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CAPÍTULO II – O processo de ensino e de aprendizagem da Geometria no 1º Ciclo do Ensino Básico numa

GRANDEZAS E MEDIDAS Estimativa de valores de

3. O Cabri-Géomètre e o processo de ensino e de aprendizagem da geometria no 1º Ciclo do Ensino Básico

3.1. Retrospectiva histórica: do instrucionismo ao construcionismo

3.1.4. Depois do Projecto MINERVA O esforço e os investimentos humano e financeiro

feitos com o projecto MINERVA deixaram clara a ideia de que teria que haver uma sequência. (Freitas, 1992)

Uma dessas consequências traduziu-se na criação do Programa Nónio-Século XXI cujos objectivos, explícitos no documento legal que regulamenta a sua criação (Despacho Nº 232/ME/96, de 4 de Outubro de 1996, do Sr. Ministro da Educação), são, em termos gerais:

a) a melhoria das condições em que funciona a escola e o sucesso do processo de ensino-aprendizagem;

b) a qualidade e a modernização da administração do sistema educativo;

c) o desenvolvimento do mercado nacional de criação e edição de software para educação com finalidades pedagógico-didácticos e de gestão e;

d) a contribuição do sistema educativo para o desenvolvimento de uma sociedade de informação mais reflexiva e participada.

Este Programa persegue ainda como objectivos específicos, de acordo com o mesmo documento:

a) Apetrechar com equipamento multimédia as escolas dos ensinos básico e secundário e acompanhar com formação adequada, inicial e contínua, os respectivos docentes visando a plena utilização e desenvolvimento do potencial instalado;

b) Apoiar o desenvolvimento de projectos de escolas em parceria com instituições especialmente vocacionadas para o efeito, promovendo a sua viabilidade e sustentabilidade;

c) Incentivar e apoiar a criação de software educativo e dinamizar o mercado de edição;

d) Promover a introdução e generalização no sistema das tecnologias de informação e comunicação resultantes das dinâmicas referidas em b) e c), que permitam satisfazer as necessidades e garantam o desenvolvimento do sistema educativo e, finalmente;

e) Promover a disseminação e intercâmbio, nacional e internacional, de informação sobre educação, através nomeadamente da ligação em rede e do apoio à realização de congressos, simpósios, seminários e outras reuniões com carácter cientifíco-pedagógico.

Como pressupostos deste Programa, referidos na respectiva introdução, considera-se que “a evolução acelerada das tecnologias da informação e o seu impacto na sociedade em geral motivaram, no âmbito do sistema educativo, uma atenção especial, expressa na concepção e desenvolvimento de programas específicos, sobretudo a partir de 1985” (referindo-se, em concreto, ao Projecto MINERVA). Acrescentando que, face à “respectiva avaliação, resultou como conclusão e recomendação central, a necessidade de concretizar uma estratégia integrada de introdução das Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação, com incidência científica e pedagógica” (disponível a

17/04/2003 em www.dapp.min-edu.pt/nonio/oficial/docubase1.htm), recuperando-se, assim, a experiência realizada e ampliando-a.

Considera-se, no mesmo documento legal, que:

Tendo presente a importância dos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, nomeadamente a emergência e importância da sociedade de informação e o potencial renovado de comunicação do equipamento e material multimédia procura-se encontrar respostas diversificadas, adequadas à nova fase da evolução científica e técnica que atravessamos com vista à criação de uma «escola informada» e aberta ao mundo. (Despacho Nº 232/ME/96, de 4 de Outubro de 1996 disponível a 17/04/2003 em www.dapp.min-edu.pt/nonio/ oficial/docubase1.htm)

Uma segunda iniciativa que, a nosso ver, também não se pode desligar completamente da dinâmica de inclusão das tecnologias da informação na Escola iniciada com o projecto MINERVA (embora se possa admitir a existência de outras razões), é a inclusão de uma disciplina obrigatória relacionada com as Tecnologias da Informação. No dia 21 de Novembro de 2002 foi anunciado pelos meios de comunicação social (eg. Leiria, 2004) a propósito de uma reformulação curricular do ensino secundário conduzida pelo Sr. Ministro da Educação de Portugal, Professor David Justino, a integração de uma disciplina obrigatória para todos as áreas de ensino, Tecnologias da Informação e Comunicação, entre outras. Com efeito, implementada a reforma em 2004, a propósito dos “novos contextos e novos objectivos estratégicos para o ensino secundário” (Documento Orientador da Revisão Curricular do Ensino Secundário – disponível a 24/09/2004 em http://w3.des.min-edu.pt/download/rc/revcurdef10-NET.pdf), o Departamento do Ensino Secundário considera que:

Uma resposta inequívoca aos desafios da sociedade da informação e do conhecimento, só poderá ser dada através de um investimento sustentado na formação em tecnologias da informação e comunicação. […] Importa garantir que todos os alunos dominem um conjunto mínimo de conhecimentos e técnicas, de forma a permitir que, a partir desse patamar, se possam desenvolver as competências que lhe estão associadas. […] O ensino obrigatório das TIC é um imperativo educativo, mas também social e cultural. Não basta saber aceder à Internet, substituir a máquina de escrever por um processador de texto ou construir um gráfico a partir de uma folha de cálculo. […] Não nos podemos circunscrever à formação de potenciais consumidores de informação. Pelo contrário, o desafio da escola do futuro está na capacidade de formar para a produção, tratamento e difusão de informação. (Documento Orientador da Revisão Curricular do Ensino Secundário – disponível a 24/09/2004 em http://w3.des.min-edu.pt/download/rc/revcurdef10-NET.pdf)

Em consequência, assume-se como princípio orientador, entre outros: “O ensino obrigatório de uma disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação, com a carga horária semanal de 2 unidades lectivas de 90 minutos” (Documento Orientador da Revisão Curricular do Ensino Secundário – disponível a 24/09/2004 em http://w3.des.min- edu.pt/download/rc/revcurdef10-NET.pdf).

A inclusão desta área no currículo obrigatório numa altura em que o discurso político converge para uma necessidade de contenção, conjugada com discursos proferidos em circunstâncias várias (e também algumas medidas pontuais) traduzem o reconhecimento político de que a Escola não pode ignorar a existência destes recursos e que as pessoas, para exercer a sua cidadania, estão dependentes, em grande parte, da sua capacidade em lidar com eles e, portanto, é necessário promover alguma literacia informática e, finalmente, que não é aceitável continuar a rejeitar os contributos que o computador pode representar em termos de sucesso educativo em geral.

Para além desta, outras iniciativas se vão tomando. No site oficial do Ministério da Educação, por exemplo, tem-se acesso a informação diversa sobre medidas, cursos e concursos que abrangem desde professores a alunos, desde a idade do pré-escolar ao ensino superior. Exemplos disso são o Concurso Permanente se sítios escolares em língua

portuguesa30, e Alf@net31 e o programa Internet@EB132

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Uma iniciativa do IIE e que apresenta como objectivos:

1.1. O Concurso Permanente de Sítios Escolares em Língua Portuguesa, adiante designado por Concurso Permanente, criado e desenvolvido pelo Instituto de Inovação Educacional (IIE), visa promover a qualidade dos Sítios Escolares em Língua Portuguesa e estabelecer redes de contacto entre eles.

1.2. Para efeitos do presente concurso, considera-se Sítio Escolar em Língua Portuguesa um Sítio, publicado em WWW, com conteúdos de interesse ou temáticas escolares, da responsabilidade de uma escola ou da responsabilidade de um grupo de professor(es) e alunos, independentemente do seu local de origem. (Disponível a 24/09/2004 em http://w3.iie.min-edu.pt/concurso-permanente/index.htm).

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“O alfanet é um espaço virtual do 1º ciclo do Ensino Básico. Pretende facilitar a comunicação entre os que directamente intervêm neste grau de ensino, disponibilizar informação relevante e apoiar a utilização pedagógica das TIC. É um projecto em construção cujo resultado dependerá, em grande medida, da participação dos parceiros (escolas, instituições de formação, centros de competência, etc.) e de todos os que queiram colaborar. Para já, apelamos à troca de ideias nos fóruns que estão disponíveis para professores, pais e, também, para os alunos” (Disponível a 19/04/2004 em http://www.deb.min-edu.pt/alfanet/default.htm). 32

O Programa Internet@EB1 para o Acompanhamento da utilização educativa da Internet nas escolas públicas do 1º ciclo do Ensino Básico (EB1) do Continente, foi lançado em Fevereiro de 2002 pelo ex- Ministério da Ciência e da Tecnologia, em colaboração com a FCCN e as Escolas Superiores de Educação e algumas Universidades, e consiste na realização de acções de acompanhamento pedagógico, efectuadas nas próprias EB1, por professores ou monitores daquelas instituições de ensino superior. Para o efeito, foram celebrados Protocolos com as Escolas Superiores de Educação (ESE) dos Institutos Politécnicos e, nos distritos onde aquelas não existem, com as Universidades neles sediados (Aveiro, Braga, Évora e Vila Real).

Outras consequências fizeram-se sentir, ainda durante a vigência do Projecto MINERVA, designadamente, ao nível das recomendações metodológicas. (eg. Decreto-Lei nº 286/89 de 29 de Agosto). Por exemplo, no currículo de Matemática, ao nível do 11º Ano, a utilização da calculadora, como instrumento de pesquisa, aparece como obrigatória. Apesar de não o considerar obrigatório, o que leva alguns investigadores a tecer algumas críticas argumentando que, dessa forma, não se faz um verdadeiro incentivo à sua utilização (e.g. Ponte, 1992b), não deixa de recomendar, também, o uso do computador. O mesmo se passou em relação aos programas do 3º Ciclo do Ensino Básico. A este propósito, Cabrita (1992) refere que “uma área muito atacada, respeita à utilização do computador e da calculadora que, embora referida em vários momentos dos textos, aparece posteriormente como facultativa” (117).

Relativamente ao programa do 1º Ciclo do Ensino Básico, publicados em Despacho nº 139/ME/90 de 16 de Agosto e apesar de considerarmos que se trata, também, de uma recomendação tímida, o facto é que, pela primeira vez, se recomenda a utilização das Novas Tecnologias em geral e, de uma forma particular, no processo ensino e aprendizagem da Matemática. A propósito dos ‘materiais’ enquanto ‘suportes de aprendizagem’ este programa, entre outros, refere que, “poderá ser utilizado o computador – Linguagem LOGO (quando possível)”. (Despacho n.º 139/ME/90 de 16 Agosto)

A este processo aparentemente suave, progressivo e sem grandes sobressaltos em termos de dinâmica de inclusão do computador na Escola, não corresponde uma aceitação fácil e pacífica por parte dos professores e da sociedade em geral. Problemas associados aos ainda elevados custos de hardware, à ineficácia de algum software e à insuficiente formação (essencialmente pedagógica) proporcionada por algumas instituições de formação de professores (APM, 1998) podem constituir algumas das ‘barreiras’ e ‘obstáculos’ a ultrapassar para uma utilização mais generalizada, sistemática e consistente.

No que diz respeito à adesão por parte dos professores, Moreira (2002) identifica três estádios distintos à medida que estes vão desenvolvendo competências nessa área: “passam, primeiramente, de aprendizes a utilizadores de tecnologias de educação. Posteriormente, passam a co-aprendentes/co-exploradores com os seus alunos na sala de

(Disponível a 13/5/2005 em http://www.fccn.pt/index.php?module=pagemaster&PAGE_user_op=view _page&PAGE_id=102&MMN_position=115:4.

aula e, por fim, chegam à decisão de reafirmação ou rejeição das tecnologias”. (13) Segundo este autor, aqueles que reafirmam a tecnologia transformam-se em líderes, entre os seus pares, e transformam-se em agentes de mudança na implementação tecnológica, requerendo apoio pedagógico, incentivos e provas de que os seus esforços realmente influenciam o ensino e a aprendizagem.

Citando um artigo publicado na revista Science de 1989 por Holden e acreditando, contudo, na inevitabilidade da introdução dos computadores na Escola, Vitor Teodoro escrevia, em 1992, que “os computadores tornar-se-ão, sem dúvida, uma componente de pleno direito da Educação não superior, nem que seja devido ao facto de se estarem a tornar um elemento comum por todo o lado” (19).

Baseado em estudos conduzidos por Cuban (1989) com os quais pretendia, entre outros objectivos, investigar o ciclo de evolução da introdução das novas tecnologias desde o início do século XX, Teodoro (1992) refere que elas passam pelas seguintes fases: “elevadas expectativas, retórica sobre a necessidade de inovação, política dirigida e, finalmente, uso limitado” (12). No que diz respeito à primeira fase, Teodoro (1992) considerava que, em Portugal, estava cumprida. Naquela altura considerava que a segunda e a terceira estavam em curso e, finalmente, que a última fase, nos esperava inevitavelmente.

Mais recentemente, Ponte (2000b), considera que a “inserção das tecnologias de informação no sistema educativo na maioria dos países tende a passar por três grandes fases: experimentação, desenvolvimento e integração” (45). Na opinião deste autor “tal parece ser igualmente o nosso percurso em Portugal. Percorremos as duas primeiras mas deparámos com dificuldades em avançar para a terceira. A cooperação entre a investigação, o ensino superior e as escolas é uma conquista fundamental” (ib: id).

Resumo

Da mesma forma que se assistiu a uma espécie de revalorização da Geometria enquanto área da matemática a abordar em contexto de sala de aula, assistiu-se, nos últimos anos, a um movimento de inclusão dos computadores na sala de aula numa tentativa de renovação pedagógica. Este movimento, feito de avanços e retrocessos, em parte justificados pelos avanços verificados ao nível da psicologia e da pedagogia e, também, da tecnologia, estão na origem de modalidades de utilização bastantes distintas

dependendo da vertente pedagógica mais valorizada. Enquanto que num dos pólos se encara o computador como uma máquina capaz de ensinar, no outro, valoriza-se o computador enquanto máquina capaz de ser ensinada ou que ajuda a aprender, perspectiva que melhor se articula com o paradigma construcionista e que encontra em Papert uma referência mundial.

Em Portugal, a dinâmica de inclusão do computador nas salas de aula de uma forma mais organizada, fez-se sentir com o projecto MINERVA, em meados da década de oitenta e coincide, por um lado, com um momento político propício uma vez que, nessa altura, se iniciava uma reforma do sistema educativo e se encarava a utilização do computador, sobretudo, como ferramenta ao serviço do desenvolvimento de projectos (Ponte, 1994b) e, por outro lado, porque o preço dos equipamentos tendia a ficar mais reduzido.

Sendo positivo o balanço global que se fez do projecto MINERVA, viriam a ser implementadas outras iniciativas oficiais entre as quais se encontra o Programa Nónio-

Século XXI, o Concurso Permanente se sítios escolares em língua portuguesa, Alf@net., Internet@EB1 e, com a reforma curricular de 2004, a inclusão de uma disciplina de

Tecnologias de Informação e Comunicação obrigatória ao nível do ensino secundário como uma resposta aos desafios que a sociedade da informação e do conhecimento coloca aos cidadãos. Ao nível dos programas do 1º Ciclo do Ensino Básico, também encontramos recomendações no sentido de se utilizar o computador, designadamente a linguagem LOGO.

Mas, contrariamente ao entusiasmo com que, normalmente, os alunos encaram a presença do computador na sala de aula, em regra, os professores tendem a ser mais resistentes, e a passar por três fases distintas. Ultrapassadas a duas primeiras, Ponte (2000b) considera fundamental a cooperação entre investigação, ensino superior e escolas, como forma de ajudar a ultrapassar a última fase, a fase da integração.