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CONTAS VALORES

PLATINA R$ 17.250.000,00

PAGAMENTOS EXTRAS/CONTA SATÉLITE R$ 6.250.000,00

PLANILHA CONTAS 2010 A 2013 R$ 26.460.000,00

TOTAL R$ 49.960.000,00

Os ajustes ocorreram entre PICCIANI e JOSÉ CARLOS LAVOURAS, que agia em nome dos demais denunciados ligados à FETRANSPOR, vale dizer, BARATA, LÉLIS e TRAÇA, os quais não só concordaram com a avença, como contribuíram financeiramente para honrá-la. Beneficiaram-se, por conseguinte, com os atos praticados por PICCIANI em favor do setor empresarial.

Nesse acerto, os empresários comprometeram-se a dispor de valores em espécie em prol do deputado estadual, em troca de benefícios variados que estivessem ao alcance do então Presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Para alimentar essa rotina de pagamentos, incluindo a arrecadação dos valores e os respectivos registros contábeis, JOSÉ CARLOS LAVOURAS contratou o hoje colaborador ÁLVARO JOSÉ GALLIEZ NOVIS, que passou a desempenhar, com o auxílio de outros empregados da corretora HOYA, dentre os quais EDIMAR MOREIRA DANTAS, também colaborador, a função de administrar e distribuir o dinheiro recolhido pelas empresas de ônibus.

O acautelamento dos recursos se fazia em cofres de transportadoras de valores, as quais, além desse armazenamento, também eram contratadas para entregar os malotes de dinheiro destinados a PICCIANI. Algumas das vezes, ÁLVARO NOVIS utilizava seus próprios empregados para essa finalidade.

A logística do recolhimento e da entrega dos valores pagos pela FETRANSPOR era a seguinte: o dinheiro era recolhido nas garagens de todas as empresas de ônibus filiadas à FETRANSPOR, pela trasportadora de valores, onde ficava custodiado para fazer os pagamentos aos políticos. As ordens de pagamento se davam sempre por JOSÉ CARLOS LAVOURA, que agia em nome e com a anuência dos também denunciados JACOB BARATA, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA.

As determinações de pagamento ocorriam por meio de bilhetes em papel, nextel, com uso de codinomes, para evitar a identificação dos beneficiários. Os bilhetes eram entregues para ÁLVARO NOVIS ou para EDIMAR MOREIRA DANTAS. Pelo telefone, era combinado com os interlocutores um lugar para se encontrarem, evitando-se falar sobre as entregas. Em seguida, os colaboradores davam as ordens para a transportadora de valores, que efetuava os pagamentos, os quais, algumas vezes, não eram feitos pelas transportadoras de valores, mas sim pelos empregados de NOVIS, ocasiões em que o dinheiro era enviado para a empresa HOYA, para em seguida ser entregue a PICCIANI.

O controle dos valores era feito mediante planilhas elaboradas por EDIMAR com o lançamento dos seguintes dados: (1) data em que os recursos foram debitados ou creditados; (2) valor entregue; (3) valor creditado pela FETRANSPOR; (4) saldo com o colaborador; (5) situação do saldo, positivo (CR) ou negativo (DB); (6) histórico com observações a respeito da transação.

Desse forma, entre os anos de 2010 ao início de 2013, com valores que oscilavam entre R$ 300.000,00 a R$ 3.000.000,00, JORGE PICCIANI recebeu R$ 26.460.000,00 dos empresários de ônibus, conforme tabela que segue colacionada, produzida a partir dos

registros mantidos em mídia pelo colaborador ÁLVARO NOVIS, cuja cópia instrui a denúncia.

Os pagamentos prosseguiram nos anos seguintes, de forma que, entre fevereiro de 2013 a julho de 2015, os empresários de ônibus desembolsaram, pelo menos, vinte e três milhões e quinhentos mil reais, em trinta e quatro vezes, nas datas e valores descriminadas a seguir:

Vale anotar que no caso de JORGE PICCIANI, os pagamentos não cessaram mesmo quando ficou sem mandato (2011/2014). De um lado, por consistirem em dividendos dos “serviços” já prestados. De outro, pela óbvia necessidade de seguir contando com o apoio desse influente político do PMDB/RJ, para que a ORCRIM pudesse prosseguir na prática dos crimes, dada a sua notória influência sobre outros parlamentares.

Nessa época, como se viu, PICCIANI ocupava a Presidência do Diretório Regional do PMDB, posição que lhe garantia agir como coordenador na divisão das vantagens indevidas destinadas aos políticos com mandato, tanto no executivo, como no legislativo, pagas pelos empresários. Tudo para que, em contrapartida, contassem com a “boa vontade” com seus negócios, quando da prática de atos parlamentares, bem como, quando houvesse necessidade de atuação nos bastidores junto a outros funcionários públicos, como aconteceu no âmbito do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (Operação Quinto do Ouro).

Mesmo sem desempenhar mandato eletivo, PICCIANI acompanhava de perto os desdobramentos dentro da ALERJ e era, a todo tempo, atualizado por seus aliados sobre

votações e outros desdobramentos dentre do órgão legislativo. Exemplo disso pode ser medido pelo e-mail encaminhado pelo deputado estadual ANDRÉ CORREA, em junho de 2011:

Naturalmente os agentes corruptores possuíam conhecimento dessa força política, o que fez com que prosseguissem efetuando os pagamentos, algo que não desconfigurou a prática do crime de corrupção, pois os pagamentos ocorreram fora do período de exercício da função pública, mas se deram em razão dela, o que é suficiente para configurar o crime de corrupção passiva.

Para receber a verba das empresas de ônibus, JORGE PICCIANI valeu-se do apoio de JORGE LUIZ RIBEIRO, operador financeiro que se encarregou de manter contatos com empregados de NOVIS para combinar as datas e os respectivos locais em que se dariam os pagamentos.

Na caixa de correio eletrônico de JORGE LUIZ, cujo acesso foi autorizado por esse juízo, constam os nomes de MÁRCIO e EDIMAR, ambos empregados de NOVIS que o auxiliavam nesses pagamentos.

Quando foi preso em uma das etapas da operação Lava Jato em Curitiba (operação XEPA), NOVIS destruiu a maior parte dos registros dessas transações. Manteve, contudo, alguns relatórios com os dados contábeis da época, assim como arquivos salvos em um pen drive cujas cópias instruem os autos que acompanham a presente denúncia.

Nessas planilhas, a pedido de JORGE LUIZ RIBEIRO, o codinome gravado para ele era “XX”, enquanto PICCIANI recebeu a alcunha de PLATINA, mais tarde alterada pra SATÉLITE. Uma pequena amostra desses registros, com a movimentação dos valores a débito e crédito para PICCIANI, segue reproduzida, de forma a ilustrar as informações do colaborar:

Como visto, as entregas para JORGE PICCIANI a mando de JOSÉ CARLOS LAVOURAS, foram recebidas por JORGE LUIZ RIBEIRO, codinome “XX”. Nessa época, quando o transporte da propina era feito por meio da empresa TRANSEXPERT, JORGE LUIZ pedia para ser identificado como MANOEL, de modo a evitar que pudesse ter sua identidade revelada pelos encarregados do transporte. Quando este transporte era feito por empregados de NOVIS, a estratégia era abandonada, pois eles já conheciam o intermediário de PICCIANI, face aos reiterados pagamentos.

Por orientação de JORGE LUIZ RIBEIRO, houve entregas de valores na Praça Pio X, 118 interior do Banco Bradesco Prime. Nesse lugar, quando JORGE LUIZ não estava, ele pedia para entregar o dinheiro à então gerente MÁRCIA ROCHA, que em mais de uma ocasião o auxiliou no recebimento da propina destinada ao mencionado deputado estadual. Essas informações constam dos anexos fornecidos por NOVIS ao Superior Tribunal de Justiça, cujo compartilhamento foi devidamente autorizado pelo Ministro Felix Fischer e segue reproduzido em parte:

De fato, em um dos e-mails encaminhados por JORGE LUIZ para MÁRCIA foi possível constatar uma orientação para receber e depositar em contas distintas, valores que seriam ou foram entregues no banco. Chama-se atenção para o título do e-mail: MANUEL.

Em outra oportunidade JORGE LUIZ orientou MÁRCIA a efetuar depósito de parte do valor que seria entregue na agência:

Observe-se que na mensagem, feita no dia 26/06/11, JORGE LUIZ fez referência a MANOEL: “está combinado que MANOEL estará na agência por volta das 11h.” Em seguida o denunciado orienta MÁRCIA a fazer o depósito de pouco mais de cem mil reais na conta , em nome de SHALON DIESEL LTDA. Por fim, acrescenta: “a diferença você já sabe.” deixando evidente que se tratava de uma atividade rotineira e, o que é mais importante, confirmando o teor das declarações de NOVIS.

Cabe acrescentar que na planilha controlada por ÁLVARO NOVIS, consta o registro do pagamento de R$ 500.000,00 em favor de JORGE LUIZ/JORGE

PICCIANI, por ordem de JOSÉ CARLOS LAVOURAS.

A diferença entre as datas (15.6 na programação de NOVIS) e 27.6 no e-mail de JORGE LUIZ, se deve ao tempo necessário para operacionalizar a disponibilização e efetiva entrega do dinheiro.

O endereço mais frequente de entrega era na rua da Assembleia, nº 10,

sala 1409 (sede da empresa PJ3 EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA).

Algumas vezes, as entregas foram realizadas na Rua Ouvidor, nº 60, sala 512 (sede da BKR VIAGENS E TURISMO LTDA - EPP), ambas no Centro do Rio de Janeiro. Os dois endereços estão associados ao denunciado JORGE LUIZ RIBEIRO.

A propósito, como revelou o Relatório de Análise nº 3450/17, elaborado pela ASSPA/PRR2ª, ao longo dos últimos anos JORGE LUIZ manteve constantes contatos telefônicos com representantes da HOYA, como MÁRCIO MOREIRA e EDIMAR DANTAS, e também com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO e MARCELO TRAÇA, além de REGINA FÁTIMA, secretária de LAVOURAS na

FETRANSPOR.

Os elementos de ratificação dos termos apresentados por NOVIS não param por aí. Na denúncia das pessoas sem foro por prerrogativa de função (Operação Ponto Final), foram apontados diversos dados telefônicos que confirmam o relacionamento frequente de NOVIS com os empresários e executivos do ramo de transporte público.

Há ainda declarações de empregados dos empresários do ramo de ônibus que pagaram a propina atestando contatos de seus patrões com NOVIS, bem como o fluxo de envelopes (que parecia conter dinheiro) e documentos (provavelmente as ordens de pagamentos aos agentes públicos). Nesse sentido, os trechos abaixo transcritos da denúncia da operação Ponto Final, com destaque para as declarações DENI GULINELI, secretária de LAVOURAS, por refletir o controle de pagamentos de propinas realizado por NOVIS, verbis:

“O colaborador ÁLVARO NOVIS relatou que JOSÉ CARLOS LAVOURAS indicava todos os pagamentos de propina a políticos pela FETRANSPOR, por telefone e por meio de bilhetes, com a ajuda de seus subordinados: CARLOS ROBERTO ALVES, gerente financeiro da FETRANSPOR, REGINA ANTÔNIO, secretária da FETRANSPOR e ENI

segunda inquirição (na primeira preferiram o silêncio) tenham negado terem ciência do conteúdo e destinação das mensagens, admitiram em sede policial a sua existência, bem como o regular recebimento e entrega de valores em espécie, o que corrobora as afirmações dos colaboradores. Com efeito, informou o gerente financeiro da FETRANSPOR, CARLOS ROBERTO ALVES, em seu interrogatório policial:

“... QUE tinha conhecimento de que JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS fazia contato com pessoas da HOYA e que o contínuo da HOYA entregava pacotes ao requirido; QUE acredita que em tais pacotes pudesse haver dinheiro; QUE LAVOURAS ia às terças e quintas à FETRANSPOR, e que costumava receber tais pacotes nessas ocasiões; QUE LAVOURAS costumava chegar entre meio dia e uma hora, e que em suas ausências determinava que o reinquirido que recebesse tais pacotes; QUE eram pacotes médios; QUE certa vez indagou LAVOURAS sobre o que continham tais pacotes, no que LAVOURAS lhe disse que se tratavam de coisas particulares dele e que não se metesse...; QUE uma vez por mês recebia de JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS um envelope lacrado contendo o que acredita sejam documentos para serem entregues a EDIMAR DANTAS ou MÁRCIO; QUE o envelope era entregue a EDIMAR ou a algum de seus contínuos na sede da FETRANSPOR...”

(destaques nossos)

Por sua vez, a secretária da FETRANSPOR REGINA ANTÔNIO afirmou à autoridade policial que ÁLVARO NOVIS e LAVOURAS eram amigos e vizinhos de “casa de praia”, e que aproximadamente uma vez por semana portadores da HOYA traziam envelopes médios, do tamanho de um ofício, dobrados e lacrados, para serem entregues a LAVOURAS, contendo o que acredita ser dinheiro, e que também entregava envelopes lacrados e grampeados contendo documentos para os mesmos portadores. Acrescentou que ocasionalmente ligava para EDIMAR da HOYA a pedido de LAVOURAS e solicitava a sua presença na FETRANSPOR, e outras vezes EDIMAR chegava e dizia que havia sido chamado por LAVOURAS diretamente.

De outro lado, ENI GULINELI, secretária de LAVOURAS na FLORES há 28 anos, portanto de sua total confiança, informou à autoridade policial durante o seu interrogatório que seu patrão lhe solicitava que, aproximadamente duas vezes por mês, entregasse pacotes do que acreditava ser dinheiro a enviados da HOYA, e que uma vez por mês LAVOURAS lhe

passava bilhetes contendo anotações “débito/crédito” com valores e que se EDIMAR (da HOYA) ligasse, deveria repassar aquelas informações a ele, ou entregar pessoalmente caso EDIMAR fosse à FLORES.

Tal fato é corroborado pelo e-mail a seguir, enviado por ENI DA SILVA GULINELI justamente para o colaborador EDIMAR DANTAS, no dia 26/06/2014, para tratar da diferença de R$ 4.500,00 entre a quantia contabilizada pelo colaborador e o valor em espécie realmente entregue na sede da transportadora Flores Ltda (a íntegra do e-mail está em anexo):

Conforme indicado no Relatório de Pesquisa nº 5940/17, elaborado pela Assessoria de pesquisa do MPF, entre janeiro de 2013 a fevereiro de 2016, as empresas de ônibus recolheram R$ 250.580.638,13 (duzentos e cinquenta milhões, quinhentos e oitenta mil, seiscentos e trinta e oito Reais e treze centavos), para alimentar o esquema de corrupção envolvendo servidores públicos de diversos seguimentos.

JOSÉ CARLOS LAVOURAS, de acordo com o que foi consignado na denúncia decorrente da operação Ponto Final, promoveu, somente entre os anos de 2013 e 2016, o aporte de cerca de R$ 77 milhões para a caixinha da FETRANSPOR, enquanto JACOB BARATA FILHO, por intermédio das empresas VIAÇÃO PENDOTIBA, GUANABARA DIESEL e RODOVIÁRIA MATIAS, aportou cerca de R$ 52 milhões; Já MARCELO TRAÇA contribuiu, por meio das empresas RIO ITA e FAGUNDES, com quase R$ 41 milhões; e, LÉLIS TEIXEIRA a quantia de R$ 1 milhão.

Parte desses valores foi direcionada para financiar a corrupção de JORGE PICCIANI, cuja atuação política se mostrou imprescindível para o êxito do setor em seus pleitos corporativos ao longo de décadas.

JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA