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Este estudo contempla uma abordagem qualitativa de pesquisa visando a aprender a realidade social das organizações familiares a partir da subjetividade de seus atores (TRIVIÑOS, 1992). Nessa abordagem, supõe-se que os sistemas culturais e de significados, de alguma forma, compõem a percepção e a elaboração da realidade subjetiva e social por parte do indivíduo (FLICK, 2004).

O princípio básico dessa abordagem é a necessidade de se fazer uma diferenciação entre o que é visível e o que está intrínseco às experiências e atividades desempenhadas pelas pessoas. A parte visível, ou seja, a superfície das ações e comportamentos, pode ser alterada e prevista conforme as intenções e prioridades das pessoas; enquanto o que está intrínseco, isto é, as questões que interferem nas decisões, não são acessíveis às reflexões individuais cotidianas. Estruturas desse tipo estão presentes em modelos culturais, em padrões interpretativos e estruturas latentes de significado que só podem ser entendidos por meio de uma abordagem subjetiva.

A Psicanálise, portanto, propõe-se a revelar o inconsciente, tanto de grupos quanto de indivíduos, a partir do desenvolvimento de uma pesquisa, sendo a relação entre o pesquisador e o entrevistado um dos instrumentos fundamentais para a descoberta de como a inconsciência atua nessas condições.

Considerando os critérios de classificação da pesquisa proposto por Vergara (2009), quanto aos fins e quanto aos meios, tem-se: quanto aos fins trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. Exploratória porque, embora a empresa estudada seja uma instituição aberta para pesquisas (a critério de ilustração, evidencia-se os estudos de Lanza (2001), Tomazelli e Marcon (2007) e Tiburski (2000)), não se verificou a existência de estudos que contemplem os valores familiares e a análise do processo sucessório pelo ponto de vista do qual a pesquisa tem a intenção de abordá-lo.

A pesquisa exploratória “é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa” (VERGARA, 2009, p. 42).

Essa modalidade, conforme Gil (2010, p. 45), “visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses, tendo como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições”.

Köche (1997) menciona que pesquisas exploratórias são adequadas para casos em que ainda não proporcionem um sistema de teorias e conhecimentos prontos. "Nesse caso é necessário desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se deseja estudar" (p.126).

A pesquisa também é descritiva, por que apresenta os valores familiares presentes na organização e as características pertinentes à estruturação do processo sucessório de acordo com a visão da família empresária. A pesquisa descritiva visa a expor características de determinada população ou de determinado fenômeno (VERGARA, 2009).

Gil (2010) afirma que algumas pesquisas descritivas, além da identificação da existência de relações entre variáveis, têm por objetivo determinar a natureza dessa relação. Cita ainda a existência de pesquisas que, "embora definidas como descritivas a partir de seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias" (p. 46).

Para Mattar (1999, p. 45), essa modalidade “responderá a questões como: quem, o quê, quando e onde.” Desta forma, a relação com o problema de pesquisa, quando voltada ao propósito de estudar e descrever as características de grupo, deve comportar características dentro de uma população específica para descobrir ou verificar a existência de relação entre variáveis.

A partir desta base, Fernandez e Gomes (2003) referem que a pesquisa descritiva é uma modalidade de pesquisa que visa a analisar ou verificar as relações entre fatos e acontecimentos (variáveis), ou seja, tomar conhecimento do que, com quem, como e qual a

intensidade do objeto em estudo. A pesquisa descritiva também é indicada para avaliação de programas; tais estudos podem optar por trabalhar com a formulação de hipóteses sem a utilização delas e muitas vezes podem servir de base para estudos de relações causais.

Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica, documental e estudo de caso. Bibliográfica porque para a fundamentação teórico-metodológica do trabalho foi realizada a investigação dos seguintes assuntos: empresa familiar, processo sucessório, valores familiares e teoria psicodinâmica psicanalítica e sistêmica familiar. Essa modalidade é, com certeza, uma das fontes mais empregadas em estudos científicos e compõe a fase prévia no desenvolvimento de uma pesquisa, independente do problema em questão (FERNANDEZ; GOMES, 2003).

Comporta, consideravelmente, parte da bibliografia já publicada em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, Monografias, Teses, Dissertações, Internet, etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filme e televisão. “A sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi dito, escrito ou filmado sobre determinado assunto” (LAKATOS; MARCONI, 1996, p. 66).

A investigação foi, também, documental, porque se valeu de documentos internos da empresa que diziam respeito ao objeto de estudo. Sua classificação referiu-se ao procedimento a ser empregado no processo de pesquisa, que consistiu em um instrumental de apoio a qualquer pesquisa. O que difere a pesquisa documental da pesquisa bibliográfica é, basicamente, a natureza das fontes, conforme explica Gil (2010, p. 51) ao argumentar que a pesquisa bibliográfica utiliza-se necessariamente de contribuições dos diversos autores, enquanto que a documental ampara-se de materiais que ainda não foram analisados ou que ainda podem ser reutilizados conforme os objetos da pesquisa.

No entendimento de Fernandez e Gomes (2003):

A pesquisa documental apresenta a vantagem de que os documentos constituem uma fonte rica e estável de dados e sobrevivem ao longo do tempo e é uma importante fonte de dados em pesquisa histórica, além de apresentarem um baixo custo. Outra vantagem é o fato de não exigir contato com os sujeitos da pesquisa, e existem alguns casos em que é muito difícil ou até mesmo impossível fazer tal contato (p. 26).

Uma pesquisa baseada em documentos pode não fornecer dados suficientes para chegar à conclusão de um problema; por outro lado, pode proporcionar uma visão mais ampla e diferenciada do problema, ou, quem sabe, instigar uma nova pesquisa.

A pesquisa documental se deu por meio de documentos da empresa fornecidos pela psicóloga que é responsável pelo setor de recursos humanos durante as primeiras visitas à instituição, que tinham a finalidade de apresentação e dar conhecimento em termos de recursos humanos e espaço físico. Alguns documentos tinham acesso restrito a alguns funcionários, contudo foi possível analisar organograma, manual de integração, histórico da organização, currículo do fundador e filhos, publicações e documentos que certificavam os prêmios e títulos ganhos pela mesma.

Por fim, a pesquisa abrange a modalidade de estudo de caso, pois tem caráter de profundidade e detalhamento de uma empresa familiar gaúcha. Gil (2010) pressupõe a existência de algumas circunstâncias para as quais o estudo de caso é apropriado; por exemplo, no início da construção de um estudo sobre temas difíceis, em que é recomendada a elaboração de hipóteses ou reformulação do problema. “Também se aplica com pertinência nas situações em que o objeto de estudo já é suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em determinado tipo ideal” (p. 59).

No entendimento de Yin (2001), o estudo de caso é a modalidade mais utilizada quando predominam questões dos tipos “como?” e “por quê?”, ou quando o pesquisador não possui conhecimento suficiente sobre os eventos e ainda quando o foco se concentra em fenômenos da vida real. É um tipo de pesquisa científica que investiga fenômenos contemporâneos em seu ambiente real, quando os limites entre os fatos e o contexto não são claramente definidos; quando as variáveis despertam inquietude no pesquisador; quando se baseia em diversas fontes de evidências; e quando há proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise dos dados.