• Nenhum resultado encontrado

Fonte: SFB, 2014.

Conforme pesquisas realizadas por Nogueira (2012), a castanheira ocorre somente na região da Amazônia nas áreas altas de terra firme e se desenvolve melhor em clareiras. Os maiores castanhais ocorrem, principalmente, no Brasil, nos Estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Mato Grosso e, fora do país, estende-se da Bolívia e Peru, até o escudo das Guianas e o sul da Venezuela. De acordo com Lorenzi (2000), a castanheira é considerada árvore símbolo da Amazônia em razão de sua importância social, ecológica e econômica para a região. Sua distribuição geográfica é ampla e abrange as florestas do Brasil onde estão as formações mais compactas da floresta. No entanto, as formações de florestas mais densas ocorrem no Brasil, na Região de Integração do Baixo Amazonas.

No que se refere à importância econômica, o comércio da castanha-do-pará, no Brasil, data do século XVII e ao longo destes anos sempre fomos os maiores exportadores mundiais com cerca de 80% da produção. No entanto, apesar de ser uma espécie protegida por lei, a derrubada dos castanhais aliada a desvantagens competitivas em relação à Bolívia e ao Peru fizeram com que a produção nacional declinasse ao mesmo tempo em que investimentos e incentivos fiscais na Bolívia tornaram este país líder no mercado internacional. Atualmente, a Bolívia é responsável por 50% da produção mundial, contra 37% do Brasil e 13% do Peru (IBGE, 2010).

O Brasil dominou esse mercado por muitos anos, entretanto, em 2009, a maioria (78%) dessa receita foi auferida por empresas bolivianas, enquanto apenas 8% foram obtidas por empresas brasileiras. De fato, o Brasil hoje exporta castanha para a Bolívia, que processa e exporta o produto final um sinal claro do declínio dessa indústria no país. Os dois países juntamente com o Peru respondem por quase 100% da produção e exportações mundiais primárias (sem considerar as reexportações), sendo o Brasil o líder do ranking de países exportadores de castanha com casca. Este fato salienta a necessidade de modernização de sua cadeia produtiva de maneira a agregar mais valor às suas exportações. Nas estatísticas internacionais, outros países aparecem eventualmente como reexportadores da castanha, como é o caso do Chile. A castanha-do-pará é um dos produtos de comércio internacional originários de países não desenvolvidos e consumido predominantemente em países desenvolvidos. Os maiores consumidores são os Estados Unidos e a União Europeia.

Segundo dados da FAO (2011), embora a maior parte de ocorrência da castanheira esteja no Brasil e por ter sido maior exportador mundial de castanha-do-pará, vem perdendo lugar no comércio internacional do produto. Esta queda, se acentuou a partir de 1996, quando principalmente a Bolívia, mas também o Peru, passaram a apresentar aumento em suas exportações de castanha sem casca, praticamente abandonando a exportação de castanha com casca.

Dados do IBGE (2010) mostram que, dentre os produtos do extrativismo vegetal, a castanha-do-pará merece destaque, por ter movimentado 55,2 milhões de reais, ocupando a sexta colocação, em valor comercializado, entre os produtos do extrativismo no Brasil no ano 2009. Do total de 40.357 toneladas de castanha extraída no Brasil, 96,3% são oriundos de florestas da Região Norte do Brasil. O Estado do Pará, em terceiro lugar, corresponde a 8.128 toneladas (20,14% da produção), gerando uma receita da ordem de 10,13 milhões de reais. Deste montante, a região de integração Baixo Amazonas foi responsável por contribuir com 98,24%. No Pará, os municípios que mais extraíram a castanha, no ano de 2010, foram Oriximiná, com 2.100 toneladas (5,2% da produção brasileira), Óbidos, com 1.750 toneladas (4,3%) – quinto e sexto lugares, respectivamente, no ranking de produção no Brasil – e Almeirim, que contribuiu com 166 toneladas (IBGE, 2010).

Responsável por um quarto da produção nacional, o Pará possui a extração da castanha- do-pará concentrada no Baixo Amazonas e no Sudoeste Paraense, sendo que 56% disso é obtido na primeira região. Os municípios que mais colaboram com a produção dessa cultura são Oriximiná, Óbidos, Alenquer, Acará, Altamira e Curuá, na sequência.

De acordo com a pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), a produção de castanha-do-pará foi de 38.805 toneladas. A baixa produtividade no Amazonas e os baixos preços em Rondônia foram os principais motivos da queda de 7,9% em relação a 2011. Os principais estados produtores foram Acre (14.088 t), Amazonas (10.478 t) e Pará (10.449 t), (IBGE – PEVS, 2012). O gráfico 1 apresenta os dados de produção de castanha-do-pará no ano de 2012 nos estados da Amazônia.

De acordo com o IBGE (2012) do total de 42.152 toneladas de castanha produzidas em 2011, o estado do Pará contou com uma produção de 7.192 toneladas. Os maiores produtores no estado foram: Oriximiná (1.680 ton.), Óbidos (1.225 ton.), Acará (720 ton.) e Alenquer (710 ton). Observa-se que o montante produzido nos três principais estados produtores (Amazonas, Acre e Pará) sofre constantes mudanças, ocorrendo bruscas variações na quantidade ofertada de um ano para o outro, o que se deve ao fato de o produto extrativo ser dependente das condições da natureza para ser produzido. Para isso vejamos a evolução da quantidade produzida, em toneladas (gráfico 1) pelos três principais produtores de castanha-do-pará na região norte do estado de 1990 a 2012:

Gráfico 1. Produção de castanha-do-pará- região norte – 1990-2012

Fonte: IBGE, 2010, 2012. Adaptado pela autora

1990 2000 2010 2012 Acre 17.497 8.247 12.362 14.088 Amazonas 13.059 7.823 16.039 10.478 Pará 16.235 8.935 8.128 10.449 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000 18.000 20.000

Considerando os dados descritos no gráfico 1, de acordo com pesquisas realizadas pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) (2014) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o Estado do Acre se destaca na produção nacional, em razão, principalmente, da comercialização efetivada por meio da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (COOPERACRE), que é referência no beneficiamento e comercialização da castanha-do-pará de grupos comunitários acreanos. A cooperativa beneficia e comercializa castanha-do-pará para o Brasil e para o exterior e, ao longo de muitos anos, vem se consolidando no mercado nacional. Realidade semelhante para o Estado do Amazonas que também conta com uma produção significativa graças à Cooperativa Verde de Manicoré (COVEMA), resultado de uma intensa história de luta das comunidades extrativistas dos municípios de Manicoré e Nova Aripuanã. A cooperativa conta com o apoio de instituições públicas e privadas para a implementação de práticas adequadas em relação à coleta, transporte, armazenagem e beneficiamento da castanha-do-pará, com o propósito de melhorar a qualidade do produto.

No Estado do Pará, assim como os estados do Acre e Amazonas, também trabalha com associações e cooperativas. De acordo com a Comissão Pro-Índio de São Paulo (2014) e pesquisa de campo (2014, 2015), a experiência mais conhecida é da Cooperativa Mista Extrativista dos Quilombolas do Município de Oriximiná (CEQMO) que “visa tornar o negócio da castanha-do-pará uma opção de geração de renda mais sustentável economicamente. ”

A atividade extrativista16 no Brasil, que se iniciou pelo Nordeste e Sudeste, foi

gradativamente substituída por lavouras, de tal forma que a atividade se concentrou na região Norte com a exploração da madeira, minérios e produtos florestais não madeireiros como óleos, castanhas, frutos e outros. Para Rizek e Morsello (2008), duas correntes predominam a discussão em torno da viabilidade econômica da exploração dos PFNM, uma defende que a atividade extrativista dos PFNM além de produzir menor impacto ambiental pode ser uma alternativa a geração de renda para os povos que residem na floresta. A outra corrente alega que em longo prazo, o extrativismo torna-se inviável em função da oferta limitada de recursos em relação ao aumento da demanda e da própria substituição por compostos semelhantes sintéticos.

Em meados dos anos 90, entretanto, visando conter o extrativismo por aniquilamento surgem as Reservas extrativistas (RESEX), com base na corrente que defende o extrativismo praticado pelas populações tradicionais, o qual se baseia em retirar da floresta os produtos

16Homma (1982) classifica a atividade extrativista de duas formas: a primeira é o extrativismo por aniquilamento

ou depredação, quando a extração do recurso implica em sua extinção, ou quando a velocidade da extração é maior que a velocidade de recuperação. A segunda forma é o extrativismo de coleta, quando a atividade extrativa é fundamentada na coleta de determinadas plantas ou animais, cujo aniquilamento ocorre a médio e longo prazo.

oferecidos por ela sem, no entanto, a necessidade de derrubar as árvores (FACHINELLO 2010). Dentre os PFNM identificados na RI Baixo Amazonas, a castanha-do-pará se destaca em produção local, nas últimas safras, o valor da produção brasileira de castanha, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2011), tem crescido a uma taxa média de 7,2% ao ano desde 1989, alcançando em 2009 mais de R$ 52 milhões.

Entre os municípios que compõem esta região, apenas Oriximiná, Óbidos e Santarém exportaram produtos florestais não madeireiros, no entanto, em 2010, apenas os dois primeiros realizaram transações com o mercado exterior, os quais configuraram 76% e 24%, respectivamente, de participação no valor exportado (BRASIL, 2010).

3.1.1 O extrativismo, o beneficiamento e a comercialização da castanha-do-pará no município pesquisado

O município de Oriximiná, especialmente na área do Alto Rio Trombetas, representa uma parte do território paraense responsável por movimentar a economia local através da extração, comercialização e exportação da castanha-do-pará. Há décadas são reconhecidos os benefícios que o extrativismo da castanha traz às comunidades quilombolas da região de Oriximiná, em razão dos extensos castanhais existentes ao longo do rio Trombetas. Homma (2000). E, por esta razão, se torna a principal atividade extrativa desenvolvida no município de Oriximiná.

Oriximiná localiza-se no oeste do Pará, na Mesorregião do Baixo Amazonas, na Microrregião de Óbidos, e está integrado à área compreendida como Calha Norte. Seus limites são: ao norte, Guiana Francesa e Suriname; a leste, o município de Óbidos; ao sul, os municípios de Juriti e Terra Santa; a oeste, o município de Faro e o estado de Roraima. Com área de 107.603,292km², Oriximiná é um dos maiores municípios brasileiros em extensão. Com população total estimada em 66.821 habitantes, entre os quais indígenas, quilombolas, ribeirinhos e migrantes. Considerado, também, um dos municípios mais ricos do país no que tange à sociodiversidade, tendo em vista a sua composição étnica e cultural tão variada (IPHAN, 2014). A seguir temos o mapa 3 com a localização geográfica de Oriximiná: