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PARTE II – O ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 5: METODOLOGIA

3. A experiência

3.1. Descrição da experiência

Previamente à realização da experiência e após a planificação das duas unidades didácticas e a preparação dos materiais a utilizar, foi necessário validar umas e outros.

3.1.1. Validação das actividades e dos materiais

Depois de termos elaborado uma primeira versão da planificação das duas unidades didácticas a implementar no decurso da experiência, planificámos uma “unidade didáctica mista”, assim chamada por compreender uma selecção dos momentos mais representativos de cada uma delas (cf. Anexo 1).

Esta deveria ser implementada nas aulas de uma turma do 9º Ano de Escolaridade, a fim de validar as actividades a realizar e os materiais a utilizar no decurso da experiência.

Esta unidade, desenvolvida ao longo de quatro sessões de noventa minutos, compreendia fundamentalmente dois momentos.

O primeiro momento consistia na apresentação de diversas estratégias de abordagem de textos, orientadas para a recolha e tratamento de informação escrita em vários domínios do saber. Deste momento, faziam parte três actividades.

A primeira actividade pretendia sensibilizar os alunos para a importância da leitura para recolha de informação com recurso a duas estratégias: sublinhar informação relevante e tomar notas. Desenvolveu-se ao longo de uma sessão de noventa minutos e consistiu na apresentação de um problema pelo professor à turma, seguida de um diálogo entre este e os alunos visando a procura de soluções para esse problema. Esta actividade correspondia à primeira actividade da primeira unidade didáctica da experiência.

Durante a realização desta actividade foram utilizados alguns materiais (cf. Anexo 2) organizados em função do que se previa fazer: duas transparências, um texto que fazia parte do manual adoptado e seis textos a que chamámos “Documentos de apoio ao professor”.

A primeira transparência era constituída por uma imagem de Luís de Camões e por um conjunto de cinco perguntas (“Quem é?”; “O que fez?”; “Quando viveu?”; “Onde viveu (vive)?; “Com quem viveu (vive)? ”), apresentadas na parte inferior do acetato. Com esta transparência, pretendia-se apresentar o problema que serviria de ponto de partida para o diálogo.

A segunda transparência era constituída por um texto intitulado “Nasci pobre e pobre sou”, retirado do manual dos alunos. A partir da leitura deste texto, era possível encontrar informação para responder às questões formuladas na primeira transparência. O facto de o texto ser apresentado em acetato, apesar de constar do manual dos alunos, prendeu-se com a necessidade de utilizar um meio que facilitasse ao professor e aos alunos a localização da informação relevante para a resolução do problema e que permitisse, de uma forma simples e visível para todos os alunos ao mesmo tempo, exemplificar como é que essa informação podia ser destacada, utilizando o sublinhado. Sobre a transparência contendo o texto, foi colocado um acetato limpo para ser possível fazer emendas ao sublinhado e reutilizar a transparência com o texto noutras sessões.

O professor utilizou também, como guião para a preparação da sessão, um conjunto de textos designados por “Documentos de apoio ao professor”, em que eram apresentados os fundamentos teóricos relativos à importância da leitura para a recolha de informação, às instâncias intervenientes na leitura, às modalidades de leitura a utilizar para a recolha de informação e às estratégias associadas à leitura funcional, nomeadamente o SIR e a TDN.

Estes documentos destinavam-se a facilitar ao professor envolvido na leccionação da unidade didáctica a revisão dos principais conceitos a serem trabalhados com os alunos ao longo das várias sessões.

A segunda actividade consistia num exercício de resolução de um problema, apresentado pelo professor, a partir da recolha de informação, feita pelos alunos com a sua ajuda, com base num texto por ele fornecido. Esta actividade desenvolveu-se ao longo de parte de uma sessão de noventa minutos e correspondia à segunda actividade da primeira unidade didáctica da experiência.

Durante a sua realização foram utilizados os seguintes materiais: uma transparência, uma ficha contendo um texto e uma outra apresentando a proposta de trabalho.

A transparência incluía uma pergunta apresentada na parte superior do acetato (“Que aspectos caracterizam, de forma mais marcante, o século XVI em Portugal?”) e uma imagem representando a capa da primeira edição de “Os Lusíadas”, apresentada na parte inferior. Tinha por finalidade apresentar o problema que deveria ser resolvido pelos alunos, utilizando as estratégias de sublinhar a informação relevante e tomar notas (cf. Anexo 2).

Uma das fichas utilizadas apresentava um texto sobre o Renascimento em Portugal e destinava-se a fornecer informação que permitiria resolver o problema proposto (cf. Anexo 2).

A outra ficha incluía a pergunta que tinha sido apresentada na transparência e um conjunto de indicações relativas ao trabalho que os alunos deveriam realizar para resolverem o problema apresentado: registo dos dados de identificação da fonte de informação utilizada; tomada de notas a partir da leitura do texto; organização da informação seleccionada, implicando a enumeração dos principais tópicos, a hierarquização das ideias – principais e secundárias – e a elaboração de um esquema; resolução do problema proposto (cf. Anexo 2).

A terceira actividade consistia numa sistematização mais formal, mediante a análise de transparências. Os alunos foram convidados a reflectir, conjuntamente com o professor, sobre a importância de diferentes estratégias para uma melhor compreensão dos textos escritos. Estava em causa a valorização, por parte do estudante, da utilização das estratégias em estudo. Esta valorização passava pela reflexão sobre a possibilidade de aplicar as estratégias em diferentes situações da vida do indivíduo: enquanto estudante e, posteriormente, enquanto cidadão, na sua vida activa.

Durante a realização desta actividade foram utilizados um conjunto de seis transparências e uma ficha.

As transparências (cf. Anexo 2) davam resposta às questões apresentadas no quadro que se segue. Estas respostas decorriam das conclusões da Actividade 1 e da Actividade 2, anteriormente apresentadas.

Leitura SIR TDN

1 – Importância da leitura para recolha de

informação. 1 - Em que consiste? 1 - Em que consiste?

2 - Modalidades da leitura (a utilizar para a recolha de informação). 2 - Finalidades do SIR (Para quê?) 2 - Finalidades da TDN (Para quê?) 3 – Modalidades 3 - Modalidades a) Sublinhar o quê? a) Tirar notas de quê?

b) Como? b) Como?

A informação contida nestas transparências foi também apresentada aos alunos numa ficha (cf. Anexo 2), onde eles poderiam sublinhar informação importante e tomar notas, ao longo da apresentação.

Esta actividade correspondia à terceira actividade da primeira unidade didáctica da experiência e desenvolveu-se, juntamente com a segunda actividade, ao longo de uma sessão de noventa minutos.

O segundo momento da “unidade mista” consistia na realização de uma actividade, envolvendo a aplicação, a vários textos, das estratégias de recolha e tratamento de informação escrita que se previa serem trabalhadas durante a experiência (sublinhar informação relevante e tomar notas).

Com essa actividade, pretendia-se que os alunos, organizados em pequenos grupos, seleccionassem textos relevantes para a resolução de determinados problemas propostos pelo professor, aplicassem estratégias de recolha e tratamento de informação, redigissem um texto apresentando a solução para os problemas propostos, apresentassem o trabalho realizado aos outros elementos da turma e ao professor e o reformulassem de seguida, com base nas críticas feitas pelos restantes alunos e pelo professor.

Durante a realização desta actividade, foram utilizados vários textos, distribuídos por diversos documentos de trabalho (cf. Anexo 2).

Cada uma das três primeiras fichas distribuídas pelo professor era constituída por um texto comum a todas elas, um ou dois textos comuns a uma ou às duas outras fichas e dois ou três textos que nenhuma outra apresentava. Uma vez que a turma era constituída por vinte alunos, foi dividida em cinco grupos de quatro alunos. Duas destas fichas foram distribuídas a dois grupos e a terceira apenas a um grupo.

Cada uma das três primeiras fichas de trabalho era constituída por uma pergunta diferente, por um conjunto de instruções comum às três fichas e por um conjunto de indicações, também comum às três fichas, relativas ao trabalho que os alunos deveriam realizar para resolverem o problema apresentado (registar os dados de identificação das fontes de informação utilizadas; elaborar notas a partir da leitura dos textos propostos; organizar a informação seleccionada, enumerando os principais tópicos, hierarquizando as ideias – principais e complementares, e elaborando esquemas; resolver o problema).

A quarta ficha de trabalho consistia na proposta de reformulação do trabalho feito por cada grupo, com base nas críticas do professor e dos restantes alunos.

Esta actividade desenvolveu-se ao longo de duas sessões de noventa minutos e correspondia ao que estava previsto como quarta actividade da primeira unidade didáctica da experiência.

A unidade para validação das actividades e dos materiais, que acabámos de apresentar, foi implementada no ano lectivo de 2003/2004, numa turma do 9º Ano de Escolaridade, com vinte alunos, e os dados recolhidos impuseram-nos alguns ajustamentos na versão inicial da planificação das duas unidades didácticas implementadas no âmbito da experiência e nos materiais utilizados na sua concretização.

3.1.2. Realização da experiência

A experiência foi realizada durante o ano lectivo de 2004/2005, nas aulas de Português de uma turma do 9º Ano de Escolaridade. Decorreu ao longo de um conjunto de sessões de trabalho, agrupadas em duas unidades didácticas.

Estas sessões tiveram lugar durante o tempo normal de aulas, dado que os objectivos deste estudo assim o impunham. Por conseguinte, as aulas foram leccionadas pelo professor de Português da referida turma, embora orientadas em função das necessidades da experiência, tal como aparecem descritas na secção referente às planificações das duas unidades didácticas.

Antes de se dar início à leccionação da primeira unidade, foi aplicado um teste, apresentado aos alunos como ficha de trabalho, para não causar reacções negativas por parte destes. Este teste foi novamente aplicado no final da primeira unidade, sendo dito aos alunos que deveriam realizar este trabalho com seriedade, dado que se destinava a verificar a aprendizagem ocorrida ao longo da unidade didáctica. No final da segunda unidade, foi aplicado um teste diferente.

Após a aplicação do primeiro teste, antes da realização da experiência, foi aplicado o primeiro questionário. Estabelecemos esta ordem, para que a formulação de algumas perguntas do questionário não influenciasse a resposta ao primeiro teste. De facto, embora no teste estivessem em questão competências e conhecimentos e no questionário se tratasse de representações, poderia haver algumas interferências.

Depois da aplicação do último teste, após a conclusão da experiência, ainda foi aplicado um segundo questionário.

A implementação da experiência foi antecedida por um conjunto de reuniões com o professor que leccionou as aulas, em que foram discutidos os objectivos da experiência, as condições em que esta deveria decorrer, os planos das unidades didácticas e a sua adaptação à planificação da escola e às características dos alunos da turma e ainda os materiais a utilizar.

Entre as diferentes sessões, houve também reuniões, em que o professor relatava a forma como tinha decorrido a sessão anterior e que trabalho tinha sido efectivamente realizado e explicava que problemas tinham surgido. Também eram discutidos os ajustamentos a fazer relativamente ao trabalho que se seguiria. Estas reuniões eram ainda utilizadas para o professor nos facultar o acesso aos trabalhos realizados pelos alunos.

De facto, no fim de cada sessão ou conjunto de sessões em que foram realizados trabalhos práticos, o professor recolheu-os, para serem fotocopiados, de forma a permitir a sua posterior análise.

Uma vez concluída a experiência, foi feita uma entrevista ao professor que leccionou as aulas, a fim de obter dados relativos às suas representações sobre o impacto das actividades levadas a cabo no desenvolvimento de competências de leitura funcional nos alunos nela envolvidos.