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5.2 SISTEMATIZAÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA CLASSIFICAÇÃO DAS VAZÕES OUTORGADAS

5.2.7 Definição de indicadores gerais

Conforme visto anteriormente, foram estipulados índices absolutos (QAB1 e QAB2) e índi- ces relativos (PCC, P1CI1, P1CI2, P2CI1 e P2CI2), para possibilitar a classificação dos pon- tos de interferência num dos três estágios gradativos de exigência quanto ao monitoramento: Simplificado, Intermediário e Avançado. No entanto, para que esses índices possam ser uti- lizados, é necessária a obtenção numérica dos valores dos mesmos. Para os índices absolutos,

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obtêm-se valores de vazão, em m³/h; para os índices relativos, valores percentuais, variando de 0 a 1, ou de 0 a 100%.

Para alcançar o resultado numérico desses índices, é necessário, inicialmente, que se tenha os dados de oferta em determinado trecho de rio ou reservatório, referentes à vazão de refe- rência (Qreferencia), em l/s. Além deste, são requeridos os dados de demanda, que consistem

nas vazões de outorga dos pontos de interferência localizados num trecho de rio (ou reser- vatório) determinado, somados às Demandas Bioquímicas de Oxigênio DBO5,20 do efluente,

no caso dos pontos de lançamento, para cálculo das vazões de demanda (Qdemanda) de cada

um dos pontos, em l/s. Por conseguinte, é também exigido o somatório das vazões de de- manda dos trechos de montante (ƩQmontante).

De posse desses dados, definem-se Indicadores Gerais para encontrar valores numéricos para os índices absolutos (QAB1 e QAB2) e para os índices relativos (PCC, P1CI1, P1CI2, P2CI1 e P2CI2). Com a determinação dos índices, uma vazão outorgada pode ser classificada no nível 1 – Monitoramento Simplificado, nível 2 – Monitoramento Intermediário ou nível 3 – Monitoramento Avançado.

Várias formas podem ser utilizadas para criação desses indicadores. Uma vez que a organi- zação espacial adotada para o presente trabalho se dá para cada trecho i, onde se possui dados das vazões outorgadas, optou-se por criar indicadores gerais que relacionem duas variáveis: os valores das vazões de demanda Qdemanda outorgadas em i, bem como o quantitativo N de

vazões outorgadas no referido trecho, sendo que cada vazão outorgada corresponde a um ponto de interferência, podendo ser de captação ou lançamento.

Antes da apresentação dos indicadores, utilizando o conceito de vazão de demanda (Qdemanda)

e o número de pontos de interferência N relacionados às vazões outorgadas, bem como os três níveis de controle de monitoramento definidos para classificação das vazões (Nível 1 – Monitoramento Simplificado, 2 – Intermediário e 3 – Avançado), elencam-se as seguintes variáveis:

ƩQdemT (i) - somatório de todas as vazões de demanda outorgadas num trecho i;

ƩQdem1 (i) - somatório das vazões de demanda dos pontos de interferência classificados no

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ƩQdem2 (i) - somatório das vazões de demanda dos pontos de interferência classificados no

2º estágio (monitoramento intermediário);

ƩQdem3 (i) - somatório das vazões de demanda dos pontos de interferência classificados no

3º estágio (monitoramento avançado);

NT (i) - número total de pontos relacionados às vazões outorgadas num trecho i; N1 (i) - número de vazões classificadas no 1º estágio (Monit. Simplificado); N2 (i) - número de vazões classificadas no 2º estágio (Monit. Intermediário); N3 (i) - número de vazões classificadas no 3º estágio (Monit. Avançado).

Sabendo que: ƩQdem1 (i) + ƩQdem2 (i) ƩQdem3 (i) = ƩQdemT (i) (5.18)

N1 (i) + N2 (i) + N3 (i) = NT (i) (5.19)

Traça-se, com a criação dos indicadores, um caminho reverso do fluxograma apresentado na Figura 4.2. Naquele fluxograma, a partir dos dados dos usuários de um determinado trecho de rio e dos índices absolutos e relativos, chega-se à classificação das vazões outorgadas em um dos três estágios de monitoramento. Como ainda não se tem os valores numéricos dos índices, a partir de dados concretos de oferta e demanda de determinado trecho, bem como dos Indicadores Gerais apresentados a seguir, possibilita-se encontrar esses valores para os índices absolutos e relativos.

1º Indicador - Controle objetivo do monitoramento

A ideia central desse indicador é que o órgão gestor de recursos hídricos tenha uma maximi- zação do controle dos volumes reais utilizados, frente ao volume total outorgado aos usuários de recursos hídricos de uma determinada bacia.

Dos três estágios de classificação estipulados, observa-se que os usuários outorgados que estiverem no 1º estágio não serão exigidos um controle objetivo da vazão e da DBO5,20 (lan-

çamento), pois poderão informar somente os valores de projeto, uma vez que serão aceitos somente os valores declarados numa planilha.

Já os usuários pertencentes ao 2º estágio possuirão um controle objetivo do tempo de uso, pela exigência de instalação de horímetro ou similar, bem como da vazão e da DBO5,20, pela

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Os usuários do 3º estágio já possuem um controle ainda maior, por instalarem equipamentos que meçam a vazão de forma instantânea e que totalizem o tempo. Em termos qualitativos, deverão realizar medições mensais de DBO5,20. Além disso, os usuários ainda serão obriga-

dos a enviar ao órgão gestor o volume total utilizado.

Uma vez que os usuários a serem classificados nos estágios 2 e 3 deverão ter um monitora- mento objetivo do uso outorgado, tomando então as vazões de demanda dos pontos de inter- ferência classificados nesses dois estágios, ƩQdem2 (i) e ƩQdem3 (i), deve-se buscar, com esse

1º indicador geral, que o somatório das vazões classificadas nesses estágios 2 e 3 tenham um percentual significativo em relação ao total podendo ser, por exemplo, maior ou igual a 80% da vazão de demanda total outorgada na bacia. Assim:

ƩQdem2 (i) + ƩQdem3 (i) ≥ 0,8 ƩQdemT (i) (5.20)

2º Indicador - Verificação do real uso outorgado

Para esse indicador, busca-se que tenha uma maximização da verificação, por parte do órgão gestor de recursos hídricos, do real uso por ele outorgado.

A verificação parte do pressuposto que o órgão gestor tenha em mãos os dados reais da vazão de demanda dos pontos de interferência. Uma vez que esses dados dos volumes reais utili- zados são exigidos aos usuários pertencentes ao 3º estágio (monitoramento avançado), então deve-se buscar, para este indicador, que o somatório das vazões de demanda dos pontos de interferência classificados no 3º estágio (Q3) tenham um percentual mínimo em relação à vazão de demanda total outorgada num determinado trecho de rio. Pode-se ensejar, por exemplo, que as vazões outorgadas e classificadas no 3º nível representem pelo menos 405 do total outorgado no trecho. Tem-se, dessa forma:

ƩQdem3 (i) ≥ 0,4 ƩQdemT (i) (5.21)

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Conforme visto anteriormente, aos usuários do 3º estágio exige-se a aquisição e instalação correta de um medidor de vazão, a coleta e análise mensal da Demanda Bioquímica de Oxi- gênio (quando o ponto de interferência for de lançamento), e o envio desses dados reais utilizados ao órgão outorgante.

No trabalho de fiscalização do uso de recursos hídricos, deve-se atentar para o fato de que, uma vez imposta uma norma de instalação de equipamento de vazão e exigida aos usuários o envio dos dados medidos, então esses dados devem passar por uma análise por parte do órgão gestor, senão não há o porquê de se onerar os outorgados para obtenção e envio dessas informações.

Face à série de atividades envolvidas em torno de exigências aos usuários pertencentes ao 3º estágio, este indicador busca minimizar o número de usuários classificados nesse estágio. Explicitando melhor, este indicador objetiva que o número de usuários classificados no 3º estágio seja limitado a um número máximo de usuários, para evitar uma quantidade exces- siva de atividades fiscalizatórias para o órgão gestor de recursos hídricos outorgante.

Esse indicador representa, de uma forma geral, uma realidade observada nas outorgas de direito de uso de recursos hídricos emitidas pelos órgãos gestores: uma parcela menor de usuários (entre 5 e 15%) é responsável pela maioria do volume outorgado nas bacias (entre 70 e 90%). Como exemplos, pode-se citar a calha do rio Paraíba do Sul, onde 80 dos 729 usuários (11%) possuem 86% do volume outorgado, de acordo com Barcellos et al. (2011); na bacia do rio Doce, 75% do total outorgado foi concedido a 12% dos usuários (Dal- fior&Sado, 2013); na bacia do rio São Francisco, Vera (2014) verificou que 10% dos usuá- rios são responsáveis por 96% do volume outorgado na bacia.

Deve-se buscar, portanto, com este indicador, que o número de vazões classificadas no 3º estágio - N3 (i) - tenha um percentual menor em relação número total de vazões outorgadas - NT (i). Pode-se estipular, por exemplo, um valor de até 10% do total. Além disso, levando em conta os outros 2 indicadores anteriormente apresentados, que essa parcela menor de usuários outorgados num trecho, tenham uma representatividade significativa em termos de volume outorgado. Assim:

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