• Nenhum resultado encontrado

2.6 Modelo teórico-analítico – a gestão estratégica institucional

2.6.5 A perspectiva do desacoplamento

Desacoplamento é entendido como o processo pelo qual as organizações mantêm a conformidade institucional junto aos (sub) campos organizacionais a ela relacionados, mas, ao mesmo tempo constroem práticas diferenciadas (lacunas) não percebidas. Tais lacunas teriam a finalidade de contornar as incertezas junto às atividades técnicas geradas pelas pressões institucionais não totalmente adaptáveis (MEYER; ROWAN, 1977). De forma mais clarividente, Bromley e Powell (2012) entendem que o desacoplamento é comumente entendido como a lacuna existente entre o que é apregoado pela política (institucional), e o que de fato ocorre na prática.

Destaque deve ser feito ao fato de que nesse caso, a aparência de conformidade é que deve ser a ação estratégica considerada e não sua exata representação no âmbito da realidade que é levada em consideração. No mesmo sentido, D’aunno et al. (1991) afirma que a prática do desacoplamento em organizações situadas em campos organizacionais com perspectivas ambivalentes seria realizada a partir da hierarquização (ranqueamento) das demandas institucionais a serem seguidas, e aquelas a serem adaptadas à realidade organizacional. Logo, pode-se concluir que os tomadores de decisão fazem uma análise em relação ao que se espera do ambiente externo (legitimação externa), e como tais ações serão percebidas e aplicadas pelo ambiente interno (legitimação interna). Realizada essa análise preliminar é que as decisões são tomadas e as ações implementadas.

O evidente paradoxo institucional, por tal perspectiva, pode ser solucionado por uma adaptação institucional no nível organizacional. Claramente, há nesse contexto o que Lawrence e Lorsch (1967) denominaram de uma necessidade contínua de integração e diferenciação. As atividades organizacionais seriam aparentemente integradas com vistas, principalmente, ao monitoramento externo e/ou interno, mas na realidade elas estariam diferenciadas.

Numa prática de desacoplamento a organização tenderia a difundir sua configuração estrutural e estratégica na intersecção dos dois subcampos a ela relacionados. Todavia, no contexto prático, tais ações não seriam aquelas preponderantes (Figura 16). Há de se ressaltar,

que o desacoplamento nesse caso poderia estar correlacionado a duas realidades (Realidade I e II).

A primeira delas denominada de Realidade I (Figura 16) seria quando a cooperativa estaria totalmente deslocada para a extremidade do subcampo organizacional do agronegócio empresarial. Nessa realidade, os atores organizacionais estariam preocupados, no âmbito prático, em atenderem apenas a ordem institucional emanada pelo subcampo do agronegócio lácteo. Porém, em uma perspectiva simbólica, esses atores conseguiriam manter sua legitimação em relação ao subcampo organizacional do cooperativismo, perfazendo a área desacoplada representada (região sombreada) pelo Cenário II.

A segunda contextualização é quando a cooperativa se desloca totalmente para o subcampo do cooperativismo (Realidade 2), mas mantêm uma presença aparente, ou em menor parte do que o desejado, no âmbito do subcampo do agronegócio empresarial. A parte simbólica obtém a legitimidade por meio da área exposta (região sombreada) no Cenário I.

Figura 16 – Representação esquemática do desacoplamento institucional tendente a externação de um equilíbrio institucional numa cooperativa agropecuária

Fonte: elaboração própria.

Noutro extremo, o desacoplamento poderia também ocorrer quando a organização se encontra aparentemente (simbolicamente) praticando o isomorfismo institucional do campo do agronegócio não-cooperativo. Nesse sentido, simbolicamente haveria um deslocamento das práticas estratégicas em relação às prescrições do subcampo organizacional do agronegócio

FOCO 2: REPRESENTAÇÃO

INTERNA Cooperativa

do setor lácteo FOCO 1: NATUREZA DAS

DEMANDAS

Cenário I: Representação da área de desacoplamento do cooperativismo Agronegócio do leite (empresarial) Cooperativismo agropecuário Pressões Institucionais Pressões Institucionais Cenário II: Representação da área de desacoplamento do agronegócio Credibilidade Realidade 1 Realidade 2 AGRONEGÓCIO

quando na verdade, a organização poderia estar mais próxima de um equilíbrio. O foco nesse caso seria um maior alcance de legitimidade a partir das pressões ambientais (institucionais) mercadológicas não cooperativas. Nesse ponto há de se ressaltar que, somente uma análise empírica será capaz de evidenciar qual das perspectivas estratégicas é, de fato, apregoada, e se existe uma divergência desta em relação àquela que é realmente adotada pela organização.

Destaca-se o fato de que a prática do desacoplamento, no âmbito do cooperativismo, pode ainda ocorrer internamente, em relação às perspectivas do quadro de associados. Especificamente no âmbito de um desacoplamento interno, Zott e Huy (2004) perceberam que os gestores organizacionais se utilizam, por vezes, de ferramentas simbólicas para adquirirem recursos de seus potenciais detentores, no caso em questão dos associados. Nesse caso, os mencionados autores traçaram um modelo esquemático para explicar a atuação desses gestores (Figura 17).

Figura 17 – Modelo de gestão simbólica e aquisição de recursos realizada pelos gestores

Fonte: Zott e Huy (2007, p. 97).

Conforme se percebe, pela Figura 17, o desacoplamento interno, praticado pelos gestores junto aos membros organizacionais, notavelmente em relação aos sócios do empreendimento, sob a perspectiva analisada por Zott e Huy (2007), creditará os mesmos a ganhos de recursos. Contudo, esses recursos, materiais ou não, tenderão a serem alcançados na medida da intensidade de alguns pré-requisitos.

Tais requisitos foram denominados, pelos mencionados pesquisadores, de interventores à transferência da ação simbólica, podendo ser assim discriminados: reputação profissional do

+ Aquisição de recursos

•Similaridade estrutural dos

provedores de recursos (-); •Qualidade intrínseca do empreendimento (-); •Incerteza (+). Habilidade em ação simbólica Variedade de transferência da ação simbólica: • Credibilidade pessoal; • Organização profissional; • Realização organizacional; • Qualidade das relações com os stakeholders. Frequência da ação simbólica

gestor ou do grupo de gestores (credibilidade junto aos proprietários); estruturação do negócio e de seus processos (organização profissional); como o desempenho organizacional passado poderá ser utilizado como justificativa de convencimento (realização organizacional); prestígio ou atuação próxima aos atores organizacionais (qualidade das relações).

Adicionalmente, tal perspectiva, sofrerá a influência em relação a intensidade de sua prática, na medida em que quanto menor forem as diferenças (ideológicas) entre gestores e proprietários (associados), menor será também a necessidade de atuação simbólica para fins de aquisição de recursos. Outra questão que se coloca é a qualidade de estruturação do negócio (visibilidade), quanto mais visível ela for, menores serão os esforços despendidos em relação ao desacoplamento. Por fim, em relação a incerteza, tem-se que, quanto mais intensa ela for, em relação aos agentes do campo organizacional (público interno e externo), maior será a necessidade de desacoplamento por parte dos gestores com vistas à obtenção de recursos.

À vista disso, o ambiente interno, relacionado as relações com acionistas (associados), é variável de grande importância em relação as possíveis estratégias a serem implementadas no âmbito da gestão institucional de organizações hibridas com vistas a ganhos de recursos [simbólicos, principalmente].