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A degeneração, a miscigenação e a construção da realidade em The Shadow Over Innsmouth

4 AS MULTIFACETAS DO MEDO CÓSMICO EM QUATRO CONTOS

4.4 A degeneração, a miscigenação e a construção da realidade em The Shadow Over Innsmouth

Innsmouth

O pacto ficcional que o texto fantástico requer entre o leitor e o narrador remete à aceitação sem questionamentos do que é apresentado. As regras de verificação dos eventos que ocorrem no mundo fantástico criado pelo autor são desconsideradas pelo fato do leitor aceitar as leis desse mundo como uma verdade, como uma ilusão de que é real. O apelo realista que permeia o estilo da escrita de Lovecraft em The Shadow Over Innsmouth segue a premissa de que as sensações que o narrador experimenta na narrativa são facilmente aceitas como verdades pelo leitor.

Ao investigar a circulação de obras literárias que Lovecraft leu, em que o uso de híbridos com características de peixe faz parte da temática, estão trabalhos de autores dos quais Lovecraft sempre teve afeição. Joshi (2001, p. 306) cita os trabalhos: The Harbor Master (1904) de Robert W. Chambers; Fishhead (1913) de Irvin S. Cobb65; e John Silence – Physician

Extraordinary (1908) de Algernon Blackwood. Assim, Lovecraft estava imerso em um mundo

fantástico, com criações que ele mesmo resgatou mais tarde em suas obras. É o caso da novela que analisaremos.

The Shadow Over Innsmouth é uma novela que foi escrita durante novembro e dezembro

de 1931. Após ser rejeitada duas vezes pela revista Weird Tales, foi publicada pela primeira vez em 1936 pela Visionary Publishing Company. Na novela, o nome do narrador não é mencionado, porém, de acordo com Joshi66 (2001, p. 305, tradução nossa), Robert Olmstead

65 Lovecraft nutria uma admiração por Irvin S. Cobb e definia sua obra como cheia de exemplares primorosos.

Para ele, “Fishhead (cabeça de peixe), uma das primeiras realizações, é sinistramente efetivo ao retratar laços de parentesco sobrenaturais entre um idiota híbrido e o estranho peixe de um lago remoto que, por fim, vinga o assassinato desse seu parente bípede” (LOVECRAFT, 2007, p. 86).

foi identificado em notas feitas pelo próprio Lovecraft. Dessa forma, utilizaremos o nome informado na nota, como proveito de termos um narrador reconhecido pelo nome.

A narrativa trata de episódios, com terríveis eventos, que acontecem na fictícia cidade portuária de Innsmouth, em New England. O jovem Robert Olmstead acaba seu penúltimo ano em Oberlin College e decide fazer uma viagem turística pela região de New England. Nesse momento, a interseção entre a realidade e a ficção acontece. O narrador pretende fazer uma viagem de uma cidade real, existente no mundo do leitor (Newburyport) para a fictícia Arkham, cidade referenciada em várias narrativas no mundo fantástico criado por Lovecraft.

Põe-se em dúvida aqui a percepção de realidade, pelo uso, por parte do autor, de uma cidade que existe no mundo do leitor. Assim, o pacto ficcional com o narrador em que o leitor aceita tudo o que ele conta suspende as regras de verificação, por aceitar que os eventos podem ser reais. Retomamos Roas (2014), quando ele sugere que a verossimilhança presente no texto fantástico vai alcançar o efeito correto sobre o leitor, a ilusão de uma realidade.

Innsmouth fica no caminho entre as duas cidades e mesmo sendo informado dos eventos

e das pessoas estranhas, que residem na cidade, Robert necessita fazer uma escala nesta cidade antes de seguir para o seu destino. A curiosidade pelas histórias contadas previamente e pela estranheza na aparência de alguns habitantes durante a narrativa, leva o narrador a investigar a reputação da cidade pela existência antiga de um culto de pessoas que adoram uma divindade extraterrestre, conhecida por Dagon67, e a relação entre os habitantes humanos e aquáticos revelam uma sociedade formada por híbridos de humanos e peixes, conhecidos como Criaturas Abissais (Deep Ones).

Por meio do personagem Zadok Allen, Robert descobre os segredos obscuros que residem em Innsmouth e guiado por sua curiosidade, ele investiga o passado, enquanto evita confronto com os residentes da cidade, adoradores da Ordem de Dagon. Por fim, Robert descobre que é descendente dos híbridos, por meio de uma investigação de sua árvore genealógica e diante da descoberta, ele assume a forma física equivalente à dos habitantes de

Innsmouth.

Para Joshi (2001, p. 305), The Shadow Over Innsmouth é uma narrativa sobre degeneração, causada pelos efeitos da miscigenação, ou união sexual entre diferentes raças. É

67 Dagon é um conto de Lovecraft que foi escrito em julho de 1917 e publicado na revista Weird Tales em outubro

de 1923. Todo o estilo de escrita e narrativa de Lovecraft faz-se presente nesse conto, desde o surgimento de terras do oceano, à um monstro que faz parte de uma raça de criaturas extraterrenas, que estão adormecidas nas profundezas do oceano.

inegável a sugestão da temática racista na narrativa, pois o narrador expressa (de forma que o leitor compartilhe de suas ideias) sua repulsa à forma física dos habitantes da cidade.

Uma certa oleosidade da pele aguçou minha aversão pelo sujeito. Era óbvio que Sargent trabalhava ou ao menos frequentava os atracadouros dos navios-pesqueiros, pois exalava um odor muito característico. Não arrisco nenhum palpite quanto ao sangue estrangeiro que corria em suas veias. Aquelas peculiaridades não eram asiáticas, polinésias, levantinas nem negroides, mas ainda assim eu compreendi por que as pessoas o achavam estrangeiro (LOVECRAFT, 2015, p. 492)68.

A resposta do leitor para a narrativa é o produto das escolhas feitas pelo autor. Lizon (2015), ao dissertar sobre a narrativa em primeira pessoa e o estado de incerteza em The Shadow

Over Innsmouth, discute sobre as estratégias de narrativa que Lovecraft utiliza para desenvolver

o enredo e deixar o leitor interessado. Em suas escolhas, o narrador lovecraftiano exclui informações vitais e o leitor possui apenas ações implícitas, ou evidências. Isso causa a incerteza e cria o suspense. A narrativa apresenta um tom pessoal e emocional, como se fosse um diário. A novela é narrada em primeira pessoa, as experiências do passado são contadas em um longo flashback, em que os eventos continuam até o momento presente do narrador.

Como é característico da narrativa weird, especialmente se tratando de Lovecraft, a falta de informações em conjunto com a incerteza são repertórios básicos para o desenvolvimento de um conto que desperta sentimentos como o horror e o medo. Lizon (2015) destaca que momentos conflitantes e ambiguidades criam incerteza. O agente que vende a passagem para Robert dispõe apenas de rumores e histórias contadas por outras pessoas e tanto o narrador, quanto o leitor não têm a oportunidade de confirmar a veracidade das informações.

Por outro lado, um outro personagem aparenta contar a verdade sobre os acontecimentos em Innsmouth. Zadok Allen “tinha noventa e seis anos e parecia ter um parafuso solto, além de ser o notório bêbado do vilarejo. Era uma criatura estranha e furtiva, que passava o tempo inteiro olhando para trás como se temesse alguma coisa e, quando sóbrio, recusava-se a falar com estranhos” (LOVECRAFT, 2015, p. 500)69. O alcoolismo, a idade avançada e o trauma pelo que Zadok passou enfraquecem a veracidade da história contada por ele. O leitor não tem

68 “A certain greasiness about the fellow increased my dislike. He was evidently given to working or lounging

around the fish docks, and carried with him much of their characteristic smell. Just what foreign blood was in him I could not even guess. His oddities certainly did not look Asiatic, Polynesian, Levantine or negroid, yet I could see why the people found him alien” (LOVECRAFT, 2011, p. 816).

69

This hoary character, Zadok Allen, was ninety-six years old and somewhat touched in the head, besides being the town drunkard. He was a strange, furtive creature who constantly looked over his shoulder as if afraid of something, and when sober could not be persuaded to talk at all with strangers (LOVECRAFT, 2011, p. 822).”

certeza se as histórias contadas por Zadok são reais, das suas experiências, ou fruto da sua imaginação.

As incertezas surgem durante a narrativa, quando o narrador se depara com a ausência de informações referentes às Criaturas Abissais. Não se sabe sobre suas origens, culturas e modos de vida. Apenas sobre sua aparência, adoram um deus aquático extraterrestre e fazem rituais em seu nome. Essas lacunas fazem com que o leitor compartilhe a mesma curiosidade que o narrador e passivamente espera que este possa investigar e descobrir as informações que ele necessita saber para resolver a sua incerteza.

É importante olhar se o narrador é confiável. Dessa forma, necessita-se observar suas intenções, seus valores, seu tom da voz e o impacto do trauma. Lizon (2015) afirma que esses são fatores necessários para o leitor observar ao confiar no narrador, de forma que uma aproximação acontece a partir disso. Na progressão da narrativa, percebemos que Robert reproduz suas experiências do passado logo após ele descobrir a ação do governo contra a cidade de Innsmouth:

[...] sinto o estranho impulso de falar aos sussurros sobre as horas terríveis que passei naquele malfadado porto à sombra da morte, covil de abominações blasfemas. O simples relato ajuda-me a recobrar a confiança nas minhas faculdades; a convencer- me de que não fui o primeiro a sucumbir perante a alucinação coletiva saída de um pesadelo. Também me ajuda a decidir-me em relação a uma terrível providência que me aguarda no futuro (LOVECRAFT, 2015, p. 482)70.

Em acordo com as afirmações de Lizon (2015, p. 27) ao observar duas intenções por parte do narrador, constatou-se que: a primeira diz respeito à condição psicológica de Robert, pela experiência terrível e pela descoberta da conexão entre seus ancestrais e a família do velho Marsh. O que ao final da narrativa fica mais claro quando ele tenta se matar: “Ainda não me dei um tiro, como fez meu tio Douglas. Comprei uma automática e por pouco não puxei o gatilho, mas certos sonhos me impediram” (LOVECRAFT, 2015, p. 544)71. Ao escrever suas experiências traumáticas do passado, Robert tenta recobrar sua sanidade compartilhando seu sentimento com outras pessoas e assim, diminuir sua sensação de isolamento.

A segunda intenção, ao reproduzir os eventos passados, é a decisão do que fazer no futuro. Robert aceita a sua transformação física em uma das Crituras Abissais, após descobrir

70“[…] I have an odd craving to whisper about those few frightful hours in that ill-rumored and evilly-shadowed

seaport of death and blasphemous abnormality. The mere telling helps me to restore confidence in my own faculties; to reassure myself that I was not the first to succumb to a contagious nightmare hallucination. It helps me, too, in making up my mind regarding a certain terrible step which lies ahead of me (LOVECRAFT, 2011, p. 808).”

71

So far I have not shot myself as my uncle Douglas did. I bought an automatic and almost took the step, but certain dreams deterred me” (LOVECRAFT, 2011, p. 858).

sua relação familiar com esses seres. Ciente de que seu primo, que está preso em um hospício e passa pelas mesmas transformações, ele usa essas experiências do passado como um motivo para resgatar o primo e viverem no oceano entre as Criaturas Abissais:

Pretendo ajudar meu primo a escapar do hospício em Canto para junto seguirmos rumo às prodigiosas sombras de Innsmouth. Nadaremos até o infausto recife para mergulhar nos abismos negros até avistar as inúmeras colunas da ciclópica Y’ha- nthelei, e no covil das Criaturas Abissais habitaremos em meio a glórias e maravilhas por toda a eternidade (LOVECRAFT, 2015, p. 545)72.

O narrador se isenta da responsabilidade por suas atitudes perante sua sanidade. Faz alusão a Poe quando justifica que “[...] deve ter sido algum demônio da obstinação – ou fascínio sardônico exercido por fontes obscuras e recônditas – que me levou a mudar de planos tal como fiz” (LOVECRAFT, 2015, p. 504)73. Klinger (2014, p. 598) atribui a frase “deve ter sido algum demônio da obstinação” a uma frase popularizada pelo conto The Imp of the Perverse de Edgar Allan Poe, referindo-se a um demônio que leva uma pessoa a cometer um ato ruim. No caso das narrativas significa o desejo de fazer nada, ou fazer o errado, quando surge a crise.

Lizon (2015, p. 27) afirma sobre as intenções apresentadas por parte do narrador, que podem tanto aumentar a sensação de certeza do leitor, como elevar a sensação de ambiguidade e empatia por Robert. As expectativas em relação às atitudes do narrador levam a essa aproximação com o leitor, pois no momento em que Robert desconfia se suas experiências são reais, o leitor adota o mesmo nível de insegurança, enquanto Robert narra.

Apesar de a incerteza e a ambiguidade serem importantes para a criação da atmosfera que reflete o medo cósmico no leitor, a linguagem apresentada na narrativa influencia esse processo da mesma forma. Foi Todorov (2010) quem destacou a importância da linguagem literária e que a relação entre as palavras e as coisas designadas por elas se relacionam com a verdade. Com isso, o autor evidencia um traço da estrutura da obra fantástica que está ligado ao aspecto sintático, recorrendo a Poe para justificar o efeito único causado pela narrativa, em que nenhuma palavra escrita possa indicar as intenções do sentido para o fim da história.

Retomando as intenções do narrador, Todorov, ao expor sobre a importância da estrutura da narrativa fantástica e seu efeito, dialoga com Lizon (2015, p. 28) que indica os verbos que indicam incerteza como os mais frequentes, quando o narrador expressa seu ponto

72 “I shall plan my cousin's escape from that Canton madhouse, and together we shall go to marvel-shadowed

Innsmouth. We shall swim out to that brooding reef in the sea and dive down through black abysses to Cyclopean and many-columned Y’ha-nthlei, and in that lair of the Deep Ones we shall dwell amidst wonder and glory forever” (LOVECRAFT, 2011, p. 858).

73 “It must have been some imp of the perverse – or some sardonic pull from dark, hidden sources - which made

de vista, sua opinião ou suas impressões sobre as coisas. “Os dedos eram deveras curtos em relação ao resto do corpo e pareciam ter uma tendência natural a crisparem-se junto à enorme palma” (LOVECRAFT, 2015, p. 491)74. Nesse recorte, o uso do verbo “pareciam” indica a incerteza no ponto de vista do narrador, pois ele não acredita que algo sendo apresentando daquela forma não é natural. Assim como o uso de “pareceu-me” em “[...] pareceu-me que todos esforçavam-se em não olhar para o ônibus” (LOVECRAFT, 2015, p. 492)75.

A ligação entre as narrativas que pertencem ao mundo fantástico que Lovecraft criou é visível perante as leituras. O leitor neófito não observaria essas ligações, a não ser que fizesse uma pesquisa anterior à leitura, contudo, desperta a sensação de que esse mundo fantástico criado por ele é tão grande, quanto o mundo real do qual o leitor faz parte. Além de observar as estratégias narrativas para que desperte sensações como o medo no leitor, a ligação entre os contos, ou mesmo uma alusão a eles, é uma constante presente no estilo lovecraftiano, como observamos na análise de The Colour Out of Space.

Analisamos em The Colour Out of Space que, alguns atributos físicos referente aos alienígenas são imperceptíveis ao ser humano. Da mesma forma ocorre em The Shadow Over

Innsmouth. “[…] no longínquo recife negro, notei uma cintilação tênue e continua, diferente

dos clarões intermitentes e tingida por um matiz singular que eu não saberia identificar com precisão” (LOVECRAFT, 2015, p. 533)76. Duas narrativas compartilham a mesma característica que define a estranheza ao se observar um atributo de algo extraterrestre, nesse caso a cor.

Essa mesma cor, que só poderia ser definida como cor por meio de analogia, também é um exemplo de similaridade, tal qual ao analisarmos a característica da voz dos habitantes da cidade. No início da narrativa, o personagem que vende o bilhete de ônibus, que leva o narrador à Innsmouth, o desencoraja a se hospedar no hotel Gilman House. O hotel é o local onde acontece a tentativa de assassinato do narrador e o aviso do vendedor do bilhete é uma preparação para esse acontecimento.

Contudo, o que chama a atenção é a descrição do funcionário da rodoviária para uma das características dos residentes de Innsmouth descrita por ele: “[…] Era alguma língua

74 “The fingers were strikingly short in proportion to the rest of the structure, and seemed to have a tendency to

curl closely into the huge palm” (LOVECRAFT, 2011, p. 815).

75 I thought I detected in them a curious wish to avoid looking at the bus” (LOVECRAFT, 2011, p. 816).

Como forma de continuar a análise feita no momento das citações acima, os verbos traduzidos para o português do texto original que indicam incerteza são seemed e thought.

76 “[…] on the far black reef I could see a faint, steady glow unlike the winking beacon visible before, and of a

estrangeira, mas ele disse que o pior de tudo era o timbre da voz que às vezes falava. Parecia tão sobrenatural... gorgolejante, segundo disse... que o homem não se atreveu a pôr o pijama e dormir” (LOVECRAFT, 2015, p. 486)77. Para Harman (2012, p. 177) descrever a voz gorgolejante possui a característica do estilo de lovecraftiano de não conseguir definir, dar nomes, ou mesmo caracterizar determinadas atitudes, características ou ações que levam a uma conceituação do que é estranho. Isso contribui para a discussão acerca das estratégias em despertar o medo cósmico no leitor.

A descrição da voz é, na verdade, apenas uma versão oculta das disjunções de Lovecraft, como ‘risadinhas ou sussuros’, mas aqui com um dos termos deixado implícito. Observe que o agente da estação rodoviária não diz o seguinte: ‘ele disse que a voz da porta ao lado quase escapou do poder da linguagem ao ser descrita, mas parecia ter certas características de um som gorgolejante’. Este seria o tipo clássico de alusão lovecraftiana ao inominável (HARMAN, 2012, p. 177, tradução nossa)78.

A voz gorgolejante traduz a percepção do personagem e por meio do narrador, o leitor imagina a descrição de uma voz apropriada para seres que possuem uma anatomia humana e aquática. Retomamos a estranheza e a incerteza da existência de tal aspecto em um mundo que não é do leitor, portanto não é real para ele. Outras estratégias são utilizadas para que durante a leitura, o leitor considere isso uma realidade.

The Shadow Over Innsmouth põe-se diante do fantástico weird de Lovecraft como uma

narrativa em que os elementos que servem para despertar o medo cósmico no leitor se apresentam por meio de um narrador, que convence pelas estratégias que utiliza para manter o pacto ficcional entre eles e a percepção de realidade. Percebemos que a confiança que o leitor mantém no narrador durante a novela, parte de um processo de relação em que esses elementos contribuem para que o leitor aceite os eventos com uma realidade, cabível de acontecer em sua própria.

A narrativa flashback é importante para que os eventos narrados sejam reprodução do passado e ilustre as sensações do narrador, os indícios, pistas que norteiam a ação em que, por ser testemunha e narrado em primeira pessoa, desperta uma maior confiança quando ele se

77 “It was foreign talk he thought, but he said the bad thing about it was the kind of voice that sometimes spoke. It

sounded so unnatural - slopping like, he said - that he didn't dare undress and go to sleep” (LOVECRAFT, 2011, p. 811).

78 For the description of the voice is really just a concealed version of Lovecraftian disjunctions such as “titter or

whisper”, but here with one of the terms left implicit. Notice that the station agent dos not say the following: “he said the voice from next door almost escaped the power of language to describe, but it seemed to have certain features of a slopping sound.” This would be the classic sort of Lovecraftian allusion to the unnameable.

isenta da responsabilidades perante suas atitudes, ou quando suas intenções, seus valores, o tom da voz e o impacto de suas atitudes na trama.

O narrador-protagonista exclui informações vitais, mantém informações desnecessárias e deixa outras implícitas, para que o leitor mantenha a incerteza da veracidade em tudo que acontece. O tom pessoal e emocional desperta a desconfiança no leitor, pois em vários momentos do texto a condição psicológica dos personagens faz o leitor questionar se é realidade, ou não.

Os adjetivos são usados por Lovecraft como uma forma de combinar ideias contraditórias ou opostas associadas entre si. Na presente novela, destacamos o uso de verbos para indicar a incerteza do narrador, criando o mesmo sentimento em relação aos acontecimentos pelo leitor. Este, por sua vez, tem em sua leitura uma forma ampla e a