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3.3. As principais linhas desta política externa:

3.3.1.1. Portugal

Do ponto de vista da cooperação bilateral, Portugal têm concentrado os seus esforços nos PALOP. Trata-se de uma opção claramente marcada pelos laços históricos, culturais e linguísticos que ligam este país a aqueles países africanos.229 Para Norrie230 Macqueen, para além de laços históricos e culturais, também a localização geográfica, tornou desde inicio uma posição altamente pragmática nas ligações de Cabo Verde com a antiga metrópole.

Baseando no pressuposto acima supracitado, com a independência de Cabo Verde, Portugal sempre tentou preservar os seus laços culturais com este país traduzindo deste modo nas ajudas e cooperação técnica e cientifica nos vários domínios. De acordo com o artigo 15º do Protocolo de Lisboa se estabeleceu o compromisso de o Governo português com o futuro Estado de Cabo Verde acordos bilaterais de cooperação activa em todos os domínios.231Mostra-se que Portugal é um dos parceiros tradicionais de Cabo Verde.

228

Fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades

229

TRINDADE, Augusto José Pereira, Desenvolvimento Económico, Integração Regional e Ajuda Externa em África, Lisboa, ISCSP, 2006, p. 77

230

Norrie Macquen, The Descolonization of Portuguese Africa: metropolitan Revolution and Dissolution of Empire, London, Longman, 1997, pp. 231-232

231

GOUVEIA, Jorge Bacelar, Acordos de Cooperação entre Portugal e os Estados Africanos Lusófonos, Lisboa, Cooperação Portuguesa e Revista de Cooperação, 1998, p.195

As prioridades têm sido os domínios da valorização dos recursos humanos (sectores da educação da formação profissional e qualificação de quadros, e da capacitação institucional e assistências técnicas); Justiça (Formação de magistrados e médicos legais); Apoio á criação de infra-estruturas básicas, ordenamento do território e recuperação do património; comunicação Social; administração Interna; construção civil e obras públicas; Saúde;232 No domínio dos recursos humanos é de enaltecer que Portugal ainda hoje seja o principal país no que tange á formação e capacitação dos recursos humanos em Cabo Verde, se modo especial disponibilizando vagas e bolsas de estudos. Actualmente estima-se que cerca de 3900 estudantes cabo-verdianos se encontram matriculados nas universidades e institutos politécnicos portuguesas e cerca de quinhentos diplomaram-se no ano lectivo 2006/2007.233

Em relação ao número de bolsas de estudos disponibilizados aos estudantes dos PALOP´S, Timor leste e outros países, Cabo Verde tem recebido uma fatia maior.

Tabela 7 – Numero de bolseiros dos PALOP´S e Timor Leste financiada pelo IPAD no ano lectivo 2007/2008

Países Cabo Verde Moçambique Guine – Bissau S. Tomé e Príncipe

Timor Outros Total

Nº de Bolsas 101 91 82 49 25 18 366

Fonte: IPAD

Para além do IPAD, existem fundações em Portugal que disponibilizam bolsas de estudo para os estudantes dos PALOP´S e Timor Leste como a Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Millenium BCP, Fundação Cidade de Lisboa, sendo que a quase totalidade destes estudantes frequentam estabelecimentos de ensino superior público sob a gestão do governo Português.

Com vista a uma nova estratégia de desenvolvimento tem-se assistido à redução do número de bolsas de licenciatura em detrimento da concentração destas bolsas nos cursos de Pós Graduação (mestrados e doutoramentos), onde cada uma destas instituições tem a sua própria política de atribuição de bolsas.

232

Ministério dos Negócios Estrangeiros, Comunidades e Cooperação, Direcção – Geral da Cooperação Internacional, Cooperação Governamental, p. 13

233

No caso do IPAD, a pré -selecção dos candidatos é deixada à responsabilidades dos países de origem.

A Fundação Calouste Gulbenkian todos os anos têm consultores externos que fazem a pré-selecção dos candidatos, e um dos principais requisitos exigidos ao candidato é que o mesmo se encontram integrado profissionalmente no seu país de origem ou num outro Estado dos PALOP´S e Timor-leste. O principal objectivo é capacitação dos recursos humanos destes países seja para a administração pública, as empresas locais ou para o exercício da docência e da investigação. Tal como têm vindo a acontecer com o IPAD, os dados do 2008 mostra que os estudantes cabo-verdianos continuam a beneficiar de uma maior fatia destas bolsas.

Tabela 8 – Numero de Bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian destinadas às ajudas ao desenvolvimento (2008) Países Cabo Verde Moçambique Guine – Bissau Angola S. Tomé e Príncipe

Timor Outros Total

Nº de Bolsas 29 4 16 19 22 9 3 102

Fonte: Fundação Calouste Gulbenkian

Já a Fundação Millenium BCP234 e a Fundação Cidade de Lisboa definiram algumas áreas que consideram ser prioritárias para o desenvolvimento na qual destinam as bolsas.

No caso de Cabo Verde, acontece ainda que, com vista a capacitação dos recursos humanos, todos os anos parte para Portugal um número razoável de licenciados com vínculo laboral para fazerem mestrados e doutoramentos sem bolsas de estudo, mas que continuam a receber os seus salários normalmente.

Mediante a cooperação bilateral entre o Governo da Republica de Cabo Verde e o Governo da Republica Portuguesa, esta última tem comparticipado na capacitação dos recursos humanos do primeiro por outras vias. Os estudantes cabo-verdianos, que ingressam nas universidades portuguesas e institutos politécnicos no regime de acesso especial235, uns suportam todos os suas despesas durante o curso (estudantes por conta

234

Engenharias, Medicina, Ciências, Direito, Economia e Gestão

235

Neste regime de acesso, os estudantes são dispensados das provas de acesso ao ensino superior, onde os critérios de selecção para o preenchimento de vagas, são: a classificação final do terceiro ciclo do ensino secundário e as disciplinas nucleares exigidas pelas faculdades e institutos politécnicos.

própria) e aqueles que são contemplados com uma bolsa do governo de Cabo Verde, as propinas são pagas pelo governo português236.

Também o Governo Português tem comparticipado no sector da educação em Cabo Verde através das bolsas internas, neste caso no contexto dos PALOP´S Timor Leste e outros países, Cabo Verde costuma beneficiar de uma fatia menor.

Tabela 9 – Formação nos PALOP’s (Bolsas internas) financiada pelo IPAD – 2007/2008

Países Cabo Verde Moçambique Guine – Bissau Angola S. Tomé e Príncipe Timor Total Nº de Bolsas 20 40 60 40 60 40 102 Fonte: IPAD

É de ressalvar ainda outros aspectos vantajosos da cooperação lusocabo-verdiana para o Desenvolvimento. É o país da Europa com o maior número de comunidades cabo-verdianas237 e que mais enviam remessas para Cabo Verde, por outro lado, Portugal figura na lista dos maiores doadores das ajudas ao desenvolvimento para Cabo Verde. Não podemos ainda esquecer o papel de Portugal enquanto país membro da União Europeia do seu contributo no âmbito da parceria especial Cabo Verde/ União Europeia.

Tabela 10 – Ajudas ao desenvolvimento que Portugal concedeu a Cabo Verde entre 2000 e 2007 (valor em Euros). 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 26.760.043 25.720.656 11.554.374 35.611.370 24.498.876 36.498.873 37.688.021 31.921.277 Fonte: IPAD 236

No ano lectivo de 2009/2010, o Governo de Cabo Verde atribui cerca de 53 bolsas de estudo para cursos de licenciatura em Portugal. É um número bastante reduzido comparando com anos anteriores em que centena de alunos eram contemplados com uma bolsa de estudo para frequentarem cursos de licenciatura em Portugal. Esta redução se deve á criação e consolidação de estabelecimentos de ensinos superiores no país, onde o próprio governo recusa a atribuir bolsas de estudos para cursos que são ministrados em Cabo Verde (Relativamente esses dados, constam na Direcção de Formação e Qualificação de Quadros).

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Os dados provisórios da SEF referente ao ano de 2008, diz -nos que radicavam em Portugal 51353 cabo-verdianos, a frente de Cabo Verde, se encontrava a Comunidade Brasileira com 106961 (a maior comunidade estrangeira), a comunidade ucraniana com 52494 (a segunda maior comunidade). Se bem que estes dados levantam algumas dúvidas nomeadamente em relação a diáspora cabo-verdiana neste país, isto porque com a nova lei da nacionalidade portuguesa muitos cabo-verdianos adquiriram, muitos se encontram em situação irregular por isso não constam nas estatísticas do SEF.

Não podemos deixar de frisar o Acordo de Cooperação Cambial entre Portugal e Cabo Verde, assinado a 13 de Março de 1998. Este acordo assenta-se nos seguintes objectivos:

“1-Aprofundar os laços económicos entre Portugal e Cabo Verde, nomeadamente em termos de comércio e investimento bilaterais;

2- Assegurar condições favoráveis à prossecução das reformas estruturais em curso em Cabo Verde, tendentes ao ajustamento, à abertura e à modernização da respectiva economia;”238

“3- Estabilizar as relações cambiais entre os dois países como condição para o sucesso dos dois objectivos anteriores.”239

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 115-119)