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5 O CASO DA FAZENDA CERRO DO TIGRE (FCT)

5.1 Descrição da Empresa

A Fazenda Cerro do Tigre possui 2.270,9 ha e está inserida em uma região de várzeas e coxilhas sita no Tigre, segundo distrito do município de Alegrete, no Estado do Rio Grande do Sul. Alegrete ocupa uma área de 7.936 km², sendo o maior município em extensão territorial do Estado, situando-se na fronteira oeste do mesmo. Em termos geográficos, pode-se dizer que a Fazenda pertence à região do Pampa da América do Sul. Esta região caracteriza-se por solos planos ou levemente ondulados, com abundante oferta de água para irrigação, o que facilita o cultivo do arroz irrigado.

A FCT é uma propriedade que vem passando de geração para geração da família Dorneles, de Alegrete, estando envolvida com a orizicultura por mais de 80 anos. O Sr.

Eurico Faria Dorneles é o proprietário da Fazenda Cerro do Tigre, estando no seu comando há cerca de 40 anos. Contudo, após os filhos Dóris e Júnior manifestarem o desejo de atuarem profissionalmente na empresa, o Sr. Eurico passou aos mesmos a responsabilidade de administrar a FCT. O Sr. Eurico também é Presidente do Clube do Plantio Direto de Arroz Irrigado e da Cooplantio23, é Diretor da Farsul24 e do Sindicato Rural de Alegrete. A empresa conta com mais quatro gestores, a saber:

• Ivo Mello, 37 anos, Agrônomo desde 1986, responsável pela área orizícola (produção, beneficiamento, armazenagem). Além destas atividades, Ivo Mello também faz parte das seguintes entidades: Sindicato Rural de Alegrete, Conselho do Desenvolvimento Agropecuário de Alegrete, Associação dos Agrônomos de Alegrete, Codema25, Cooplantio,

23 Cooplantio: Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto.

24 Farsul: Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul.

25 Codema: Conselho de Desenvolvimento do Meio Ambiente - FIERGS.

Consultor do Centro Nacional de Tecnologias Limpas para a Agropecuária, Sócio-produtor da Coolméia26, atua como perito no Fórum de Alegrete e presta assessorias técnicas para outras empresas.

• José Eurico Dorneles Júnior, 32 anos, Zootecnista desde 1992, responsável pela produção, comercialização e manejo da pecuária de corte e ovina. Responsável pelas culturas alternativas na coxilha, tais como, milho, soja, sorgo, pastagens, além da produção de morangos ecológicos (sem nenhum insumo químico).

• Dóris Maria Fischer Dorneles, 35 anos, Agrônoma desde 1986, responsável pela parte administrativa da empresa. Faz o relacionamento com os bancos, cuida da folha de pagamento e da contabilidade. Também atua como relações públicas da empresa com a comunidade. Exerce suas atividades no Escritório da Fazenda, localizado no centro da cidade de Alegrete.

• Ana Emília Dalla Valle Dorneles (Mia), 29 anos, Agrônoma desde 1992, responsável pela compilação dos dados para o gerenciamento dos custos.

Além dos quatro gestores (Ivo, Júnior, Dóris e Mia), a empresa possui mais 32 funcionários, assim distribuídos: escritório (2); lavoura (26); residências da Fazenda (4).

Relativamente ao nível de instrução destes colaboradores, tem-se o seguinte: 5 são analfabetos; 20 têm 1º grau incompleto; 2 possuem 2º grau incompleto; 2 já concluíram o 2º grau; 2 têm o 3º grau incompleto; e 1 já concluiu o 3º grau.

Os principais produtos da empresa são o arroz agulhinha, que é comercializado com casca; e o arroz cateto integral ecológico, que é comercializado já beneficiado e embalado. Estes processos (beneficiamento e embalagem) são feitos dentro da própria FCT. A comercialização do produto diferenciado (o arroz integral ecológico), atualmente, é feita através da Coolméia. A produção está assim dividida, conforme Quadro a seguir:

26 Coolméia: Cooperativa Ecológica de Porto Alegre.

Produtos Produção, por kg. Este produto tem um preço superior ao do arroz

Quadro 8. Produtos, produção, preços obtidos e faturamento bruto da FCT para a produção de arroz, ano-base 1996/97.

Fonte: Pesquisa de campo.

Os principais clientes para o arroz agulhinha com casca são a Éffem Produtos Alimentícios e a empresa de Onélio Pileco. O arroz cateto integral ecológico, que responde por quase 3% da produção da empresa, é vendido, principalmente, para a Coolméia. Este produto já sai embalado com a marca da Coolméia e com selo indicativo de que é produzido na FCT.

Cabe salientar que para a FCT fornecer arroz para a Éffem, foi preciso instalar uma tecnologia diferente para a secagem do arroz. A Éffem não aceita o arroz secado com fumaça, pois a mesma deixa o produto impregnado com um odor característico. Devido ao alto padrão de qualidade, exigido pela Éffem, ocorreu uma parceria entre as duas empresas que possibilitou a mudança na tecnologia de secagem do arroz.

Os principais fornecedores da empresa são Calcário Vigor; Adubo e Fertilizantes Piratini; Cooplantio; Semeato, Jacto, SLC Colheitadeiras e Pneus Witt.

Cerca de 720 ha, dos 2.270,9 ha de propriedade da Fazenda, foram destinados ao cultivo de arroz, ano-base 1997/98. Os hectares restantes estão distribuídos da seguinte maneira, incluindo-se aí área arrendada, conforme Quadro a seguir:

27 Com relação ao preço para o consumidor final do arroz tipo commodity, encontrou-se que nas principais redes de supermercado de Porto Alegre, os preços por 1 kg do produto variaram entre R$ 0,75 a R$ 0,99, em dezembro de 1997.

Relativamente ao arroz diferenciado (cateto integral) encontrou-se uma variação bem maior. Para 1 kg deste produto, encontrou-se preços entre R$ 1,75 a R$ 2,76, em dezembro de 1997. Nesta mesma época, o preço da Coolméia para o arroz cateto integral orgânico estava em R$ 1,32 e para o arroz agulhinha integral orgânico, R$ 1,03. Estes valores denotam que o arroz diferenciado recebe um preço maior, até mesmo na Cooperativa de Produtores (Coolméia).

Descrição da área Hectares

Área de propriedade 2.270,9

Área arrendada 580

Área total 2.850,9

Preservação/Benfeitorias 373,8

Área aproveitável 2.477,1

Área com orizicultura 720

Área com cultura de grãos 350

Atividade granjeira/aquícola 4,2

Florestas 30,5

Pastagens 1.372,40

Quadro 9. Distribuição das áreas para exploração agropecuária, ano-base 1997/98, na FCT.

Fonte: Pesquisa de campo.

Atualmente a empresa está utilizando seis tecnologias diferentes para o plantio de arroz, conforme explicitado no Quadro a seguir:

Sistemas de plantio Hectares % Obs.

1 cultivo mínimo 280 ha 39% Utilizado desde 1985.

2 pré-germinado 200 ha 28% 3º ano de uso

3 convencional 96 ha 13% ainda é utilizado conforme o tipo da área

de plantio.

4 plantio direto na palha 80 ha 11% desde 1984

5 transplante de mudas 60 ha 8% 1º ano de uso

6 rizipiscicultura 4 ha 1% 1º ano de uso

Total de ha a serem

plantados na safra 97/98 720 ha 100%

Quadro 10. Sistemas de plantio por ha utilizados na FCT, ano-base 1997/98.

Fonte: Pesquisa de campo.

No ano-base 1996/97, a FCT investiu R$ 27.000,00, cerca de 2,8% de seu faturamento bruto, em treinamento de recursos humanos (R$ 4.330,00) e compra de novas máquinas, desenvolvimento de experiências e testagens de novas tecnologias (R$ 22.670,00).

A FCT, tendo em vista seu caráter pioneiro, suas atitudes perante a comunidade e seus produtos, já foi agraciada com diversos prêmios e troféus, bem como seus gestores. Neste sentido, veja relação de alguns destes prêmios no Anexo H, p. 160.