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DENUNCIADOS: PAULO CESAR MELO DE SÁ, ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO, FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO, JOSÉ CARLOS

LAVOURAS, JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS.

CAPITULAÇÃO: ARTIGOS 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

O denunciado PAULO CESAR MELO DE SÁ solicitou e recebeu dos empresários ligados à FETRANSPOR, indevida vantagem econômica como contrapartida aos atos funcionais praticados com desvio de finalidade ou com a omissão do dever funcional decorrente do cargo de deputado estadual.

Valendo-se de período em que exerceu a presidência da assembleia legislativa do rio de janeiro e da proximidade com o ex-governador SÉRGIO CABRAL, PAULO MELO pactuou com os denunciados JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA, o pagamento reiterado de verbas desviadas das

passagens de ônibus, arrecadadas em espécie pelas empresas do setor de transporte coletivo do estado, para o pagamento de propina a diversos agentes públicos.

Dessa forma, no período compreendido entre agosto de 2010 a fevereiro de 2015, em vinte e cinco ocasiões distintas, PAULO MELO recebeu ao menos R$ 54.305,000,00 (cinquenta e quatro milhões, trezentos e cinco mil reais). Desse total, pelo menos R$ 15.680.000,00 advieram do próprio ex-governado SÉRGIO CABRAL. O restante dos pagamentos se deram por ordem de JOSÉ CARLOS LAVOURAS e dos demais representantes da FETRANSPOR ora denunciados.

Os ajustes ocorreram entre PAULO MELO e JOSÉ CARLOS LAVOURAS, que agia em nome de JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA, os quais não só concordaram com a avença, como contribuíram financeiramente para honrá-la. Beneficiaram-se, por conseguinte, dos atos de ofício praticados pela ALERJ com o auxílio determinante do deputado estadual ora denunciado.

Nesse acerto os empresários comprometeram-se a dispor de valores em espécie em favor de PAULO MELO, em troca de benefícios variados que estivessem ao alcance do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Para alimentar essa rotina de pagamentos, incluindo a arrecadação dos valores e os respectivos registros contábeis, JOSÉ CARLOS LAVOURAS contratou o hoje colaborador ÁLVARO JOSÉ GALLIEZ NOVIS, que passou a desempenhar, com o auxílio de outros empregados da corretora HOYA, dentre os quais EDIMAR MOREIRA DANTAS, também colaborador, a função de administrar e distribuir o dinheiro recolhido pelas empresas de ônibus.

O acautelamento dos recursos se fazia em cofres de transportadoras de valores, as quais, além desse armazenamento, também eram contratadas para entregar os malotes de dinheiro destinados a MELO. Algumas das vezes, ÁLVARO NOVIS utilizava seus próprios empregados para essa finalidade.

Reitere-se que a logística do recolhimento e da entrega dos valores pagos pela FETRANSPOR se dava da seguinte forma: o dinheiro era recolhido nas garagens de todas as empresas de ônibus filiadas à FETRANSPOR, pela trasportadora de valores, onde ficava custodiado para fazer os pagamentos aos políticos. As ordens de pagamento se davam sempre por JOSÉ CARLOS LAVOURA, que agia em nome e com a anuência dos também denunciados JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA.

As determinações de pagamento ocorriam por meio de bilhetes em papel, nextel, com uso de codinomes, para evitar a identificação dos beneficiários. Os bilhetes eram entregues para ÁLVARO NOVIS ou para EDIMAR MOREIRA DANTAS. Pelo telefone, era combinado com os interlocutores um lugar para se encontrarem, sendo evitado falar sobre as entregas. Em seguida, os colaboradores davam as ordens para a transportadora de valores, que efetuava os pagamentos, os quais, algumas vezes, não eram feitos pelas transportadoras de valores, mas sim pelos empregados de NOVIS, ocasiões em que o dinheiro era enviado para a empresa HOYA para em seguida ser entregue a PAULO MELO.

O controle dos valores ocorria através de planilhas elaboradas por EDIMAR com o lançamento dos seguintes dados: (1) data em que os recursos foram debitados ou creditados; (2) valor entregue; (3) valor creditado pela FETRANSPOR; (4) saldo com o colaborador; (5) situação do saldo, positivo (CR) ou negativo (DB); (6) histórico com observações a respeito da transação.

Desse forma, entre os anos de 2010 a 2013, PAULO MELO recebeu R$ 16.090.000,00 dos empresários de ônibus, conforme tabela que segue colacionada, produzida a partir dos registros mantidos em mídia pelo colaborador ÁLVARO NOVIS, cuja cópia instrui a denúncia.

Os pagamentos prosseguiram nos anos seguintes, de forma que, entre março de 2013 a fevereiro 2015, os empresários de ônibus desembolsaram vinte e um milhões, setecentos e cinquenta mil, nas datas e valores descriminadas a seguir:

De acordo com ÁLVARO NOVIS, foi criada uma planilha para controle dos pagamentos feitos pela FETRANSPOR para PAULO MELO, que recebeu o nome de PINGUIM. NOVIS também esclareceu que os pagamentos eram entregues a ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO ou ao irmão dela, FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO. O relato de sua colaboração, a seguir reproduzido, detalha o esquema:

A maior parte dos pagamentos foi realizada na Rua do Carmo, nº 06, sala 110712, Centro, local em que funcionou o comitê eleitoral (2014) de PAULO MELO,

conforme Relatório de Informação nº 013/2017, da Assessoria de Pesquisa e Análise do MPF/PRR2.

O endereço está, de fato, associado ao deputado, como se pode observar pela mensagem eletrônica que segue reproduzida:

Foram realizadas entregas de valores para PAULO MELO também na Avenida

12 - A referência ao número 1105 sugere erro material, já que o endereço correto é rua do Carmo, 06/ sala 1107. 88de188

Nilo Peçanha, , telefone , endereço que, na internet, aparece tanto relacionado com o deputado13, como à Massa Falida do banco BVA S/A14

Na maior parte das vezes os pagamentos foram feitos pela transportadora TRANSEXPERT. Algumas vezes a propina era entregue por empregados da HOYA, de nome RICARDO CAMPOS SANTOS, CARLOS ALBERTO VITAL DA SILVA e ROBSON TEIXEIRA DE CASTRO.

Sobre a atuação de ANDRÉIA no recebimento do dinheiro destinado a PAULO MELO, EDIMAR MOREIRA DANTAS esclareceu que:

QUE a tabela TRANSMAR constam anotações tanto da FETRANSPORT como da ODEBRECHET; QUE a TRANSMARSP era somente da ODEBRECHT para pagamentos em São Paulo; QUE no caso da Viação Flores, ela era uma das Empresas que contribuía com dinheiro para compor o valor que a FETRANSPORT destinava às pessoas que depois soube que seriam intermediárias de Políticos; QUE a Viação Flores creditava valores para a conta da FETRANSPORT, mas também recebia valores determinados por LAVOURAS, que quando LAVOURAS determinava pagamentos endereçados à Viação Flores, constava na tabela que deveriam ser entregues valores para a secretária "ENl" (Viação Flores); QUE, portanto, havia débito/crédito da Viação Flores com NOVIS; QUE confirma que pelo menos a cada três meses ia à viação Flores para verificar com a secretária ENI os débitos/créditos na conta da Viação Flores, para verificar se estavam corretos os lançamentos; QUE algumas vezes JORGE pedia para entregar valores no Banco Bradesco Prime, na Praça Pio X, devendo ser entregues à MARCIA ROCHA, gerente do Banco à época; QUE acredita que os funcionários de NOVIS que faziam as entregas sejam capazes de reconhecer a Márcia Rocha; QUE apresentado às fotos de ANDREA CARDOSO DO NASCIMENTO e JORGE LUIZ RIBEIRO, reconhece e confirma que eram as pessoas que 13 http://guia.provik.com.br/guia-brasil/variados/paulo-cezar-melo-de-sa-l16081 html

14 https://www.canaljudicial.com.br/auction/offerDetail htm?offer id=1136885&auction id=54776 http://www.pentagonotrustee.com.br/FixedFiles/-11LIGHT%20SERVI%C3%87OS%20DE

recebiam os valores encaminhados por LAVOURAS; QUE a tabela TRANSMAR diz respeito às entregas feitas pela TRANSEXPERT; QUE na tabela PINGUIM constam os valores

totais entregues à ANDREA (operadora de PAULO MELO); QUE esclarece que se os valores que constam na tabela PINGUIM não estiverem expressos na tabela TRANSMAR, significa que esses valores foram entregues diretamente pelos funcionários de NOVIS; QUE no caso de JORGE (operador de

Picciani) pode-se verificar o mesmo funcionamento dos lançamentos; na tabela TRANSMAR constam as entregas feitas pela TRANSEXPERT; QUE no caso de JORGE (operador de Picciani), a tabela especifica era a SATÉLITE e a PLATINA; QUE caso os valores entregues à JORGE não constem na tabela TRANSMAR e constem na tabela SATÉLITE/PLATINA, significa que Os valores foram entregues diretamente pelos funcionários de NOVIS; QUE os valores eram normalmente entregues na

data constante nas tabelas, seja na TRANSMAR (valores entregues pela TRANSEXPERT), seja nas tabelas específicas referentes aos operadores de PAULO MELO (PINGUIM) e PICCIANI (SATÉLITE/PLATINA); QUE nos casos das entregas que constam apenas nas tabelas PINGUIM (valores entregues à ANDREIA - operadora de PAULO MELO) e SATÉLITE/PLATINA (valores entregues á JORGE - operador de PICCIANI), em que as datas de entregas não estejam previstas na TRANSMAR, conforme já explicitado, os lançamentos e entregas foram feitos por funcionários de NOVIS, esclarecendo o declarante neste ponto que os valores efetivamente saíram para serem entregues nos dias ali expressos, mas, ocasionalmente pode haver uma diferença de um ou dois dias, em razão de questões logísticas ou acordo com a pessoa a quem os valores seriam entregues;”

RICARDO CAMPOS SANTOS, em declarações na Polícia Federal, no âmbito da presente investigação, reconheceu as pessoas que recebiam pagamentos de NOVIS e citou, dentre outros, ANDRÉIA e FÁBIO. Confirmou os endereços que normalmente fazia as entregas a eles e recordou-se de uma vez, em que fez uma entrega na Avenida Atlântica, pois ANDREIA disse que precisava levar o dinheiro a PAULO MELO. CARLOS ALBERTO VITAL DA SILVA, por sua vez, também reconheceu ANDREIA e FÁBIO como pessoas a quem fez entregas de valores.

Registros telefônicos, cujo acesso foi determinado pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e compartilhados por autorização desse juízo, confirmam que ANDRÉIA mantinha contato regular com empregados de NOVIS:

MÁRCIO AMARAL –

HOYA ANDREIA NASCIMENTO 18/12/201513:43:46 MÁRCIO AMARAL – HOYA ANDREIA NASCIMENTO 18/12/2015 15:20:28 MÁRCIO AMARAL – HOYA ANDREIA NASCIMENTO 18/12/2015 15:20:28 MÁRCIO AMARAL – HOYA ANDREIA NASCIMENTO 21/01/2016 09:41:23 MÁRCIO AMARAL – HOYA ANDREIA NASCIMENTO 21/01/2016 09:41:23 ANDREIA

NASCIMENTO MÁRCIO AMARAL –HOYA 21/01/201609:59:01 ANDREIA NASCIMENTO MÁRCIO AMARAL – HOYA 21/01/2016 09:59:01 ANDREIA NASCIMENTO MÁRCIO AMARAL – HOYA 21/01/2016 09:59:01 ANDREIA NASCIMENTO MÁRCIO AMARAL – HOYA 21/01/2016 09:59:01

O acesso aos dados telemáticos de ANDRÉA também confirmam que ela, apesar de atuar como chefe de gabinete de PAULO MELO, auxiliava o superior hierárquico em diversas atividades, inclusive na emissão de recibos das doações de campanha, como comprova e-mail ora reproduzido:

Essa função, a propósito, já foi aqui revelada quando, em capítulo próprio, foram abordados os pagamentos feitos pela ODEBRECHT a PAULO MELO, tendo em vista a reprodução de e-mails trocados entre ANDRÉIA e BENEDICTO JÚNIOR para definir as empresas em nome das quais seriam emitidos os recibos das doações de campanha que, de fato, tinham sido feitas pela ODEBRECHT via Setor de Operações Estruturadas. Na ocasião, os comprovantes foram emitidos em nome das empresas PREAMAR e LEROY, ambas ligadas ao grupo Petrópolis.

ANDRÉA também atuava no agenciamento de pessoas para ocuparem postos no DETRAN, como revela recente e-mail encontrado em sua caixa de correio eletrônico:

Reitere-se por oportuno, que a partir do sistema DROUSYS foi identificada prova autônoma que corrobora o teor das declarações de ALVARO NOVIS, pois confirma que ANDRÉIA e FÁBIO, atuavam no recebimento da propina destinada a PAULO MELO:

Dessa forma, considerando os pagamentos mensais feitos pela cúpula da FETRANSPOR a PAULO MELO entre agosto de 2010 a fevereiro de 2015, em vinte e cinco ocasiões distintas conclui-se que o deputado estadual ora denunciado praticou o crime de corrupção passiva qualificada, em função do indevido recebimento de vantagem patrimonial como contrapartida pela prática de atos funcionais com desvio de finalidade, restando incurso, por conseguinte, nas penas do artigo 317, parágrafo primeiro, vinte e cinco vezes, na forma do artigo 71, ambos do Código Penal.

ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO e FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO contribuíram para o crime de corrupção passiva qualificada, em função do auxílio a PAULO MELO no recebimento indevido de vantagem patrimonial como contrapartida pela prática de atos funcionais com desvio de finalidade, restando incursos, por

conseguinte, nas penas do artigo 317, parágrafo primeiro, vinte e cinco vezes, na forma do artigo 71, c/c 29 e 30, todos do Código Penal.