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Mapa 3. Localização do município de Oriximiná/PA

2 CAMINHOS EPISTEMOLÓGICOS DA TERMINOLOGIA

3.2 Metodologia

3.2.1 Delimitação da área

Para a realização desta etapa da pesquisa, procuramos pesquisadores da EMBRAPA que nos orientaram indicando diversas obras sobre a atividade da castanha-do-pará, no Estado do Pará. Vele lembrar, entretanto, que as obras indicadas foram utilizadas para conhecermos melhor o universo pesquisado e não para extração de termos da castanha-do-pará.

Para a delimitação da região com grande importância para a produção da castanha-do- pará, priorizamos assessoria de técnicos e pesquisadores de órgãos federais e estaduais, como a SEMA, EMBRAPA, IDEFLOR, IDESP, ICMBio, que compartilharam conhecimentos acerca dos grandes projetos que são desenvolvidos na Amazônia paraense, no que diz respeito à produção e comercialização da castanha-do-pará. Importante destacar, também, os contatos com os gerentes responsáveis pelas terras que formam o maior mosaico de áreas protegidas do mundo localizado no município de Oriximiná na Calha Norte do Pará, onde encontra-se o extrativismo da castanha como principal atividade.

Nesse contexto de pesquisa, tivemos acesso a várias cartilhas e documentos organizados pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB, 2013/2014), de grande relevância para o reconhecimento de nosso objeto de estudo e, principalmente, para entendermos o elo produtivo da castanha-do-pará, bem como suas etapas de produção, suas práticas de manejo, coleta, potencial produtivo e os profissionais dessa atividade.

Nessa busca por informações acerca do extrativismo da castanha-do-pará entendemos, à princípio, que teríamos que percorrer um caminho difícil para ter acesso aos locais da pesquisa. Isso porque, com base nos dados do Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará – MZEE /PA (PARÁ, 2010), a região do Baixo Amazonas é a que possui a maior área protegida do Pará, com aproximadamente 231.527 km² distribuídas em: Unidades de Conservação (UCs) de proteção Integral, Uso Sustentável, Terras Indígenas e Territórios Quilombolas. Uma vez que há restrições ao acesso em função da sobreposição dos territórios pelas Unidades de Conservação federais e estaduais, onde há também, toda uma hierarquia organizacional em torno das comunidades cujas famílias têm como principal atividade a coleta da castanha-do-pará.

Diante dessa realidade, estabelecemos contato com os coordenadores de comunidades, presidentes de associações e cooperativas, gerente de Florestas Estaduais (Flotas) e presidente do ICMBio para que pudéssemos iniciar a pesquisa de campo. Outro contato importante foi com professores da UFOPA, que nos disponibilizaram um acervo representativo de pesquisas

acerca do extrativismo da castanha-do-pará em Oriximiná, assim como apoio para o deslocamento a comunidade de migrante que também se dedica a essa atividade.

O primeiro contato a região pesquisada se deu em julho de 2014, período em que foi possível selecionar as comunidades que têm como atividade principal a extração da castanha e solicitar autorização ao ICMBio para realização da pesquisa nas reservas de conservação nacional cujo órgão é responsável. Não podemos deixar de mencionar a dificuldade que encontramos para conseguir entrar na maior e única usina de beneficiamento e comercialização de castanha do município para conhecermos as etapas no processo de beneficiamento desse produto. Somente na terceira visita ao município, fomos recebidos pelo proprietário da usina para a coleta dos dados.

A partir desses contatos delimitamos, então, os pontos de inquérito para a pesquisa: a comunidade Abuí, comunidade Cachoeira Porteira e comunidade do BEC. Embora existam 35 comunidades quilombolas no município de Oriximiná, de acordo com a pesquisa de campo, as selecionadas para a pesquisa têm como principal atividade o extrativismo da castanha-do-pará, mostrando-se, portanto, mais produtivas em relação ao corpus que se pretendia formar. Assim como a comunidade do BEC, formada por imigrantes nordestinos, localizada 30 quilômetros da cidade de Oriximiná.

Os pontos de inquérito escolhidos para a pesquisa localizam-se distantes um do outro, com sete horas de barco de um para o outro. Esse critério tinha como finalidade, à priori, conhecer etapas e atividades diferenciadas do universo da castanha-do-pará e, com isso, observar o fenômeno da variação na terminologia dessa atividade.

Com a autorização em mãos, tanto do ICMBio quanto dos coordenadores das comunidades para a realização da pesquisa, fizemos a segunda visita ao município, na seguinte ordem: comunidade do Abuí, Cachoeira Porteira na região do Alto do Rio Trombetas e, em parceria com professores da UFOPA, coletamos os dados na comunidade do BEC, localizada trinta quilômetros da sede do município. Na terceira visita ao município conseguimos registrar o processo de beneficiamento da castanha-do-pará, na Usina de Beneficiamento e Exportadora Florenzano

A comunidade do Abuí situada no Território Alto Trombeta, com acesso somente fluvial, foi a primeira comunidade visitada. São aproximadamente 13 horas de viagem do porto de Oriximiná até a casa do coordenador da comunidade. É constituída de 20 famílias, que sobrevivem economicamente do extrativismo de castanha-do-pará. Para a coleta de castanha, os comunitários se utilizam dos seguintes locais onde se encontram os castanhais: Macoca, Regi, Manezinho, Mina, Tracuá, Anambu, Encantado, Cedro, Marreca, Policena, Mané José,

Atravessado, Silva, Lago do Mato, Trindadão e Vitalina, todos à curta distância, necessitando- se de cerca de uma hora de canoa a remo e dez minutos de caminhada para alcançá-los em sua maioria. Em virtude disso, a castanha-do-pará é coletada diariamente, e, esses castanhais também têm como característica geral a localização próxima aos rios, e seu produto, ou seja, a castanha-do-pará, é considerada no mercado como produto de boa qualidade, portanto, de grande aceitação por ocasião da comercialização. A seguir apresentamos o quadro 3 com imagens do primeiro ponto de inquérito da pesquisa: localidade Abuí.

Quadro 3. Imagens da localidade Abuí.

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

O segundo ponto de pesquisa, que também serviu de base para a coleta de dados, foi a comunidade de Cachoeira Porteira, habitada desde o século XIX por quilombolas, o local pertence ao município de Oriximiná. Aproximadamente 90 famílias ocupam essa área preservada da Floresta Amazônica às margens do Rio Trombetas. São cerca de 400 moradores pautados pelo extrativismo e manejo de castanha-do-pará, com poucas diferenças, quanto à forma de coletar a castanha-do-pará, em relação as outras comunidades.

Cachoeira Porteira não existe a divisão espacial em áreas rurais, todos os extrativistas possuem livre acesso à extração de produtos da floresta que são coletados de forma artesanal,

como é o caso da castanha-do-pará, única comercialização permitida pela ICMBio, instituição ambiental que monitora o uso dos recursos da região. Esse produto, coletado nos meses de março a junho nas dezenas de castanhais existentes na região, é comercializado principalmente nos mercados dos municípios de Oriximiná e Óbidos - PA. Uma vez passada o período de coleta da castanha, as famílias dedicam-se a outras atividades agroextrativistas, como, caça e pesca.

Durante a pesquisa de campo, fomos informados pelos agentes comunitários e presidentes de associações que, para efetivar a participação, cada comunitário necessita preencher e/ou atualizar um cadastro junto ao ICMBio e informar a função (coletor e/ou regatão) a ser desenvolvida durante o período de safra. Cabe à Associação de moradores da comunidade remanescente de quilombo de Cachoeira Porteira (Amocreq) a responsabilidade de registro dos quilombolas de acordo com a função escolhida, e ao ICMBio, baseando-se nas condutas no ano anterior, a autorização para o exercício da atividade. Isso vale para todas as comunidades extrativistas.

Um ponto bastante diferenciado da comunidade Abuí para Cachoeira Porteira é a grande distância entre o centro comunitário e a maioria dos aglomerados de castanheiras. Há a necessidade de formações de grupos de pessoas para o enfrentamento das dificuldades no translado e na permanência enquanto realizam a coleta. O transporte é realizado por canoas e rabetas ocorrendo, portanto, muitos empecilhos que são complicados para serem contornados individualmente, como por exemplo as fortes correntezas e pedreiras submersas. Sem falar na passagem pelas cachoeiras. Perigo mais recorrente ao retornar para casa, pois os transportes vêm carregados com várias sacas de sementes de castanha. A seguir, no quadro 4, apresentamos imagens do segundo ponto de inquérito: a localidade de Cachoeira Porteira.

Quadro 4. Imagens da localidade de Cachoeira Porteira.

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

O terceiro ponto de inquérito da pesquisa foi a comunidade São José, no Ramal Boa Vista na Estrada do Batalhão de Engenharia e Construção (BEC), estrada de chão, localizada 30 quilômetros da sede do município, com percurso inicial em direção setentrional na confluência das rodovias PA-439 e PA-254. De acordo com Scoles et. al., (2008) “O nome da estrada do BEC deriva do período militar (década de 1970), quando o 8° Batalhão de Engenharia e Construção (BEC) foi designado para a construção da estrada com a finalidade de ser um prolongamento da BR-163”.

O extrativismo da castanha-do-pará ocorre neste ponto, porém em uma realidade bastante adversa às comunidades do Abuí e Cachoeira Porteira. A população é composta de migrantes nordestinos, em sua maioria.

Na comunidade do BEC o acesso aos castanhais, assim como o escoamento do produto ocorre por via terrestre. Os castanhais ficam dentro de propriedades particulares. A castanha é transportada dos castanhais para a residência em carroças puxadas por animais e para a cidade em caminhões. O período de coleta da castanha, os instrumentos utilizados para esse fim, assemelham-se com as comunidades descritas anteriormente

Não há muita informação dessa localidade registrada nos acervos da prefeitura local, porém conforme Homma (2000), segundo depoimentos de moradores das comunidades rurais existentes extensas áreas florestais, muitas delas formadas por castanhais, foram substituídas por campos de pastagens para a criação de gado. Nestes locais desmatados, as castanheiras foram inicialmente poupadas do corte por estarem protegidas na legislação federal (decreto nº 1.282, de 19 de outubro de 1994, ratificado pelo decreto nº 5.975 de 30.11.2006) e por isso muitas destas aparecem erguidas ainda hoje no meio da paisagem desflorestada, se assemelhando à passagem de “cemitérios de castanheiras” da região de Marabá. No quadro 5, a seguir, apresentamos imagens do terceiro ponto de inquérito: a localidade do BEC.

Quadro 5. Imagens da localidade da Estrada do BEC

Fonte: Pesquisa de campo (2015).