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Relação entre política externa e desenvolvimento

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 31-34)

O processo do desenvolvimento é bastante complexo, ou seja, o desenvolvimento pode ser associado a vários factores, tais como: políticos, económicos, socioculturais, demográficos, etc. Mas estes factores podem ser de naturezas endógenas (interna) ou exógenas (externa).

No que tange aos factores internos é de relevar o potencial dos recursos naturais que um determinado Estado pode usufruir, desde que estes recursos sejam bem utilizados; já os factores externos podem ser a diplomacia externa de um Estado, quando esta é conduzida de uma forma eficaz e consistente, o impacto das remessas dos emigrantes na economia entre outros factores importantes.

No nosso caso em concreto vamo-nos centrar e problematizar qual é a relação entre a política externa e o desenvolvimento, como já acima afirmámos.

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Para uma maior compreensão da política externa chinesa ver: ROBINSON, Thomas W, David Shambaugh (editores), Chinese Foreign Policy: Theory and practice, Oxford: Oxford University Press, 2006. Esta obra tenta compreender ou descrever todo o pensamento estratégico chinês, nomeadamente a preocupação da China na redefinição da ordem internacional.

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Baseando no Indicador do Desenvolvimento Humano da PNUD, relativamente ao ano de 2009, destacam-se três grupos de países: grupos de desenvolvimento alto; grupos de desenvolvimento médio; grupos de desenvolvimento baixo. Os países da Escandinávia aparecem no primeiro grupo (A Noruega é a mais bem classificada, ocupando a primeira posição, a Suécia aparece no sétimo lugar, a Finlândia aparece no décimo segundo lugar, a Dinamarca aparece no décimo sexto lugar. Paradoxalmente, a China que economicamente é o país que mais cresce, aparece no grupo dos países com indicadores de desenvolvimento baixo (nonagésimo lugar). Salientamos que neste relatório a posição começa em 1 e termina em 182.

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Primeiro queremos deixar bem claro que a política externa é fundamental no processo do desenvolvimento, seja para Estados que dispõem de muitos recursos naturais como também para Estados em que a realidade é contrária. Isto tem uma particular importância no continente africano, em que deparam-se com duas realidades:

1º Estados que dispõem de muitos recursos naturais (matérias primas), mas enfrentam dificuldades em como transformá-los com vista ao desenvolvimento;

2º Estados que são pobres em matérias-primas.

Em ambos os casos, acima supracitados, a diplomacia externa pode colmatar estas dificuldades: no primeiro caso as parcerias internacionais nomeadamente na área educativa no sentido de formarem quadros e especialistas em mais diversas áreas com ênfase particular nos domínios das ciências e tecnologias, para poderem aproveitar e transformar as matérias-primas ali existentes; no segundo, devido a ausência de recursos naturais e matérias-primas, é insustentável se não houver uma boa política externa, nomeadamente as parcerias internacionais de forma a obter empréstimos junto das instituições internacionais e dos países desenvolvidos, de molde a atrair investimentos directos estrangeiros entre os outros domínios importantes da política externa.

O reforço da política externa para o desenvolvimento, têm que assentar numa maior abertura ao mundo de qualquer Estado, seja ao nível de um incremento das relações diplomáticas no plano bilateral com um maior número de Estados possível, seja a nível multilateral através de participação em grandes instituições internacionais e a aposta na integração económica regional, de forma a criarem grandes mercados regionais para fazer face aos problemas que os pequenos mercados nacionais costumam enfrentar a nível internacional.

De uma forma geral, a política externa só pode conduzir ao desenvolvimento, se ela for acompanhada de uma estratégia bem definida, sempre levando em conta os objectivos do desenvolvimento. É Precisamente por esta razão, que as relações externas constituem hoje o núcleo duro de qualquer governo impondo a necessidade de técnicos altamente especializadas e responsáveis políticos de inequívoca qualidade. Na realidade, não é só por um elenco governamental conseguir estas competências que por si só conduz ao desenvolvimento, antes é necessário saber definir e coordenar políticas integradas de forma consistente.

Por vezes os responsáveis das relações externas, são competentes na implementação das políticas externas, conseguindo aproximar vários parceiros externos, todavia não logram alcançar o desenvolvimento, porque se deixam contaminar pela corrupção. A realidade é que, muitos Estados dito subdesenvolvidos, conseguem contrair empréstimos internacionais, são financiados em determinados programas de ajudas ao desenvolvimento, e estas quantias nunca beneficiam as populações desfavorecidas, pelo contrário são desviados pelas elites governamentais, em benefícios pessoais e das suas famílias mais próximas, enquanto a maioria da população contínua vivendo na pobreza extrema.

Esta política externa corrompida, tem suscitado algumas críticas, tanto aos Estados beneficiadores, como também para os Estados e instituições internacionais financiadores. A principal crítica reside no facto destes financiadores terem o pleno conhecimento, no acto do financiamento da má gestão e desvio dos fundos dos sectores chaves para o desenvolvimento, mas nunca exigirem responsabilidades a estes Estados, por exemplo meio de prestação de contas.

É evidente que não se trata de uma questão generalizada, também é uma realidade de que muitos Estados sentem-se sancionados, quando tem um baixo índice de governação e de cumprimento dos seus compromissos internacionais. Isso faz-nos lembrar de uma conferência, realizada no Departamento de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa, onde o Conferencista era o Embaixador guineense, junto da CPLP, Apolinário Mendes de Carvalho, cujo assunto da conferência centrava- se nos acontecimentos dramáticos da Guiné-Bissau, que vitimaram mortalmente o então Presidente da Republica, João Bernardo Vieira e Chefe General das Forças Armadas, Tágmé Na Waié.27 O conferencista chegou a afirmar que o grande problema daquele país, é um abandono por parte dos parceiros internacionais28.

Para este caso concreto da Guiné-Bissau, está provado que a própria evolução do seu processo político, caracterizado por rupturas políticas, provocando instabilidades políticas e sociais e a má governação, acabaram por ditar uma imagem negativa condicionando os grandes investimentos directos estrangeiros e os apoios internacionais.

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Estes assassinatos aconteceram em 1 e 2 de Março de 2009 respectivamente

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Ver o texto da Conferência, Apolinário Mendes de Carvalho, O Desafio de Reconstrução do Estado na Guiné-Bissau. O Papel da CPLP, Lisboa, 16 de Março de 2009

Em suma, quando a política externa é bem conduzida, seguindo uma linha programática, contribui positivamente para o desenvolvimento, caso contrário, para além de não sortir qualquer efeito progressivo, pode aprofundar o nível de subdesenvolvimento de um país. A contracção excessiva de empréstimos internacionais, mal geridos, como é o caso referido, ou de difícil execução, tornaram complexa a condução da política externa, colocando em causa a ética e o rigor que lhes são indispensáveis.

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 31-34)