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O narrador confiável presente em The Colour Out of Space

4 AS MULTIFACETAS DO MEDO CÓSMICO EM QUATRO CONTOS

4.2 O narrador confiável presente em The Colour Out of Space

Diante da concepção acerca da ficção weird, abrangendo características de diversos gêneros existentes que fazem parte da literatura fantástica, há uma necessidade de reconhecer as categorias nas quais esse tipo de narrativa se insere. A narrativa que analisaremos possui características do gênero ficção científica, com elementos sobrenaturais e atmosfera dos contos de horror.

Apresentada como “a primeira revista autêntica de ficção científica em língua inglesa” (JOSHI, 2001, p. 257, tradução nossa)36, a revista Amazing Stories publicou The Colour Out of

Space em setembro de 1927. O medo se apresenta como uma ameaça a uma família que reside

em uma locação rural da fictícia cidade Arkham, em Massachussets, New England, cidade que serve de locação também para outras narrativas de Lovecraft.

Em 24 de março e 12 de maio de 1927, respectivamente, Lovecraft em duas de suas cartas para o amigo Clark Ashton Smith37, caracteriza o seu conto como ficção científica: “[...] Acabei de escrever um novo conto - ou estudo atmosférico - que mostrarei quando eu datilografar. É chamado de The Colour Out of Space, e fala sobre algo que caiu nas colinas a oeste de Arkham38 [...]” (LOVECRAFT, 1968, p. 114, tradução nossa). Ao identificar seu trabalho como um estudo atmosférico nessa carta, percebemos a inclusão da estética da narrativa ficção científica, e o autor ratifica na segunda carta: “[...] Falta compacidade e clímax, talvez, mas deve ser tomado como um estudo atmosférico e não como um conto39” […] (LOVECRAFT, 1968, p. 114, tradução nossa).

Por estudo atmosférico entendemos de duas maneiras: a necessidade da descoberta, por meio de investigação científica, dos acontecimentos que são de origem extraterrena; e o

36 “Amazing Stories—the first authentic science fiction magazine in English—” (JOSHI, 2001, p. 257).

37 Clark Ashton Smith (1893 – 1961) foi um poeta norte-americano, contemporâneo de Lovecraft, que escrevia

contos fantásticos.

38 “[...] I’ve just written a new tale – or atmospheric study – which I’ll shew you when I get typed. It’s called The

Colour Out of Space, & it tells of something that came down into the hills west of Arkham […]” (LOVECRAFT, 1968, p. 114).

39 “[...] It lacks compactness & climax, perhaps, but must be taken as an atmospheric study rather than as a tale

destaque que Lovecraft impõe em sua escrita aos fenômenos que ocorrem na história, em detrimento dos acontecimentos com os personagens.

Em The Colour out of Space, Lovecraft desenvolve o enredo com base na topografia da cidade conhecida por Arkham, onde o narrador, um agrimensor, é enviado para planejar a construção de um reservatório na área. A terra, que será o reservatório, é conhecida pelos cidadãos como “descampado maldito” e serve de cenário para os eventos que são narrados. Ammi Pierce é o personagem que presenciou todo os terríveis eventos, e é ele quem relata os acontecimentos ao personagem narrador. Por meio do narrador conhecemos todo o enredo presente na história. As representações banais da investigação científica frustrante contrastam fortemente com a inexplicável e gradual destruição da família Gardner.

A narrativa se apresenta com foco nos terríveis acontecimentos causados pela queda de um meteorito na propriedade da família Gardner, em New England. Os cientistas locais não conseguiam classificar e identificar o material que veio do espaço e diante das circunstâncias o meteorito torna-se sujeito ativo dos fenômenos que acontecerão em seguida. O meteorito, gradualmente, contamina as terras da família Gardner, a colheita cresce de forma estranha, os animais desenvolvem anormalidades anatômicas e a vegetação sofre mudanças nas cores e nos formatos. Por fim, cada membro da família começa a morrer de degeneração física e mental. A estranha cor extraterrena, uma entidade, ou entidades, que estão dentro do meteorito, são responsáveis pelos eventos, e permanece escondida na propriedade. Ao fim dos acontecimentos, a entidade retorna ao espaço, contudo um pequeno pedaço permanece na terra.

A atmosfera de terror apresentada por Lovecraft em The Colour out of Space reside na forma como o autor capturou esse artifício. Trazer para a narrativa uma ambientação familiar, com base em uma área existente torna-se um recurso indispensável, por deixar o leitor propenso a sugestão de uma realidade mais próxima a sua. Roas (2014, p. 52) apresenta que a verossimilhança é um recurso que o gênero weird impõe. Não é apenas um acessório estilístico, e essa construção é inevitável para que a narrativa e a história fantástica tenham desenvolvimentos satisfatórios, como acontecimentos reais para que o leitor seja convencido da realidade ficcional. O narrador constrói um mundo o mais semelhante possível ao mundo do leitor.

A descrição de um lugar que não é bom para a imaginação é apresentada, e ela não traz sonhos tranquilos à noite: “[…] não devido a coisas que possam ser vistas, ouvidas ou tocadas, mas devido a coisas imaginadas. O lugar não faz bem para a imaginação e não traz sonhos

tranquilos à noite40” […] (LOVECRAFT, 2015, p. 107). Segundo Joshi (2001), a ambientação da narrativa possui as mesmas características da região central de Massachussets, que apresenta cidades abandonadas e submersas. Dessa forma, o leitor é apresentado às características próprias do lugar, que podem ser confundidas com a sua realidade, ou em outro sentido, o leitor pode se familiarizar com a narrativa devido a ambientação apresentada pelo narrador.

O leitor pode identificar-se com os personagens, com a atmosfera do ambiente e mesmo sabendo que as ações do enredo são prováveis de não acontecer em sua realidade, apresenta-se uma familiaridade e uma identificação com a narrativa. Em The Colour out of Space essa característica fantástica se mostra como um teste para saber se “provoca ou não no leitor um profundo senso de pavor e o contato com potências e esferas desconhecidas” (LOVECRAFT, 2007, p. 18). Assim, a verossimilhança existente na história permite que se transmita a ambientação familiar necessária para despertar o medo no leitor.

É uma característica comum da narrativa weird de Lovecraft apresentar alterações do ambiente onde residem poderes obscuros. Dialogando com a narrativa que está sendo analisada, um outro texto de Lovecraft mostra esse tipo de alteração. Em The Dunwich Horror (1928), Lovecraft descreve as árvores da floresta presente na história como “grandes demais”, uma forma de mostrar uma mutação que é estranha a realidade não ficcional. Lovecraft se apropria da intertextualidade e faz alusão a outros autores, considerados por ele como escritores de ficção

weird.

The Dunwich Horror foi visto como uma paródia bíblica, e claramente empresta

elementos de Great God Pan de Arthur Machen, The Horla de Guy de Maupassant,

What Was It? de Fitz-James O'Brien e The Wendigo de Ambrose Bierce. Apesar da

familiaridade das ideias, foi um grande sucesso com os leitores da revista Weird Tales e continua sendo um dos contos mais populares e frequentemente reimpressos de Lovecraft. Baseando-se em The Call of Cthulhu, ele se encaixa perfeitamente no que Lovecraft chamou de ciclo Arkham – reúne histórias ambientadas nas florestas de

New England e nos salões da Universidade Miskatonic.41 (KLINGER, 2014, p. 343.

tradução nossa).

40“It is not because of anything that can be seen or heard or handled, but because of something that is imagined.

The place is not good for imagination, and does not bring restful dreams at night” (LOVECRAFT, 2011, p. 594).

41 The Dunwich Horror has been viewed as biblical parody, and it clearly borrows elements from Arthur machen’s

“Great God Pan”, Guy de Maupassant’s “The Horla”, Fitz-James O’Brien’s “What Was It?” and Ambrose Bierce’s “The Wendigo”. Despite the familiarity of the ideas, it was a great hit with the Weird Tales readership and remains one of Lovecraft’s most popular and frequently reprinted tales. Building on “The Call of Cthulhu”, it fits neatly into what Lovecraft called his Arkham cycle – stories set in his fictionalized blackwoods of New England and the hallowed halls of Miskatonic University. This is also the only story with an extended excerpt from the Necronomicon (KLINGER, 2014, p. 343).

Retomando The Colour Out of Space, o descampado maldito (blasted heath) foi o ponto de queda do meteorito, que é responsável por trazer todos os terríveis eventos que ocorrerão no desenvolvimento da narrativa. “À noite, todos em Arkham tinham ouvido falar a respeito da enorme rocha que caiu do céu e encravou-se ao lado do poço na propriedade de Nahum Gardner. Essa era a casa que havia no lugar mais tarde ocupado pelo descampado maldito42 (LOVECRAFT, 2015, p. 108). O local faz parte da ambientação do conto e pelos adjetivos que o narrador usa, observamos a presença de sentimentos, tais quais a estranheza e a aversão.

O uso extenso de adjetivos por parte de Lovecraf foi alvo de críticas de autores como Lin Carter, Edmund Wilson e L. Sprague de Camp. De acordo com Roas (2014, p. 57), a construção de oximoros e paradoxos impressiona pela impossibilidade em nossa realidade, mas que, de forma independente, corresponde à qualidade dessa realidade, como no trecho a seguir: “Uma névoa de inquietude e opressão pairava sobre tudo; um toque irreal e grotesco, como se algum elemento vital de perspectiva ou de chiaroscuro não estivesse correto” (LOVECRAFT, 2015, p. 108)43.

Assim, o uso de adjetivos tais quais ‘irreal’, ou ‘grotesco’ nos alerta do desespero pessoal pelo qual o narrador se afeta em qualquer passagem do conto. No trecho acima, a alusão ao uso da expressão chiaroscuro é uma alternativa para aplicar o termo como forma de interação entre luz e sombra na realidade e não na pintura.

Referenciar uma das principais estratégias inovadoras na arte da pintura renascentista italiana é uma das formas que o narrador usa para ilustrar a atmosfera do ambiente em que se encontra. O narrador produz outra alusão à arte italiana: “Não me admirei ao saber que os estrangeiros não haviam ficado por lá, pois aquela não era uma região propícia ao sono. O cenário lembrava uma paisagem de Salvator Rosa; uma xilogravura proibida em uma história de terror” (LOVECRAFT, 2015, p. 108)44.

O narrador não observa diretamente os acontecimentos, pois eles ocorreram em algumas décadas passadas. Ele transmite ao leitor as informações que obteve com Ammi Pierce, um personagem perturbado por tudo que vivenciou na época, quando presenciou os fatos. Veremos

42 “And by night all Arkham had heard of the great rock that fell out of the sky and bedded itself in the ground

beside the well at the Nahum Gardner place. That was the house which had stood where the blasted heath was to come” (LOVECRAFT, 2011, p. 597).

43 “Upon everything was a haze of restlessness and oppression; a touch of the unreal and the grotesque, as if some

vital element of perspective or chiaroscuro were awry” (LOVECRAFT, 2011, p 595).

44 “I did not wonder that the foreigners would not stay, for this was no region to sleep in. It was too much like a

landscape of Salvator Rosa; too much like some forbidden woodcut in a tale of terror” (LOVECRAFT, 2011, p. 595).

que mais uma dessas características narrativas lovecraftiana se apresenta igualmente em The

Shadow Over Innsmouth, quando confirmamos que o personagem Zadok Allen é o responsável

pelas informações que o narrador passa ao leitor.

O desconhecido narrador de The Colour Out of Space se apresenta para observar o ambiente e planejar a construção do reservatório, descrevendo suas impressões, como se tivesse sentido o mal que tinha ocorrido.

Tudo se confirma quando os habitantes mais antigos da cidade de Arkham relatam os chamados ‘dias estranhos’. A decorrência dos acontecimentos passados são as razões pelas quais o narrador já conclui: “Nada me levaria a adentrar mais uma vez aquele caos difuso de antigas florestas e encostas, nem a defrontar mais uma vez o cinzento descampado maldito onde o poço negro escancarava a bocarra ao lado das pedras e tijolos desabados45” (LOVECRAFT, 2015, p. 110).

A introdução da história mostra a construção da narrativa com base na relação do narrador com a ambientação descrita por ele mesmo. As primeiras impressões servem de suporte para o desenvolvimento da história, e as emoções do narrador refletem o que ele sentiu, ao ouvir o que um outro personagem vivencia.

Para que possamos compreender a relação existente entre a ambientação do conto e os personagens, dentro da construção da narrativa, importa-nos conhecer os padrões na estrutura das narrativas de Lovecraft. De acordo com Joshi (2014), elas se apresentam em: cronologia precisa (sem quebra na sequência cronológica); flashback; clímax duplos ou múltiplos; e narrativa dentro da narrativa. Para o presente trabalho é importante o flashback.

O flashback é usado em vários níveis desde os contos mais curtos aos mais longos. Pode ser considerado o mais comum, usado por Lovecraft. Essa técnica torna a cronologia precisa, pois, o narrador introduz sua reflexão sobre as suas experiências, presente em contos como The

Call of Cthulhu e The Shadow Over Innsmouth.

Em outros casos, como em The Colour out of Space, o flashback torna-se um recurso, com uma longa introdução, reflexões sobre os eventos que estão para acontecer, e é contado do ponto cronológico ao fim das ocorrências.

A narrativa flashback evidenciada na escrita de Lovecraft, vem à tona por meio do narrador, ao descrever as situações e apresentar os eventos ocorridos por meio do personagem

45 “I could not go into that dim chaos of old forest and slope again, or face another time that grey blasted heath

Ammi Pierce, que lembra dos tempos estranhos. O momento da ação ascendente dessa narrativa associa-se aos fenômenos causados pós queda do meteorito. A repercussão e o estranhamento dos personagens diante dos acontecimentos relacionados à fauna, à flora e à colheita fazem parte da peculiaridade de Lovecraft como autor de narrativas weird.

O narrador se distancia da responsabilidade dos acontecimentos relatados, deixando claro a quem pertence o discurso dos acontecimentos, que serão narrados. Ele aponta: “Segundo o velho Ammi, tudo começou com o meteorito” (LOVECRAFT, 2015, p. 110).

Nesse ponto da história, as condições estranhas surgem na forma das pegadas de animais, tais quais, esquilos, coelhos e raposas, mas sem ter certeza da natureza delas. O personagem é reticente ao reconhecê-las. “Eram os rastros corriqueiros deixados por esquilos, coelhos e raposas, mas o pensativo fazendeiro afirmou ver algo de anormal na natureza e na disposição das pegadas46” (LOVECRAFT, 2015, p. 115).O estranhamento nessa descrição vem à tona devido a representação dos animais citados, que não são perigosos para o homem, e uma alusão às pegadas, sem a certeza se pertencem aos animais habituais, provocando o desconforto no personagem e consequentemente no leitor.

Retomamos a utilização excessiva de adjetivos como parte da escrita de Lovecraft. A construção paradoxal e de oximoros sugere algo que nossa realidade não nos permite perceber que não por meio dos adjetivos. “Enquanto gritava, Ammi imaginou ver uma nuvem eclipsar a janela por alguns instantes, e no momento seguinte teve a impressão de perceber uma odiosa corrente de vapor a roçar-lhe a pele. Estranhas cores dançaram ante seus olhos47” (LOVECRAFT, 2015, p. 123). O estilo literário de Lovecraft necessita dessa descrição para a representação dos fenômenos. “Ammi não quis me dar muitos detalhes sobre essa cena, mas esse vulto no canto não voltou a aparecer na história como algo dotado de movimento48 (LOVECRAFT, 2015, p. 123).

Ao descrever as cores, somos levados a imaginar uma cor que, “...era quase impossível de descrever; e foi apenas por analogia que puderam designá-la como tal” (LOVECRAFT, 2015, p. 113). Assim, cor e chiaroscuro compartilham a mesma perspectiva. A representação do que é produzido no artístico para o real, porém no caso, a cor presente no meteorito só pode

46 They were the usual winter prints of red squirrels, white rabbits, and foxes, but the brooding farmer professed

to see something not quite right about their nature and arrangement.” (LOVECRAFT, 2011, p. 600).

47 “While he screamed he thought a momentary cloud eclipsed the window, and a second later he felt himself

brushed as if by some hateful current of vapour. Strange colours danced before his eyes.” (LOVECRAFT, 2011, p. 607).

48 “Ammi would give me no added particulars of this scene, but the shape in the corner does not reappear in his

ser imaginada por analogia. A estranheza de se imaginar algo que é definido como cor, e para que o narrador possa passar a impressão de como chegar a esse desfecho, ele utiliza adjetivos para descrever o objeto desconhecido, tais quais: textura brilhosa, quebradiça e interior oco.

Lovecraft mune-se de mais uma intertextualidade ao remeter-se à definição de uma cor que só pode ser perceptível por analogia. Leitor e admirador de Ambrose Bierce49 (1842–1913), Lovecraft dialogou implicitamente com o conto The Damned Thing (1893) em The Hound (1922): “All he could do was to whisper – that damned thing –” (LOVECRAFT, 2011. p.220). Em The Colour Out of Space a referência remete-se à cor e a ameaça apresentada por ela:

Assim como os sons, são as cores. Em cada extremidade do espectro solar, o químico pode detectar a presença do que são conhecidos como raios “ultravioletas”. Eles representam cores - cores integrais na composição da luz - que não podemos discernir. O olho humano é um instrumento imperfeito; o alcance é apenas algumas oitavas da verdadeira “escala cromática”. Não sou louco; há cores que não podemos ver. E Deus me ajude! a coisa maldita é de tal cor!” (BIERCE, 2017, p. 30, tradução nossa)50.

A história continua seu curso considerando as informações passadas por Ammi. Assim, a linha de narrativa aproxima o leitor do narrador e eles dividem as sensações experimentadas pelo personagem. O critério do conto weird pela experiência de medo é exclusividade do leitor. “[...] Não se via nenhuma cor sã ou saudável a não ser pela grama e pela relva verdejantes; [...] os calções-de-holandês transformaram-se em ameaça sinistra, e as sanguinárias-do-canadá pareciam insolentes naquela perversão cromática” (LOVECRAFT, 2015, p. 117).

A familiarização que Lovecraft se utiliza do ambiente descrito apresenta-se quando o narrador cita flores selvagens que o leitor descobre que realmente existem: Dutchman’s

breeches (Dicentra cucularia) e Bloodrot (Sanguinaria canadensis), de forma que o leitor fica

suscetível a confiar na veracidade das informações que são narradas.

A experiência de temor e de terror que o leitor experimenta faz parte da atmosfera descrita pelo narrador. A possível instabilidade do nosso mundo gera uma impressão aterrorizante, que é comum a narrativa fantástica. Alguns estudiosos preferem não usar o termo

49 “Mais próximo de uma verdadeira grandeza foi o excêntrico e melancólico Ambrose Bierce, nascido em 1842,

que também participou da Guerra Civil, mas sobreviveu para escrever algumas histórias imortais e desaparecer em 1913 [...]. Bierce era satírico notório e panfletário, mas o forte de sua reputação criadora sobressai em seus contos sombrios e impetuosos” (LOVECRAFT, 2007, p. 78).

50 “As with sounds, so with colors. At each end of the solar spectrum the chemist can detect the presence of what

are known as ‘actnic’ rays. They represent colors – integral colors in the composition of light – which we are unable to discern. The human eye is an imperfect instrument; it’s range is but a few octaves of the real ‘chromatic scale.’ I am not mad; there are colors that we cannot see. And, God help me! the Damned Thing is of such a color” (BIERCE, 2017, p. 30).

medo, por achar exagero, como é o caso de Roas (2014) e prefere se referir a essa sensação como inquietude, ao passo que Todorov (2010) a define como hesitação.

O uso dos termos medo, inquietude, ou hesitação aparecem diante da possibilidade do irreal sobrevir o real. “Enquanto começava a descer a escada sombria, Ammi escutou um baque no andar de baixo. Pensou ter ouvido um grito abafado e lembrou-se com nervosismo do vapor sufocante que lhe havia roçado a pele naquele pavoroso cômodo no andar de cima51” (LOVECRAFT, 2007, p. 123).

The Colour Out of Space apresenta-se como uma narrativa weird que contém os

elementos necessários a fim de que o medo cósmico se manifeste no processo de leitura. Os estilos presentes no conto são: ficção científica e horror sobrenatural. Como o medo é representado no conto? Unir esses dois estilos faz parte do conto weird e com uma temática que trata de seres extraterrestres influenciando a vida dos humanos, com requintes de situações e eventos de horror sobrenatural.

Por conseguinte, percebe-se que o conto reúne todos os elementos necessários para satisfazer o objetivo principal de um conto weird ao despertar o medo cósmico no leitor. Elementos da ficção científica são utilizados para retratar o estranho, assim, o meteorito, a entidade colorida, ou a referência ao espaço despertam a curiosidade que leva a estranheza do leitor. Este duvida dos eventos, ao passo que o narrador utiliza a investigação científica para justificar os eventos extraterrestres.

O horror sobrenatural se faz presente por meio da verossimilhança. O contato com o desconhecido necessita de uma sugestão de realidade, com uma ambientação familiar. Essa