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DENUNCIADOS: JORGE SAYED PICCIANI; PAULO CESAR MELO DE SÁ; EDSON ALBERTASSI; FELIPE CARNEIRO MONTEIRO PICCIANI; JORGE LUIZ

RIBEIRO; CARLOS CESAR DA COSTA PEREIRA; ANA CLAUDIA DE ANDRADE; MARCIA ROCHA SCHALCHER DE ALMEIDA; ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO; FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO.

CAPITULAÇÃO DELITIVA : Art. 1º, § 1º e art. 2º, §§ 3º e 4º, II da Lei 12.850/13.

Preliminarmente cumpre registrar que alguns dos integrantes da organização criminosa terão suas condutas descritas na presente peça tão somente para contextualizar o esquema criminoso envolvendo o pagamento de propina aos deputados estaduais.

Por se tratar de uma mesma organização criminosa da qual também fez parte o ex- governador do Rio de Janeiro, SÉRGIO CABRAL, cuja imputação foi formalizada nos autos da ação penal nº 0505914-23.2017.4.02.5101 (Operação Ponto Final)19, distribuída por

19 - Trata-se de denúncia resultante da Operação Ponto Final que apurou esquema de arrecadação de propina junto às empresas de ônibus e de repasse de valores ilícitos a agentes públicos, incluindo o ex-governador Sérgio

dependência para a 7ª Vara Federal Criminal/RJ, é incabível uma nova denúncia para esses personagens com relação ao crime de organização criminosa, ainda que os agentes corrompidos sejam outros.

Nessa situação estão, além do próprio SÉRGIO CABRAL, os integrantes da FETRANSPOR, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA, assim como ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, todos já denunciados pela prática do crime de organização criminosa. A eles, no entanto, serão imputados os diversos crimes de corrupção a serem descritos em capítulos próprios.

Nada obstante, foi possível observar que ao longo de décadas, em período que perdurou pelo menos até o dia 14 de novembro de 2017, quando foi deflagrada a operação Cadeia Velha, JORGE SAYED PICCIANI, PAULO CESAR MELO DE SÁ, EDSON ALBERTASSI, FELIPE CARNEIRO MONTEIRO PICCIANI, JORGE LUIZ RIBEIRO, CARLOS CESAR DA COSTA PEREIRA, ANA CLAUDIA DE ANDRADE, MARCIA ROCHA SCHALCHER DE ALMEIDA, ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO e FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO, associaram-se de forma estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem econômica e política, mediante a prática de crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro, dentre outras infrações penais.

Teixeira, Marcelo Traça e João Augusto Monteiro garantiam a hegemonia no setor de transportes, benefícios na política tarifária e de gestão desse serviço público. Entre os benefícios concedidos, é de se destacar o aumento das passagens de ônibus intermunicipais em 7,05%, no ano de 2009 e desconto de 50% no IPVA das empresas de ônibus. Foram denunciados José Carlos Reis Lavouras (corrupção ativa, lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e organização criminosa), Jacob Barata Filho (corrupção ativa, lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e organização criminosa), Marcelo Traça Gonçalves (corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa), Lélis Marcos Teixeira (corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa), João Augusto Morais Monteiro (corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa), Álvaro Novis (corrupção ativa, lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e organização criminosa), Edimar Dantas (corrupção ativa, lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e organização criminosa), Sérgio Cabral (corrupção passiva), Carlos Miranda (corrupção passiva), Carlos Bezerra (corrupção passiva), Márcio Miranda (lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e organização criminosa), David Sampaio (lavagem de dinheiro e organização criminosa), Francisca Medeiros (crime contra o sistema financeiro e organização criminosa), Eneas Bueno (organização criminosa), Octacílio Monteiro (organização criminosa), Regina Antonio (organização criminosa), Eni Gulineli (organização criminosa), Claudia Ferreira (organização criminosa).

A exemplo de muitas organizações criminosas investigadas pela Operação Lava Jato, os denunciados também se estruturaram em núcleos, que podem ser sintetizados da seguinte forma: a) o núcleo econômico, formado por executivos do setor de transporte coletivo e das empreiteiras cartelizadas contratadas para execução de obras pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, que ofereceram vantagens indevidas a mandatários políticos e gestores públicos; b) o núcleo financeiro operacional, formado por responsáveis pelo recebimento das vantagens indevidas e pela ocultação da origem espúria, inclusive através de empresas constituídas exclusivamente com tal finalidade; c) o núcleo político, integrado pelos deputados estaduais ora denunciados, cuja atuação de fazia imprescindível para a tutela dos interesses dos agentes corruptores.

Do primeiro segmento fazem parte BENEDICTO JÚNIOR e LEANDRO AZEVEDO os quais, por diversas vezes, efetuaram o pagamento de propina, dissimulado como doação de campanha, para JORGE PICCIANI e PAULO MELO.

Como admitiu BENEDICTO JÚNIOR ao prestar depoimento no Ministério Público Federal, os pagamentos feitos em favor dos deputados levavam em conta a relevância política de ambos, assim como a proximidade com o ex-governador SÉRGIO CABRAL.

A estratégia, ainda segundo o ex-presidente da ODEBRECHT, teve por objetivo assegurar que os deputados eventualmente atendessem aos interesses da empresa sempre que necessário, não só com a edição de atos normativos, como também viabilizando o direcionamento de licitações e contratos realizados pelo executivo estadual durante a gestão de SÉRGIO CABRAL.

Como será visto em capítulo próprio, alguns dos pagamentos feitos pelo setor de operações estruturadas da ODEBRECHT, ficaram registrados no sistema Drousys, confirmando datas, valores e locais desses pagamentos.

com o qual mantinha estreita relação de amizade. Ciente de sua utilidade para o grupo ODEBRECHT, fruto da capacidade de interceder em prol dos interesses da empresa, os pedidos foram feitos em momentos distintos, a pretexto de financiar suas campanhas políticas e de outros candidatos.

Os pagamentos, todos acatados por BENEDICTO JÚNIOR, não tinham nenhuma relação com ideologia ou afinidade política. Pelo contrário, prestavam-se a assegurar os interesses da empreiteira no estado do Rio de Janeiro.

Ainda que houvesse o pretexto de financiar campanhas políticas, tais doações, executadas sempre de forma clandestina, não passavam da contrapartida financeira pela prática, ainda que potencial, dos atos de ofício ao alcance de PICCIANI, o que, sem dúvida, configura o crime de corrupção.

Os pagamentos feitos pela ODEBRECHT em favor de PAULO MELO seguiram a mesma dinâmica com a única distinção de os pedidos terem sido feitos a LEANDRO ANDRADE AZEVEDO20, ex-executivo da empreiteira, que também admitiu os fatos,

conforme termos do acordo de colaboração homologado pelo Supremo Tribunal Federal cuja cópia instrui a denúncia.

Também aqui a influência política de PAULO MELO e a potencial capacidade dele de interceder em favor do referido grupo empresarial, foram as razões para que os pagamentos se concretizassem.

Mesmo reconhecendo que haveria pouco espaço para alguma intervenção direta de PAULO MELO na tutela dos interesses da ODEBRECHT, BENEDICTO JÚNIOR e LEANDRO AZEVEDO admitiram que a proximidade dele com o ex-governador SÉRGIO CABRAL, aliada à condição de deputado estadual, integrante do partido do governo (PMDB), eram suficientes para justificar o investimento e assegurar que pudessem, ao longo do tempo, obter alguma vantagem dessa espúria relação.

20 - Cópia do depoimento em anexo.

Ou seja, mais uma vez as doações de campanha serviram de mote para a transferência clandestina de recursos da ODEBRECHT para PAULO MELO, situação que, contudo, não se limitava a um mero caixa 2, representando, antes de tudo, a contrapartida financeira decorrente das gestões políticas e dos atos de ofício que viessem a ser realizados em decorrência do cargo de deputado estadual.

Com exceção do pagamento feito a PICCIANI no exterior, via de regra, a propina solicitada pelos deputados foi entregue por intermédio de ÁLVARO NOVIS, cuja estrutura de doleiro foi utilizada não só pela FETRANSPOR, como pelo próprio setor de operações estruturadas da ODEBRECHT.

NOVIS também admitiu que intermediou esses pagamentos, trouxe inclusive detalhes dos endereços em que fez as entregas e indicou alguns dos intermediários do recebimento. No caso de PICCIANI ou GREGO, como o denunciado era registrado no sistema Drousys, os recursos eram recolhidos por JORGE LUIZ RIBEIRO; já os pagamentos em favor de PAULO MELO, codinome MARIA MOLE, eram entregues para a denunciada ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO ou para o irmão dela, o também denunciado, FÁBIO CARDOSO DO NASCIMENTO.

Desse núcleo econômico fazem parte igualmente os empresários do setor de transporte coletivo rodoviário do Rio de Janeiro, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA, os quais, de modo consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades, efetuaram por diversas, pagamento de propina aos deputados estaduais ora denunciados, sempre com o fim de obter alguma vantagem em decorrência do poder político e dos cargos de JORGE PICCIANI, PAULO MELO e EDSON ALBERTASSI.

Os atos de corrupção ativa imputados nesta denúncia foram praticados pelos referidos empresários e dirigentes da FETRANSPOR, por meio de ações coordenadas e articuladas, que se repetiram ao longo dos anos, perdurando mesmo depois da prisão de

SÉRGIO CABRAL.

Como visto no capítulo anterior, o dinheiro que financiou anos de propina para diversos agentes públicos era recolhido nas garagens de ônibus. A análise dos arquivos recuperados no pendrive entregue pelo colaborador ÁLVARO NOVIS ao STJ, permitiu identificar que no período compreendido entre janeiro de 2013 a fevereiro de 2016, essa arrecadação para financiar o esquema criminoso totalizou R$ 250.580.638,13 (duzentos e cinquenta milhões, quinhentos e oitenta mil, seiscentos e trinta e oito reais e treze centavos), conforme apontado no Relatório de Pesquisa nº 5940/2017, da Assessoria de Pesquisa e Análise – ASSPA do MPF.

Quem orquestrou o esquema pelo núcleo econômico da ORCRIM foi JOSÉ CARLOS LAVOURAS, Presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR e proprietário de diversas empresas de ônibus, dentre as quais a TRANSPORTES FLORES. LAVOURAS21 coordenava os recolhimentos vertidos por outros empresários, determinando os valores a serem aportados por eles na arrecadação que serviria para financiar a propina dos servidores públicos.

LAVOURAS também contribuía regularmente para a caixinha da propina da FETRANSPOR que ele mesmo geria com a ajuda de ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, os operadores que ora se apresentam como colaboradores. Esse dinheiro recolhido pelas transportadoras TRANSEXPERT e PROSEGUR nas empresas de ônibus, era contabilizado na conta “F/NETUNO”22 e transferido, após debitadas despesas operacionais a

mando de LAVOURAS, para a outra conta, de nome “F/SABI”, da qual passava a ser distribuído e contabilizado nos pagamentos de propina.

JACOB BARATA FILHO23 também contribuía para o esquema de arrecadação

21 Após deflagrada a Operação Ponto Final, o denunciado viajou para Portugal e não retornou ao Brasil.

22No depoimento de Álvaro Novis foi esclarecido que a FETRANSPOR possuía duas contas para contabilizar a arrecadação paralela de recursos, uma sob o codinome F/SABI e a outra F/NETUNO (a primeira para débito e a segunda para crédito).

23 JACOB BARATA FILHO, filho de Jacob Barata, é conhecido na praça do Rio de Janeiro como o “Rei do Ônibus”, epígrafe que herdou de seu pai. Essa alcunha deriva do fato de ele ser um dos maiores empresários de ônibus do Rio e do Brasil, integrando o quadro societário de mais de 25 empresas do ramo dos transportes em um universo de mais de

da FETRANSPOR. Esses recursos eram operacionalizados com o auxílio de sua secretária na empresa GUANABARA DIESEL, FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS24, a quem cabia, como ela própria admitiu perante a Polícia Federal, fazer a intermediação entre os operadores financeiros EDIMAR DANTAS, da corretora HOYA, e MÁRCIO MIRANDA, da Transportadora de Valores PROSEGUR.

FRANCISCA MEDEIROS, por determinação de JACOB BARATA FILHO, repassava ordens para MÁRCIO MIRANDA creditar valores em espécie que seu chefe mantinha custodiado na Transportadora de Valores PROSEGUR em favor do caixa da FETRANSPOR25.

No período compreendido entre janeiro de 2013 a fevereiro de 2016, JACOB BARATA arrecadou ao menos R$ 27.754.990,00 para financiar o pagamento de propina dos agentes políticos ocupantes dos mais elevados cargos na administração pública do Rio de Janeiro, dentre os quais, o ex-governador SÉRGIO CABRAL, a maioria dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e alguns deputados estaduais, especialmente os ora denunciados JORGE SAYED PICCIANI, PAULO MELO e EDISON ALBERTASSI.

Outro importante dirigente e empresário a contribuir para o esquema foi MARCELO TRAÇA, proprietário de duas empresas de ônibus (viações RIO ITA e AUTO ÔNIBUS FAGUNDES LTDA), através das quais aportou ao menos R$ 40.924.165,00 na

sessenta empresas de que integra o quadro societário, como se infere do Relatório ASSPA nº 2935/2017. Na verdade, sua fama deriva do poder e influência que exerce no setor de transportes do Rio, sobretudo através da FETRANSPOR, entidade sindical que domina, juntamente a seus comparsas JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS e LÉLIS MARCOS

TEIXEIRA. O domínio exercido por JACOB BARATA FILHO também foi expressamente afirmado no depoimento do

colaborador Jonas Lopes, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Janeiro.

24 FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS (CHICA), foi denunciada na operação Ponto Final por integrar a organização criminosa composta pela cúpula da FETRANSPOR, razão pela qual a conduta dela não é objeto de imputação na presente denúncia.

25 Segundo declarações complementares prestadas por EDIMAR DANTAS ao MPF: “(…) QUE o depoente acredita que as empresas de JACOB BARATA FILHO também tinham valores custodiados na PROSEGUR; que assim acredita porque, muitas vezes, efetuava pagamentos para FRANCISCA através da “compensação” de valores que estavam custodiados na PROSEGUR; que essa “compensação” ou aporte de valores de uma conta para a outra se dava através de contato com MÁRCIO MIRANDA da PROSEGUR; QUE diversas vezes o depoente recebia uma ordem de JOSÉ CARLOS LAVOURAS para transferir um dinheiro para a FRANCISCA; que então o depoente dava uma ordem a MARCIO MIRANDA da PROSEGUR nesse sentido; que, então MÁRCIO MIRANDA entregava o valor pedido para Francisca na GUANABARA DIESEL em espécie; que, reversamente, quando era para FRANCISCA remeter valores para a conta da FETRANSPOR, esta dava a ordem para MARCIO MIRANDA, que simplesmente creditava o valor à disposição da

“caixinha da propina” da FETRANSPOR.

MARCELO TRAÇA GONÇALVES foi Presidente do SETRERJ – Sindicato de Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro e vice-presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR e figura como réu na ação penal formalizada com base na operação Ponto Final. Firmou acordo de colaboração com o MPF, homologado pelo Exmo Relator, Desembargador Federal Abel Gomes.

Conforme registrado no capítulo anterior, o colaborador detalhou que para fazer frente aos “pagamentos indevidos exigidos por políticos...a FETRANSPOR passaria a creditar na conta de empresas do declarante, RIO ITA e FAGUNDES, um valor adicional a título de repasse de recursos de vale-transporte, valor adicional este que não correspondia à prestação efetiva de serviços e que deveria ser então devolvido pelas empresas creditadas, em espécie, com recursos próprios;”

Essa artimanha “consistia basicamente em transformar créditos de vale- transporte, contabilizados pela FETRANSPOR, em dinheiro não contabilizado nas mãos da FETRANSPOR;” tudo de forma a proporcionar recursos para o pagamento de propina.

Com a prisão de ÁLVARO NOVIS, MARCELO TRAÇA passou a ter a incumbência de entregar, pessoalmente, os recursos destinados a PICCIANI e EDSON ALBERTASSI. Ambos receberam valores até meados de 2017, o primeiro por intermédio dos denunciados JORGE LUIZ e CARLOS CÉSAR PEREIRA. Já os pagamentos feitos para ALBERTASSI foram recebidos pelo próprio deputado estadual, em locais distintos, inclusive dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

LÉLIS MARCOS TEIXEIRA, apesar de não ser empresário de ônibus, exercia o cargo de Presidente Executivo da FETRANSPOR desde 2006, além de ser Presidente do Sindicato RIO ÔNIBUS, tendo nessa condição voz decisiva nos acordos entre os demais empresários citados para recolhimento e distribuição da receita da “caixinha da propina” da

Federação, além de fazer a intermediação com as autoridades públicas e pleitear os atos de ofício para beneficiar as empresas de ônibus.

Também chegou a contribuir para a “caixinha”, e recebia regularmente por parte dos operadores da HOYA, responsáveis pela contabilidade paralela, valores em espécie na sede da RIO ÔNIBUS. As importantes funções exercidas por LÉLIS TEIXEIRA na cúpula das mais relevantes sociedades empresárias e entidades sindicais no ramo de transportes públicos no Estado do Rio de Janeiro denotam a sua influência e poder político institucional no setor. Essa estreita relação de confiança existente entre esse denunciado, JOSÉ CARLOS LAVOURAS e JACOB BARATA FILHO, bem como o seu poder de comando sobre a entidade sindical patronal, também se reflete nas negociações espúrias para o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos com poder de influência nos interesses das empresas de transportes, mediante custeio do enorme “caixa 2” da FETRANSPOR.

Os pagamentos destinados aos deputados estaduais ora denunciados, comandados pela ODEBRECHT e FETRANSPOR, tiveram em comum o fato de serem executados por intermédio de ÁLVARO NOVIS, que se encarregava não apenas de arrecadar os recursos, como também, e principalmente, de fazê-los chegar aos destinatários, função que exercia com o auxílio de EDIMAR DANTAS, dentre outros.

Em um trecho do termo de colaboração homologado no Superior Tribunal de Justiça, NOVIS esclareceu que a propina de PICCIANI e PAULO MELO era recebida, respectivamente, por JORGE LUIZ RIBEIRO e ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO:

Os valores eram transportados tanto pela TRANSEXPERT, como pelos empregados da HOYA, RICARDO CAMPOS SANTOS e CARLOS ALBERTO VITAL DA SILVA, além de ROBSON TEIXEIRA DE CASTRO, que não trabalha mais na empresa. Quando as entregas a JORGE LUIZ eram feitas pelo pessoal da transportadora de valores, ele utilizava como senha o nome MANUEL.

De fato, foi identificado na caixa de correio de JORGE LUIZ, mensagem de e- mail para MÁRCIA ROCHA, com referência ao codinome MANUEL e algumas contas para depósito:

A mensagem acima reproduzida, além de ser uma importante fonte para corroborar os termos da colaboração de NOVIS, confirma a participação dolosa de MÁRCIA no esquema ilícito, dada a utilização de códigos entre ela e JORGE LUIZ, para dissimular os eventos espúrios envolvendo pagamentos de propina para JORGE PICCIANI.

A relação de confiança tida entre MÁRCIA e JORGE LUIZ, ambos integrantes do núcleo operacional, era fundamental para que não houvesse nenhum questionamento sobre a origem do dinheiro, muito menos registro oficial no sistema bancário quanto à

proveniência dele.

Nas ocasiões em que a denunciada recebeu pessoalmente os malotes com o dinheiro, sem a presença de JORGE LUIZ, tratou de escondê-los sob a mesa de trabalho, aguardando que o seu destinatário pudesse definir a melhor forma de ocultação naquele momento.

A função de JORGE LUIZ no suporte ao esquema ilícito capitaneado por JORGE PICCIANI não se limitava ao recebimento do dinheiro proveniente da propina. Na verdade, o operador financeiro era o responsável por gerir praticamente todas as contas do deputado, o que era facilitado pelo fato de possuírem sociedade em diversos empreendimentos comerciais.

Desde o pagamento de despesas triviais, até a movimentação de contas bancárias, passando pela representatividade dos interesses de PICCIANI nas suas diversas frentes comerciais, tudo circulava pelas mãos de JORGE LUIZ, pessoa que gozava da confiança do deputado e que, por ingerência dele, ocupou alguns cargos públicos.

Nessas tarefas JORGE LUIZ era auxiliado pela empregada da AGROBILARA, ANA CLAUDIA ANDRADE, que via de regra repassava para o operador financeiro as ordens de PICCIANI sobre a utilização do dinheiro, depósitos que deveriam ser feitos com a indicação das respectivas contas, pagamentos a serem realizados etc.

Mas as funções de ANA CLAUDIA ANDRADE não ficaram limitadas ao auxílio de JORGE LUIZ na movimentação dos recursos provenientes da propina. Outras iniciativas importantes também eram desempenhadas pela denunciada, que figurava como administradora da empresa COPA PROMOÇÕES E EVENTOS LTDA (CNPJ nº 18.410.041/0001-11), na qual a empresa AGROBILARA integra o quadro societário.

A denunciada também efetuou saques em espécie, como revelou o Relatório de Inteligência Fiscal – RIF nº 29.495, que apontou uma retirada no valor de R$ 169.424,00, da conta da AGROBILARA, no dia 19/09/2012.

Ao prestar depoimento em sede policial, a denunciada fez declarações evasivas quanto à empresa COPA PROMOÇÕES. Também não soube explicar a razão para o saque supramencionado, o que é mais uma evidência de sua adesão dolosa ao esquema criminoso.

Como JORGE SAYED PICCIANI é uma figura politicamente exposta e porque necessita dispor do dinheiro da corrupção de forma dissimulada, seja para enriquecimento próprio, seja para o financiamento de campanhas políticas, a utilização de interpostas pessoas, físicas e jurídicas, mostra-se imprescindível para essa estratégia.