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Financiamento dos parceiros internacionais e o investimento público

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 139-142)

3.4. A política externa associada ao desenvolvimento e a cooperação internacional

3.4.1. Financiamento dos parceiros internacionais e o investimento público

“Os recursos externos constituem um suplemento aos fundos domésticos, permitindo aos países investir mais do que poderiam se apenas contassem com as poupanças nacionais, e facilitando, desta forma, o aumento do bem- estar e do crescimento económico”284

Neste ponto, primeiro vamos fazer uma desconstrução teórica, partindo da análise anterior sobre a problemática do desenvolvimento no continente africano.

Dissemos naquele capítulo do enquadramento conceptual, que em África de uma forma geral, não se encontram reunidas as condições elementares para a condução de uma boa política externa, condições reais que se resumem, à boa governação, respeito pelos direitos humanos, promoção da paz, estabilidade e desenvolvimento.

No caso de Cabo Verde, o distanciamento em relação á realidade africana é grande. Para além da edificação e consolidação das instituições políticas e democráticas, baseado no primado da separação dos poderes,285 na consolidação da democracia

283

Caixa Geral de Depósitos, Cabo Verde: Dez Ilhas, Um País, Cinco Continentes, p. 58

284

QUERIDO, Chyanda M, Estabilização Macroeconómica e Financiamento Do Desenvolvimento Em Cabo Verde, Lisboa, IPAD e Centro de Documentação e Informação, 2005, p. 171

285

MONTESQUIEU, De l´ esprit des lois I, Paris, Garnier Flamarion, 1979, p.131. Para este autour, um dos expoentes da Ciência Política, a separação dos poderes é fundamental na garantia da liberdade política dos cidadãos, uma vez que evita a elaboração de leis despóticas, que ao fim ao cabo, é uma forma

representativa e multipartidária, proporcionando um ambiente de estabilidade política e social, também assenta na boa governação mormente á gestão dos fundos públicos, acresce o esforço na garantia da estabilidade macroeconómica. Citando Norberto Bobbio: “O primeiro bom governo é aquele do governante que exerce o poder em conformidade com as leis pré-estabelecidas e, inversamente mau governo é o governo daquele que exerce o poder sem respeitar outra lei excepto aquele dos seus próprios caprichos. O segundo bom governo é aquele do governante que se vale do próprio poder para perseguir o bem comum, mau governo é o governo daquele que se vale do poder para perseguir o bem próprio.”286 Baseando nesta concepção do bom governo e do mau governo, formulado pelo autor aqui citado, sem qualquer juízo de valor, podemos dizer que a maioria dos Estados africanos, têm tido maus governos, já contrariamente, Cabo Verde, tem-se pactuado com boas práticas governativas.

Em relação à questão da boa governação, mas no sentido económico, tem a ver com os financiamentos internacionais e a sua canalização no investimento público. É elucidativo o exemplo do programa Millennium Challenge Account, gerido pela agência Millennium Challenge Corporation, que Cabo Verde vem beneficiando desde 2005. Em resultado de uma boa gestão deste pacto, por parte do governo de Cabo Verde, em 2009 foi contemplado com mais um pacto, tornando-se no primeiro país africano a beneficiar por duas vezes consecutivas do referido pacto.

Na verdade, o investimento público do governo de Cabo Verde, têm se alargado a diferentes sectores: construção das infra-estruturas rodoviárias (construção de estradas e asfaltamento dos principais anéis rodoviários do pais, construção dos aeroportos, a construção de uma barragem na ilha de Santiago, já existindo projecto para a construção de mais barragens nacionais); construção de escolas, hospitais, etc. A construção destas infra-estruturas visa cumprir um dos mais relevantes desideratos, a modernização e a competitividade económica do país.

Os índices de governação em Cabo Verde têm tido uma avaliação internacional positiva, o que valeu a sua saída do grupo dos países menos avançados, para o dos

de limitação do poder político em detrimento da garantia dos direitos dos cidadãos, o que caracteriza a verdadeira essência de um Estado Constitucional. Isso para dizer que quando se fala da boa governação em Cabo Verde, não se refere exclusivamente ao desempenho económico, mas também a organização e o funcionamento das diversas instituições publicas, nomeadamente a eficácia dos órgãos da soberania.

286

Norberto Bobbio (organizado por: Michelangelo Bovero), Teoria Geral da Política: A Filosofia Política e as lições dos clássicos, Rio de Janeiro, Elsevier, Campus, 2000, p.207

países do desenvolvimento médio.287 Esta avaliação internacional positiva em relação ao desenvolvimento político, económico e social, constitui um dos grandes desafios de Cabo Verde, por exemplo, evitar que haja uma redução das ajudas externas ao desenvolvimento. Neste caso, a diplomacia externa de Cabo Verde, deverá continuar a actuar juntos dos seus parceiros externos para o desenvolvimento, para que não venha a acontecer esta redução das ajudas externas ao desenvolvimento, uma vez que o país não se encontra devidamente preparado para levar a cabo o desenvolvimento com os escassos recursos endógenos.

Havendo redução das ajudas externas, tendência é para o aumento dos empréstimos internacionais, por conseguinte a divida externa aumentará. Porém, é necessário enaltecer, que a graduação de Cabo Verde para o grupo dos países de desenvolvimento médio, veio reforçar a sua credibilidade externa e que terá repercussões positivas em outros aspectos, tais como a atracão dos investimentos externos, desenvolvimento do turismo, bem como um certo prestigio em alguns fóruns internacionais.

Não obstante o aval positivo do investimento público em Cabo Verde, derivado da formulação e implementação de boas políticas públicas, continuamos a insistir na necessidade de uma maior descentralização deste investimento público, ou seja, não centralizar-se nos principais centros urbanos.

287

Os dados internacionais, que nos ajudam a compreender a governação em Cabo Verde: Relatório da PNUD (2007); Relatório do Banco Mundial 2009; Relatório da Fundação Mo Ibrahim (2008). Estes são os mais elucidativos.

3.4.2. Cooperações internacionais no domínio da educação: relevância da

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 139-142)