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O Sistema das Nações Unidas

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 129-131)

3.3. As principais linhas desta política externa:

3.3.6. O Sistema das Nações Unidas

O Sistema das Nações Unidas, também constitui uma prioridade estratégica na política externa cabo-verdiana. O governo de Cabo verde tem apostado fortemente na cooperação com o Sistema das Nações Unidas e tem correspondido os propósitos da Organização das Nações Unidas, no que tange a boa governação, respeito pelos direitos humanos, desenvolvimento do Capital Humano, protecção social, democracia, paz e desenvolvimento.

Ao contrário da União Europeia, que também é defensor dos mesmos princípios acima supracitados mas por ser uma organização de integração de carácter regional, a sua actuação fora do seu espaço comunitário é definida no âmbito da sua política externa transatlântica, a Organização das Nações Unidas é uma Organização Universal com mais variadíssimos fins a nível global. A nível da sua arquitectura institucional: Conselho de Segurança (o seu papel em assegurar a paz, prevenção, gestão e resolução dos conflitos), o Tribunal Internacional de Justiça, o Conselho Económico e Social, a Assembleia-geral (na qual faz parte praticamente todos os Estados soberanos). O Secretariado (que incube de levar a cabo os actos a nível administrativo); a nível de acção, também executa os seus fins universais através dos seus órgãos especializados: FAO UNICEF, PNUD, OMS, etc.

Cabo Verde não se enquadra no grupo dos países, que têm sido um verdadeiro problema difícil de equacionar por parte da Organização das Nações Unidas, se levarmos em conta um conjunto de países que tiveram e outros continuam a ter problemas internos complicados, no que concerne, à construção do Estado Nação e por conseguinte, à estabilidade do sistema político constitucional, à problemática do cumprimento dos direitos humanos, da corrupção, e nunca ter sido apontado como um factor de instabilidade regional.261

Em matéria dos direitos humanos em Cabo Verde, recentemente foi divulgada pela Embaixada de Estados Unidos na cidade da Praia um relatório anual sobre a

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É de salientar, que muitos dos conflitos que assolaram as várias regiões o globo nos séculos XX e XXI, ainda constam casos difíceis de equacionar, não são apenas conflitos internos de um determinado Estado, muitos dos conflitos tiveram proporções maiores no sentido de que envolveram mais de que um Estado. As disputas pelos territórios fronteiriços, as disputas pelos recursos energéticos como o petróleo, as violações das soberanias nacionais de um Estado em relação ao Outro Estado. O problema de Cabo verde, que a memória chegou a Organização das Nações, foi no período colonial, no período de Luta de Libertação Nacional, nem se quer foi desenvolvido no território cabo-verdiano, mas sim no território guineense, onde a responsabilidade dos incidentes, foi claramente atribuído a Portugal.

matéria, evidenciando algumas falhas no que tange ao seu cumprimento: “ O Governo respeitou os direitos humanos dos seus cidadãos em geral. Contudo, houve denúncias de problemas em algumas áreas: abusos dos detidos pela polícia, impunidade da polícia, más condições nas prisões, longo período de prisão preventiva, atrasos sucessivos nos julgamentos, violência e descriminação contra as mulheres, maus-tratos infantis e alguns casos de trabalho infantil.”262 Em relação a este relatório, a nossa análise crítica vai no sentido de que muito ainda precisa de ser feito em matéria de cumprimento dos direitos humanos, embora, continuemos ainda a reiterar que a problemática da violação dos direitos humanos, não têm e nunca teve uma agravada dimensão. Todavia, há que ter em conta alguns aspectos, nomeadamente a actuação das autoridades polícias como vem descrito no Relatório acima citado.

O Estado na concepção weberiana, têm o monopólio do uso da violência, mas deve ser disciplinado pelo direito (Poder Legal), o que Weber pretende dizer, é que o Estado deve ter este monopólio do uso da violência, como forma de garantir a ordem, ou seja, o poder “ legal”, que radica na validade do estatuto das leis e da “competência” dimanada de normas racionalmente criadas, apelando para a obediência às suas exigências.”263 Neste caso concreto de Cabo Verde, é necessário capacitar e disciplinar melhor as autoridades policias no exercício das suas funções, por forma a dar continuidade ao normal funcionamento do Estado do Direito Democrático, sem sobressaltos.

A violência contra as mulheres, concretamente a violência doméstica (também referenciado no Relatório acima citado), também constitui um problema em Cabo verde, embora não possamos ignorar os avanços qualitativos e quantitativos no que tange a progressão da mulher na sociedade cabo-verdiana, por exemplo, é um dos poucos países do mundo, com paridade no número de mulheres e homens no governo.264

Baseada no pressuposto, de que o progresso económico e social garante uma maior estabilidade política e social, a ONU, desde cedo, tem se actuado nas ajudas aos

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Embaixada dos Estados Unidos de América, Direitos Humanos em Cabo Verde (Relatório Anual). Praia, 2009, p.1

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WEBER, Max, Três Tipos de Poder e Outros Escritos, Lisboa, Tribuna da História, 2005, p. 10 e pp.19 – 22; WEBER, MAX, Economy And Society: An Outline of Interpretative Sociology, Berkeley, University of California Press, 2º vol, 1978, pp. 941 – 954; CAETANO, Marcello, Curso de Ciência Política e Direito Constitucional: Introdução, Experiências Constitucionais Estrangeiras, Teoria Geral do Estado, Coimbra, Coimbra Editora Limitada, 3ª edição, Vol. I, 1959, p. 216

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Essa paridade é ao nível do Governo, há outras esferas em que a participação das mulheres é bastante incipiente, por exemplo a nível do Parlamento. Para maior aprofundamento, MONTEIRO, Euridice Furtado, Mulheres, Democracia e Desafios Pós Coloniais: uma Análise da Participação Política das Mulheres em Cabo Verde, Coimbra, Faculdade de Economia, Dissertação de Mestrado, 20007, p. 122

países em vias de desenvolvimento. Estas ajudas desenvolvem-se em três vectores fundamentais: a ajuda financeira, a ajuda alimentar e a ajuda técnica.

A ajuda financeira é levada a cabo por duas instituições financeiras: o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Ambas as instituições, estabelecem um conjunto de regras e condicionalismos na concessão das ajudas ao desenvolvimento, sendo uma delas, a boa governação. Falando no nosso caso de estudo, Cabo Verde têm tido referencias positivas junto destas instituições em matéria da boa governação e desenvolvimento, dando deste modo passos concretos e visíveis na inserção no sistema económico e internacional, na qual a FMI e o Banco Mundial são os principais protagonistas.

Em relação à ajuda alimentar, a ONU desempenhou um papel importante na viabilização do Estado Nação cabo-verdiana com a independência alcançada em 1975. Na altura duvidava-se muito de viabilidade de Cabo Verde em conseguir superar as dificuldades nomeadamente a falta de alimentos e o problema da seca. Neste período a política externa cabo-verdiana, assentava principalmente em capitar os recursos alimentícios, no que contou com o apoio da ONU.

A ajuda técnica levou a ONU a criar um número razoável de instituições especializadas, com fins diversos.

3.3.7. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO)

Analisando, a política externa cabo-verdiana no plano multilateral, não menos importante, é a relação de Cabo Verde e a NATO. Sendo a segurança, um factor estruturante para a paz e o desenvolvimento, por outro lado, levando em conta a caracterização de Cabo Verde em torno do seu regime político, vêm se levantando algumas especulações de uma eventual entrada de Cabo Verde nesta organização internacional ocidental de carácter securritária. Na nossa análise, Cabo Verde dificilmente optará por uma entrada na NATO, por uma questão estratégica. Isto porque, põe em causa a sua própria política externa pragmática e marcadamente desenvolvimentista, o principal problema vai se repercutir nas suas relações diplomáticas e cooperação com a China, uma potência revisionista, discordante do actual funcionamento do Sistema Internacional.

No documento O CASO PARADIGMÁTICO DE CABO VERDE (páginas 129-131)