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Democratização e política externa cabo-verdiana

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 105-107)

“Com a posse do primeiro governo eleito democraticamente, o novo primeiro-ministro anunciou o programa do governo do partido vencedor e comunicou um pacote de reformas que seriam implementadas em todos os sectores – na economia, no campo social, na política – com vista a introduzir uma nova dinâmica na política cabo-verdiana”203

Com a democratização, deu-se: uma maior liberalização económica (foi sequenciado o processo de privatização204) em resultado das reformas económicas que permitiu uma maior inserção de Cabo Verde na Economia global, por exemplo, as negociações com as instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial; o início da descentralização política e administrativa através das autarquias locais e o maior envolvimento da sociedade civil nos assuntos públicos, contribui para uma maior democratização da política externa que dantes tudo uniformizava em torno de um partido; deu-se uma maior representação da diáspora nos assuntos públicos nacionais por via da sua representação no parlamento nacional (os círculos eleitorais da emigração); a assinatura do Acordo de Parceria Especial com a União Europeia, uma organização internacional onde os princípios como a democracia representativa e multipartidária são requisitos obrigatório para qualquer Estado que pretenda aderir ou ter uma parceria especial; por último, tem a ver com a entrada de Cabo Verde na OMC.

Neste período, ou seja, os primeiros dez anos, o novo partido eleito (MPD), que sustentou o governo, do ponto de vista da classificação dos partidos políticos, nunca se definiu como um partido ideológico (esquerda ou direita), emergiu como um partido de mudança e encontrou um terreno propício, uma vez que o eleitorado cabo-verdiano queria mesmo uma mudança. Do ponto de vista da sua estrutura, desde cedo se definiu claramente como um partido de quadro, se analisarmos com atenção o seu percurso

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ÈVORA, Roselma, Cabo Verde: a Abertura Política e a Transição para a Democracia, Praia, Spleen edições, 2004, p. 94

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ÈVORA, Roselma, Cabo Verde: A Abertura Política e a Transição para a Democracia, op. cit. p.121. O papel do Estado na Economia foi se reduzindo substancialmente e o sector privado passou a ser vista como a principal estratégia do desenvolvimento, foram criadas mecanismos legais para facilitar o processo da transição económica (Revisão Constitucional, Lei Nº 93/IV/93)

histórico e a sua característica: tendência para ser bastante personalizado, do ponto de vista da sua liderança; menos disciplinado do ponto de vista das regras internas.205

Esta falta de orientação ideológica do partido, esteve por detrás de alguns problemas, que de uma certa forma correu o risco de pôr em causa a credibilidade externa do país. O desentendimento entre alguns dirigentes máximos do partido em relação á opção política e governamental que devia ser seguido na altura. Enquanto Carlos Veiga defendia uma opção política e governamental mais voltada para questões económicas, nomeadamente as privatizações, economia de mercado, Eurico Monteiro, considerava que o partido estava a desviar do seu compromisso com as políticas sócias, isto mostrava claramente a falta da disciplina e orientação ideológica do partido, na qual resultou a primeira cisão que levou a criação de um novo partido (Partido Da Convergência Democrática), liderado por Eurico Monteiro. Mas tarde, já no ano de 2000, instalou-se mais uma crise no interior do MPD com mais uma cisão interna, que culminou com a criação de mais um partido na esfera política cabo-verdiana (Partido De Renovação Democrática). Por outro lado, constatou-se durante a governação do MPD, alguns momentos de tensão entre o partido e o Presidente da Republica, António Mascarenhas Monteiro.206 Todos estes factores, não só contribui de uma certa forma para denegrir um pouco a imagem de Cabo Verde no plano externo, também contribui para a derrota eleitoral do MPD em 2001 e o regresso do PAICV ao Poder, fechando deste modo o ciclo de transição política em Cabo Verde.207

Não obstante, durante os anos 90 o novo partido emergente (MPD) ter sido pouco ideológico, ao sustentar o governo, protagonizou um conjunto de reformas políticas e económicas mais à direita do ponto de vista ideológico, na questão das privatizações, liberalização económica que, ao fim ao cabo, correspondia à exigência da nova realidade política e económica internacional.

Neste momento, o actual partido que suporta o governo, que outrora foi um partido com matriz ideológica muito á esquerda, aparece como um partido da esquerda moderada, visível nas suas actuações nos domínios políticos e económicos, que de uma

205

DUVERGER, Maurice, Os Partidos Políticos, p. 100

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No fim do segundo Mandato do MPD, verificou a existência de dois Primeiro-Ministro (Carlos Veiga que tinha abandonado a função deixando como seu substituo Gualberto de Rosário), o que causou algum mal-estar entre as entidades acima supracitadas, por questões constitucionais.

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Na nossa análise consideramos, que o ciclo da transição política em Cabo Verde aconteceu em 2001 com o regresso do PAICV ao poder, veio reforçar e reconfirmar a tese de alternância de Poder. Deu-se uma nova transferência do poder, não num período como a de 90, que tratou das primeiras eleições multipartidárias em que a população queria mesmo a mudança, influenciadas por variadíssimas razões.

certa forma deram continuidades a um conjunto de opções políticas e económicas iniciadas pelo MPD, tanto no plano interno como no plano externo.

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 105-107)