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VARIÁVEL COEFICIENTE ESTATÍSTICA Z VALORP ELASTICIDADE

3.2 CADEIA DO AÇAÍ

3.2.1 Demanda do açaí

As variáveis independentes incluídas na demanda do açaí, explicaram 87,12% das variações nas quantidades demandadas de açaí do mercado varejista do município de Abaetetuba em 2020 (Tabela 2). Para o mercado de açaí, a estatística F também foi signi cativa a 1%, que indica as variáveis relevantes na regressão múltipla especi cada na forma linear, apontando que as variáveis incluídas no modelo são relevantes para representar a demanda de mercado. Os resíduos apresentaram distribuição normal pelo teste de Jarque-Bera, isto dispensa o teste para heterocedasticidade, conforme Santana (2003). A estatística de Durbin-Watson, como esperado, não indicou problema de autocorrelação serial de primeira ordem (SANTANA et al., 2012, 2017; SANTANA, 2020). O teste do Fator de Variância In acionária não indicou presença de multicolinearidade entre as variáveis explanatórias (Tabela 2).

Estes resultados atestam que a demanda agregada do açaí está corretamente especi cada. Para a demanda do açaí, as variáveis preço do camarão e preço da bacaba apresentaram signi cância estatística, indicando a dependência na decisão de compra das famílias que consomem açaí.

Pelos resultados da Tabela 2, o consumo autônomo de açaí foi positivo e de 77 L/família/mês, o que geraria um consumo per capita anual médio de 231 L, caso as demais variáveis fossem iguais a zero. Este é o limite máximo do consumo per capita de açaí das famílias entrevistadas na feira de Abaetetuba, Ceteris Paribus. Por outro lado, o preço de estrangulamento do mercado, ou seja, o preço para além do qual não existe demanda, foi estimado em R$ 42,03/L.

O coe ciente associado ao preço foi negativo e signi cativo a 1%, con rmando a lei da demanda de que as quantidades demandadas de açaí variaram inversamente aos preços. Assim, tem-se que, para cada aumento de R$ 1,00/L no preço do açaí, a quantidade demandada por família do município de Abaetetuba ao mês tenderia a diminuir -1,265 L por mês. O coe ciente da renda, por sua vez, foi positivo em relação ao consumo de açaí, mostrando que, para aumentos de R$ 1.000,00 na renda das famílias, a demanda tenderia a aumentar de 1,9 L por mês, Ceteris Paribus. Portanto, os resultados estão coerentes com a teoria da demanda.

Com relação à conexão horizontal dos produtos relacionados ao

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consumo de peixe, tem-se que o coe ciente associado ao preço do peixe foi positivo de 0,214, indicando que, com uma mudança de R$ 1,00/kg de peixe, tenderia a ocorrer o aumento do consumo de açaí em 0,214 L. Já no caso da farinha de mandioca, o resultado apresentou uma relação negativa de - 2,916, indicando que os produtos são complementares, pois para um aumento de R$ 1,00/kg no preço da farinha, o consumo de açaí tende a diminuir 2,916 L/família ao mês. O coe ciente associado à variável tamanho da família foi positivo, mostrando que, quanto maior o número de pessoas por família, maior tende a ser o consumo, o que está de acordo com a teoria da demanda dos produtos essenciais à dieta alimentar da população.

Tabela 2 - Resultados da demanda agregada de açaí do extrativismo do município de Abaetetuba e as elasticidades da demanda, 2020.

Erro da regressão 6,0379 Critério de Schwarz 12,6364 Estatística – F 257,211 Multicolinearidade

– FVI 2,9870

Prob. F-statistic) 0,00000 Durbin-Watson

statistic 1,6886

Fonte: Dados da pesquisa. FVI - Fator de Variância In acionária indica ausência de multicolinearidade. W – Teste de heterocedasticidade de White. Método de estimação: Full InformationMaximumLikelihood (Marquardt). Eviews 7.1.

A elasticidade-preço do açaí igual a -0,2371 indica que a demanda de peixe é inelástica a preço, dado que, em resposta a aumentos de 10% no preço, as famílias tenderiam a diminuir a quantidade consumida em 2,37%, Cet eris paribus. Ou seja, a redução na quantidade demandada de açaí é menor que o aumento no preço do açaí.

Com o coe ciente de elasticidade-renda igual a 0,1050, o açaí é classi cado como um bem normal. Portanto, para cada 10% de aumento na renda per capita das famílias, a demanda do açaí pode incrementar 1,050%, Cet eris paribus. Ou seja, o açaí consumido em Abaetetuba pode ser classi cado como um produto essencial à alimentação da população, visto que o consumo aumentou em proporção menor do que o da renda.

A elasticidade-cruzada da demanda de polpa de açaí em relação à demanda de peixe foi de 0,044, indicando que tais produtos são considerados substitutos para as famílias entrevistadas no mercado varejista de Abaetetuba, mas considerando um nível de signi cância de 17,83%. Assim, em resposta a incrementos de 10% nos preços do peixe, as famílias tendem a aumentar o consumo de açaí em 0,44%, Cet eris paribus, indicando que a substituição é baixa (SANTANA, 2020).

Com relação à elasticidade-cruzada entre açaí e a farinha de mandioca, obteve-se um coe ciente de -0,200, indicando que tais produtos são considerados complementares para os consumidores de açaí entrevistados na feira de Abaetetuba. Assim, em resposta a incrementos de 10% nos preços do açaí, as famílias tendem a aumentar o consumo de farinha de mandioca em 2%, Cet eris paribus. Desta forma, a farinha de mandioca in uencia no ajuste do consumo de açaí pelas famílias abaetetubenses e adjacências. Este fato re ete a mudança nos hábitos de consumo e no poder aquisitivo das famílias, como revelado pioneiramente por Santana (1999) no estudo sobre as mudanças recentes nas relações de demanda de carnes no Brasil.

A relação entre o consumo de açaí e o nível de escolaridade mostrou que, quando o consumidor muda de um nível de escolaridade para outro mais alto, a quantidade demandada de açaí tende a aumentar 0,505 L mensal por família. Ou seja, os resultados da pesquisa indicam que os entrevistados com maior grau de instrução tendem a consumir maior quantidade de açaí, pois têm acesso às informações referentes aos benefícios à saúde.

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O tamanho da família, por sua vez, apresentou sinal positivo, de acordo com o esperado teoricamente, e foi diferente de zero a 1%. O resultado do coe ciente foi de 2,2455, indicando que, para cada aumento de uma pessoa na composição da família, o consumo de açaí tende a aumentar em 22,45 L/mês. Assim, a estratégia de evolução do tamanho da família de ne o comportamento inercial do consumo de açaí na feira do município de Abaetetuba, a um incremento de 67,36 L por cada pessoa que ingressa na família ao ano.

4. CONCLUSÃO

As cadeias produtivas do açaí e do peixe de Abaetetuba conseguem atender a demanda desses produtos diariamente. O açaí apresentou um coe ciente de elasticidade renda igual a 0,1050; o do peixe foi 0,1232, indicando que os dois produtos são um bem normal.

A elasticidade-cruzada da demanda de peixe em relação à demanda de polpa de açaí foi de -0,044; a elasticidade-cruzada entre açaí e a farinha de mandioca foi de -0,200, indicando que tais produtos são considerados complementares para as famílias entrevistadas no mercado varejista de Abaetetuba.

Além disso, os canais de comercialização existentes nas duas cadeias manifestam o delineamento de cadeias curtas e longas, considerando a ocorrência na feira de Abaetetuba de relações de comercialização relacionadas à venda direta do produtor para o consumidor, assim como uma comercialização com a participação de intermediários e com as agroindústrias que atuam na exportação desses produtos nas escalas regional, nacional e internacional, consolidando as cadeias longas.

A cadeia curta do açaí ocorre com maior frequência na safra, pois na entressafra há um redirecionamento de atividades dos agentes que atuam nesses elos para outras atividades.

Portanto, para que essa dinâmica de comercialização do açaí e do peixe ocorra na feira de Abaetetuba, é fundamental a mobilização de todos os agentes que atuam nos elos das cadeias, com destaque na atuação do ribeirinho abaetetubense, considerando o envolvimento com o processo produtivo de ambos os produtos.

Além disso, a pesquisa também possibilitou identi car a necessidade de criação de Políticas Públicas direcionadas aos elos dessas duas cadeias produtivas, que proporcione garantia de comercialização desses produtos, com o recebimento dos valores equivalentes ao trabalho desempenhado em cada elo, e que proporcione um padrão de qualidade de produto regional, atendendo as exigências dos mercados nacionais e internacionais.

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