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2 CRÍTICA À CORRENTE QUE IDENTIFICA CIÊNCIA DO DIREITO E

4.2 A regulamentação do lobby no Québec

4.2.3 Definições

Tal como já dito neste trabalho, a OCDE recomenda que tanto o lobista quanto as atividades de lobby sujeitas à regulamentação sejam clara e inequivocamente definidas na Lei. A legislação quebequense assim o faz, definindo ainda quem são os agentes públicos junto aos quais se faz lobby e as personagens que constituem exceções à Lei.

Com efeito, no Québec, constituem atividades de lobby sujeitas à mencionada Lei, toda comunicação oral ou escrita estabelecida com um titular de cargo público, iniciada com o escopo de influenciar sua tomada de decisão. Essa decisão pode versar, dentre outras de natureza tipicamente administrativa, sobre a elaboração, a apresentação, a modificação ou a rejeição de uma proposição legislativa ou regulamentar, de uma resolução, orientação, um programa ou plano de ação (art. 2 da Lei).

As exceções ficam por conta dos artigos 5 e 6, que determinam, dentre outras, que a Lei não se aplica às representações de interesses feitas no bojo de procedimentos judiciais; ou no âmbito de uma comissão parlamentar da Assembleia nacional; ou em uma sessão pública de um município ou organismo municipal; ou

representações feitas em procedimentos públicos; ou que visem a implementação de ato administrativo vinculado, cabendo ao agente público praticá-lo uma vez atendidas as exigências legais; ou que visem meramente prover informações aos agentes públicos a respeito de um produto ou serviço; ou àquelas feitas por um titular de cargo público no exercício de suas atribuições; ou em resposta a um pedido ou oferta por escrito de um titular de cargo público; ou a negociações pertinentes à execução de um contrato já firmado; ou ainda a representações cuja divulgação possa colocar em risco a segurança do lobista ou seu cliente, ou mesmo do titular de cargo público ou de qualquer outra pessoa. Por fim, não constituem atividades de lobby as comunicações que visem apenas a indagar a respeito da natureza ou âmbito dos direitos e obrigações de um cliente, empresa ou organização. Esse rol de exceções é importante para fixar com clareza o âmbito de aplicação da Lei.

Por sua vez, no art. 3 a Lei define e distingue três categorias de lobistas, a saber: o lobista consultor; o lobista de empresa; e o lobista de organização. O lobista consultor é aquele cuja profissão ou mandato consiste total ou parcialmente no exercício de atividades de lobby em nome de terceiros mediante algum tipo de contrapartida. Como ressalta CÔTÉ (OCDE, 2009, p. 129), não é comum que indivíduos se identifiquem como lobistas; geralmente utilizam nomes de profissões próximas, como relações públicas, relações governamentais, consultor de negócios, gerente de projetos, advogado, engenheiro, arquiteto, etc. A despeito desses eufemismos, interessa, do ponto de vista normativo, a subsunção da conduta praticada àquela descrita na Lei: basta a pessoa praticar lobby em favor do interesse de outrem e em troca de alguma compensação, ela será reputada lobista para os efeitos legais.

O lobista de empresa é alguém que tem vínculo de trabalho, seja um emprego ou uma função (sócio ou executivo, por exemplo), com uma empresa que tenha fins lucrativos, sendo que uma parte importante de suas atividades laborais consiste no exercício das atividades de lobby em favor dessa empresa57.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 57

Essa noção de “parte importante” relativa ao tempo e/ou à tarefa desempenhada têm gerado inúmeras dificuldades para a aplicação da Lei, tendo o Comissário de Lobby recomendado em 2012 que essa expressão seja suprimida. Assim, bastaria que o indivíduo desempenhasse atividade enquadrada como lobby para ser definido como lobista de empresa ou organização (COMMISSAIRE, 2012, p. 51-55).

De maneira similar, o lobista de organização também tem vínculo de trabalho (emprego ou função) em face da organização ou associação em nome da qual dedica parte importante das suas atividades à prática do lobby58. A única diferença entre a categoria anterior e esta categoria é o fato de que nesta última a organização ou associação não tem fins lucrativos.

De qualquer forma, interessante notar que as duas últimas categorias de lobistas contemplam o exercício do lobby diretamente pelas das empresas ou organizações, em favor de si.

Por fim, ainda no Capítulo I – Objeto e campo de aplicação, a Lei define também o contexto estatal ao qual se aplica, explicitando assim quem são os titulares de cargos públicos sujeitos aos lobistas, para fins legais (art. 5), e, mais uma vez, quem não é considerado para os mesmos fins (art. 7). Em suma, são considerados os agentes públicos cuja função envolva poder decisório no âmbito da província do Québec, a saber: ministros e deputados, bem como os membros de suas respectivas equipes; servidores públicos; detentores de cargos ou empregos em agências ou empresas públicas; pessoas nomeadas para organizações sem fins lucrativos que gerenciam e apoiam financeiramente, com fundos provenientes do governo, atividades de natureza pública, bem como os empregados dessas organizações; e pessoas eleitas para cargos em nível local (municipal ou metropolitano), membros de suas equipes, ou empregados públicos locais.

A Lei não se aplica em face de agentes cujas atribuições não contemplem poder de decisão na esfera de competências da província do Québec, e. g., senadores, deputados federais, deputados de outras províncias ou territórios e membros de suas equipes; empregados do governo do Canadá, de outras províncias ou territórios; agentes diplomáticos ou representantes oficiais do governo do Canadá ou estrangeiro; empregados de organismos internacionais; e representantes oficiais no Québec de outras províncias, de um Estado ou de estado estrangeiro.