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Mapa 3. Localização do município de Oriximiná/PA

2 CAMINHOS EPISTEMOLÓGICOS DA TERMINOLOGIA

3.2 Metodologia

3.2.3 Perfil dos informantes

Para a seleção dos informantes, utilizamos como critério principal a participação efetiva dos mesmos, com no mínimo cinco anos de experiência, o conhecimento que possuem acerca da atividade especializada em todos os processos de produção da castanha-do-pará e a disponibilidade de participar das entrevistas, de ser fotografado, filmado, de autorizar a publicação. Assim, priorizamos coletar o discurso oral especializado dos seguintes profissionais envolvidos nessa atividade: extrativistas, atravessadores, técnicos/pesquisadores e trabalhadores da usina beneficiadora, dos pontos de inquérito, mencionados no item 3.2.1 deste trabalho, com o propósito de conseguir um corpus que representasse a terminologia em estudo.

Compomos, então, uma tabela com os informantes levando em consideração o sexo, a idade, a naturalidade e a função que exercem na atividade em foco. Esses elementos, ainda que não tão decisivos para uma análise estratificada, particularmente nesta pesquisa, estabelecem uma dinâmica de entendimento das relações socioculturais em que os profissionais estão inseridos na atividade especializada que compreende o ciclo produtivo da castanha-do-pará. Para ilustrar temos, a seguir, na tabela 2 a distribuição dos informantes:

Tabela 2 - Distribuição dos informantes:

Código Função Sexo Origem

I-1 Extrat. M Abuí

I-2 Extrat. F Abuí

I-3 Extrat. M Abuí

I-4 Extrat. F Abuí

I-5 Extrat. M Abuí

I-6 Extrat. M Abuí

I-7 Extrat. F Abuí

I-8 Extrat. F Abuí

I-9 Extrat. M Abuí

I-10 Extrat. / Atrav. M Abuí

I-11 Extrat. M Abuí

I-12 Extrat. M Abuí

I-13 Extrat. M Cachoeira Porteira

I-14 Extrat. F Cachoeira Porteira

I-15 Extrat. M Cachoeira Porteira

I-16 Atrav. M Cachoeira Porteira

I-17 Extrat. M Cachoeira Porteira

I-18 Extrat. M BEC

I-19 Extrat. M BEC

I-20 Extrat. F BEC

I-21 Extrat. M BEC

I-22 Trab. Usina F Oriximiná

I-23 Trab. Usina M Oriximiná

I-24 Trab. Usina M Oriximiná

I-25 Trab. Usina/ Téc. F Oriximiná

I-26 Téc. Ambiental M Oriximiná

I-27 Téc. Agrônomo M Belém

I-28 Téc. Agrônomo M Belém

I-29 Téc. Florestal M Belém

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

De acordo com os dados inclusos na tabela 2, fizeram parte da pesquisa:

 Extrativistas (homens e mulheres), que trabalham com a extração da castanha, na floresta, especificamente, com as etapas de pré-coleta, coleta e pós-coleta até a armazenagem das sementes para venda; atravessador, que comercializa a castanha produzida pelos extrativistas; trabalhadores da usina, que trabalham com os processos de beneficiamento da castanha e técnicos engenheiros agrônomos, florestal e ambiental, da EMBRAPA, IDEFLOR e SEMA, respectivamente, que desenvolvem pesquisas sobre a cadeia produtiva da castanha-do-pará na região norte, centradas na Região Baixo Amazonas;

 Entrevistados com, no mínimo, cinco anos de trabalho diretamente na atividade com a castanha ou que desenvolva projetos de incentivo e orientações na área pesquisada;

 Informantes com idade entre 18 (dezoito) a 70 (setenta) anos.

 As informações repassadas na codificação que indicará cada informante no glossário são: I-significa informante; F ou M-significam, respectivamente, feminino e masculino; a numeração de 1 a 29 mostra a ordem das entrevistas com os informantes; A, CP, BEC e UF- significam, respectivamente os locais de trabalho dos informantes, Abuí, Cachoeira Porteira, Estrada do BEC e Usina Florenzano.

Todos esses profissionais com experiência na atividade da cadeia produtiva da castanha- do-pará na EMBRAPA, na SEMA, na IDEFLOR, na Usina Florenzano, nos castanhais das Unidades de Conservação na região do alto Trombetas, nas fazendas, disponibilizaram-se a ceder entrevistas, a serem questionados, fotografados e filmados na ação de extração, beneficiamento, comercialização e em todas as fases do ciclo produtivo da castanha. Essa atitude mostrou-se fundamental para que essa pesquisa fosse efetivada. A seguir, apresentamos, no gráfico 2, os informantes da pesquisa, num total de 29 entrevistados:

Gráfico 2. Informantes da pesquisa.

Fonte: Elaborado pela autora.

É importante ressaltar que o foco de nossa pesquisa se encontra na linguagem utilizada pelo extrativista, uma vez que, é no convívio social na realização da atividade especializada, que o habitante da floresta tece suas representações socioculturais. Observemos, ainda, que os

Extrativistas 75% Atravessadores 7% Técnicos 14% Trab. Usina 4%

técnicos são profissionais que se encontram inseridos na dinâmica da atividade de produção da castanha-do-pará por meio de projetos de pesquisa que visam ao desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável das comunidades extrativistas da região em estudo. Extrativistas e técnicos permanecem num frequente diálogo cuja terminologia apresenta-se com uma significativa variação, tanto de ordem linguística quanto de registro. Com efeito, a documentação do léxico especializado da castanha-do-pará assegura uma comunicação melhor entre esses profissionais, que trabalham com um conhecimento técnico e os extrativistas, que têm um conhecimento apoiado no saber popular.

Nesse processo de interação, encontra-se, também, a figura do atravessador. Em razão da longa distância e do difícil processo de escoamento do produto para a venda, os extrativistas estão em constante contato com esses profissionais para a comercialização da castanha. Percebemos na pesquisa de campo que muitos desses atravessadores são pessoas da própria comunidade com convivência diária. Esse contato também ocorre com os trabalhadores da usina. No início da coleta da castanha, quando usina ainda não recebeu a castanha para o processo de beneficiamento, os trabalhadores deslocam-se para os castanhais para realizar a atividade de extração do fruto da floresta. Dois a três meses depois de colheita do fruto na floresta, o produto já é recebido na usina e então retornam para trabalhar com as etapas do beneficiamento.

Cabe salientar, como afirma Faulstich (1995b, p. 8) que a pesquisa socioterminológica “requer procedimentos precisos, oriundos da etnografia, harmonizados com o meio e com os fenômenos que a definem”, sendo necessário atentar para os seguintes fatores:

 As características da empresa, da instituição em que a terminologia é gerada; tipo de atividade; divisão do trabalho; rede de comunicação; frequência da interação no plano horizontal e no plano vertical; impacto das novas tecnologias sobre a produção e sobre a linguagem;

 As características do pessoal: postos que ocupam; formação profissional; especialização, qualificação; idade; condições e frequência de atualização etc.;  A competência e os usos linguísticos: comunicação mais falada, escrita, lida;

domínio de terminologias; emprego de terminologias; consulta a obras de referência, interesse pelas línguas de especialidade; desenvolvimento de pesquisa dentro da empresa; difusão de terminologias por meio de obras específicas etc.;

Esses fatores foram determinantes em nossa pesquisa conforme examinamos o conhecimento in loco, para, então, entendermos o tipo de atividade que era realizada na produção da castanha pelos profissionais. Percebemos como se dá a divisão do trabalho, a constante interação entre os profissionais e o impacto das novas tecnologias tanto no ciclo produtivo da castanha, como na linguagem. Foi possível verificar também que a participação em todas as etapas das atividades da castanha acontece pelos homens e pelas mulheres.

A regularidade comunicativa entre os técnicos e extrativistas acontece por meio de órgãos que atuam no município. A SEMA, EMBRAPA e ICMBio, por exemplo, disponibilizam constantemente serviço de acompanhamento e orientação para os extrativistas acerca das boas práticas de manejo e coleta da castanha-do-pará. Esse apoio técnico vem, também, por meio de pesquisadores que, por Oriximiná se destacar pela presença de vastas áreas de floresta amazônica preservada, onde chama a atenção a biodiversidade da flora e fauna. Por esse motivo, a região é afetada por várias Unidades de Conservação (UCs) federais e estaduais, entre as quais a Reserva Biológica (Rebio) do Trombetas.