• Nenhum resultado encontrado

3.2 Impacto negativo

3.2.3 Dependência da Economia da RAEM no sector do jogo

Desde a liberalização do sector do jogo em 2002, a qual constituiu uma viragem no desenvolvimento da economia da RAEM, a expansão do sector do jogo ultrapassou de forma significativa a dos outros sectores de actividade. Dados estatísticos da DSEC revelam que a quota que o sector do jogo representa no PIB local aumentou substancialmente desde 2003 (com excepção do ano 2006 em que se registou uma ligeira queda). Até 2013, a quota do sector do jogo passou a de ser cerca de 2/3 do PIB (calculada na óptica da despesa e a preços correntes) (vide Tabela 3 - 11). Noutra perspectiva, verifica-se que as receitas públicas do Governo da RAEM são cada vez mais dependentes do sector do jogo. Na Tabela 3 – 12, pode verificar-se que a percentagem das receitas fiscais oriundas do sector do jogo relativamente às receitas globais do Governo aumentou de 57% em 2003 para 87% em 2014, isto é, apenas cerca de 13% das receitas dos cofres do erário público da RAEM são provenientes de outros sectores, daí se conclui a elevada contribuição que o sector do jogo tem prestado em prol do desenvolvimento socioeconómico da Região.

Apesar do elevado desenvolvimento do sector do jogo, os outros sectores não conseguiram acompanhar o ritmo do crescimento, ou melhor, a dinâmica expansionista do sector do jogo restringiu o crescimento dos restantes sectores. Os diversos sectores económicos da RAEM têm manifestado particular preocupação relativamente ao papel predominante do sector do jogo na actividade económica local, expressando ainda as suas preocupações pela excessiva dependência da economia local nas flutuações dos resultados do sector do jogo.

Há ainda que ter em consideração que as receitas oriundas do sector do jogo têm desempenhado um papel de suporte, bem distinto de outros sectores, relativamente à sociedade e economia da RAEM. Dado que os impostos sobre o jogo que o Governo da RAEM arrecada constituem 39% da receita bruta do jogo, a aplicação de diferentes métodos de cálculo da percentagem que o sector do jogo ocupa no PIB (na óptica da produção a preços correntes ou na óptica da produção a preços correntes no produtor), tem por efeito resultados distintos (vide Tabela 3-11). Correspondendo o imposto especial sobre o jogo a mais de 70% a 80% do valor total dos impostos cobrados na RAEM. No que toca à avaliação dos contributos do sector do jogo para a RAEM ou à questão da excessiva dependência da Região no referido sector, não se pode negar a função de suporte assumida pelo imposto especial sobre o jogo relativamente às despesas governamentais, benefícios sociais e serviços públicos.

Parte III: Impacto da indústria do jogo na sociedade e na qualidade de vida da população local

Parte III - 84

TABELA 3 - 11 Percentagem da receita do sector do jogo no Produto Interno Bruto local34

TABELA 3 - 12 Comparação entre as receitas cobradas dos impostos sobre o jogo e as receitas do Governo da RAEM35

Na RAEM, para além da economia estar demasiadamente dependente do sector do jogo, as oportunidades de emprego da população empregada também se concentram maioritariamente nesse sector. Ao longo dos últimos 10 anos, o sector do

34

Informações de 18 de Setembro de 2014 a partir dos dados constantes na DSEC - Contas nacionais - Produto Interno Bruto - Ano 2014.

Site: http://www.dsec.gov.mo/Statistic.aspx?NodeGuid=b35edb8a-ed5c-4fab-b741-c91b75add059

35

Boletim mensal de estatística 2003-2014 (Dezembro), 2015 (Maio).

Parte III: Impacto da indústria do jogo na sociedade e na qualidade de vida da população local

Parte III - 85

jogo tem mantido um crescimento contínuo. A escassez de mão-de-obra local levou a um aumento dos salários e consequentemente o aumento médio dos salários praticados no sector do jogo ultrapassou de forma significativa o da população empregada em geral (vide Tabela 3-13). Por exemplo, em 2008, a média do salário praticado no sector do jogo era de MOP$13.000, enquanto que a da população empregada situou-se apenas em MOP$8.000, representando uma diferença de 60%. Atraídos pelos postos de trabalho mais bem pagos, os jovens da RAEM manifestaram grande interesse em trabalhar no sector de jogo, o que resultou, em alguns casos, no abandono escolar. Segundo os dados demonstrados na Tabela 3-14, verifica-se que mais de um quinto da população empregada local trabalha no sector do jogo, número este que não inclui os indivíduos que prestam serviço nas actividades correlativas não jogo, acreditando-se que essa percentagem se torne ainda maior com a incorporação das destas pessoas na contagem.

Parte III: Impacto da indústria do jogo na sociedade e na qualidade de vida da população local

Parte III - 86

TABELA 3 - 13 Média do rendimento mensal dos trabalhadores do sector do jogo e da população empregada em geral36

Nota: Não se registou, antes de 2006, uma discriminação pormenorizada por parte da DSEC dos dados anuais respeitantes à população empregada no sector do jogo e respectivos rendimentos.

Na sequência da conclusão das obras de construção e entrada em funcionamento dos novos hotéis e complexos turísticos de cinco estrelas (integrated resorts) nos últimos anos, a dimensão das actividades correlativas não jogo tem vindo a aumentar e o desenvolvimento significativo dos sectores do turismo e do jogo acabou por ter um reflexo catalisador noutros sectores de actividade, designadamente o comércio a retalho, a restauração, a hotelaria, etc., fazendo com que a média do rendimento dos postos de trabalho das actividades correlativas não jogo ultrapassasse gradualmente a dos postos de trabalho do sector do jogo. A Tabela 3-13 demonstra a diferença da média do rendimento do sector do jogo e da população empregada em geral, a qual se torna cada vez mais reduzida, que de 60% em 2008 desceu para 27,8% em 2014. Para além de se ter observado uma diminuição na diferença dos rendimentos, nota-se ainda que a percentagem dos trabalhadores do sector do jogo, comparativamente ao total da população empregada, reduziu do seu pico de 23% (entre 2012 e 2013) para 21,5% (em 2014), nível semelhante aos registados em 2007 e 2008.

36

Informações obtidas em 30 de Junho de 2015 a partir dos dados da DSEC -Mão-de-obra - Inquérito ao emprego - Quadro principal - Mediana do rendimento mensal do emprego, por ramo de actividade económica. Sítio: http://www.dsec.gov.mo/PredefinedReport.aspx?ReportID=11.

Parte III: Impacto da indústria do jogo na sociedade e na qualidade de vida da população local

Parte III - 87

Todavia, a concentração dos trabalhadores no sector do jogo resulta em que a maior parte da população empregada não disponha de outras aptidões, podendo resultar em dificuldades no acesso ao emprego caso se venha a verificar uma inversão da tendência positiva do sector. Na ausência de outras competências, são menos competitivos em termos de profissionais, não conseguindo nesse contexto dar resposta às ofertas de trabalho noutros sectores.

TABELA 3 - 14 Percentagem dos trabalhadores do jogo na totalidade da população empregada37

Nota: Dada a subida constante do custo de alojamento nos últimos anos, há cada vez mais trabalhadores não residentes e trabalhadores locais a optarem por residir nas regiões vizinhas. De acordo com as formas aleatórias ora adoptadas pela DSEC no processo do “Inquérito ao Emprego”, esses trabalhadores ficam fora do âmbito do inquérito em questão, pelo que não são abrangidos neste estudo.

37 Informações obtidas em 30 de Junho de 2015 da DSEC-Mão-de-obra - Inquérito ao emprego - Quadro principal - Mediana do

Parte III: Impacto da indústria do jogo na sociedade e na qualidade de vida da população local

Parte III - 88