcatrão.

17 04 Metais (incluindo ligas): 17 04 01 Cobre, bronze e latão.

17 04 02 Alumínio. 17 04 03 Chumbo. 17 04 04 Zinco. 17 04 05 Ferro e aço. 17 04 06 Estanho. 17 04 07 Mistura de metais.

17 04 09 (*) Resíduos metálicos contaminados com substâncias perigosas.

17 04 10 (*) Cabos contendo hidrocarbonetos, alcatrão ou outras substâncias perigosas. 17 04 11 Cabos não abrangidos em 17 04 10.

17 05 Solos (incluindo solos escavados de locais contaminados), rochas e lamas de dragagem: 17 05 03 (*) Solos e rochas contendo substâncias perigosas.

17 05 04 Solos e rochas não abrangidos em 17 05 03.

17 05 05 (*) Lamas de dragagem contendo substâncias perigosas. 17 05 06 Lamas de dragagem não abrangidas em 17 05 05.

17 05 07 (*) Balastros de linhas de caminho de ferro contendo substâncias perigosas. 17 05 08 Balastros de linhas de caminho de ferro não abrangidos em 17 05 07. 17 06 Materiais de isolamento e materiais de construção contendo amianto: 17 06 01 (*) Materiais de isolamento contendo amianto.

17 06 03 (*) Outros materiais de isolamento contendo ou constituídos por substâncias perigosas. 17 06 04 Materiais de isolamento não abrangidos em 17 06 01 e 17 06 03.

17 06 05 (*) Materiais de construção contendo amianto. 17 08 Materiais de construção à base de gesso:

17 08 01 (*) Materiais de construção à base de gesso contaminados com substâncias perigosas. 17 08 02 Materiais de construção à base de gesso não abrangidos em 17 08 01.

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Quadro 3 (continuação). Classificação dos RCC de acordo com a Lista Europeia de Resíduos.

CÓDIGO LER DESIGNAÇÃO

17 09 Outros resíduos de construção e demolição:

17 09 01 (*) Resíduos de construção e demolição contendo mercúrio. 17 09 02 (*)

Resíduos de construção e demolição contendo PCB (por exemplo, vedantes com PCB, revestimentos de piso à base de resinas com PCB, envidraçados vedados contendo PCB, condensadores com PCB).

17 09 03 (*) Outros resíduos de construção e demolição (incluindo misturas de resíduos) contendo substâncias perigosas.

17 09 04 Mistura de resíduos de construção e demolição não abrangidos em 17 09 01, 17 09 02 e 17 09 03.

Nota: Os resíduos indicados com asterisco (*) são considerados resíduos perigosos. Fonte: Portugal (2004).

De acordo com Ortiz, Pasqualino e Castells (2010), os resíduos da construção civil tem um alto potencial de valorização, 80% desses resíduos podem ser reciclados, embora apenas uma pequena parte está realmente sendo recuperada na União Europeia como um todo.

Com o objetivo de avançar rumo a um elevado nível de eficiência dos recursos, o Parlamento Europeu, por meio da Diretiva 2008/98/CE, institui para 2020 a meta de 70% para a reutilização, reciclagem e valorização dos RCC (EUROPEAN PARLIAMENT, 2008; APA, 2008). Fischer e Werge (2009) apresentaram a porcentagem dos RCC reciclados em relação a quantidade total gerada entre os anos de 1995 a 2006 nos países da UE e da Noruega. Os dados indicam que Dinamarca, Alemanha, Irlanda, Países Baixos e Estônia, reciclam mais que 80% do total de RCC gerado, enquanto a República Checa, Finlândia, Hungria e Polônia reciclam apenas entre 15% e 30% do total gerado. Observa-se também que apesar de possuir valores muito baixos de geração, a Letônia e Lituânia apresentam taxas de reciclagem acima de 45%.

Atualmente, no contexto internacional, além dos Estados Unidos e dos países da União Europeia, torna-se importante considerar as quantidades dos RCC gerados em alguns países orientais, como a China e a Índia, que neste momento tentam atingir um nível de desenvolvimento urbanístico idêntico ao do Ocidente e obter um lugar de destaque na economia mundial, o que tem provocado um aumento relevante no consumo de vários tipos de recursos e, consequentemente, nos resíduos gerados (MIDÕES, 2012).

O setor da construção civil é o maior gerador de resíduos sólidos em Hong Kong, em 1998, foram gerados cerca de 32.710 toneladas por dia de RCC, quase 15% a mais em relação ao ano de 1997 (POON et al., 2001). Na parte continental da China, estudos realizados na cidade de Shenzhen, indicaram que a geração de resíduos por unidade de área construída é 40,7 kg/m², sendo

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que o resíduo de concreto é o principal contribuinte, responsável por 43,5% do total de RCC gerado (LI et al., 2013).

Ding e Xiao (2014) concluíram que cerca de 13.710 mil toneladas de RCC foram gerados em 2012, em Xangai, dos quais mais de 80% eram compostos por concreto, tijolos e blocos (Gráfico 4). Ao analisar a composição dos RCC, ao menos metade da quantidade de resíduos poderia ser reciclado. Caso existissem tecnologias apropriadas para a reciclagem, este tipo de alternativa seria economicamente e ambientalmente benéfica para Xangai, onde a produção per capita por ano de RCC é tão elevada, alcançando 842 kg em 2010.

Gráfico 4. Composição dos RCC em Xangai em 2012.

Fonte: Ding e Xiao (2014).

Outro estudo, publicado por Lu (2014), estimou que cerca de 2,19 bilhões de toneladas de RCC foram gerados em 2011 na China, uma quantidade relevante considerando que o estudo não incluiu os RCC gerados nas reformas dos edifícios existentes.

Em relação a Índia, a porcentagem da população que vive em cidades e zonas urbanas aumentou de 14% para 27,8%, como consequência houve a ampliação das construções, com isso, estima-se a geração de RCC na Índia seja de 12 milhões de toneladas por ano. Estudos apontam que durante a construção a geração é de 40 – 60 kg/m² e durante as atividades de reforma é de 40 – 50 kg/m². No entanto, a maior contribuição para a geração dos RCC são as demolições de edifícios, estima-se uma taxa de geração entre 300 – 500 kg/m² (GHOSH; GHOSH; AICH, 2011).

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3.2.6 Impactos Ambientais e Socioeconômicos Provocados pelos Resíduos da Construção