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Desafios e o que Pode Ser Feito

No documento Seminário IDN Jovem [V] (páginas 182-187)

Isabela Maria Botelho de Mello 1 Introdução:

5. Desafios e o que Pode Ser Feito

Visto que, quando o procedimento de determinação existe em um Estado-membro, ele não está disposto na maioria das vezes a dar um documento ao indivíduo que prove o seu estatuto, o surgimento de um instrumento legislativo comum para a União poderia facilitar a saída desses indivíduos do “limbo legal” em que se encontram.

Outro desafio enfrentado é a falta de um pronunciamento mais contundente e deci- sivo do Tribunal de Justiça da União Europeia e do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que até agora somente se colocaram acerca da importância do direito à nacio- nalidade, como um direito fundamental. No entanto, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos reconheceu que, em alguns casos, a falta de acesso a uma nacionalidade ou a expulsão de apátridas de uma nação pode violar o direito de um indivíduo ao respeito pela sua vida privada ou familiar, tal como reconhecido no artigo 8.º da Convenção Europeia.

Nesse último caso, em Kurić e outros v. Eslovénia10, os cidadãos da República Federal

Socialista da Jugoslávia foram “apagados” do registo de residentes permanentes da Eslo- vénia e tornados apátridas quando a Eslovénia ganhou a sua independência e não se registaram como residentes permanentes ou cidadãos durante um determinado período, porque os procedimentos de registo eram arbitrários e ilegais, e o objetivo do registo – especialmente quando os requerentes já estavam inscritos num registo de residentes per- manentes – não foi devidamente explicado (International Justice Research Center, 2012).

Fora do âmbito da nacionalidade em si, um grande desafio é a determinação em concreto do conceito de apatridia e de seus pressupostos, o que poderia ser feito por uma uniformização desses tribunais, para eliminar quaisquer áreas cinzentas e não bem definidas.

9 Pode ser um passaporte alien ou o documento referido na Convenção de 1954, a depender do Estado-

-membro em questão.

Para além do disposto, outras soluções que poderiam ser colocadas pela União Euro- peia, também enunciadas em estudo feito pela UNHCR (2018, pp. 11-14), é a cooperação necessária entre diferentes atores na Europa e o importante papel que os Estados sozi- nhos podem ter.

Relativamente à União Europeia, a mesma deve dar mais instrumentos aos apátridas para eles comunicarem as eventualidades que ocorram, e para isso, também deve coope- rar com atores da sociedade civil, instituições regionais e as agências das Nações Unidas que são específicas para a proteção desses casos. Nesse âmbito, a união Europeia deve atuar mais próximas à sociedade, com uma maior descentralização para reduzir os casos de indivíduos sem nacionalidade que não possuem ainda seus documentos, devido à um procedimento de determinação ineficaz.

A União também pode ter papel efetivo ao incentivar que os Estados-membros pro- tejam os apátridas e garantam o exercício de seus direitos fundamentais. Pode também, apesar da falta de exatidão conferida pelo Direito da União Europeia e a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, pode incitar que os tribunais regionais comecem a olhar com mais precisão e determinabilidades relativamente às questões de apatridia e nacionalidade.

6. Conclusão

Analisado todo o contexto internacional e europeu que permeia a questão da apatri- dia e do estabelecimento de uma pessoa como tal desde o seu nascimento ou após certa situação da sua vida, podemos concluir que esta questão precisa ainda de mais atenção do que lhe é dada.

Com tanta divergência de tratamento jurídico da questão entre os Estados-membros da União Europeia, até mesmo por contextos políticos, não será possível se atingir uma redução efetiva da apatridia. Para tal, a União mesmo já tendo assumido compromissos perante a comunidade internacional de que o bloco teria papel ativo na redução, precisa de tomar posição mais contundente perante os Estados que, por seu contexto, escapam a dar uma efetiva determinação do estatuto aos indivíduos que o necessitam.

Outra posição de pode ser tomada para tornar a determinação da apatridia mais eficiente é uma uniformização dada pelo Tribunal de Justiça da União Europeia quanto o conceito de apatridia e o preenchimento de seus pressupostos, que assim seria utilizado pelos Estados-membros, e não daria margem a diversas opiniões.

Além da grande divergência entre procedimentos utilizados dentro da União Euro- peia que deve ser corrigida, a União pode, para tomar posição mais ativa pode também atuar junto á sociedade civil e dar mais espaço de fala para as pessoas que se encontram em situação de apatridia. Vimos também que uma descentralização nas instituições regio- nais para tratamento da questão é benéfica para aproximar as soluções dos que precisam.

Concluímos assim, que não basta a assunção de compromissos perante a comuni- dade internacional, mas é necessária uma atuação coesa e eficiente entre os Estados- -membros, e as instituições devem assegurar esse entendimento, sobre um assunto que também lida com valores intrínsecos da União.

Acórdãos:

Acórdão Genovese v. Malta, pedido n.º 53124/09, TEDH, 11 de outubro de 2011. Disponível em: https://www.refworld.org/cases,ECHR,509ea0852.html

Acórdão Janko Rottmann v. Freistaat Bayern, processo C-135/08, TJUE, de 2 de março de 2010. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A62008 CJ0135

Acórdão Kurić e outros v. Eslovénia, n.º 26828/06, TEDH, de 26 de junho de 2012. Disponível em: https://hudoc.echr.coe.int/eng#{%22itemid%22:[%22001-111634%22]}

Legislação:

Convention Relating to the Status of Stateless Persons, 1954. Disponível em: file:///C:/Users/isama /OneDrive/Documentos/Arquivos%20formata%C3%A7%C3%A3o%2014-04/Artigos %20-%20Projetos/IDN%20-%20Apatridia/1954%20Statelessness%20Convention%20- %20with%20introdutory%20note%20(UNHCR).pdf (Acesso em: 03/10/2019).

Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content /uploads/2018/10/DUDH.pdf (Acesso em: 02/10/2019).

Diretiva 2011/95/UE do Parlamento Europeu o do Conselho, de 13 de dezembro de 2011, relativa às condições a preencher pelos nacionais de países terceiros ou por apátridas para poderem beneficiar de proteção internacional, a um estatuto uniforme para refugiados ou pessoas ele- gíveis para proteção subsidiária e ao conteúdo da proteção concedida. JO L 337/9.

Bibilografia:

Bloom, T., 2014. What Would it Mean to End Statelessness by 2024? Tóquio: United Nations University. Disponível em: https://unu.edu/publications/articles/what-would-it-mean-to-end-stateless- ness-by-2024.html (Acesso em: 03/10/2019).

Conselho da União Europeia, 2015. Conselho adota conclusões sobre a apatridia. Comunicado de Imprensa. Disponível em: https://www.consilium.europa.eu/pt/press/press-releases/2015/ 12/04/council-adopts-conclusions-on-statelessness/ (Acesso em: 06/10/2019).

Diógenes, D. C., 2015. O direito à nacionalidade e a proteção do estrangeiro sob a perspectiva dos direitos huma- nos e fundamentais. Dissertação de Mestrado em Ciências Jurídico-políticas. Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

Ermolaeva, U., Faltinat, E. e Tendere, D., 2017. The concept of “stateless persons” in European Union Law. Final Report. Amsterdam International Law Clinic.

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International Justice Research Center, 2012. Citizenship and nationality. Disponível em: https://ijr center.org/thematic-research-guides/nationality-citizenship/ (Acesso em: 03/10/2019). Lee, J., 2018. How Roma are made stateless for generations. New Internationalist. Disponível em: https://

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Ribeiro, D., et al., 2013. Apatridia e Cidadania: Protegendo indivíduos legalmente invisíveis. Simulação das Nações Unidas para Secundaristas. Disponível em: http://www.sinus.org.br/2013/wp- content/uploads/2013/03/13.-SoCHum-Artigo.pdf (Acesso em: 05/10/2019).

UNHCR, 2005. Nationality and Statelessness: A Handbook for Parliamentarians. Inter-Parliamentary Union.

UNHCR, 2010. Expert Meeting: The Concept of Stateless Persons under International Law. Summary Conclu- sions. Office of the United Nations High Commissioner for Refugees, Italy.

UNHCR, 2014. Manual de Proteção aos Apátridas de acordo com a Convenção de 1954 sobre o Estatuto dos Apátridas. Genebra. Disponível em: https://www.refworld.org/cgi-bin/texis/vtx/rwmain/ opendocpdf.pdf?reldoc=y&docid=546c690c4 (Acesso em: 03/10/2019).

UNHCR, 2018. Stateless in Europe. Disponível em: https://www.refworld.org/docid/5aa79f9d4. html (Acesso em: 03/10/2019).

Capítulo IV

INFORMAçÃO E SEGURANçA

No documento Seminário IDN Jovem [V] (páginas 182-187)