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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO 1ª SEÇÃO ESPECIALIZADA

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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO – 1ª SEÇÃO ESPECIALIZADA

DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA À PETIÇÃO Nº 2017.7402.000018-7 PROCESSO Nº 0100523-32.2017.4.02.0000

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ABEL GOMES

O Ministério Público Federal, pelo Núcleo Criminal de Combate à Corrupção da Procuradoria Regional da República da 2ª Região, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, com base no art. 129, I da Constituição Federal, vem oferecer DENÚNCIA em desfavor de:

1) JORGE SAYED PICCIANI (PICCIANI), brasileiro,

(2)

3) EDSON ALBERTASSI (ALBERTASSI) brasileiro,

4) FELIPE CARNEIRO MONTEIRO PICCIANI (FELIPE PICCIANI), brasileiro,

5) JORGE LUIZ RIBEIRO (JORGE LUIZ), brasileiro,

6) CARLOS CESAR DA COSTA PEREIRA, brasileiro,

(3)

7) ANA CLAUDIA JACCOUB (nome antigo) ou ANA CLÁUDIA SANTOS ANDRADE, brasileira,

8) MARCIA ROCHA SCHALCHER DE ALMEIDA, brasileira,

(4)

10) FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO, brasileiro,

11) JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS (JOSÉ CARLOS LAVOURAS), com dupla cidadania (brasileiro e português),

12) JACOB BARATA FILHO, brasileiro,

13) LÉLIS MARCOS TEIXEIRA (LÉLIS TEIXEIRA), brasileiro,

(5)

14) MARCELO TRAÇA GONÇALVES (MARCELO TRAÇA), brasileiro,

15) ÁLVARO JOSÉ GALLIEZ NOVIS (ÁLVARO NOVIS),

16) EDIMAR MOREIRA DANTAS (EDIMAR DANTAS),

17) BENEDICTO BARBOSA DA SILVA JÚNIOR, brasileiro,

(6)

19 ) JOSÉ AUGUSTO FERREIRA DOS SANTOS, (JOSÉ AUGUSTO), Brasileiro,

pelos fatos a seguir descritos:

Sumário

1 –

C ontextualização dos fatos ... 1.1 – Origem das investigações………. 1.2 - ODEBRECHET e os respectivos atos de corrupção envolvendo políticos do Rio de Janeiro... 1.3 – FETRANSPOR e o esquema de corrupção envolvendo donos do transporte público no Estado do Rio de Janeiro………

2 – Das imputações típicas ... 2.1 – FATO 01 – Atos de corrupção ativa e passiva praticados por JORGE SAYED PICCIANI e a ODEBRECHT. Denunciados: JORGE SAYED PICCIANI, JORGE LUIZ RIBEIRO, BENEDICTO JÚNIOR, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS -Capitulação delitiva: Artigos 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

2.2 – FATO 02 – Atos de corrupção ativa e passiva praticados por PAULO CESAR MELO DE SÁ e a ODEBRECHT. Denunciados: PAULO MELO, ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO, FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO, BENEDICTO JÚNIOR, LEANDRO AZEVEDO, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS - Capitulação delitiva: Artigos 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

2.3 – FATO 03 – Atos de corrupção ativa e passiva praticados por JORGE PICCIANI e a FETRANSPOR. Denunciados: JORGE SAYED PICCIANI, JORGE LUIZ RIBEIRO, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS – Capitulação: Artigos 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

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2.4 – FATO 04 – Atos de corrupção ativa e passiva praticados por JORGE PICCIANI e a FETRANSPOR – Pagamentos feitos por MARCELO TRAÇA. Denunciados: JORGE SAYED PICCIANI, JORGE LUIZ RIBEIRO, CARLOS CÉSAR PEREIRA, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS - Capitulação: Artigos 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

2.5 – FATO 05 – Atos de corrupção ativa e passiva praticados por PAULO MELO e a FETRANSPOR. Denunciados: PAULO CESAR MELO DE SÁ, ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO, FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS – Capitulação: Artigos 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

2.6 – FATO 06 – Atos de corrupção ativa e passiva praticados por EDISON ALBERTASSI. Denunciados: EDISON ALBERTASSI, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA – Capitulação: Artigos 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

2.7 - FATO 07 – Atos de lavagem de capitais praticados JORGE PICCIANI, FELIPE PICCIANI, JOSÉ AUGUSTO e a CONSTRUTORA CARIOCA CHRISTIANI -NIELSEN ENGENHARIA S/A. Denunciados: JORGE SAYED PICCIANI, FELIPE CARNEIRO MONTEIRO PICCIANI - Capitulação: Artigo 1º, §4º da Lei 9613/98. 2.8 - FATO 08 – Atos de lavagem de ativos praticados por JORGE PICCIANI, FELIPE PICCIANI e JONAS LOPES DE CARVALHO. Denunciados: JORGE SAYED PICCIANI E FELIPE CARNEIRO MONTEIRO PICCIANI – Capitulação: Artigo 1º, §4º da Lei 9613/98.

2.9 – FATO 09 - Da Organização criminosa. Denunciados: JORGE SAYED PICCIANI; PAULO CESAR MELO DE SÁ; EDSON ALBERTASSI; FELIPE CARNEIRO MONTEIRO PICCIANI; JORGE LUIZ RIBEIRO; CARLOS CESAR DA COSTA PEREIRA; ANA CLAUDIA DE ANDRADE; MARCIA ROCHA SCHALCHER DE ALMEIDA; ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO; FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO - CAPITULAÇÃO DELITIVA : Art. 1º, § 1º e art. 2º, §§ 3º e 4º, II da Lei 12.850/13.

3 – D os atos de ofício pr aticados pelos agentes corrompidos 4 - Da capitulação individualizada das condutas

5 –

Conclusão e requerimentos finais : processamento do feito na forma da Lei 8.038/90, com a consequente condenação dos denunciados ao término da instrução criminal; manutenção da custódia cautelar dos denunciados atualmente presos; desmembramento do feito com relação aos denunciados sem prerrogativa de foro.

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1 – DA CONTEXTUALIZAÇÃO DOS FATOS

1.1 – Origem das investigações

A Força Tarefa Lava Jato/RJ identificou, ao longo de investigações conexas aos Processos 0057817-33.2012.4.02.5101 (Operação Saqueador), 0509503-57.2016.4.02.5101 (Operação Calicute) e 0501634-09.2017.4.025.101 (Operação Eficiência)1, em trâmite perante

a 7ª Vara Federal Criminal-RJ, indícios de fatos criminosos, envolvendo detentores de foro por prerrogativa de função junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, encaminhando representação a esta procuradoria regional.

A representação apontou indícios de arrecadação de propina em favor de diversos agentes públicos, dentre os quais o ex-governador do estado, SÉRGIO CABRAL e os deputados estaduais JORGE SAYED PICCIANI, Presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e PAULO CÉSAR DE MELO SÁ, ambos do PMDB. Com os desdobramentos das apurações, foram colhidos indícios do envolvimento de outro deputado estadual, EDSON ALBERTASSI, também do PMDB, Segundo Vice-Presidente da casa legislativa, que igualmente se beneficiou com o recebimento de propina em razão do cargo de deputado estadual.

Com base nessas informações preliminares, o Núcleo Criminal de Combate à Corrupção da Procuradoria Regional da República da 2ª Região instaurou Procedimento Investigatório Criminal no qual foi requerida, judicialmente, autorização para o compartilhamento de provas decorrentes dos processos da Lava Jato em tramitação na 7ª Vara Federal Criminal/RJ, assim como o reconhecimento da prevenção para o processamento do feito de competência originária do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, o que deu azo à petição nº 2017.7402.000018-7, que também serviu de base para instauração de inquérito policial (IPL Nº 085/2017-DELECOR/SR/PF/RJ).

1 Segue relatório anexo com resumo das referidas operações e seus desdobramentos, assim como cópia das respectivas denúncias.

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Reconhecida, pela 1a. Seção desse E. TRF2, a questão preliminar sobre a

competência, foi requerido, ao Relator, o afastamento do sigilo telemático, bancário e fiscal de alguns dos ora denunciados, cujos resultados, ainda que incompletos, revelaram situação de flagrante delito, sobretudo com relação aos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro, descritos, respectivamente, nos artigos 2º da Lei 12.850/13 e 1º da Lei 9.613/98.

Com isso, além dos meios de prova obtidos a partir de acordos de colaboração premiada e de leniência homologados em outras instâncias, houve igualmente a identificação de elementos de prova (prova de corroboração) absolutamente independentes que, não só confirmaram o conteúdo desses acordos, como contribuíram para revelar o contexto criminoso, inclusive com a descoberta de novos personagens e suas respectivas funções.

As investigações seguiram até alcançar sua fase ostensiva, deflagrada em 14 de novembro de 2017 (operação CADEIA VELHA), com o cumprimento de mandados de prisão, busca e apreensão e condução coercitiva expedidos pela 1ª Seção Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Relator Desembargador Federal Abel Gomes.

As investigações até agora realizadas demonstraram a existência de uma poderosa organização criminosa abrigada no seio do PMDB fluminense, que operou a partir de espaços institucionais conquistados pelo sistema eleitoral. A presente denúncia aboradará a atividade dessa organização em duas frentes: esquemas crimionosos com empreiteiras (Odebrecht, Andrade Gutierrez, Carioca Engenharia) e esquemas criminosos com a FETRANSPOR, sem prejuízo de que outras vertentes da mesma organização venham a incidir em outros feitos futuros.

Demonstrou-se, igualmente, que no esquema criminoso em foco, o dinheiro público sempre foi a causa motriz para as práticas ilícitas, independentemente da sua origem, já que parte das verbas provinha do erário federal, como nos casos dos contratos realizados com as empreiteiras (Odebrecht, Andrade Gutierrez, Carioca Engenharia, dentre outras), e parte era oriunda do próprio orçamento do Estado do Rio de Janeiro, como no caso

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dos pagamentos feitos pela FETRANSPOR.

Esses dois seguimentos empresariais promoveram diversos atos de corrupção com vistas à obtenção de vantagens indevidas no executivo estadual, no tribunal de contas e na própria assembleia legislativa do estado, setor do qual fazem parte os denunciados JORGE SAYED PICCIANI, PAULO MELO e EDSON ALBERTASSI.

Ou seja, trata-se de uma mesma organização criminosa, integrada por agentes políticos ocupantes de cargos públicos distintos, que se especializaram em núcleos de atuação, relativamente autônomos, posto que interdependentes, dando, cada um, suporte à atuação dos demais.

Setores do executivo, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do legislativo, valendo-se de suas respectivas atribuições, passaram a receber vantagem patrimonial de forma sistemática das empresas contratadas pelo ente público para a realização de obras ou prestação de serviços, como o de transporte coletivo.

Para isso, cada um desses segmentos, instituiu núcleos próprios a fim de viabilizar o recebimento da propina, a ocultação e a dissimulação da origem do dinheiro proveniente da corrupção, assim como a realização dos atos de ofício de interesse dos corruptores.

Muito embora esses órgãos devessem atuar com autonomia, o que se viu foi a interação entre eles, a fim de permitir que os mais variados interesses espúrios se concretizassem, como a edição de isenções fiscais, a aprovação de editais para a realização de contratos públicos, a ocupação de cargos ou empregos públicos etc, sempre como contrapartida de propina.

É seguro afirmar que o esquema de corrupção envolvendo deputados estaduais não se limitou ao pagamento de propina pela ODEBRECHT e FETRANSPOR, mas por ora, estes serão os pontos que delimitarão a presente imputação.

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1.2 - ODEBRECHET E OS RESPECTIVOS ATOS DE CORRUPÇÃO ENVOLVENDO POLÍTICOS DO RIO DE JANEIRO

BENEDICTO JÚNIOR e LEANDRO AZEVEDO, ambos executivos da ODEBRECHT, integravam o núcleo econômico responsável por realizar o pagamento de propina aos deputados estaduais, o que se dava, por vezes, através de doações oficiais para campanhas políticas, outras tantas por meio de pagamentos clandestinos, muitos dos quais registrados no sistema de contabilidade paralela desenvolvido pela empresa, conhecido por DROUSYS.

Ambos firmaram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal e apresentaram, em anexos desse acordos, importantes informações relacionadas aos pagamentos feitos pela ODEBRECHT em favor de JORGE SAYED PICCIANI e PAULO CESAR MELO DE SÁ.

A exemplo do que ocorreu com a FETRANSPOR, como será visto adiante, para a execução dos pagamentos em espécie foram utilizados os serviços de ÁLVARO JOSÉ GALLIEZ NOVIS, operador financeiro que, igualmente, formalizou acordo de colaboração premiada com o MPF, devidamente homologado pelo Superior Tribunal de Justiça.

1.3 – FETRANSPOR E O ESQUEMA DE CORRUPÇÃO ENVOLVENDO EMPRESÁRIOS DE ÔNIBUS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Também integravam o núcleo econômico da organização criminosa os empresários de ônibus JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO2 e MARCELO TRAÇA, além do então presidente executivo da FETRANSPOR e do RIO ÔNIBUS LÉLIS TEIXEIRA3, todos responsáveis por controlar a arrecadação semanal da 2 - A denúncia não alcançou JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, sócio de JACOB BARATA, dada a necessidade do aprofundamento das investigações com relação a ele.

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propina junto às empresas de ônibus e repassar os valores ilícitos a agentes públicos, incluindo os três deputados estaduais ora denunciados, JORGE SAYED PICCIANI, PAULO MELO e EDSON ALBERTASSI.

A FEDERAÇÃO DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES DE PASSAGEIROS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – FETRANSPOR (CNPJ 33747288000111) é entidade que congrega 10 sindicatos de empresas de ônibus responsáveis por transporte urbano, interurbano e de turismo e fretamento. Esses sindicatos, por sua vez, reúnem mais de 200 empresas de transporte por ônibus, que respondem por 81% do transporte público regular no Estado do Rio de Janeiro4.

JOSÉ CARLOS LAVOURAS é Presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR desde a sua criação em 1988, entidade que tem como Vice-Presidente MARCELO TRAÇA, e que tinha como Presidente Executivo LÉLIS TEIXEIRA desde 2006, cargo ao qual renunciou recentemente. LÉLIS TEIXEIRA também era desde de 1999, portanto há 18 anos, Presidente do RIO ÔNIBUS, cargo ao qual também renunciou dias antes de ser preso5.

Por sua vez, JACOB BARATA FILHO é Presidente do Conselho de Administração da RIOPAR PARTICIPAÇÕES S/A (CNPJ 16727386/0001-78), o qual também é integrado por JOSÉ CARLOS LAVOURAS, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA, denunciados que também fazem parte da diretoria da RIOCARD ADMINISTRADORA DE CARTÕES E BENEFÍCIOS S/A (CNPJ 14.081.184/0001-76), da CONCESSIONÁRIA DO VLT CARIOCA S/A (CNPJ 18.201.378/0001-19), e da RIOTER – TERMINAIS RODOVIÁRIOS DE PASSAGEIROS LTDA (14.102.782/0001-84), sociedades subsidiárias da primeira.

4 Fonte: https://www.fetranspor.com.br/a-fetranspor-sobre-a-fetranspor

5 Essas renúncias foram percebidas pelos documentos encontrados nas buscas e apreensões na residência do LÉLIS. 12de188

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Essa digressão acerca das diversas funções de comando exercidas por esses denunciados nas entidades representativas das empresas de transporte, bem como na administração de sociedades empresárias diretamente atuantes no sistema de bilhetagem eletrônica de todos os transportes públicos do Estado do Rio de Janeiro, é relevante. Por ela se permite demonstrar as relações internas do grupo e daí inferir a total ingerência de cada um deles na gestão do “caixa dois” da FETRANSPOR, utilizada para pagamento de propina a agentes políticos.

O denunciado ÁLVARO NOVIS, doleiro, dono da HOYA CORRETORA e um dos operadores financeiro da ORCRIM no setor de transporte, e cuja atuação foi revelada pela deflagração da Operação Eficiência (7a. Vara Federal/RJ), firmou com o seu operador

EDIMAR DANTAS, perante o Superior Tribunal de Justiça, nos autos da Petição 11.962-DF, acordo de colaboração premiada, compartilhada com esse Juízo por decisão do Ministro Relator Felix Fischer.

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Ao longo das informações apresentadas por NOVIS, constou que ele foi contratado por JOSÉ CARLOS LAVOURAS, presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR e da RIOPAR, além de dono da empresa TRANSPORTES FLORES, para recolher regularmente dinheiro de algumas empresas de ônibus integrantes dessa Federação, administrar a sua guarda e distribuir parte dela a diversos políticos, controlando os aportes e despesas por meio de contabilidade paralela.

Em suas declarações, o colaborador revelou que JOSÉ CARLOS LAVOURAS o contratou, por volta de 1990 ou 1991, para ajudá-lo no recolhimento regular de dinheiro de caixa dois nas garagens de algumas empresas de ônibus vinculadas à FETRANSPOR, com o auxílio de empresas de transporte de valores, onde ficavam custodiados até a ordem de distribuição a políticos ou aos próprios donos das empresas de ônibus que participavam da “caixinha”. A distribuição do dinheiro era sempre determinada pelo presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR, às vezes à própria transportadora de valores, outras vezes diretamente a ÁLVARO NOVIS, que entregava valores pessoalmente ou delegava a tarefa aos seus funcionários da HOYA CORRETORA. Confira-se:

“Que o relacionamento com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, Presidente da FETRANSPOR, sócio da empresa Viação Flores, começou em meados da década de 90;... Que após certo tempo, JOSÉ CARLOS LAVOURAS o chamou para ajudá-lo para recolhimento e entrega de valores; Que o dinheiro era recolhido nas

garagens de algumas empresas de ônibus vinculadas à FETRANSPOR pela TRANSEGUR (hoje Prosegur); Que o dinheiro era custodiado na sede da TRANSEGUR; Que o dinheiro custodiado era utilizado para fazer pagamentos a políticos;... Que as ordens para pagamento se davam sempre por

meio de JOSÉ CARLOS LAVOURAS; Que as ordens se davam por meio de bilhete em papel...; Que os bilhetes com as ordens de pagamento eram entregues para o colaborador ou para EDMAR, seu funcionário; Que o contato com JOSÉ CARLOS se dava também através de sua secretária ENI GULINELLI, que trabalha

na VIAÇÃO FLORES, , e ligava para o fixo da HOYA

; Que JOSÉ CARLOS possuía outra secretária, de nome REGINA, que trabalhava com ela na FETRANSPOR; Que ela costumava entregar os bilhetes com as solicitações de pagamento feitas por JOSÉ CARLOS...; Que os bilhetes eram escritos com codinomes para evitar a identificação dos beneficiários; Que quando os pagamentos não eram feitos pela transportadora de valores eram feitos por funcionários do Colaborador e até mesmo pelo Colaborador; Que nessas ocasiões a transportadora de valores entregava na Hoya o dinheiro para posterior entrega ao destinatário final; Que o controle dos valores se dava por meio de

planilhas; Que os lançamentos eram feitos pelo funcionário do Colaborador chamado EDMAR; Que entrega nessa oportunidade as planilhas de controle

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dos gastos referentes a …., JOSÉ CARLOS LAVOURA, CARLOS MIRANDA...., ROGÉRIO ONOFRE (ex-presidente do DETRO)...; Que a primeira coluna refere-se à data em que os recursos foram debitados ou creditados, Que a segunda coluna refere-se ao valor entregue; Que a terceira coluna refere-se ao valor que foi creditado pela FETRANSPOR; Que a quarta coluna refere-se ao saldo que possui com o Colaborador; Que a quinta coluna ('D/C') diz respeito ao status do saldo – se positivo ('CR') ou negativo ('DB'); Que a sexta coluna ('Histórico') servia para que os operadores colocassem alguma observação a respeito da transação;... Que CARLOS MIRANDA possuía os codinomes 'CM', referente a conta oficial, 'Verde/SMS', 'Super' e 'Abacate', codinomes utilizados para pagamentos excepcionais; Que os recursos pagos a CARLOS MIRANDA eram destinados ao ex-governador SÉRGIO CABRAL; Que ROGÉRIO ONOFRE possua (sic) o codinome 'Lagoa' e 'Mamaluco'; Que ressalta que HUDSON BRAGA também recebeu recursos da FETRANSPOR, apesar do Colaborador não possuir controle de pagamentos; Que pelos serviços prestados à FETRANSPOR recebia o valor de R$

120.000,00, porém, tinha o custo com a transportadora, que ultrapassava R$ 70.000,00 (transporte e com os seguranças); Que a FETRANSPOR possuía duas

contas, uma sob o codinome F/SABI e a outra F/NETUNO (a primeira para débito e a segunda para crédito); Que as planilhas apresentadas foram produzidas

na época em que os pagamentos eram feitos, para registro contábil desses pagamentos; Que essas planilhas foram produzidas em um sistema idealizado para contabilizar essas operações de débito e crédito; Que esse sistema foi destruído com a deflagração da operação Xepa, motivo pelo qual existem poucos registros daquela época; Que os dados localizados, constam de um pen drive com ordem de pagamentos de 2010 a 2016, assim como de algumas planilhas impressas do próprio sistema, relacionados às pessoas ora indicadas...”.

(destaques nossos)

Ouvido pela Procuradoria-Geral da República, ÁLVARO NOVIS ratificou o referido Anexo, tendo acrescentado quanto à FETRANSPOR:

“... Que o Colaborador sabia que os pagamentos feitos pela FETRANSPOR

eram realizados para garantir benefícios relacionados a linhas de ônibus, tarifas, etc; Que a FETRANSPOR é dividida em 6 sindicatos; Que as empresas

de ônibus entregavam o dinheiro em espécie em transportadoras de valores; Que a entrega dos valores inicialmente era feita para a TRANSEGUR; Que a TRANSEGUR foi adquirida pela PROSEGUR; Que havia outra

transportadora de valores chamada TRANSEXPERT que era utilizada para

custódia de valores; Que as empresas de ônibus possuíam 'contas' nas transportadoras de valores para custódia dos recursos arrecadados com passagens; Que o Colaborador abriu 'contas' nas referidas transportadoras

também para poder movimentar os valores das empresas de ônibus; Que tais 'contas' eram meramente informais; Que os valores eram transferidos das 'contas' das empresas para a 'conta' do colaborador e a partir daí eram feitos os pagamentos aos beneficiários finais; Que o colaborador possuía

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CARLOS LAVOURA; Que desde 1990/1991 até 2016 as ordens sempre foram

emitidas por LAVOURA; Que os pagamentos pararam de ser realizados em razão da operação Xepa da Força Tarefa Lava Jato; Que as ordens eram transmitidas por meio de bilhetes; Que os bilhetes eram entregues por

REGINA, secretária de LAVOURA, para MARCIO ou EDIMAR, funcionários do colaborador; Que MARCIO ou EDIMAR também por vezes iam ao escritório de LAVOURA para obter informações acerca das ordens de pagamentos; Que o controle de pagamentos e recebimentos era feito pelo colaborador por meio de planilha que ora entrega; Que eram utilizados codinomes nas planilhas que eram, geralmente, escolhidos pelos colaboradores; Que destruiu grande parte do material onde eram guardadas as planilhas de pagamentos; Que alguns registros foram guardados; Que LAVOURA era sócio da empresa FLORES; Que LAVOURA

era sócio também de outras empresas que não sabe dizer; Que o codinome da

empresa FLORES na planilha era F/VERA; Que o dinheiro das empresas era transferido para as 'contas' centralizadoras, cujo codinomes eram F/SABI e F/NETUNO, para posterior pagamentos aos políticos; Que a pessoa responsável pelo controle de pagamentos era o Colaborador EDIMAR; Que entrega como prova de corroboração das suas alegações planilhas que foram impressas antes da Operação Xepa e que possuía guardados, bem como arquivos digitais contemporâneos aos fatos (2010 a 2016), que estavam armazenados em pen drive criptografado...”.

(destaques nossos)

O colaborador revelou que o controle de ingresso e saída de valores se dava por planilhas, cujos lançamentos estavam a cargo de seu empregado e também colaborador EDIMAR DANTAS, sendo certo que a FETRANSPOR possuía duas contas “centralizadoras” nesse sistema de contabilidade paralela, uma sob o codinome F/NETUNO e a outra F/SABI. A primeira era para registro dos créditos gerados pela “caixinha” das empresas de ônibus que participavam do esquema, e a segunda para os débitos referentes à distribuição de dinheiro para as propinas destinadas a agentes públicos. O controle desses pagamentos também cabia a ÁLVARO NOVIS, além da devolução de valores para os próprios empresários de ônibus que contribuíam para a “caixinha”, cujo destino permanece não identificado.

A arrecadação dos recursos para alimentar a conta “F/SABI”, administrada pelos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS e utilizada para custear o pagamento de vantagens indevidas a funcionários públicos, contava com a atuação coordenada de JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, MARCELO TRAÇA, LÉLIS TEIXEIRA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, cabendo ao primeiro, como Presidente do

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Conselho de Administração da FETRANSPOR, articular os recolhimentos das “contribuições” junto às empresas de ônibus participantes da “caixinha da propina” e repassar as ordens de distribuição de valores ao operador ÁLVARO NOVIS.

A análise dos arquivos recuperados no pendrive entregue pelos colaboradores ao STJ permitiu identificar que tais “contribuições”, aportadas por 26 empresas de ônibus, apenas no período de janeiro de 2013 a fevereiro de 2016, totalizaram R$ 250.580.638,13 (duzentos e cinquenta milhões, quinhentos e oitenta mil, seiscentos e trinta e oito Reais e treze centavos), conforme apontado no Relatório de Pesquisa nº 5940/2017, da Assessoria de Pesquisa e Análise – ASSPA do MPF, sintetizado na tabela a seguir:

Além do dinheiro recolhido nas empresas de ônibus, parte dos valores que os empresários mantinham em contas paralelas com os colaboradores também foi utilizada para alimentar o caixa da propina da FETRANSPOR na conta F/SABI. Assim, somados os valores recolhidos nas empresas relacionadas acima, vinculadas aos denunciados, bem como os recursos mantidos em suas contas particulares, chega-se à seguinte estimativa de valores:

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Denunciado Valores para o caixa da propina JOSÉ CARLOS LAVOURAS R$ 77.606.964,33

JACOB BARATA FILHO R$ 27.754.990,00 JOÃO AUGUSTO MONTEIRO6 R$ 23.419.394,00 MARCELO TRAÇA GONÇALVES R$ 40.924.165,11 LÉLIS MARCOS TEIXEIRA R$ 1.000.000,00

Foram esses valores que serviram para abastecer um caixa paralelo utilizado para custear o pagamento de propina aos políticos ora denunciados, os quais tinham competência para, dentre outras providências, editar atos normativos que regulavam o setor de transporte público municipal e intermunicipal e, consequentemente, poder para afetar os interesses das empresas de ônibus, seja praticando atos em seu benefício, seja deixando de praticar atos que pudessem lhes prejudicar.

ÁLVARO NOVIS era um operador versátil e não trabalhava com

exclusividade. Além de ter operado a mando dos empresários de transporte, também admitiu que fez pagamentos em favor de JORGE PICCIANI e PAULO MELO por ordem de executivos da ODEBRECHT. Esta informação foi corroborada nos termos de colaboração dos próprios executivos da ODEBRECHT, BENEDICTO JÚNIOR e

LEANDRO AZEVEDO, que admitiram esses pagamentos justificando-os em razão

da importância dos deputados no partido e no contexto político do estado, o que poderia resultar em vantagens comerciais para a empresa.

Os registros desses pagamentos constam do sistema DROUSYS, que foi concebido pela ODEBRECHT para a contabilização paralela da propina paga pela empresa a diversos agentes públicos.

No curso das investigações prévias a esta denúncia, MARCELO TRAÇA

GONÇALVES, empresário do setor de ônibus, Presidente do SETRERJ – Sindicato 6 - Não é alvo da presente imputação.

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de Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro e vice-presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR, – réu na Operação Ponto Final (7a.

Vara federal/RJ) -, também celebrou acordo de colaboração premiada com o MPF, homologado pelo Desembargador Federal Abel Gomes, nos autos do apenso 2 desse processo, no dia 26/09/2017.

No anexo 1 da sua colaboração, TRAÇA detalhou, nos trechos abaixo transcritos, como a FETRANSPOR gerava o dinheiro em espécie para fazer frente aos pagamentos das vantagens indevidas aos políticos. Confira-se:

“Que a receita da FETRANSPOR é composta pela taxa de administração do vale-transporte, que hoje é de 3,5% para o modal ônibus, e também pelos créditos expirados que são gerados pelo vale-transporte vendido e não utilizado no prazo de um ano nem exigido por ninguém; Que JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS sempre geriu a FETRANSPOR e ocupa o cargo de Presidente do Conselho há mais de 20 anos; Que JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS sempre concorreu em chapa única; Que os estudos técnicos e de mobilidade eram feitos por profissionais funcionários da FETRANSPOR e também pelo Diretor Executivo, LELIS MARCOS TEIXEIRA; Que os relacionamentos político e financeiro, oficiais e extraoficiais, eram tratados pelo Presidente do Conselho, JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS; Que, em meados de 2010, JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS alegou necessidade de recursos para pagamentos indevidos exigidos por políticos e que, para fazer frente a tal necessidade, a FETRANSPOR passaria a creditar na conta de empresas do declarante, RIO ITA e FAGUNDES, um valor adicional a título de repasse de recursos de vale-transporte, valor adicional este que não correspondia à prestação efetiva de serviços e que deveria ser então devolvido pelas empresas creditadas, em espécie, com recursos próprios; Que JOSE CARLOS REIS LAVOURAS comunicou ao declarante que as empresas deste seriam incluídas em modelo operacional já existente, cujo efeito final consistia basicamente em transformar créditos de vale-transporte, contabilizados pela FETRANSPOR, em dinheiro não contabilizado nas mãos da FETRANSPOR; Que, sobre a operacionalização destes recursos, o declarante esclarece que a FETRANSPOR tinha o controle de todos os lançamentos correspondentes à movimentação operacional de cada dia de serviço, de todas as empresas sujeitas à sua atuação; Que a arrecadação das empresas de ônibus, considerada de forma geral, consiste de dinheiro em espécie, recebido diretamente dos passageiros, e de créditos eletrônicos operados pela FETRANSPOR (vale-transporte e bilhete único); Que toda a movimentação de cada empresa era controlada pela FETRANSPOR, que assim efetuava a cada empresa associada os créditos que lhe coubessem por cada dia de serviço; Que para operar esses controles a FETRANSPOR

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cobrava 3,5% de taxa de administração sobre o valor arrecadado por meios eletrônicos (vale transporte e bilhete único); que além desses 3,5 por cento, compõe ainda a receita da FETRANSPOR, os valores decorrentes do saldo do bilhete único e VT não utilizados no período de 1 ano; Que para liberar

dinheiro em espécie, destinado a pagamentos supostamente escusos acordados por JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS com terceiros, foi instituída a seguinte operação: a FETRANSPOR, valendo-se da visibilidade total que tinha sobre as operações de cada empresa associada, creditava para algumas dessas empresas um valor a maior, como se o uso do vale-transporte no período tivesse sido maior do que realmente foi, e esta mesma diferença, em dinheiro vivo, era devolvida, por meio da entrega para a HOYA CORRETORA DE VALORES E CÂMBIO de ALVARO NOVIS, no início, e depois para o próprio JOSE CARLOS REIS LAVOURAS; Que estes valores em espécie se destinavam a pagamentos indevidos a funcionários públicos; Que as empresas do declarante não

mantinham registros formais da devolução de dinheiro operada desta maneira, mas o declarante controlava este fluxo por meio de planilhas pessoais; Que, até novembro de 2015, o declarante pagou estes

compromissos acertados por JOSE CARLOS REIS LAVOURAS, entregando o dinheiro em espécie para a HOYA; Que este modelo consistia em uma forma de converter dinheiro “quente” em “frio”, para poder pagar propina; Que os valores destinados a isso eram recolhidos nas garagens das empresas de ônibus por funcionários de ALVARO NOVIS;

(...)

Que José Carlos Reis Lavouras usava Álvaro Novis para os pagamentos; Que o declarante presenciou MÁRCIO e EDIMAR, funcionários de ALVARO NOVIS, com José Carlos Reis Lavouras na FETRANSPOR; (..)

QUE todos os empresários que participavam desse esquema sabiam que o ACERTO GFIN tinha a finalidade de formar um caixa para o pagamento de propina; QUE sabiam ainda que tal propina eram para influir em questões que beneficiavam as empresas de ônibus perante o Poder Público; QUE o depoente pode dar como exemplos dessas questões, o aumento anual de tarifas e o saldo expirado do bilhete único;

QUE pode dizer que o convite formulado por LAVOURAS ocorreu quando este último o chamou por volta de 2008/2009 na sua sala na FETRANSPOR; QUE nessa ocasião LAVOURAS disse ao depoente que a FETRANSPOR tinha compromissos assumidos com políticos e que esses compromissos precisavam da geração de dinheiro em espécie; QUE LAVOURAS disse ainda que algumas empresas estavam saindo por uma questão de confiança e que precisava que o depoente contribuísse; ...”

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A participação do deputado estadual EDSON ALBERTASSI na ORCRIM foi revelada nessa colaboração premiada. Trata-se de mais um agente político que recebeu propina da FETRANSPOR para defender os interesses dos empresários do setor de ônibus do Rio de Janeiro, no âmbito do legislativo estadual.

2 – DAS IMPUTAÇÕES TÍPICAS

2.1 – FATO 01 – ATOS DE CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA ENVOLVENDO JORGE SAYED PICCIANI E A ODEBRECHT.

DENUNCIADOS: JORGE SAYED PICCIANI, JORGE LUIZ RIBEIRO, BENEDICTO JÚNIOR, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS

CAPITULAÇÃO DELITIVA : ARTIGOS 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

Entre os dias 13 de agosto de 2008 e 30 de setembro de 2014, em ocasiões distintas, JORGE PICCIANI solicitou e recebeu do executivo da ODEBRECHT, BENEDICTO JÚNIOR, vantagem indevida em decorrência de sua função como deputado estadual, com apoio do doleiro ÁLVARO NOVIS.

Os pagamentos ao deputado estadual tiveram por objetivo garantir que o agente público intercedesse em prol dos interesses da empresa, tais como: com a edição de atos normativos pelo legislativo, ou com o direcionamento de eventuais licitações e contratos a serem realizados pelo executivo durante a gestão do ex-governador SÉRGIO CABRAL, dentre outras vantagens de interesse do grupo empresarial.

Vale anotar que no caso de JORGE PICCIANI, os pagamentos não cessaram, mesmo quando ficou sem mandato (2011/2014). De um lado, por configurarem-se em dividendos de “serviços” já prestados. De outro, pela inegável necessidade do apoio desse influente político que, mesmo sem mandato, presidia o diretório estadual do PMDB/RJ. Para

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que a ORCRIM, operante no governo de SÉRGIO CABRAL, pudesse prosseguir na prática dos seus crimes, era necessário continuar contando com o apoio de JORGE PICCIANI, cuja ascendência e liderança sobre os parlamentares estaduais sempre foi notória.

Nessa época, como se disse, PICCIANI ocupava a Presidência do Diretório Regional do PMDB, posição que lhe garantia coordenar a divisão das vantagens indevidas destinadas aos políticos com mandato, tanto no executivo, como no legislativo, pagas pelos empresários. Também lhe competia garantir a contrapartida na forma de “boa vontade” com seus negócios em atos parlamentares, bem como, quando houve necessidade de atuação nos bastidores com outros funcionários públicos, como aconteceu no âmbito do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (Operação Quinto do Ouro).

Ou seja, mesmo durante o período em que não exerceu cargo público, o crime de corrupção não se desconfigurou, já que as solicitações de dinheiro feitas a BENEDICTO JÚNIOR, por exemplo, ocorreram em razão do cargo anteriormente exercido e da capacidade de o denunciado interferir nas decisões de outros agentes públicos, como o próprio ex-governador SÉRGIO CABRAL, o que é suficiente para configurar o crime de corrupção passiva7.

Ademais, é correto afirmar, a partir dos depoimentos dos diversos colaboradores, que o trânsito de propina entre as autoridades do Estado do Rio de Janeiro dependia muitas vezes do aval e da intermediação do denunciado JORGE PICCIANI.

Conforme esclareceu o colaborador BENEDICTO JÚNIOR, as vantagens indevidas solicitadas pelos agentes públicos, uma vez aprovadas por ele, eram encaminhadas para o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht (SOE), setor responsável pela gestão do “caixa dois” da empresa, que realizava os pagamentos a título de propina.

7 - Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.

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O SOE, por sua vez, elaborava um planejamento com as datas dos pagamentos previamente aprovados e, com a proximidade do dia para a entrega do recurso, fazia contato com o responsável para o agendamento e definição do local e horário do recebimento da propina. No caso de PICCIANI, esses contatos foram feitos pelo próprio BENEDICTO JÚNIOR.

Como já apontado, muitos destes pagamentos eram registrados no sistema DROUSYS, concebido pela ODEBRECHT para contabilizar a propina paga pela empresa a diversos agentes públicos.

Após a formalização do acordo de leniência com a ODEBRECHT, o MPF passou a ter acesso a esse sistema, o que propiciou a elaboração do Relatório de Informação nº 149/2017, pela Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise da Procuradoria Geral da República -SPPEA/PGR.

O relatório concluiu que no período de 2008 a 2014, JORGE PICCIANI, cuja alcunha no sistema era “GREGO”, conforme explicado por BENEDICTO, recebeu da ODEBRECHT, um total de R$ 11.150.000,00. Parte desses valores foi recebida no exterior.

A efetiva entrega dos recursos ocorria por intermédio de ÁLVARO NOVIS, outro colaborador que admitiu ter sido contratado para intermediar esses pagamentos. Como é possível observar pelo trecho a seguir reproduzido, ÁLVARO NOVIS confirmou que fez entregas de dinheiro para JORGE PICCIANI, por intermédio de JORGE LUIZ RIBEIRO.

Esses valores ficaram registrados em uma planilha que ele alimentava com o auxílio de EDIMAR DANTAS, chamada de CARIOQUINHA, na qual constavam datas, valores, endereços e nomes de pessoas que receberam os recursos.

Em seu depoimento prestado no acordo de colaboração, ÁLVARO NOVIS explicou:

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Na planilha CARIOQUINHA, NOVIS fez os seguintes registros, recuperados como elementos de corroboração:

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Parte8 desses dados, lançados na época em que os pagamentos ocorreram, foi

entregue pelo próprio ÁLVARO NOVIS, sobretudo com relação a 2014. Ali é possível observar, por exemplo, duas remessas de R$ 500.000,00, cada, com a senha “submarino”, realizadas nos dias 12 e 13 de março de 2014. A programação para esse pagamento constou do sistema DROUSYS, como é possível observar pelo registro ora reproduzido:

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Observa-se que entre a data de programação do pagamento e o seu efetivo encaminhamento a JORGE PICCIANI, houve pequena variação de dias, o que se deve, naturalmente, ao tempo necessário para a mobilização do aparato a ser utilizado na concretização do evento. Nota-se que NOVIS, em vez de efetuar o pagamento na mesma data, optou por dividi-lo, fazendo duas entregas em dias distintos. A estratégia, segundo o colaborador, ocorria por razões de segurança.

O cotejo entre as duas contabilidades – a de NOVIS e a da ODEBRECHT, produzidas de forma independente e autônoma por pessoas diversas, garante a autenticidade do dado. Foram capazes de confirmar o teor das declarações não só do agente corruptor, BENEDICTO JÚNIOR, como do intermediário utilizado para a execução dos pagamentos, ÁLVARO NOVIS, o que é uma importante prova de corroboração do que disseram em suas respectivas colaborações. As coincidências ocorreram outras vezes.

Ainda no ano de 2014 um outro pagamento foi programado para JORGE PICCIANI (GREGO), agora no importe de R$ 250.000,00. A agenda previa disponibilização do recurso entre 29.9 a 03.10.14 e a senha para o recebimento: PAPIRO.

Na planilha de ÁLVARO NOVIS (CARIOQUINHA), também constou a programação do pagamento, com a mesma senha PAPIRO:

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Antes de 2014, o denunciado JORGE SAYED PICCIANI já havia recebido outros valores via setor de operações estruturadas, por ordem de BENEDICTO JÚNIOR. Em 2008, a propina disponibilizada totalizou a quantia de R$ 2.500.000,00. A primeira parcela foi paga no dia 13 de agosto de 2008 e as outras duas nos dias 14 e 21 de agosto de 2008, cada qual no importe de quinhentos mil reais. Tudo registrado no DROUSYS:

Em 2010 BENEDICTO JÚNIOR concordou em atender a nova solicitação de PICCIANI e se dispôs a pagar cerca de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), os quais foram efetivamente entregues, conforme admitiu o executivo em depoimento ao MPF.

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28/06/10 R$ 928.126,10 (convertido em euro)

22/08/12 R$ 400.000,00

25/02/14 R$ R$ 1.000.000,00

30/09/14 R$ 250.000,00

Com exceção do montante de R$ 4,5 milhões (depositados no exterior), os demais pagamentos de propina pela ODEBRECHT ao deputado JORGE PICCIANI foram realizados no Rio de Janeiro por intermédio do doleiro ÁLVARO NOVIS.

Os valores entregues no estado, foram recebidos por JORGE LUIZ RIBEIRO, operador financeiro de PICCIANI, a quem cabia receber e ocultar o dinheiro da corrupção.

Nos anexos 3 (volume 3 – f. 72/73) e 6 (volume 4 – f. 55) de sua colaboração, ao detalhar a dinâmica dos pagamentos efetuados por ordem por executivos da ODEBRECHT, NOVIS confirmou que:

Anexo 3 (volume 3):

“(...) os Deputados Estaduais JORGE PICCIANI e PAULO MELO também receberam recursos da Odebrecht; Que o emissário de PICCIANI era JORGE LUIZ RIBEIRO; Que o emissário de PAULO MELO era ANDREA CARDOSO NASCIMENTO; Que o Colaborado sabe desses nomes e políticos pois os mesmos já recebiam entregas da FETRANSPOR através de JORGE LUIZ RIBEIRO e ANDREIA CARDOSO (…); Que era remunerado pela Odebrecht com uma taxa que variava de 0,5% a 2% por operação; Que algumas senhas da entrega dos valores estão listados na planilha sob o codinome TRANSMAR e TRANSMARSP;”

Anexo 6 (volume 4):

“(...) que confirma ter realizado pagamentos para PICCIANI por ordem da ODEBRECHT, muito embora não se lembre dos valores nem do período; que utiliza o sistema DRAUSYUS para esses

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pagamentos; que o intermediário desses pagamentos também era JORGE LUIZ; (…) que o colaborador sabia que os valores eram destinados a PICCIANI porque os valores eram entregues a JORGE LUIZ, que trabalhava exclusivamente para PICCIANI; e também BENEDICTO JÚNIOR comentou com o colaborador; que o depoente tinha boa relação com BENEDICTO, por isso comentou com o colaborador quem seria o destinatário dos recursos; (…).”

BENEDICTO JÚNIOR admitiu que os pagamentos a PICCIANI tiveram por objetivo gerar a possibilidade de a ODEBRECHT obter alguma vantagem a partir de iniciativas do deputado:

“PRR: Agora, vocês então vocês fizeram um pagamento por fora, não diretamente para um candidato e sim para que ele utilizasse esse recurso para terceiros, que vocês nem sabiam quem eram?

BBJ: Não sabíamos, os quatrocentos mil que o senhor está dizendo né?

PRR: Isso BBJ: Perfeito

PRR: Qual foi a razão então pra que vocês apostassem nessa…. BBJ: Ele ser o Presidente do PMDB, ele ter a primazia de escolher os candidatos do PMDB que ele ia apoiar, e se eu precisasse em algum momento que algum desses prefeitos eleitos do PMDB pudesse apoiar a Odebrecht eu iria procurar através dele.

PRR: O senhor tinha… BBJ:Tinha esse canal aberto

PRR: Que ele poderia de alguma forma favorecer a empresa em alguma necessidade?

BBJ: Ajudar a empresa se eu pedisse, se eu pedisse, com certeza, doutor”.

De fato, essa expectativa se confirmou com a aprovação, por exemplo, do Projeto de Lei nº 153/2015 e a sua consequente transformação na Lei nº 6.979/15. Registros identificados na caixa de e-mails de JORGE PICCIANI revelaram que a preocupação de executivos da ODEBRECHT (BRASKEM), com o projeto.

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Neste contexto, Luciano Guidolin enviou e-mail, no dia 17 de março de 2015, para BENEDICTO JÚNIOR (e cópia para Marcelo Lyra), com o arquivo contendo indicações sobre necessidade de alterar o PL 153/2015 que trata de isenção fiscal. No mesmo dia BENEDICTO repassou a mensagem para PICCIANI:

O anexo do referido e-mail continha o seguinte texto:

“Projeto de Lei 153/2015 GOV RJ 1. Contexto

Braskem tem relevante presença no Estado do Rio de Janeiro através das suas unidades de produção de eteno e das resinas plásticas polietileno e polipropileno;

Braskem tem atuado fortemente na atração de investimentos da indústria da transformação plástica para o Estado do Rio de Janeiro, com base nos incentivos estabelecidos na Lei 5636/2010. Nestes últimos 4 anos foram instaladas mais de uma dúzia de empresas de transformação plástica no RJ com significativa criação de emprego, renda e investimentos;

Recentemente a Braskem confirmou seu interesse em investir no RJ através da duplicação da sua unidade de produção em Duque de Caxias (investimento bilionário) enquanto o contexto não permite o avanço do novo polo do Comperj

A indústria petroquímica sofre grandes desafios de competitividade no Brasil na concorrência com produtores internacionais, competitividade de suas matérias primas e

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comportamento da economia brasileira reduzindo seus resultados e níveis operacionais;

2. Projeto de Lei 153/2015

Substitui a Lei 5636/2010 mantendo os incentivos fiscais para vários setores industriais, inclusive o da transformação plástica, em regiões do Estado previamente definidas;

Altera o sistema de tributação do ICMS somente de dois setores econômicos – aço e petroquímica – alterando a modalidade do ICMS de diferimento para isenção, onerando estes setores de pagamentos adicionais de impostos (hoje creditados) na venda para clientes incentivados;

3. Impactos do Projeto de Lei 153/2015

Muda a “regra do jogo” que embasou o esforço de atração de investimentos para o RJ, impondo a petroquímica um ônus financeiro no atendimento dos clientes atualmente incentivados inexistente nas regras atuais.

Como consequência, “desincentiva” a atração pela petroquímica de novos investimentos em transformação plástica para o RJ por se tornarem onerosos para a empresa;

Cria uma vantagem para o produto importado internacional (que não teria este ônus adicional), desestimulando os investimentos em petroquímica no RJ e na indústria brasileira.

4. Alterações no Projeto de Lei 153/2015 com objetivo de manter capacidade de atração de investimentos e fomento das indústrias petroquímicas e de transformação plástica no RJ

Retirar / suprimir integralmente do Projeto de Lei 153/2015 o Artigo 4o seus parágrafos e suas indicações. Alternativamente, excluir a menção à petroquímica no referido parágrafo.

Na autorização para Diferimento de ICMS na importação de matérias primas (Artigo 3 o) acrescer a expressão “sem similar produzido no Estado” como forma de proteção a indústria fluminense”.

Após o encaminhamento da mensagem para JORGE PICCIANI e a inclusão de emendas pelo então deputado estadual e hoje prefeito de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa, o que se viu foi a aprovação do projeto nos exatos termos propostos pela ODEBRECHT:

MODIFICATIVA Nº 105

O inciso I, do art. 3º passa a vigorar com a seguinte redação:

“I – importação de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu ativo fixo, sem similar produzido no

Estado do Rio de Janeiro.”

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 18 de março de 2015.

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Deputados ROGÉRIO LISBOA, Tânia Rodrigues, Chiquinho da Mangueira

MODIFICATIVA Nº 106

O Inciso III, do art. 3º passa a vigorar com a seguinte redação:

“III – aquisição interestadual de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu ativo fixo, no que se refere ao diferencial de alíquota, sem similar produzido no Estado do Rio de Janeiro.”

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 18 de março de 2015.

Deputados ROGÉRIO LISBOA, Tânia Rodrigues, Chiquinho da Mangueira

MODIFICATIVA Nº 107

O art. 4º passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 4º - Não se aplica o diferimento previsto no inciso V do caput do artigo 3º, às operações de aquisição interna de aço e seus produtos

destinados ao processo produtivo do estabelecimento enquadrado, ficando concedido o benefício da isenção às referidas operações.”

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 18 de março de 2015.

Deputados ROGÉRIO LISBOA, Tânia Rodrigues, Chiquinho da Mangueira

MODIFICATIVA Nº 108

O inciso IV, do art. 3º passa a vigorar com a seguinte redação:

“IV – importação de matéria-prima e outros insumos destinados ao seu processo industrial, exceto material de embalagem, sem similar

produzido no Estado do Rio de Janeiro.”

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 18 de março de 2015.

Deputados ROGÉRIO LISBOA, Tânia Rodrigues, Chiquinho da Mangueira

SUPRESSIVA Nº 110

Suprima-se a expressão “latas e tampas de alumínio para bebidas” do § 2º do artigo 5º.

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 18 de março de 2015.

Das 112 emendas propostas, todas aquelas indicadas pela ODEBRECHT foram aprovadas e todas por iniciativa de Rogério Lisboa9, como se pode observar comparando a

redação original do PL 153/2015 e a redação final da Lei 6.979/15 (com as mudanças pretendidas pela ODEBRECHT):

PL 153/2015 Lei 6.979

9 - A conduta de Rogério Lisboa não faz parte da presente imputação, tendo em vista a necessidade de aprofundamento das investigações quanto aos motivos que o levaram a apresentar as emendas indicadas na

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Art. 3º Fica concedido aos estabelecimentos de

que trata o artigo 2º desta Lei diferimento do ICMS nas seguintes operações:

I - importação de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu

ativo fixo;

II - aquisição interna de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu ativo fixo;

III - aquisição interestadual de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu ativo fixo, no que se refere ao

diferencial de alíquota;

IV - importação de matéria-prima e outros insumos destinados ao seu processo industrial,

exceto material de embalagem;

V - aquisição interna de matéria-prima, outros insumos e material de embalagem destinados ao seu processo industrial, exceto energia, água e materiais secundários, observado o disposto no

artigo desta Lei.

§ 1º O imposto diferido na forma dos incisos I a III do caput deste artigo será de responsabilidade do adquirente e recolhido no momento da alienação ou eventual saída dos respectivos bens, tomando-se como base de cálculo o valor da alienação, aplicando-se a alíquota normal de destino da mercadoria e não se aplicando o disposto no artigo 39 do Livro I do Regulamento do ICMS (RICMS/00), aprovado pelo Decreto nº 27.427, de 17 de novembro de 2000. § 2º O imposto diferido na forma dos incisos IV e V do caput deste artigo será pago englobadamente com as saídas dos produtos, não se aplicando o disposto no artigo 39 do Livro I

do RICMS/00.

§ 3º O diferimento na forma dos incisos I e IV do caput deste artigo só se aplica às mercadorias importadas e desembaraçadas pelos portos e

aeroportos fluminenses.

Art. 3º Fica concedido aos estabelecimentos de

que trata o artigo 2º desta Lei diferimento do ICMS nas seguintes operações: I - importação de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu ativo fixo, sem similar produzido no Estado do

Rio de Janeiro;

II - aquisição interna de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu ativo fixo; III - aquisição interestadual de máquinas, equipamentos, peças, partes e acessórios destinados ao seu ativo fixo, no que se refere ao diferencial de alíquota, sem similar produzido no

Estado do Rio de Janeiro;

IV - importação de matéria-prima e outros insumos destinados ao seu processo industrial, exceto material de embalagem, sem similar

produzido no Estado do Rio de Janeiro;

V - aquisição interna de matéria-prima, outros insumos e material de embalagem destinados ao seu processo industrial, exceto energia, água e materiais secundários, observado o disposto no

artigo desta Lei.

§ 1º O imposto diferido na forma dos incisos I a III do caput deste artigo será de responsabilidade do adquirente e recolhido no momento da alienação ou eventual saída dos respectivos bens, tomando-se como base de cálculo o valor da alienação, aplicando-se a alíquota normal de destino da mercadoria e não se aplicando o disposto no artigo 39 do Livro I do Regulamento do ICMS (RICMS/00), aprovado pelo Decreto nº 27.427, de 17 de novembro de 2000.

§ 2º O imposto diferido na forma dos incisos IV e V do caput deste artigo será pago englobadamente com as saídas dos produtos, não se aplicando o disposto no artigo 39 do Livro I

do RICMS/00.

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§ 4º Caso a matéria-prima e outros insumos adquiridos nos termos dos incisos IV e V do caput deste artigo sejam remetidos para industrialização em estabelecimento diverso do enquadrado no tratamento tributário especial de que trata essa lei, ficará o estabelecimento enquadrado responsável pelo recolhimento do imposto diferido, o qual será exigível com base na data da respectiva entrada da mercadoria, com os acréscimos cabíveis, a ser calculado pela aplicação da alíquota normal do imposto sobre o valor da operação de entrada das matérias-primas e outros insumos, vedado o aproveitamento de qualquer crédito fiscal. § 5° O pagamento do imposto a que se refere o § 4° deste artigo deve ser feito em documento de arrecadação em separado.

§ 3º O diferimento na forma dos incisos I e IV do caput deste artigo só se aplica às mercadorias importadas e desembaraçadas pelos portos e

aeroportos fluminenses.

§ 4º Caso a matéria-prima e outros insumos adquiridos nos termos dos incisos IV e V do caput deste artigo sejam remetidos para industrialização em estabelecimento diverso do enquadrado no tratamento tributário especial de que trata essa lei, ficará o estabelecimento enquadrado responsável pelo recolhimento do imposto diferido, o qual será exigível com base na data da respectiva entrada da mercadoria, com os acréscimos cabíveis, a ser calculado pela aplicação da alíquota normal do imposto sobre o valor da operação de entrada das matérias-primas e outros insumos, vedado o aproveitamento de qualquer crédito fiscal.

§ 5° O pagamento do imposto a que se refere o § 4° deste artigo deve ser feito em documento de arrecadação em separado.

Art. 4º Não se aplica o diferimento previsto no

inciso V do caput do artigo 3º, às operações de aquisição interna de aço e seus produtos, resina

petroquímica e seus derivados , destinados ao

processo produtivo do estabelecimento enquadrado, ficando concedido o benefício da isenção às referidas operações.

§ 1º O previsto no caput deste artigo poderá ser estendido a outros insumos constantes da lista a que se refere o inciso III do artigo 18 desta Lei. § 2º Será exigido do fornecedor dos insumos de que trata o caput deste artigo o estorno de crédito fiscal, conforme disposto no inciso I do artigo 37 da Lei nº 2.657/96. § 3º Caso a matéria-prima e outros insumos adquiridos com isenção de que trata o caput deste artigo, sejam remetidos para industrialização em estabelecimento diverso do

Art. 4º - Não se aplica o diferimento previsto nos

incisos IV e V do caput do artigo 3°, às

operações de aquisição de aço e seus produtos destinados ao processo produtivo do estabelecimento enquadrado, ficando concedido, às operações de aquisição interna dos mesmos, o benefício da isenção.

§ 1º Será exigido do fornecedor dos insumos de que trata o caput deste artigo o estorno de crédito fiscal, conforme disposto no inciso I do artigo 37 da Lei nº 2.657/96. § 2º Caso a matéria-prima e outros insumos adquiridos com isenção de que trata o caput deste artigo, sejam remetidos para industrialização em estabelecimento diverso do enquadrado no tratamento tributário especial de que trata essa lei, ficará o estabelecimento enquadrado responsável pelo recolhimento do

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enquadrado no tratamento tributário especial de que trata essa lei, ficará o estabelecimento enquadrado responsável pelo recolhimento do imposto não debitado em decorrência da referida isenção, o qual será exigível com base na data da respectiva entrada da mercadoria, com os acréscimos cabíveis, a ser calculado através da aplicação da alíquota normal do imposto sobre o valor da operação de entrada das matérias-primas e outros insumos, vedado o aproveitamento de qualquer crédito fiscal. § 4° O pagamento do imposto a que se refere o § 3° deste artigo deve ser feito em documento de arrecadação em separado.

imposto não debitado em decorrência da referida isenção, o qual será exigível com base na data da respectiva entrada da mercadoria, com os acréscimos cabíveis, a ser calculado através da aplicação da alíquota normal do imposto sobre o valor da operação de entrada das matérias-primas e outros insumos, vedado o aproveitamento de qualquer crédito fiscal. § 3° O pagamento do imposto a que se refere o § 3° deste artigo deve ser feito em documento de arrecadação em separado.

Com a aprovação do texto, Rogério Lisboa comunicou o fato a PICCIANI, o que é mais uma evidência do seu envolvimento no episódio e a respectiva atuação nos bastidores para atender aos interesses dos executivos da ODEBRECHT:

Note-se que, mesmo a pretexto de financiar campanhas políticas, os pagamentos supramencionados estiveram sempre pautados pela perspectiva de viabilizar a obtenção de indevida vantagem econômica em contrapartida às práticas funcionais com desvio de finalidade.

Nesse sentido, pouco importa se PICCIANI utilizou o dinheiro não contabilizado, em campanhas políticas ou para o seu enriquecimento pessoal. A causa principal para esses

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pagamentos, como admitiu BENEDICTO JÚNIOR, foi o acordo deliberado entre ambos sob a premissa de que o exercício do cargo público asseguraria benefícios à empresa, por meio de atos de ofício (como a edição de leis na forma acima descrita) ou, ainda que indiretamente, a partir da influência política decorrente da força do cargo de deputado estadual.

Ou seja, em todo o contexto que envolveu os pagamentos supramencionados, levou-se em conta a existência de vantagem financeira como contrapartida pela prática de atos funcionais com desvio de finalidade.

Assim, face à obtenção reiterada de indevida vantagem econômica em, pelo menos, seis ocasiões distintas, JORGE PICCIANI praticou o crime de corrupção passiva na sua forma qualificada, conforme descrito no artigo 317, § 1º, seis vezes, na forma do artigo 71, ambos do Código Penal, dada a prática de atos de ofício com desvio de finalidade.

JORGE LUIZ RIBEIRO, por sua vez, em razão do auxílio doloso para o recebimento do dinheiro da corrupção, praticou o crime descrito no artigo 317, § 1º, c/c 29 e 30, seis vezes, na forma do artigo 71, todos do Código Penal.

BENEDICTO JÚNIOR, por sua vez, face ao pagamento reiterado de propina a JORGE PICCIANI em seis ocasiões distintas, praticou o crime de corrupção ativa qualificada, dada a realização de ato de ofício com desvio de finalidade, conforme descrito no artigo 333, parágrafo único, seis vezes, na forma do artigo 71, ambos do Código Penal.

ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS contribuíram para os pagamentos ilícitos, motivo pelo qual praticaram o crime de corrupção passiva descrito no artigo 333, parágrafo único, c/c 29, seis vezes, na forma do artigo 71, todos do CP.

2.2 – FATO 02 – ATOS DE CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA ENVOLVENDO PAULO CESAR MELO DE SÁ E A ODEBRECHT.

DENUNCIADOS: PAULO MELO, ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO, FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO, BENEDICTO JÚNIOR, LEANDO AZEVEDO, ÁLVARO NOVIS E EDIMAR DANTAS.

(38)

CAPITULAÇÃO DELITIVA : ARTIGOS 317, parágrafo primeiro e 333, parágrafo único, ambos do Código Penal.

Entre os dias 17 de setembro de 2010 e 30 de setembro de 2014, por 5 vezes, PAULO CÉSAR MELO DE SÁ solicitou e recebeu da empresa ODEBRECHT, por intermédio de seus executivos, vantagens indevidas, em razão de sua função como deputado estadual.

Os pagamentos de vantagens indevidas ao deputado PAULO MELO buscavam os mesmos resultados daqueles pretendidos com JORGE PICCIANI, ou seja, garantir que os interesses particulares da ODEBRECHT fossem atendidos com a aprovação de leis que favorecessem o grupo, e também facilitar o bom relacionamento com o ex-governador SÉRGIO CABRAL, de modo a assegurar o direcionamento de contratos e licitações realizados pelo executivo, principalmente para as instalações que viriam a ser construídas para a copa do mundo.

Conforme esclareceu o colaborador BENEDICTO JÚNIOR, as vantagens indevidas solicitadas pelos agentes públicos, uma vez aprovadas por ele, eram encaminhadas para o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht (SOE), setor responsável pela gestão do “caixa dois” da empresa, que realizava os pagamentos a título de propina.

O SOE, por sua vez, elaborava um planejamento com as datas dos pagamentos previamente aprovados e, com a proximidade do dia para a entrega do recurso, fazia contato com o responsável para o agendamento e definição do local e horário do recebimento da propina. No Rio de Janeiro esses contatos geralmente eram feitos por LEANDRO AZEVEDO ou pelo próprio BENEDICTO JÚNIOR.

Como já apontado, muitos destes pagamentos eram registrados no sistema DROUSYS, concebido pela ODEBRECHT para contabilizar a propina paga pela empresa a diversos agentes públicos.

(39)

Após a formalização do acordo de leniência com a ODEBRECHT, o MPF passou a ter acesso a esse sistema, o que propiciou a elaboração do Relatório de Informação nº 149/2017, pela Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise da Procuradoria Geral da República -SPPEA/PGR.

O relatório concluiu que no período de 2010 a 2014, PAULO MELO, cuja alcunha no sistema, segundo os colaboradores, era “MARIA MOLE”, recebeu da ODEBRECHT um total de R$ 1.400.000,00 (hum milhão e quatrocentos mil reais).

A efetiva entrega dos recursos ocorria por intermédio de ÁLVARO NOVIS, outro colaborador que admitiu ter sido contratado para intermediar esses pagamentos. Como é possível observar pelo trecho que segue destacado, NOVIS confirmou que fez entregas de dinheiro para PAULO MELO, por intermédio de ANDREIA CARDOSO.

Esses valores, segundo NOVIS, ficaram registrados em uma planilha que ele alimentava, chamada de CARIOQUINHA, na qual constavam datas, valores, endereços e nomes de pessoas que receberam os recursos. Confira-se:

Referências

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