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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.3. ANÁLISE FINANCEIRA: NOVAS ABORDAGENS

2.3.3. Economic Value Added EVA ®

2.3.3.3. Definição e cálculo

Em termos de evolução temporal, verificamos que o conceito associado

ao EVA® foi ganhando relevância à medida que as empresas, ao longo dos anos,

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Segundo STEWART (1991), o EVA® consiste numa forma de medir o

rendimento residual que subtrai o custo do capital aos resultados operacionais

gerados pela empresa, assumindo-se como a medida de desempenho que

determina correctamente todas as formas através das quais se pode criar ou

destruir valor. O modelo do EVA® foi exactamente desenvolvido por este autor

(em parceria com Joel Stern) e a sua formulação mais básica passa por uma das

seguintes fórmulas:

EVA® = ROAI – (WACC x Capital Investido) (5) ou

EVA® = (ROIC – WACC) x Capital Investido (6)

Este autor continua, explicando que o EVA® de uma empresa será

positivo se os resultados operacionais após impostos (ROAI) excederem o custo

em unidades monetárias de capital investido (WACC x Capital Investido). Neste

caso, a empresa estará a adicionar valor para os seus accionistas tendo em conta

que a rendibilidade do capital investido (ROIC) excede o custo médio

ponderado do capital (WACC).

No dizer de FERREIRA (2002), trata-se de “um conceito perfeitamente

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equivalente ao somatório actualizado dos fluxos de fundos para os accionistas e

para os credores por financiamentos” (p.208).

Ainda segundo este autor, a lógica adjacente ao conceito do EVA®,

enquanto criação de valor para os accionistas, tem por base a diferença entre a

rendibilidade dos capitais investidos e o custo do capital ou das diferentes

fontes de financiamento utilizadas.

Um resultado positivo manifesta a ocorrência de criação de valor; um

resultado negativo significa a existência de destruição de valor. Neste ponto

PETTIT (2001) levanta uma questão pertinente: deverá então o empresário fazer

crescer o seu negócio caso a sua empresa apresente um EVA® positivo ou

vender/fechar a mesma caso o seu EVA® seja negativo?

O mesmo autor avança com a resposta explicando que o EVA® é um

indicador que mede a performance da organização num determinado período, ou

seja, um EVA® negativo não implica que a empresa não venha a apresentar um

EVA® positivo num futuro próximo; o valor de uma organização representa o

valor presente resultante do desempenho no período actual acrescido do valor

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De qualquer forma, ainda segundo este autor, um EVA® negativo

funciona sempre como um alerta16 para a eventualidade de ser necessário rever

a estratégia do negócio desenvolvido pela organização, para que assim se

garanta que a opção seguida é aquela que mais valor consegue gerar.

DAMODARAN (1997) define o EVA® como sendo a diferença entre o

retorno do Capital, ROC, e o custo médio ponderado do capital, WACC,

assumindo-se um referencial de custo de oportunidade para a componente dos

capitais próprios.

EVA® = ( ROC – WACC ) x (economic book value of Assets in place) (7) EVA® = EBIT ( 1 – t ) – WACC x (economic book value of Assets in place) (8)

onde,

ROC = EBIT ( 1 – t ) / (economic book value of Assets in place17) t - taxa efectiva sobre os lucros

16 PETTIT (2001) chama-lhe “flag” (bandeira), mas achou-se mais conveniente a tradução

“alerta”.

17 O economic book value of Assets in place corresponde ao valor contabilístico do Activo (fixo e

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FERREIRA (2002) propõe uma expressão semelhante à apresentada

anteriormente, dando-lhe porém uma abordagem mais focada na

rendibilidade18.

EVA® = RO Aj. – WACC x Ci (9) onde,

RO Aj. - resultado operacional (antes de juros) depois de impostos

RO Aj. = NOPAT

WACC - custo médio ponderado do capital (weighted average cost of capital) Ci - capital investido

Olhando para a expressão acima proposta, o autor leva-nos a considerar

um retorno do investimento (ROI) igual à relação entre os resultados

operacionais líquidos de impostos e o capital investido (Ci), chegando assim a

uma nova expressão do EVA®:

EVA® = ( ROI – WACC ) x Ci (10)

O EVA® vai, portanto, mais além que as medidas de performance dadas

pelos resultados ou pelo rendimento do investimento uma vez que leva em

18

O cálculo do EVA® pode ser conseguido utilizando diversas fórmulas algébricas difundidas no meio académico. Aqui serão apresentadas as mais relevantes.

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linha de conta o custo dos recursos próprios e alheios, ou seja, inclui o custo de

oportunidade dos accionistas.

“O EVA® conduz ao excedente gerado pela empresa, pois são incluídos

todos os custos e foi satisfeito um nível de rendibilidade mínimo para os

accionistas”, refere ainda FERREIRA (2002, p.210) que, continuando, acrescenta

que a empresa está a criar valor cada vez que os seus recursos próprios

conseguem produzir, no mínimo, o mesmo rendimento que os investimentos

com risco similar, caso contrário estará a destruir valor no ponto de vista dos

accionistas.

GOMES MOTA et al. (2006) enunciam o EVA® como o resultado da

multiplicação do valor do capital investido pela diferença entre a rendibilidade

do capital investido e o custo total desse mesmo capital (WACC).

Dir-se-á, portanto, que uma empresa gera valor económico acrescentado

- EVA® positivo – quando a rendibilidade do capital que foi investido pelos

accionistas é superior ao seu custo.

Ainda referindo aqueles autores, ficamos a perceber que nas empresas

que recorrem à metodologia do economic value added só se consegue resultados

realmente positivos quando os seus rendimentos conseguem cobrir, por um

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demonstrações financeiras) e, por outro, o custo do capital investido (capital

próprio e dívida).

Desta forma, se retirarmos ao EBIT o custo do capital investido, que

corresponde ao WACC, obteremos o valor do EVA®:

EVA® = EBIT

n ( 1-t ) – WACC x ICn (boy) (11) onde,

t – taxa de imposto efectiva WACC – custo médio ponderado do capital IC – capital investido boy – início do ano (beginning of the year)

Caso não existam resultados extra-exploração, repare-se que a única

diferença entre o EVA® e o resultado líquido (RL) contabilístico está no facto de

este não incluir o custo do capital próprio:

RL = ( EBIT – gastos financeiros ) x ( 1 - t ) (12)

Estes autores acrescentam ainda que “mesmo que para um determinado

negócio sejam múltiplos os factores que se podem enumerar como veículos para

a criação de valor, estes podem ser integrados nos procedimentos que de

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Assim, o EVA® aumenta quando:

- Aumenta a rendibilidade do capital investido: quando, em resultado de uma maior eficiência operacional, a empresa consegue aumentar a

rendibilidade do capital de que dispõe sem efectuar novos

investimentos;

- Diminui o WACC: quando por razões de uma gestão mais eficiente ou por factores externos à própria empresa, o seu custo de capital

diminui;

- A empresa procede a investimentos adicionais: quando a empresa investe em projectos com uma rendibilidade superior ao custo do

capital que utiliza.” (GOMES MOTA et al., 2006, p.80)

A utilização do EVA® fomenta assim uma mais apurada selecção de

oportunidades de negócio que conjuguem crescimento com desenvolvimento.

Potencia igualmente a promoção do crescimento sustentado, desencorajando

investimentos que se revelem destruidores de valor, que apenas pretendam

obter crescimento pelo crescimento e cujo objectivo passe somente pelo

aumento das vendas ou das receitas brutas. MCLANEY (2006) salienta que

podemos considerar o EVA® como um refinamento do conceito de lucro

económico através do qual se incita a que ocorram melhorias de performance nos

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A saber:

- aumento do lucro após impostos (NOPAT – net operating profit after taxes) que pode acontecer pela via da redução das despesas ou pela

via do incremento das vendas;

- utilização mais eficiente do capital investido, admitindo a hipótese de venda de activos que não estejam a gerar retornos capazes de

reflectir o seu valor e o investimento em activos capazes de o fazer;

- redução da taxa de retorno exigida pelos accionistas, sendo que esta será mais discutível e mais difícil de concretizar.

GRANT (2003) observa, por fim, que o EVA® será então o resultado da

diferença entre o lucro após impostos (NOPAT) e o custo médio ponderado do

capital (WACC). Este resultado difere assim das tradicionais formas

contabilísticas de medir o lucro das empresas porque reflecte em si mesmo a

totalidade do custo do capital verificado na empresa. Esta diferença reveste-se

de uma importância significativa para os accionistas uma vez que o EVA® é

líquido quer de gastos directos dos capitais alheios, quer de gastos indirectos

dos capitais próprios.

O verdadeiro custo do capital aqui em questão é, não somente a parcela

que é paga pelo capital alheio, emprestado a taxas de mercado e ajustado

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pago aos accionistas caso eles tivessem aplicado o capital que introduziram na

empresa noutras oportunidades de investimento externas (SAURIN et al., 2000).

Estes autores referem que o cerne do cálculo do EVA® passa pela

dificuldade de cálculo do custo do capital próprio. O custo de oportunidade do

capital colocado pelos accionistas na empresa traduz-se na média ponderada da

taxa de retorno exigida por esses mesmos accionistas e da taxa líquida de

imposto do custo do endividamento.

Cálculo do EVA®

Como se viu anteriormente, o cálculo do EVA® pode ser expresso por

diversas fórmulas algébricas. Assim sendo e assumindo como referência o

formulado pelos seus criadores, optou-se por utilizar como referência a fórmula

apresentada por Stern e Stewart (STEWART, 1991):

EVA® = ROAI – (WACC x Capital Investido) (5)

onde,

ROAI = RO x ( 1 - t ) RO – Resultados Operacionais

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No livro referenciado, este autor apresenta o desenvolvimento feito por

ambos os criadores relativamente aos componentes desta fórmula e que se

apresentam de seguida.

a) Definição e cálculo do capital investido

No cálculo do EVA®, considera-se que o capital corresponde ao dinheiro

que os accionistas e credores da empresa investiram na mesma e relativamente

ao qual a empresa tem de obter uma taxa de retorno. O valor do capital

investido pode ser conseguido com base em duas perspectivas: i) perspectiva

financeira ou ii) perspectiva operacional.

Com a perspectiva financeira consegue-se chegar ao capital investido

somando aos recursos próprios (capitais próprios e interesses minoritários) os

recursos equiparados a recursos próprios (provisões para riscos e encargos,

empréstimos por obrigações convertíveis e contas de accionistas ou sócios) e

todo o passivo remunerado.

O autor refere-se aos interesses minoritários dizendo que, no Balanço,

esta conta se encontra numa posição intermédia, não sendo integrada no

Passivo (porque não são dívidas a terceiros) nem no Capital Próprio. E,

assumindo que se pretende saber o valor total do capital investido por todos os

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incluídos no cálculo do capital investido. Este autor refere ainda que as

provisões desta natureza se equiparam a mais uma reserva, facto que justifica a

sua consideração no cálculo do capital investido uma vez que as despesas

futuras de montante certo ou incerto ainda não ocorreram.

Quanto ao passivo remunerado, é referido que o mesmo junta as dívidas

a terceiros, remuneradas, de curto e de médio e longo prazo, ou seja, as dívidas

que implicam gastos financeiros explícitos, nomeadamente os empréstimos por

obrigações não convertíveis, os empréstimos por títulos de participação, as

dívidas a instituições de crédito, outros empréstimos remunerados e ainda a

conta de outros credores não relacionados com a exploração do negócio. O

autor acrescenta que devem ainda ser considerados os acréscimos de custos e os

proveitos diferidos que não seja de exploração.

Caso seja possível, o mesmo autor aconselha a que seja isolada da conta

de fornecedores de investimentos o valor da dívida decorrente de contratos de

locação financeira, tendo em conta que estamos também perante um passivo

remunerado.

Com a perspectiva operacional, ao activo não corrente líquido (activo

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por acréscimos de rendimentos e gastos a reconhecer a médio e longo prazo)19

adiciona-se o fundo de maneio necessário à exploração, sendo este o

correspondente ao conjunto das necessidades de exploração de natureza

financeira20, cujo financiamento21 não está compensado por recursos financeiros

de exploração normais.

Independentemente da perspectiva adoptada, quer seja calculado na

óptica financeira, quer seja calculado na óptica operacional, o valor final do

capital investido será sempre igual nas duas situações.

19 Estas contas são aqui apresentadas com a nomenclatura actualmente em vigor. Em virtude da transição do Plano Oficial de Contas (POC) para o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) no dia 1 de Janeiro de 2010, nem sempre as designações presentes nos mapas financeiros analisados correspondem com as utilizadas no quadro conceptual em vigor. Assim sendo, fazendo o paralelismo entre a linguagem SNC e a linguagem POC utilizada ainda em algumas situações verificam-se as seguintes equivalências: imobilizados corpóreo e incorpóreo – activos fixos tangíveis e activos intangíveis; dívidas de terceiros – dividas a receber; acréscimos de proveitos – devedores por acréscimos de rendimentos; custos diferidos – gastos a reconhecer). 20 Englobam-se aqui: os inventários (existências); o crédito concedido aos clientes; os adiantamentos efectuados aos fornecedores correntes; as dívidas ao Estado e outros entes públicos; o crédito concedido a outros devedores de exploração e a margem de segurança de tesouraria.

21 As necessidades de financiamento de exploração correspondem ao activo corrente de exploração mas podem também incluir algumas rubricas do realizável a médio prazo como é, por exemplo, o caso dos créditos sobre clientes com prazo de recebimento superior a um ano.

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Tabela 4 – Cálculo do capital investido

Perspectiva operacional Perspectiva financeira

(+) Activo não corrente

(+) Activos fixos tangíveis (+) Activos intangíveis (+) Empréstimos a accionistas

(+) Fundo de maneio necessário à exploração (+) Necessidades financeiras de exploração (-) Recursos financeiros de exploração (+) Excedentes de tesouraria

(+) Depósitos bancários (MLP) (+) Títulos negociáveis

(+) Outras aplicações de tesouraria

(+) Fundos próprios (+) Capitais próprios (+) Interesses minoritários

(+) Fundos equiparáveis a fundos próprios (+) Provisões para riscos e encargos (+) Obrigações convertíveis

(+) Empréstimos de accionistas (+) Passivo remunerado

(+) Obrigações não convertíveis (+) Dívidas a instituições de crédito (+) Reembolso de capital em dívida (locação financeira)

Fonte: Adaptado de STEWART (1991)

b) Definição e cálculo do custo do capital

A taxa que suporta o cálculo do custo do capital é o custo médio

ponderado do capital (WACC).

Esta taxa, para além de incorporar os riscos associados ao negócio

desenvolvido pela empresa, reflecte igualmente os custos de oportunidade dos

detentores do capital (accionistas e terceiros) que financiam as actividades

operacionais da empresa, ou seja, capital próprio e capital alheio, bem como os

benefícios fiscais resultantes das decisões estratégicas relacionadas com a

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O WACC é ainda definido pelo autor como o preço que a empresa paga

pela utilização dos fundos provenientes das fontes de capital e serve de

comparação no processo de tomada de decisões de investimento, sendo que, ao

aplicar os recursos em activos com retorno superior ao WACC a empresa estará

a maximizar o valor e a riqueza dos accionistas.

GOMES MOTA et al. (2006) definem o WACC como a “taxa de desconto

que será utilizada para descontar os cash flows futuros disponíveis para os

investidores, ou seja, é a taxa média de remuneração dos capitais investidos

(próprios e alheios), ponderada pelo peso que tais capitais apresentam na

estrutura financeira da empresa” (p.78). O seu cálculo faz-se do seguinte modo:

WACC = rD (1 – t) x E D D + + rE x D+E E (13) onde,

rD – custo da dívida (taxa de custo do endividamento)

rE – custo dos capitais próprios (taxa de retorno exigida pelos detentores do capital) D – debt (passivo, considerando-se neste caso o passivo remunerado)

E – equity (capitais próprios)

t – taxa de imposto efectiva sobre os lucros

Enquanto que relativamente ao custo do capital alheio não se suscitam

grandes dificuldade de cálculo, uma vez que representa a remuneração do

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acontece relativamente ao custo do capital próprio embora, de uma maneira

geral, este custo vise identificar o retorno que os accionistas da empresa

poderiam obter (expresso na valorização do preço das acções mais os

dividendos) se investissem num portfólio de acções de empresas com risco

similar à empresa em questão.

STEWART (1991), DAMODARAN (1997), PEIXOTO (2001),

STERN (2001) e RANGEL (2008), entre outros, recomendam a utilização da

metodologia do Capital Asset Pricing Model (CAPM). Este modelo define que a

taxa de rendibilidade esperada dos activos com risco está relacionada com dois

indicadores: a taxa de juro isenta de risco22 e a taxa de retorno esperada da

carteira do mercado23. O retorno esperado de um activo está igualmente

relacionado com o risco que se incorre pelo facto de se investir na empresa. Este

prémio pelo risco será igual ao produto do coeficiente de volatilidade – beta da

acção (β) - do activo em relação à carteira de mercado ou ao índice em que se

insere pela diferença entre o retorno esperado do mercado e a taxa livre de

risco.

22 STERN (2001) refere como usual a utilização da média das taxas das Obrigações do Tesouro como referência.

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O conceito pode ser expresso como:

rE = Rf + ß x (Rp - Rf) (14)

onde,

rE – custo dos capitais próprios (taxa de retorno exigida pelos detentores do capital) Rf - taxa de juro de um activo sem risco

ß - coeficiente de risco sistemático (beta da acção) Rp - taxa de prémio de risco

(Rp - Rf) – prémio de risco de mercado

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