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O TURISMO NA AMAZÔNIA: OS POLOS DE TURISMO DO ESTADO DO PARÁ

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

3. O TURISMO NA AMAZÔNIA: OS POLOS DE TURISMO DO ESTADO DO PARÁ

Como já apontado, as políticas públicas de turismo no Brasil seguem a lógica da ideologia neoliberal e têm potencializado os impactos negativos da atividade: hiperestrati cação dos espaços litorâneos (FERNANDES, 2013); prioridade de atendimento aos interesses econômicos e políticos de governos e elites (CAVALCANTI, 1993); exclusão em detrimento dos interesses das comunidades locais (CORIOLANO et al., 2009); e prevalência do protagonismo dos governos e empresários (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2015) etc. Esses são alguns dos exemplos dos resultados da forma de conduzir o turismo no país, não obstante sua real importância enquanto fenômeno social da sociedade contemporânea.

Em se tratando de Amazônia e Pará, a realidade do Brasil é aqui reproduzida. Na região, devido ao apelo ambiental que o nome Amazônia provoca no mundo, o turismo foi considerado atividade prioritária pelas políticas públicas nacionais e estaduais para se promover o desenvolvimento e a conservação dos recursos naturais da região.

A facilidade mercadológica do nome “Amazônia” – conhecida no mundo todo – também aparece como uma razão ímpar para o desenvolvimento do turismo.

Mas a principal razão é, sem dúvida, a possibilidade que a atividade tem de promover o desenvolvimento mais equilibrado, e em consonância com os limites suportáveis do meio ambiente, numa região problemática como é a Amazônia, com divisões de classe e disparidades econômicas enormes, aliadas aos danos ambientais de grandes projetos de desenvolvimento (FIGUEIREDO, 1999, p. 76).

As políticas de desenvolvimento para a Amazônia, até a década de oitenta, adotaram modelos para a região que acabaram por aumentar a desigualdade social, a exploração dos recursos orestais e o autoritarismo decisório. De um lado, teve-se o incremento em infraestrutura e aumento de investimentos do Governo Federal; de outro, populações tradicionais e o ambiente natural sofreram impactos irreversíveis (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2015).

Nesse contexto, o turismo ganha maior destaque na região, embora, desde a década de 70, já venha sendo apontado como uma possibilidade de desenvolvimento para a Amazônia, através do estabelecimento de políticas especí cas para reger suas ações.

Figueiredo e Nóbrega (2015) destacam que o turismo, enquanto atividade econômica, depende principalmente das políticas públicas e das articulações com o empresariado. Embora experiências de turismo alternativo e da participação de outros agentes já seja uma realidade na região, o que prevalece é o protagonismo de agentes públicos e de empresários.

Em 1995, na perspectiva do turismo, a Amazônia é priorizada nas políticas nacionais, com a estruturação do Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (Proecotur) (1996-2000). O turismo, com ênfase ao segmento ecoturístico, uma versão ambientalista da atividade, despontou como uma alternativa de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, sob a crença de que, se for bem planejado, é capaz de minimizar os impactos ambientais e promover a elevação da qualidade de vida da população local.

A partir de 2003, as ações governamentais demonstraram uma mudança em direção à inclusão social e à diminuição das desigualdades.

Essa mudança que, em parte, é resultado de pressões internacionais, levou à criação do Plano Amazônia Sustentável (2008), no qual a visão de desenvolvimento regional passou a ser pautada na sustentabilidade, embora, na prática, ainda esteja aquém do planejado, cuja sustentabilidade está mais no campo das intenções do que na concretude dos atos. No Plano Amazônia Sustentável de 2008, esse segmento do turismo se manteve como parte das políticas públicas para o setor.

POLÍTICA PÚBLICA E TURISMO NA ILHA DO MARAJÓ: REFLEXÕES SOBRE NOVAS FORMAS NECESSÁRIA S E POSSÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

No Estado do Pará, a partir de 1995, ocorre uma mudança no per l da economia, com a inclusão do turismo como componente da base produtiva do Estado, quando então a atividade obteve prioridade de investimentos em nível de Estado, que foram de ações de infraestrutura à superestrutura e ao marketing. Essa importância dada ao turismo deveu-se ao resultado de uma pesquisa realizada pelo Programa de Estudos e Pesquisa nos Vales Amazônicos (PROVAM/95), o qual identi cou que o Pará concentra cerca de 49% do potencial turístico da Amazônia, porém apresenta grande carência de equipamentos e serviços turísticos.

A partir do ano 2000, o estado do Pará volta a sofrer intervenções em seu território com ações de planos e programas voltados para o turismo.

Na atualidade, o Plano estratégico de turismo do Estado do Pará ‒ Plano Ver-o-Pará (2012-2020) estabelece as novas diretrizes da política pública de investimentos no setor de turismo e centra suas ações nos polos de desenvolvimento turístico.

No Estado, o desenvolvimento do turismo está concentrado, estrategicamente, em polos turísticos, sendo seis polos de turismo no Pará: Belém, Amazônia Atlântica, Xingu, Tapajós, Araguaia Tocantins e Marajó (PARATUR, 2009).

A de nição dos polos turísticos paraenses ocorreu a partir do zoneamento turístico realizado no Estado em 1990, sendo depois reformulados através da Resolução nº 001 /2009 (PARATUR, 2009).

Os polos turísticos con guram-se em áreas geográ cas prioritárias para o desenvolvimento das ações governamentais, que vão desde a instalação de infraestrutura básica à criação de estratégias de marketing, com o objetivo de alavancar o turismo regional.

Tais polos foram de nidos a partir de um conjunto de indicadores que consideraram, entre outros critérios, o apelo ambiental (com destaque aos atrativos naturais), a existência de uxos turísticos regulares e a existência de infraestrutura básica e turística. Em cada polo, baseados nesses critérios, foram de nidos os “núcleos indutores”, ou seja, os municípios com tais características.

Na verdade, a política de polos é nacional, baseada na teoria de polos de desenvolvimento de François Perroux, segundo a qual o

desenvolvimento não surge em toda parte e ao mesmo tempo, mas sim em pontos ou polos especí cos, e depois se espalha ao redor, sendo adotada por inúmeros governos e atividades econômicas, entre elas o turismo.

Embora replicada em todo o país, há inúmeras críticas à política de polos de turismo. Fernandes (2013) declara que a política de polos criou uma hiperestrati cação dos espaços litorâneos no Nordeste, com a transformação de territórios nobres e secundários. Suas ideias corroboram com as de Rodrigues (2006), de que a política de polos e de destinos indutores são exemplos típicos de territórios descontínuos reticulares e complexos, de caráter funcional e mercantil, que integram o turismo local, regional ao contexto do mercado global. Esse modelo implantado no Brasil, vinculado aos sistemas produtivos globais, produz uma valorização seletiva de lugares.

No Pará, a política de polos, ao mesmo tempo que prioriza certos lugares, acaba por invisibilizar outros, dotados de grande potencialidade turística, uma vez que, para estes, intervenções públicas de estruturação e promoção do turismo não ocorrem.

Nesse contexto, é oportuno sinalizar que em 2009, considerando o Programa Nacional de Regionalização do Turismo, ocorreu a adequação dos polos de turismo no país. No Pará, os seis polos turísticos adequaram-se às doze Regiões de Integração do Estado, incluindo todos os municípios dessas regiões (PARATUR, 2009). Porém, em termos práticos, pouca coisa já foi feita com vistas à democratização da promoção do turismo em todo o Estado.

4. TURISMO NO MARAJÓ: REFLETINDO SOBRE UM NOVO TURISMO NECESSÁRIO E