• Nenhum resultado encontrado

Estabelecimento de níveis de exigência quanto ao monitoramento das vazões outorgadas

5.2 SISTEMATIZAÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA CLASSIFICAÇÃO DAS VAZÕES OUTORGADAS

5.2.5 Estabelecimento de níveis de exigência quanto ao monitoramento das vazões outorgadas

Como definição inicial para atendimento à necessidade de controle dos usos outorgados, parte-se do pressuposto da Resolução nº 16/2001 do CNRH, de que todo usuário outorgado deve implantar e manter o monitoramento da vazão captada e/ou lançada e da qualidade do efluente.

A necessidade de monitoramento do uso, por parte do outorgado, é condição para obtenção de seu direito de uso. A razoabilidade dessa exigência de monitoramento do uso outorgado vai ao encontro de atingir um dos objetivos da PNRH, preconizado no inciso II do Art. 2º da lei 9.433/1997, que tem como meta utilização racional e integrada dos recursos hídricos, com vistas ao desenvolvimento sustentável (Brasil, 1997).

Dessa forma, tomando um ponto outorgado em um determinado rio, trecho de rio ou reser- vatório, com uma mesma vazão de referência, definem-se exigências para estabelecimento

82

de um monitoramento do seu uso, de forma gradativa, a depender da significância do ponto no trecho. Assim, quanto mais significante for o ponto outorgado no trecho, maior a exigên- cia para controle do uso.

Para monitoramento do uso de recursos hídricos outorgado, a fim de se conhecer o real uso em campo, devem ser controlados, com maior ou menor precisão: a vazão, o tempo de fun- cionamento, e a DBO5,20, quando se tratar de outorga de diluição.

Cabe aqui mencionar que deve ser levada em conta a sazonalidade como critério para auto- rização do uso, conforme recomendado por Cruz (2001) e Rosa de Oliveira et al. (2013). Tal fato permite uma melhor utilização do recurso, alocando mais água nos meses de maior dis- ponibilidade e menos nos meses mais críticos.

Leva-se então à autorização de um volume mensal outorgado, que leva em conta a vazão outorgada em l/s, multiplicada pelo n° de horas/dia e pelo nº de dias/mês. No que diz respeito então ao controle do uso e fins de comparação, o monitoramento a ser exigido tem como resposta final o volume mensal utilizado ou apropriado pelo outorgado.

A seguir, definem-se três níveis gradativos para controle do uso outorgado, onde as vazões outorgadas num trecho i serão classificadas, levando em conta a vazão, o tempo e, por con- sequência, o volume, além da DBO5,20 do efluente, caso de lançamento.

5.2.5.1 Nível 1 - Monitoramento simplificado

Nesse 1º nível, exige-se que os dados relativos aos parâmetros outorgados sejam simples- mente os declarados pelo usuário. Tem-se que a vazão máxima de captação (Qmáx_captação) ou

do efluente lançado (Qmáx_efluente), necessários para o cálculo da vazão de demanda (Qdemanda),

podem ser os estabelecidos na capacidade nominal do sistema, ou seja, declarados pelo usu- ário. Sendo assim, Qdemanda = Qcapacidade_sistema. Além disso, que a DBOmáx-efluente, quando a

vazão outorgada for de lançamento, também seja um valor de projeto, declarado. Já o tempo de funcionamento do sistema mensal (Tmensal) pode ser estabelecido por meio de anotações

83

O volume mensal apropriado pelo usuário de recursos hídricos, relativa à vazão outorgada, corresponde a uma estimativa da vazão de demanda multiplicado pelas horas de funciona- mento mensal anotadas. Assim:

Vmensal_1ºnível = Qcapacidade_sistema x Testimado (5.5)

Vmensal_1ºnível = volume mensal utilizado, 1º nível de exigência, em m³/mês;

Qcapacidade_sistema = vazão máxima (valor de projeto, capacidade do sistema);

Testimado = anotação de horas/dia e de dias/mês de funcionamento.

Para facilitar e ordenar as informações a serem obtidas, e bem como sistematizá-las, o usu- ário outorgado deve manter registrados os volumes mensais, de forma a obter, ao longo do ano, dados do volume anual apropriado.

5.2.5.2 Nível 2 - Monitoramento intermediário

O 2º estágio se caracteriza por um nível de exigência maior, com valores medidos. A vazão de demanda (Qdemanda) deve ser obtida por meio de um equipamento que faça uma medição

instantânea no ponto de interferência, com frequência mínima anual (Qmedida_anual), diferen-

temente do 1º estágio que pode ser considerada somente a vazão de projeto. De forma simi- lar, em termos qualitativos, a concentração máxima de DBO5,20 de lançamento pode ser ob-

tida por dados de auto monitoramento ou por laboratório, com frequência mínima anual, sendo capaz de aproveitar os dados já exigidos na licença ambiental.

No que diz respeito ao tempo de funcionamento do sistema instalado, deve haver um moni- toramento objetivo de utilização, não somente anotação das horas de funcionamento. Para tanto, requer que seja instalado um horímetro ou uma chave de fluxo, capaz de informar o período de funcionamento do sistema (Tregistrado). Concluindo, o volume mensal apropriado

pelo usuário de recursos hídricos, relativo ao ponto de interferência, corresponde a uma va- zão máxima medida, podendo ser pontual (frequência mínima anual), multiplicada pelas ho- ras de funcionamento mensal registradas por contador de tempo. Ou seja:

Vmensal_2ºnível = Qmedida_anual x Tregistrado (5.6)

Vmensal_2ºnível = volume mensal utilizado, 2º nível de exigência, em m³/mês;

Qmedida_anual = vazão instantânea máxima (medida, frequência mínima anual);

84

Assim como nos usuários enquadrados no 1º nível, para o 2º nível as informações de volumes mensais devem ser registradas, de forma a obter, ao longo do ano, dados do volume anual apropriado.

5.2.5.3 Nível 3 - Monitoramento avançado

Nesse 3º estágio, o usuário deverá instalar um medidor de vazão no ponto de interferência, capaz de realizar a totalização volumétrica demandada pelo referido ponto, pela integraliza- ção da vazão instantânea multiplicada pelo tempo de funcionamento.

A instalação do medidor deverá ser de acordo com o tipo de interferência, e seguir as reco- mendações dos fabricantes. No caso do ponto de lançamento, o usuário deverá possuir os dados de DBO5,20 feitos por auto monitoramento ou por laboratório, com frequência mínima

mensal, podendo ser os dados exigidos na licença ambiental.

Vmensal_3ºnível = Vcalculado_equipamento = Qmedida_contínua x Tregistrado. (5.7)

Vmensal_3ºnível = volume mensal utilizado, 3º nível de exigência, em m³/mês;

Qmedida_contínua = vazão instantânea medida pelo equipamento, em m³/h;

Tregistrado = tempo registrado pelo equipamento de medição (totalizador), em h.

No 3º nível, além da questão de instalação de equipamento medidor de vazão com totalização volumétrica, os valores de volumes mensais registrados devem ser enviados ao órgão gestor outorgante, sendo este envio de frequência anual. Uma vez que se exige a instalação de um equipamento de medição, e que o usuário represente uma maior significância se comparado aos de 1º e 2º nível, tanto em termos individuais, quanto em termos coletivos, é razoável que os dados medidos pelo equipamento sirvam para verificação da compatibilidade entre o vo- lume outorgado e o real uso em campo.

Cabe informar que já é adotado, para alguns estados, uma declaração anual contendo os volumes mensais apropriados, denominada Declaração Anual de Uso de Recursos Hídricos (DAURH). Então, como exigência para pontos outorgados que se enquadrem no 3º nível será adotado o envio, com periodicidade anual, da DAURH.

85

Em bacias com problemas reais de conflito pelo uso de recursos hídricos, como por exemplo as bacias do Paraíba do Sul e do Piracicaba, Capivari e Jundiaí nos anos de 2015 e 2016, podem ser estabelecidas mais exigências para as vazões outorgadas e classificadas no nível 3. Isso se deve ao fato da necessidade dos órgãos gestores de recursos hídricos conhecerem a real demanda em períodos mais curtos, como os períodos de seca, e poder fazer um plane- jamento e estabelecer restrições de uso que minimizem o prejuízo dos usuários outorgados.

Dessa forma, para a contabilização, registro e até mesmo envio dos dados de vazão medidos, além de possuírem o equipamento instalado, as vazões outorgadas no nível 3 em condições críticas devem instalar um data logger capaz de armazenar os dados medidos e transmitir ao órgão gestor, numa periodicidade mensal, se assim o exigir.

Resumindo, segue tabela comparativa entre os estágios criados, com detalhe das atividades de monitoramento do uso estabelecidos como exigência para cada um dos três estágios:

Tabela 5.1 - Exigência para os usuários outorgados, para cada um dos três estágios de clas- sificação quanto ao uso de recursos hídricos

Exigência a ser estabele- cida 1º Nível: Monitoramento Simplificado 2º Nível: Monitoramento Intermediário 3º Nível: Monitoramento Avançado 3º Nível*: Monitoramento Avançado em bacias críticas Tempo de utilização Estimativa (ano- tação das horas de uso) Medidor de tempo (horímetro ou chave de fluxo) Medidor de vazão com totalizador de volume Armazenamento em data logger Medição da vazão (cap- tação ou lan- çamento) Valor de projeto (capacidade ins- talada)

Valor medido por equipamento (fre- quência anual)

Valor medido por equipamento ins- talado (contínuo) Valor medido por equipamento e armazenado em data logger Volume men- sal de água consumido Vmensal 1ºnível = Qcapac-sistema x Testimado Vmensal_2ºnível = Qmed-anual x Tregis- trado Vmensal_3ºnível = Vcalculado-equip. = Qcontínua x Tregistrado Vmensal_3ºnível = Vcalculado-equip. = Qcontínua x Tarmaze- nado_logger DBO má- xima

Valor de projeto Medido (frequên- cia mínima anual)

Medido (frequên- cia mínima men- sal) Medido (fre- quência mínima mensal) Envio de in- formações ao órgão gestor Não há necessi- dade Não há necessi- dade

Envio dos volu- mes mensais me- didos (frequência anual - DAURH)

Envio dos volu- mes mensais medidos (fre- quência mensal – se necessário)

86