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Após examinar-se diversos tipos de métodos de pesquisa, optou-se pelo estudo de caso. O estudo de caso é uma estratégia abrangente de pesquisa, pois possibilita a utilização de múltiplas fontes de evidência. Além disso, recomenda-se sua utilização quando podem existir muito mais variáveis de interesse do que evidenciam os dados e quando faz-se necessário realizar desenvolvimento prévio de proposições teóricas, a fim de guiar a coleta e análise dos dados (Yin, 1994, p. 13).

Embasou-se a construção do desenho do estudo de caso no referencial teórico proposto por Robert K. Yin (1994). Este autor é Presidente da COSMOS Corporation, uma empresa especializada em realizar pesquisas sobre políticas sociais, além de atuar na área de gestão da tecnologia.

Conforme Yin (1994), precisa-se observar três fatores importantes quando pretende-se utilizar o estudo de caso como método de pesquisa. Estes fatores são (1) o tipo da pergunta de pesquisa (perguntas do tipo como e por que); (2) a extensão do controle que o pesquisador tem sobre os comportamentos dos eventos atuais (nenhum controle); (3) o grau do foco na contemporaneidade em oposição aos eventos históricos (o tema é contemporâneo) (Yin, 1994, p. 5). Como este estudo adequa-se aos critérios estabelecidos por Yin (1994), tem-se aí a justificativa para a escolha deste método.

Conforme Yin (1994), existem quatro tipos relevantes de desenhos de pesquisa, sendo que o desenho adotado para este estudo de caso corresponde ao Tipo 2, conforme mostra a Figura 9, a seguir:

Estudo de um caso Estudo múltiplo de casos

Holístico

(uma unidade de análise) TIPO 1 TIPO 3

Inserido

(múltiplas unidades de análise) TIPO 2 Este é o tipo do

presente estudo de caso

TIPO 4

Figura 9. Tipos básicos de desenho para estudos de caso.

Fonte: Cosmos Corporation apud Yin, 1994, p. 39.

Segundo Yin (1994, p. 20), os componentes mais importantes do desenho de pesquisa do estudo de caso são os seguintes: (1) as perguntas do estudo; (2) suas proposições ou os propósitos do estudo; (3) suas unidades de análise; (4) a ligação lógica dos dados com as proposições; e (5) os critérios para interpretar as descobertas. Estes componentes do desenho de pesquisa serão abordados a seguir.

(1) As perguntas do estudo

“A essência de um estudo de caso, a tendência central entre todos os tipos de estudo, é que ele tenta iluminar uma decisão ou conjunto de decisões: por que elas foram tomadas, como elas foram implementadas e com que resultado” (Schramm apud Yin, 1994, p. 12).

Este estudo de caso possui quatro perguntas-chave. A primeira delas, está relacionada com o objetivo geral do trabalho. As outras três perguntas estão relacionadas com os objetivos específicos, como pode ser visto no Quadro a seguir:

PERGUNTAS DO ESTUDO DE CASO OBJETIVOS DO ESTUDO DE CASO

Objetivo Geral:

• Como a adoção da PML pode gerar inovação e

competitividade para a empresa que a adota? Identificar como a adoção da PML pode gerar inovação e competitividade para a empresa que a adota.

Objetivos Específicos:

• Por que a empresa está adotando a PML? 1. Identificar por que a PML está sendo adotada na empresa.

• Como a PML está sendo implementada? 2. Descrever como a PML está sendo implementada.

• Que resultados a empresa pode obter com a implementação da PML?

3. Identificar os resultados, tangíveis e intangíveis, obtidos com a implementação da PML.

Quadro 6. As perguntas e os objetivos geral e específicos do estudo de caso.

(2) A proposição do estudo

Para resolver-se o problema de pesquisa proposto, qual seja - Como a adoção da PML pode gerar inovação e competitividade para a empresa que a adota? - estabeleceu-se como objetivo geral do presente estudo de caso identificar como a adoção da PML pode gerar inovação e competitividade para a empresa que a adota.

Para realizar-se a identificação acima, fez-se necessário estabelecer-se os propósitos do estudo. Ou seja, o quê pretendeu-se investigar, visando-se responder ao problema de

pesquisa proposto. Os propósitos do estudo estão vinculados aos objetivos específicos de pesquisa, já estabelecidos anteriormente. Assim, estipulou-se os parâmetros22 a seguir, como sendo os balizadores da pesquisa de campo. Conforme pode ser observado no Quadro abaixo, cada objetivo específico possui seu conjunto de parâmetros de investigação.

PROPÓSITOS DO ESTUDO DE CASO

Objetivo Específico (1) e seus parâmetros de investigação Identificar por que a PML está sendo adotada na empresa.

1. Identificar quais são as motivações dos gestores da empresa para adotar a PML;

2. identificar quais são as expectativas dos gestores, com relação à adoção da PML;

3. identificar características empreendedoras nos gestores da empresa (empreendedorismo);

4. identificar o quê os gestores estão vislumbrando como novas oportunidades de negócios, propiciadas pela PML;

Objetivo Específico (2) e seus parâmetros de investigação Descrever como a PML está sendo implementada.

5. identificar quais são as estratégias competitiva, tecnológica e ambiental da empresa;

6. identificar quais são as fontes de geração das inovações de processo, produto e gerencial ocorridas na empresa;

7. identificar qual é a trajetória tecnológica da empresa;

8. identificar quais são os tipos de barreiras (internas e externas) à implementação da PML;

Objetivo Específico (3) e seus parâmetros de investigação

Identificar os resultados, tangíveis e intangíveis, obtidos com a implementação da PML.

9. identificar, utilizando a metodologia Ecoprofit e/ou outros auxílios, alguns resultados tangíveis com a implementação da PML;

10. identificar, por meio de entrevistas com pessoas que tenham relacionamento com a empresa (stakeholders), alguns resultados intangíveis que a mesma possa estar obtendo;

11. corroborar ou não o que diversos autores advogam, ou seja, que mudanças no modo dominante de pensar e agir dos empresários com relação as questões ambientais podem resultar em vantagem competitiva para a empresa.

Quadro 7. Propósitos do estudo de caso, objetivos específicos da pesquisa e seus parâmetros de investigação.

(3) As unidades de análise do estudo

A empresa e seus gestores constituem-se nas unidades de análise desta pesquisa, conforme estabelecido na Figura a seguir:

22 Define-se parâmetro, para este trabalho, como sendo uma variável que, numa relação determinada, se atribui um papel particular e distinto do das outras variáveis (DAE, 1994) que possam estar envolvidas nesta relação.

EMPRESA Unidade Principal

A empresa é a unidade principal de análise, pois as questões do estudo que exigiram maior esforço de busca das evidências referem-se à

ela.

Assim, pretendeu-se identificar como a PML está sendo implementada e que resultados tangíveis e intangíveis podem ser observados.

GESTORES Subunidade

A empresa compõe-se de vários gestores e estes são a subunidade de análise. Pretendeu-se identificar por que os mesmos estão adotando a

PML na Fazenda Cerro do Tigre.

Figura 10. Unidades de análise do estudo de caso.

Estudou-se a Unidade Principal (empresa), a partir do ano de 1986, ano da entrada do Eng. Agrônomo Ivo Mello na mesma. Já a Subunidade de análise, constitui-se dos cinco gestores da empresa Fazenda Cerro do Tigre (FCT), quais sejam, Srs. Eurico Faria Dorneles, Ivo Mello e José Eurico Dorneles Júnior e Sras. Dóris Maria Fischer Dorneles e Ana Emília Dalla Valle Dorneles.

(4) A ligação lógica dos dados com os propósitos do estudo

Esta ligação foi feita através da teoria abordada no presente estudo. Portanto, o referencial teórico constitui-se na base fundamental da construção do estudo de caso e de suas conclusões.

Para realizar-se a busca dos dados e fatos, elaborou-se um roteiro básico de entrevistas, a partir da teoria estudada (Anexo G, p. 153). Também realizou-se algumas perguntas com respostas estruturadas em escala Likert, com pontuação de 1 a 5. Uma destas escalas buscou identificar características empreendedoras nos gestores da FCT. A outra, que foi aplicada em apenas uma das gestoras, buscou identificar sua opinião sobre barreiras internas e externas à implementação da PML. Salienta-se que aplicou-se esta escala em apenas um gestor, por ter-se compreendido que existe uma consonância de pensamentos entre eles e que seria suficiente apenas a opinião de um, como representante do pensamento da empresa.

Aplicou-se, também, em todos os gestores da FCT um teste sobre motivação. Com os dados coletados, realizou-se comparação com o que foi encontrado na teoria, a fim de buscar-se os pontos de interseção.

Para a busca das evidências, utilizou-se diversas fontes de informação, tais como, observação direta; entrevistas em profundidade sistemáticas; aplicação de teste sobre motivação em todos os gestores; aplicação de perguntas cujas respostas foram estruturadas em escala Likert de 5 pontos; coleta de informações sobre a empresa em fontes secundárias (periódicos, revistas, banco de dados de jornal); entrevistas com clientes, fornecedores e instituições que relacionam-se com a mesma (os terceiros); utilização de materiais escritos pelos próprios gestores; assistência de palestras proferidas pelos gestores; assistência de filmes e documentários relativos à empresa; etc.

Para o levantamento das informações, realizou-se, ao todo, três viagens ao município de Alegrete, que dista 450 km de Porto Alegre, mais 50 km, até a Fazenda Cerro do Tigre. A primeira visita foi em agosto, a segunda em setembro e a última, em novembro de 1997. Ao todo, foram gastos seis dias em visitas à empresa. Por ocasião dessas visitas, teve-se a oportunidade de desfrutar-se do convívio familiar dos gestores da FCT. Comenta-se que os dias começavam muito cedo, por volta das 6h30min, e terminavam muito tarde, por volta da 1h da manhã. Nas visitas buscou-se acompanhar, principalmente o gestor Ivo Mello, em suas tarefas diárias.

Durante as estadas em Alegrete, participou-se de eventos no Sindicato Rural do Município e de um Dia de Campo em outra propriedade rural. Também realizou-se entrevistas com pessoas da comunidade que relacionam-se com os gestores da FCT. Todas estas vivências foram muito enriquecedoras para conhecer-se o meio onde a empresa está inserida, bem como, serviram como fontes de informação e de observação. Desta forma, reuniu-se uma considerável quantia de dados e fatos sobre a FCT e seus gestores.

Faz-se importante esclarecer que um dos objetivos das entrevistas com os terceiros foi realizar-se uma triangulação com os dados e fatos coletados. Esta atitude visou suprimir ou aliviar o problema do viés de pesquisa, durante a coleta dos mesmos.

Visando conferir maior fidedignidade ao estudo, organizou-se um banco de dados, composto dos seguintes materiais: fitas cassete com cerca de 25 horas de gravação de todas as entrevistas; transcrição deste material; fita de vídeo com gravação realizada pela pesquisadora; fita de vídeo de entrevista realizada pela RBS TV com esta pesquisadora e com o gestor Ivo Mello - da FCT - para a campanha “Lixo, mais do que lixo”, promovida por este veículo de comunicação, tratando sobre a questão da PML; fotografias tiradas pela

pesquisadora; artigos escritos pelo gestor Ivo Mello; cópia de artigos de jornais e revistas sobre a FCT e seus gestores.

(5) Os critérios para interpretar as descobertas do estudo

A resposta ao problema de pesquisa - Como a adoção da PML pode gerar inovação e competitividade para a empresa que a adota? - foi dada através da comparação dos dados coletados com o referencial teórico do estudo. Portanto, torna-se a comentar que o referencial teórico foi o balizador deste estudo de caso, bem como de suas conclusões.

Relativamente às limitações do estudo realizado e às sugestões para estudos futuros, salienta-se que encontram-se mencionadas na Parte II do trabalho, na seção Conclusões e Recomendações.

No próximo capítulo (Parte 2), que é o núcleo deste trabalho, trata-se do estudo de caso. Esta pesquisa foi feita na empresa Fazenda Cerro do Tigre (FCT), sita em Alegrete, RS.

O estudo de caso tem por balizadores a teoria que foi discutida na Parte 1 do trabalho e os três objetivos específicos estabelecidos, com seus respectivos parâmetros de investigação (ver Quadro 7, p. 56). Também encontra-se neste capítulo as conclusões e recomendações do estudo.

PARTE 2