• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II A sedução do campo, a formação das associações e os esboços

1. Ações sem estrutura: a centralidade da violência contra a mulher e o foco em casos

2.2. Desconstrução identitária ou interseccionalidade das categorias?

A partir do resgate dos elementos que propiciaram com que teóricas feministas problematizassem a violência contra as mulheres e a colocasse na mesma seara que questiona os fundamentos de categorias que construíram a modernidade ocidental, foi possível notarmos como esta temática se intercala aos principais elementos problematizadores da dominação masculina. Trazer a baila estes elementos permitiu que feministas engajadas pudessem

116

questionar a ordem patriarcal por meio da implosão dos seus princípios fundadores. O desvelar das relações de poder que respaldam a dominação masculina confere ancoragem suficiente para justificar políticas de reparação das desigualdades de gênero, haja vista que comprova a assimetria das relações entre homens e mulheres e o modo androcentrado, violento e desigual pelo qual essas relações foram criadas.

No entanto, vimos que, apesar de a violência contra a mulher ser um tema central nas políticas públicas para as mulheres em Petrolina, esta temática é vista de uma forma muito peculiar. Tanto nas discussões e demandas do Conselho de Direitos da Mulher, quanto nas reuniões da Rede, a temática é pautada na forma de casos pontuais e concretos, desarticulada de políticas mais estruturantes sobre o tema. Esta forma peculiar de encarar a violência contra as mulheres ainda possui mais um viés problematizador: as mulheres alvo das supostas ações não possuíam raça, classe, etnia ou pertencimento algum. Em algumas reuniões do CDM ainda vi a presidente levar dados sobre o índice de violência por bairro e diferenças entre zonas rural e urbana. Achei interessante e tive um fio de esperança que aqueles dados proporcionassem um debate mais profundo sobre quem seriam aquelas mulheres que sofriam violência. No entanto, esses dados não mudaram em nada a forma como as mulheres pensavam sobre o assunto. Não as fizeram debater sobre políticas específicas para mulheres específicas. Tampouco as fez problematizar sobre as origens da violência contra a mulher.

Não realizar o exercício reflexivo e crítico sobre quem é o sujeito sobre o qual as políticas públicas para as mulheres se volta, é desconsiderar todo o trabalho realizado pelas teóricas feministas a fim de respaldar as mesmas políticas que aquelas mulheres se engajavam a colocar em prática. Sem as discussões que questionaram a suposta neutralidade dos fundamentos e categorias da sociedade moderna e da democracia liberal, que vimos linhas acima, não teríamos como conceber a dominação masculina e os modos como ela construiu, de uma forma extremamente sofisticada, as concepções sobre mulher que permeiam o nosso cotidiano. E não teríamos, tampouco, como compreender as maneiras como esta categoria, a de mulher, foi concebida como o polo emocional, irracional, doce, submisso e subalterno da relação que se dicotomizou nos polos masculino/feminino (MARIANO, 2008, p.365-366).

As críticas ao essencialismo identitário levou teóricas feministas a abandonar a categoria de sujeito como entidade transparente, racional e homogênea. Isso permitiu que pensássemos os sujeitos como plurais, heterogêneos e, acima de tudo, contingentes, submetidos ao fluxo da história e das relações de poder. Sem questionar o sujeito seria impossível questionar a parcialidade do sujeito masculino, visto como universal, tornando a explicitação das diferenças no interior de cada gênero impossíveis de serem detectadas. Ao

evidenciar as particularidades e as relações de poder que constituíam os sujeitos, feministas trouxeram à baila o caráter normativo e opressor das categorias desveladas, ao mesmo tempo em que tornaram visíveis os grupos invisibilizados. O descortinar destes sujeitos oprimidos (neste caso as mulheres), por meio das críticas do sujeito moderno ocidental, possibilitou, também, que outros elementos pudessem ser questionados, como, por exemplo, as relações de poder que permeavam a esfera por excelência do sujeito mulher, a esfera da privacidade, e os modos como as relações de poder operavam nesta esfera: pelos mais variados tipos de violência.

Este trabalho de crítica do sujeito feminino foi protagonizado, principalmente, pelas teorias feministas pós-estruturalistas, prevalentes, principalmente, a partir dos anos 90 do século XX, nos países ocidentais. Elas tinham como principal objetivo questionar estas categorias unitárias e supostamente universais e tornar históricos conceitos como o de homem e mulher, por exemplo. O método da desconstrução, influenciado pelos escritos de Jacques Derrida, que têm por objetivo desmontar a lógica das categorias, tem permitido às feministas que se filiam a esta corrente questionar os fundamentos e pressuposições de pares dicotômicos e essencialista de gênero. O sujeito passa a ser visto como contingente e eivado de relações de poder (MARIANO, 2005, p. 486). Mariano, parafraseando Scott a respeito da constituição dos binarismos nas categorias dos sujeitos gendrados, afirma:

A oposição binária (...) ao mesmo tempo em que contrapõe os dois termos da oposição, constrói a igualdade de cada lado da oposição e oculta as múltiplas identificações entre os lados opostos, exagerando a oposição, da mesma forma que oculta o múltiplo jogo das diferenças de cada lado da oposição. Trata-se de um jogo de exclusão e inclusão. Com isso, cada lado da oposição é apresentado e representado como um fenômeno unitário (ibid., p. 487).

Esta lógica de pensamento binário compreende que cada um dos polos (o homem e a mulher) é igual e assim se suprime as diferenças que compõem as categorias. Esta repressão das diferenças reificam as identidades de gênero retroalimentando as relações de poder que lhes são fundantes ao mesmo tempo em que solidifica as hierarquias sociais que lhes servem de base (ibid. p. 487).

Como uma das principais teóricas pós-modernas, Judith Butler se debruça para a análise crítica destas construções identitárias e da construção dos sujeitos. Baseando-se nos estudos sobre o poder de Foucault, Butler toma como assertiva central a ideia de que os sujeitos são constituídos por ações prévias que são esquecidas na medida em que eles se tomam como fonte única de suas ações (BUTLER, 1998, p. 19). Estas ações configuram

relações de poder, pois constituem corpos e verdades que, naturalizados, tem a capacidade de fazer desaparecer seus processos fundadores.

Segundo esta perspectiva de Foucault, o poder não regeu a construção de identidades a partir de um corpo de leis ou uma soberania. Os dispositivos de poder não funcionavam tampouco pelo direito. Sua análise revelou que houve e há uma maneira mais positiva de construção de corpos do que pelos efeitos de proibição. Ela se efetiva pela normalização e pelo controle que se realizam por formas que extravasam os aparelhos do Estado (FOUCAULT, 1988, p. 100-101). O poder, desta maneira, era visto por ele como uma multiplicidade de correlações de forças intrínsecas ao domínio onde se exercem e que faziam parte de sua organização. Deste modo, não se deve buscar uma existência central e primeira do poder. Há, sim, uma forma de suporte móvel das correlações de forças que induzem, de forma desigual, estados de poder instáveis (ibid., p. 102-103).

O poder que constitui sujeitos, segundo esta perspectiva, não cessa no momento da constituição, pois os sujeitos nunca são definitivamente constituídos. Eles estão sempre em um processo de construção, contínuo, que faz desse sujeito sempre uma seara de possibilidades permanentemente apta a reafirmá-lo, negá-lo, ou ressignifica-lo. Dessa maneira, o sujeito não está inserido em um campo político, ele é o próprio campo político (BUTLER, op. cit., p. 22).

No entanto, Butler vai atentar para as possibilidades críticas desta concepção de sujeito, principalmente aquela que afirma que este modo de pensar anuncia a morte do sujeito e com ele todas as possibilidades de lutas feministas e propostas emancipatórias. Segundo Butler, muitas podem afirmar que, logo agora que as mulheres se tornaram sujeitos na cena democrática, anuncia-se a morte da categoria e veem isso como uma conspiração (ibid., p. 23). Butler vai argumentar que temos, a partir daí, duas opções: ou adotamos os mesmos modelos de dominação que sujeitaram as mulheres, não atentando para o fato de que uma das formas dessa dominação operar é por meio da regulação dos sujeitos; ou deve o feminismo exercer a autocrítica sobre os processos que constroem identidades (ibid., p. 23-24). Nas suas próprias palavras:

Tomar a construção do sujeito como uma problemática política não é a mesma coisa que acabar com o sujeito; desconstruir o sujeito não é negar ou jogar fora o conceito; (...) Desconstruir não é negar ou descartar, mas pôr em questão e, o que talvez seja mais importante, abrir um termo, como sujeito, a uma reutilização e redistribuição que anteriormente não estavam autorizadas (ibid., p. 24).

Não atentar para a construção dos sujeitos é o mesmo que ser cúmplice dos processos que os fundaram. Por mais aberto que estejamos a abraçar identidades das mais diversas, estas, se forem tomadas como fechadas e de antemão, esconderão sempre as relações de poder que a própria luta feminista pretende minar. Uma das consequências dessas relações de poder são os processos de exclusão. Todo processo de construção identitária é também um ato de exclusão. Os sujeitos se constroem mediante atos de diferenciação que criam um exterior que, ao mesmo tempo em que lhes nega, lhes constitui. A construção de sujeitos envolve, então, a criação de um domínio de sujeitos desautorizados e apagados que sempre estarão à margem (ibid., p. 21-22). Assim, concebermos a categoria “mulher” como globalizante consequentemente a tomamos como normativa e excludente ignorando outros marcadores de privilégios como os de raça, classe e da heterossexualidade compulsória que busca criar uma unidade do ser mulher pautada em uma estabilidade entre sexo, gênero e desejo. Somente a crítica do sujeito e das identidades revelaria a “masculinidade” por trás do sujeito universal e explicitaria a diferença interna dentro da categoria gênero (MARIANO, op. cit., p. 487). Este fator, assim como aquele que não concebe os processos de poder que estão por trás da construção dos sujeitos, lançam novos desafios para as propostas feministas de uma democracia mais pluralista.

No entanto, o ponto de vista que toma a desconstrução dos sujeitos em geral, e do sujeito “mulher” em particular, e que por sua vez subverte a noção de cidadania liberal, ainda não é visto como consenso nos debates feministas. A ideia central que respalda o argumento da teoria feminista pós-estruturalista neste sentido entende que o construto identitário “mulher” se moldou no seio de uma estrutura de dominação masculina, sob a égide de seus conceitos e perspectivas de ação para o sujeito feminino. A mulher seria um produto das próprias relações de dominação que o feminismo desejaria abolir (MIGUEL, 2014, p. 81).

Para Luis Felipe Miguel esta perspectiva desconstrucionista do sujeito pode até ser interessante para os debates acadêmicos, mas inviabilizaria a atuação política do feminismo. Seria o que ele chama de “(...) uma contradição em termos, uma vez que o ponto de partida de toda a ação política é a produção de uma identidade coletiva (o que não quer dizer que essa identidade deva ser absoluta, imutável ou irrevogável)” (ibid., p. 82). Desse modo, se os movimentos políticos demandariam o esforço inicial de construir uma identidade para seus sujeitos de direito, seria contraproducente começar o trabalho político por um esforço de desconstrução destes sujeitos. Apesar de Butler afirmar que o esforço da desconstrução não significa eliminar de uma vez o conceito e sim entender os mecanismos de poder que o

geraram, para Miguel este esforço seria problemático na medida em que dificulta os processos de construção de elementos que unifiquem a multiplicidade indenitária do ser mulher (ibid., p. 82).

Levando em consideração a crítica de Miguel ao feminismo pós-estruturalista, poderíamos ter, neste momento, uma cisão entre o conhecimento produzido na academia e o trabalho de militância do feminismo, que tradicionalmente sempre caminharam lado a lado. Para este autor, esta cisão se faz necessária, principalmente em se tratando de um movimento onde os essencialismos a respeito da categoria mulher já foram criticados há algum tempo por feministas que trouxeram à baila outras categorias, como as de raça e classe, para pensar as identidades das mulheres117. Estas feministas da academia centralizaram os debates a respeito das especificidades das experiências das mulheres negras e trabalhadoras não contempladas pelas generalizações das demandas das feministas brancas de classe média, principalmente no que dizem respeito à ocupação do mercado de trabalho e sobre as experiências na esfera familiar. Além destas críticas, Elisete Schwade (2010) trouxe à baila os modos como a experiência de gênero também está interconectada à heterossexualidade compulsória, que reforça a perspectiva binária da sexualidade e das experiências das mulheres e, ainda, é vilipendiada em muitos nichos dos movimentos feministas. Desse modo, para Miguel, a saída do essencialismo do movimento feminista não seria pela via pós-estruturalista.

O passo central, para ele, seria considerar a interseccionalidade das categorias gênero, raça, classe e sexualidade na formação das mulheres e a pluralidade de padrões de subordinação e violências que essa amalgama traria e que por sua vez precisariam ser entendidos em sua singularidade. Claro que, ao levantar o debate sobre a necessária interseccionalidade destas categorias na formação do sujeito mulher corre-se o mesmo risco que o problematizado parágrafos atrás sobre o argumento da desconstrução e as possibilidades de fragmentação identitária. Neste sentido, Miguel, fazendo referência ao argumento de Catharine MacKinnon, afirma que é possível falar em uma unidade ao nos referirmos ao sujeito mulher. Há uma unidade fundamental da experiência feminina sob a estrutura de dominação androcentrada, de modo que, a despeito das diferenças de raça, classe e orientação sexual, as mulheres seriam unificadas em consequência do sexismo, misoginia e suas violências correlatas, as englobando, a partir destas experiências, em uma história social e coletiva comum (MIGUEL, 2014, p. 92).

117

Todavia, é preciso realizar o contra-argumento que nos encaminha ao seguinte questionamento: conceber as especificidades dentro da categoria “mulher”, como propõe Miguel, responderia aos questionamentos sobre as concepções de poder que formaram esta categoria? Classificar as mulheres em tipos (negras, trabalhadoras, quilombolas, ribeirinhas, latino americanas, etc.) se mostra de fundamental importância tanto para pensarmos a pluralidade do movimento como a operacionalização de políticas públicas para as mulheres, haja vista que cada grupo possui problemas e demandas específicos. No entanto, tornar evidente a pluralidade dentro da categoria “mulher” de forma alguma é o mesmo que questionar os princípios fundadores desta categoria. Ao contrário, é o questionamento dos princípios fundadores da categoria que nos permite, inclusive, visualizar a variedade de mulheres que foi obscurecido por um conceito que se supôs universalizante. Desconsiderar o processo de desconstrução das categorias que foram essencializadas e universalizadas pela modernidade ocidental seria o mesmo que jogar o bebê com água do banho. Seria jogar por terra todo o debate crítico realizado até então, e o pior, seria descartar os próprios argumentos que fundamentam e legitimam as políticas específicas para as mulheres. É importante lembrarmos que estas só passaram a existir porque teóricas feministas e feministas engajadas em movimentos sociais pelo mundo questionaram os princípios que universalizavam homens e mulheres em categorias que se propunham igualitárias.

Desconsiderar estes fatores poderia ter como consequência, a meu ver, e a partir do que presenciei na aplicação das ações voltadas para as mulheres em Petrolina, políticas focadas em casos pontuais e singulares, que não se ancoram nos debates de gênero que respaldam os PNPMs do Governo Federal. Estas políticas focais não se mostram estruturantes, uma vez que não se propõem a transformar realidades em longo prazo, haja vista que se preocupam em resolver problemas imediatos e focalizados.

No entanto, além de a forma como a efetivação destas políticas estar relacionada a uma aplicação pontual, focada e acrítica quanto às concepções identitárias, foi possível verificar, também, que as mulheres engajadas nestas ações não resgatavam nenhum debate de gênero em suas práticas. Nenhum elemento que dissesse respeito aos modos como os movimentos feministas compreendem a dominação masculina foi levantado nas reuniões do CDM ou da Rede. As mulheres pensavam apenas em uma aplicação técnica, pragmática e acrítica de ações voltadas para as mulheres.

Em muitos momentos a coordenadora regional questionava este modo de atuação, indagando: “precisa ter mais gênero aqui” a fim de fazer uma relação entre políticas para as mulheres e os debates de gênero que as respaldam. Mas quase nada era feito a partir de suas

intervenções. Com isso não pretendo afirmar que as mulheres possuíam pouca ou nenhuma vontade política. O que percebi foi um desconhecimento geral sobre o assunto.

Não podemos desconsiderar o fato de que o tema é polêmico mesmo entre integrantes da academia como vimos linhas acima. Mas o problema que localizei estava ainda aquém deste debate. Isso porque não apenas não verifiquei um debate sobre as desconstruções identitárias. Não consegui evidenciar sequer uma preocupação com a interseccionalidade que permeia a categoria “mulher”.

Mesmo nas reuniões do CDM, que tinha pretensões de reservar os assentos que representasse, em tese, a diversidade de mulheres da cidade, não pude perceber variações neste modelo. As mulheres representavam secretarias do município, como a de educação, saúde, acessibilidade, orçamento, e da mulher. E contavam com participação assídua de representantes de agentes de saúde e de organizações não governamentais, mas poucas voltadas para grupos específicos de mulheres, como negras, lésbicas ou rurais, por exemplo. Estas organizações tinham fins que não estavam relacionados aos direitos das mulheres, especificamente118. Com a vivência cotidiana e nos espaços de militância da cidade, pude perceber como eram escassos movimentos sociais, em sua diversidade de públicos e pautas, na região. As organizações se davam muito mais via sindicatos e movimentos estudantis e/ou partidários do que por meio de movimentos sociais119. Essa frágil organização se refletiu na composição do conselho que não contemplava a variedade de mulheres que viviam na cidade. Havia mulheres negras, uma com deficiência, rurais e idosas. Mas elas não estavam representando esses grupos específicos. O modo como as mulheres estavam representadas no CDM refletia uma desatenção quanto à multiplicidade de identidades femininas que compunha a cidade de Petrolina e, principalmente, a relação entre essa variedade e os problemas vivenciados pelas mulheres e debatidos nas suas reuniões.

Assim, vemos não apenas uma desconsideração quanto às questões identitárias na efetivação de políticas para as mulheres em Petrolina, percebemos, também, uma falta de diversidade nos espaços de formulação e aplicação das políticas. Apesar de os PNPMs contemplarem propostas para grupos específicos de mulheres e terem como pressuposto a interseccionalidade das categorias, gênero, raça, classe, geração, dentre outras, isto não se

118 No capítulo segundo faço referencia às instituições que compõem o CDM. 119

Depois de seis anos morando na região e tendo acesso aos espaços de militância, como passeatas, debates, assembleias e manifestações em geral, pude notar a presença da Marcha Mundial das Mulheres, do Levante Popular da Juventude, de algumas pessoas que se dizem da UNEGRO, da Marcha das Mulheres Negras e da União Brasileira de Mulheres.

reflete na prática em Petrolina. Não verificamos nem políticas pautadas na desconstrução, ou políticas transformativas, como nos apontou Fraser, nem políticas baseadas na afirmação das identidades das mulheres. Vimos que até aquelas políticas que se referem à mulher, no singular, ainda apresenta uma “negatividade” no seu fazer prático.

A questão que precisamos colocar, e que ainda não é possível responder de maneira indubitável, é: as questões identitárias não são consideradas na aplicação de políticas para as mulheres em Petrolina porque são de difícil apreensão pelos elaboradores dos projetos, como apontou Miguel? No entanto, vimos que até mesmo a perspectiva identitária pautada nas afirmações e não nas transformações é desconsiderada nestas ações políticas. Acredito que o problema não se restringe a estas questões. Precisamos, sim, redirecionar nosso olhar para outras perguntas.

A focalização em grupos específicos, tão caro às políticas neoliberais redistributivas, tem por objetivo contemplar os segmentos excluídos, no sentido de incluí-los dentro da lógica de mercado do atual Estado gerencialista. Não tem por objetivo positivar identidades sociais