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2.6 Modelo teórico-analítico – a gestão estratégica institucional

2.6.4 Desafio e o dilema do falseamento da natureza cooperativa

No caso da análise de organizações situadas em diversos subcampos organizacionais, infere-se que a ordem institucional de maior poder de influência35 pode ser determinística à estruturação do negócio, em virtude de possuir o ordenamento institucional mais requisitante de legitimidade. A força predominante naquele campo, ou subcampo organizacional, de atuação do negócio tenderia a fazer com que suas prescrições se favorecessem em relação às estratégias pelas quais as organizações se estruturariam.

35 Tida pelos atores organizacionais como a mais necessária a perceber a organização como entidade

legitimada às suas demandas.

FOCO 1: NATUREZA DAS DEMANDAS FOCO 2: REPRESENTAÇÃO INTERNA Representação da área de equilíbrio institucional Cooperativa do setor lácteo AGRONEGÓCIO Pressões Institucionais Pressões Institucionais Agronegócio do leite (empresarial) Cooperativismo agropecuário Credibilidade

Dessa feita, a inferência é que pelo fato de o subcampo organizacional do agronegócio lácteo comportar número maior de atores36 e, em decorrência desse fato, possivelmente ter uma ordem institucional com poder de pressão superior ao subcampo do cooperativismo, as forças isomórficas sejam mais prevalecentes nas demandas desse subcampo. Isso é passível de dedução à priori pelo compartilhamento de anseios comuns de órgãos governamentais, culturais e sociais pautados pelas demandas dessa ordem institucional aparentemente prevalecente em virtude de comportar um maior número de atores.

As forças institucionais tendentes a esse isomorfismo, por parte da ordem institucional do subcampo do agronegócio lácteo seria decorrente dos três condicionantes elencados por DiMaggio e Powell (1983). Seriam resultantes das pressões formais e informais de outras organizações não cooperativas as quais o empreendimento cooperativo mantém relação em cuja força de pressão faria com que, por coerção, os atores organizacionais cooperativos optassem por seguir determinados padrões. Poderia ocorrer também pela simples imitação do que é comumente utilizado no contexto em questão por parte dos tomadores de decisão situados nas cooperativas. Ou, por fim, pela emersão de instrumentais normativos pautados a partir de um ambiente não tão apto ao contexto das cooperativas lácteas.

A questão que se coloca, é que pelo fato do ponto de referência ser, na maioria das vezes, organizações empresariais não-cooperativas, poderia haver uma tendência de homogeneização das cooperativas em resposta a uma necessidade de legitimação, cuja força mais densa estaria sendo aquela oriunda do subcampo organizacional do agronegócio não cooperativo. Tal tendência seria acentuada, principalmente, pelo acirramento concorrencial, mas também pela incipiência de instrumentais de gestão e mão de obra capacitada às peculiaridades estruturais do cooperativismo.

Tal inferência é recorrente em um número expressivo de trabalhos voltados à análise do contexto do cooperativismo agropecuário. Entretanto, grande parte desses trabalhos ignoram o fato de as organizações cooperativas estarem imersas em lógicas institucionais diferentes e diversas cuja necessidade de legitimação se faz necessária também a tais parâmetros. Ademais, não reconhecem a possibilidade de os atores organizacionais atuarem de maneira estratégica na gestão dessas demandas institucionais, o descartaria, nesse sentido, a aplicabilidade desta estratégia.

36 Compreende-se que os fatores socioculturais que perfazem as pressões institucionais, sejam elas advindas das

ações do Estado, culturais e/ou da sociedade tendem a serem criadas a partir de uma referência onde há uma maior interação, que no caso em questão é o agronegócio lácteo não-cooperativo.

A Figura 15 tenta representar tal contextualização de maneira esquemática a partir de um cenário hipotético em que as cooperativas têm perseguido ambições estruturais que cada vez as aproximam de empreendimentos não cooperativos, justamente pelo fato de as ordens institucionais do subcampo do agronegócio lácteo terem maior poder de pressão. Assume-se, nesse sentido, que a legitimação junto ao contexto empresarial é a prioritária e, por isso, o empreendimento se descola inteiramente ou em sua maior parte ao subcampo organizacional do agronegócio empresarial lácteo.

Figura 15 – Representação esquemática do desafio institucional realizado pela cooperativa agropecuária

Fonte: elaboração própria.

Pela Figura 15 é possível notar que a pressão institucional do subcampo do agronegócio do leite é considerada mais influente no contexto do cooperativo lácteo (seta mais densa em comparação à pressão emanada pelo subcampo do cooperativismo). Por ser considerada mais relevante pelos atores organizacionais da cooperativa láctea e, por consequência, por creditarem ser mais importante uma legitimação junto a este segmento institucional, esses gestores deslocam as ações do empreendimento cooperativo para a área de credibilidade evidenciada pelo retângulo tracejado. Ademais, é imperioso ressaltar que nessas condições as demandas institucionais do ambiente interno (Foco 2), ou são incipientes em se tratando da ordem institucional preterida, ou possivelmente também percebem tal ação como a mais apta a ser buscada para a sobrevivência do negócio (força mais densa das setas internas ao retângulo representativo da cooperativa láctea).

FOCO 2: REPRESENTAÇÃO

INTERNA Cooperativa

do setor lácteo FOCO 1: NATUREZA DAS

DEMANDAS Representação da área de isomorfismo AGRONEGÓCIO Prescrições Institucionais Prescrições Institucionais Agronegócio do leite (empresarial) Cooperativismo agropecuário Credibilidade

Igualmente, se existem acusações dos riscos em relação a estratégia do desafio por parte das cooperativas agropecuárias, principalmente em relação a uma possível modificação estrutural pautada pelo lado do aspecto empresarial, existem também defesas em relação a tais aspectos. Por isso, a estratégia do desafio traça-se em um contexto ainda controverso e, por isso, requer maior entendimento.