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A DENGUE E SUA INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA DA SOCIEDADE

Cabe ressaltar que os problemas sociais relacionados ao acesso adequado a água potável e saneamento básico ainda afetam uma parcela da população brasileira que vive marginalizada frente as políticas de saúde pública, diante disso observamos que esses fatores interferem na qualidade de vida das pessoas, considerando que são determinantes para a erradicação do mosquito Aedes aegypti e para impedir a transmissão do vírus da Dengue (ABRASCO, 2016).

Quando pensamos em qualidade de vida, é inevitável não refletir sobre as condições de acesso à saúde pública. A dengue interfere na qualidade de vida, entretanto é necessário se pensar em um planejamento estratégico na esfera da saúde para minimizar os efeitos dessa doença na vida das pessoas. Diante disso, os programas de prevenção e controle da dengue emergem no cenário brasileiro, mas podemos observar que é preciso avançar no que tange aos aspectos socioambientais.

O consumo exacerbado da sociedade gera o acúmulo de lixo e consequentemente o descarte de recipientes e materiais como pneus, vasilhames e latas podem acabar servindo de reservatório para o ciclo de vida do Aedes aegypti.

Da mesma forma, como o acúmulo de lixo é incompatível com a vida, seu depósito em áreas peridomiciliares leva ao acúmulo de recipientes que servem de reservatórios do vetor, particularmente nos meses chuvosos do ano (CLARO et al. 2004, p. 1448).

Segundo Tauil et al (2001, p. 100), o sistema produtivo industrial moderno, que produz uma grande quantidade de recipientes descartáveis, entre plásticos, latas e outros materiais, cujo destino inadequado, abandonados em quintais, ao longo das vias públicas, nas praias e em terrenos baldios, também contribui para a proliferação do inseto transmissor do dengue.

Desta forma, o controle da dengue e o desenvolvimento de propostas que promovam qualidade de vida, são pontos cruciais que necessitam estar vinculados à educação ambiental considerando uma visão holística desde os processos das cadeias produtivas do lixo até o descarte.

A educação ambiental é uma proposta que associada com medidas de prevenção e controle da dengue surge como uma estratégia para trazer qualidade de vida à população, podendo apontar novas perspectivas em relação ao combate à dengue. Nesse contexto, observa-se que ações pontuais necessitam ser planejadas pelos órgãos competentes para conscientizar a sociedade sobre a tríade: Educação ambiental – Prevenção e controle da dengue – Qualidade de vida.

De acordo com a Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental conceitua educação

ambiental e aponta possibilidades de abordagens no processo educativo formal e não- formal.

Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o

indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da

educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999).

Quando pensamos nas alternativas que a sociedade pode ter para o enfrentamento da dengue, devemos refletir sobre: Quais as formas de abordagens para a sensibilização das pessoas frente aos desafios no combate à dengue?

Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental ações na esfera da educação ambiental não-formal podem contribuir para a articulação do Poder Público e das instâncias que promovem a saúde pública na sociedade, considerando que na Lei Nº 9.795/1999 trata sobre a educação ambiental não-formal em seu Art. 13, conforme podemos observar:

Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente (BRASIL, 1999).

Desse modo, torna-se necessário apontar caminhos para a população repensar sobre hábitos cotidianos e readequar suas atitudes para manter a qualidade de vida frente a prevenção da dengue, entretanto no estudo de Mendonça et al. (2009, p.258) podemos perceber que ainda a relação entre mosquito Aedes aegypti e a transmissão das doenças surge como o estopim no combate à dengue e também a busca pela qualidade de vida das populações.

À relação entre os mosquitos e a transmissão de doenças, travou-se um intenso combate na busca da melhoria da qualidade de vida das populações, que perpassaram pelas condições de planejamento urbano, valorização do saneamento básico, da higiene e da saúde pública, que resultou na conseqüente Reforma Sanitária, no contexto brasileiro. Embora tenham sido realizados esforços na busca da erradicação das doenças transmissíveis com base no controle de seus vetores observa-se, na atualidade, a reincidência de algumas infecções causadas pelos mosquitos Aedes aegypti transmissores de dengue, malária e febre amarela, principalmente a partir dos anos setenta em diversas regiões do globo (MENDONÇA et al., 2009, p. 258).

Diante disso, o controle da dengue perpassa vários cenários e também nos remete que essa doença se propaga rapidamente no Brasil e regiões tropicais do mundo, Gubler (2011), argumenta que há fatores condicionantes que contribuíram para o surgimento da dengue, dentre esses fatores destaca que:

Os principais condicionantes do aumento da incidência e propagação da dengue atualmente: 1) falta de um controle eficaz do mosquito; 2) mudança no estilo de vida da população; 3) processo de urbanização sem planejamento; 4) globalização. Esses condicionantes, isoladamente ou em conjunto, podem influenciar a chance de ocorrência de epidemias de dengue em determinadas regiões. (GUBLER, 2011).

Para o desenvolvimento de políticas de controle da dengue devem considerar todos os fatores elencados por Gubler (2011) e quando pensamos em qualidade de vida precisamos definir de que maneira podemos atuar com medidas de prevenção dessa doença.

O Ministério da Saúde por meio do Programa Nacional de Controle a Dengue (PNCD) busca intensificar um conjunto de ações para enfrentar as epidemias de dengue e reduzir seus impactos no cotidiano das pessoas.

O documento em questão orienta os gestores para adequação dos seus planos estaduais, regionais, metropolitanos ou locais e recomenda que as ações para prevenção e controle não devam estar restritas somente à área da saúde. Outros campos de conhecimentos, tais como educação, comunicação e informação devem buscar compartilhar conhecimento e ações de modo a enfrentar esse problema multifacetado (FLISH, 2017, p.34).

Dessa forma, ressalto nesse documento o componente das ações integradas de educação em saúde, comunicação e mobilização social que tem os seguintes objetivos:

(...) fomentar o desenvolvimento de ações educativas para a mudança de comportamento e a adoção de práticas para a manutenção do ambiente domiciliar preservado da infestação por Aedes aegypti, observadas a sazonalidade da doença e as realidades locais quanto aos principais criadouros. A comunicação social terá como objetivo divulgar e informar sobre ações de educação em saúde e mobilização social para mudança de comportamento e de hábitos da população, buscando evitar a presença e a reprodução do Aedes aegypti nos domicílios, por meio da utilização dos recursos disponíveis na mídia (BRASIL, 2002).

As estratégias de educação em saúde surgem como um “nicho pedagógico” a ser explorado para podermos avançar na conscientização das pessoas, considerando os diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino. Desse modo, a articulação entre os setores de saúde e educação proporciona a definição de ações para o enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti a partir do contexto epidemiológico de cada território.

Na educação em saúde no âmbito escolar, é possível integrar a escola e comunidade escolar em campanhas preventivas e de controle da dengue, pois é um tema que diariamente as pessoas vivenciam e esse conhecimento precisa sair da sala de aula promovendo mudanças no estilo de vida das pessoas e consequentemente transformando a sociedade.

Na perspectiva da interdisciplinaridade, os currículos escolares podem explorar e contribuir para a construção de propostas pedagógicas que colaborem com a qualidade de

vida das pessoas, em especial na prevenção e controle da dengue. Conforme Fazenda (2002, p. 48):

A interdisciplinaridade visa à recuperação da unidade humana através da passagem de uma subjetividade para uma intersubjetividade e assim sendo, recupera a ideia primeira de Cultura (formação do homem total), o papel da escola (formação do homem inserido em sua realidade) e o papel do homem (agente das mudanças no mundo) (FAZENDA, 2002, p. 48).

Na concepção de Fazenda (2002), podemos destacar que a interdisciplinaridade traz elementos para percebermos que os conhecimentos científicos estão interligados entre si e a sua não fragmentação pode despertar novas visões sobre a popularização da ciência nos espaços não formativos atuando na conscientização das pessoas frente as medidas preventivas da dengue.

O papel da escola na formação para a cidadania e também no desenvolvimento pleno e integral do aluno permite que as dimensões humanísticas sejam trabalhadas intensificando os olhares para a realidade em seu entorno.

No estudo de Hartmann e Zimmermann (2007), as autoras ressaltam que é necessário que as pessoas consigam pensar com criticidade sobre a realidade para poder estabelecer relações com o conhecimento científico oriundo da escola. Nesse contexto as pesquisadoras destacam que:

Nesse contexto, cresce a responsabilidade dos educadores em promover um ensino organicamente integrado, para que os estudantes adquiram as habilidades de investigar, compreender, comunicar e, principalmente, relacionar o que aprendem a partir do seu contexto social e cultural. Nessa perspectiva, a interdisciplinaridade é inserida como um dos princípios norteadores das atividades pedagógicas na Educação Básica. (HARTMANN E ZIMMERMANN, 2007).

Por fim, interdisciplinaridade pode ser uma ferramenta pedagógica para fomentar propostas de ensino e aprendizagem globais e com viés na intersetorialidade na saúde e educação, pois quando se pensa em planejar ações para combater a dengue a educação em saúde precisa dessa articulação para atingir resultados positivos em relação a qualidade de vida das pessoas.

Referências

ABRASCO. H. L. Melhoramento dos serviços de água e saneamento é a resposta ao

Zika vírus. ABRASCO. Disponível em: <http://www.abrasco.org.br/site/noticias/ecologia-

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD). Brasília: FUNASA; 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.

Departamento de Vigilância Epidemiológica. Diretrizes Nacionais para o Controle de

Epidemias de Dengue. Brasília, 2009.

BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei 9795/99. Brasília, 1999.

CLARO, L. B. L. et al., Prevenção e controle do dengue: uma revisão de estudos sobre conhecimentos, crenças e práticas da população, Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(6):1447-1457, nov-dez, 2004.

FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia? 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

FLISCH, T. M. P. Intersetorialidade, Educação em Saúde e Dengue: Múltiplos

Olhares do Setor Saúde e do Setor Educação / Tácia Maria Pereira Flisch. – Belo

Horizonte, 2017.

GUBLER, D. J. Dengue, urbanization and globalization: the unholy trinity of the 21 st century. Tropical Medicine and Health, v. 39 (4 sumpl): p. 3-11, dezembro de 2011. HARTMANN, A. M.; ZIMMERMANN, E. O trabalho interdisciplinar no ensino médio: a reaproximação das “duas culturas”. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em

Ciências, v. 7, n. 2, 2007.

MENDONÇA, F. A.; SOUZA, A. V.; DUTRA, D. A. Saúde pública, urbanização e dengue no Brasil, Sociedade & Natureza, vol. 21, núm. 3, dezembro, 2009, pp. 257-269

TAUIL, P. L., Urbanização e ecologia do dengue, Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(Suplemento):99-102,

Taiane Acunha Escobar Albert Severo Munhoz João Victor Silveira Verçosa

Raul Calixto Gonçalves Rafaela Fan Borges Allysson Henrique Souza Feiffer Marlise Grecco de Souza Silveira Fernando Icaro Jorge Cunha Jeferson Rosa Soares

A dengue é uma doença que ultrapassou as fronteiras continentais, o vetor é oriundo do Egito e espalhou-se pelo mundo através das grandes navegações que ocorreram na idade moderna. Chegou ao Brasil trazido pelos navios que faziam o transporte dos escravos do continente africano para o sul-americano. As condições climáticas encontradas no continente americano foram cruciais para a proliferação do mosquito, pois o mesmo necessita de ambientes quentes, úmidos e chuvosos.

Sabe-se que a reprodução da doença está intimamente relacionada com os determinantes de ordem socioeconômica. A dengue pode ser considerada um subproduto da urbanização acelerada e sem planejamento, característica dos centros urbanos de países em desenvolvimento (MACIEL et al., 2008). O fato de não haver planejamento habitacional ocasionou aglomerados populacionais, e conforme as populações iam sendo amontoadas, sem haver preocupações com tratamento de água e de coleta de dejetos, esses locais tornaram-se propícios para o acúmulo dos vetores da dengue. Outros determinantes da doença são as migrações, viagens aéreas, deterioração dos sistemas de saúde, inexistência de vacina ou tratamento etiológico, grande fluxo populacional entre localidades e altos índices pluviométricos e de infestação pelo vetor (MACIEL et al., 2008).

Embora esses determinantes relacionados com o aumento da doença já sejam conhecidos, os índices de transmissão têm aumentado a cada ano no país, mesmo mediante a implementação das ações do Plano de Erradicação do Aedes aegypti (PEAa) e posteriormente do Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD). Portanto, um

Capítulo 06