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3 O AGRIBUSINESS

3.6 Orizicultura, PML, inovação e competitividade

Os mercados agrícolas têm sido apontados como exemplos de mercados competitivos. De fato, pode-se inclusive observar condições próximas às do mercado teórico de concorrência perfeita: “grande número de produtores, produtos relativamente homogêneos, relativa facilidade de novos ofertantes e informações tecnológica e econômica bastante acessíveis à maioria dos participantes (Matuella et al., 1995, p. 34).

Analisando-se a cadeia do agribusiness, pode-se dizer que os produtores possuem um limitado poder de barganha entre os fornecedores de insumos e os compradores de seu produto final (Matuella et al., 1995; Rodrigues in Aidar, 1995).

Entretanto, faz-se necessário conhecer os “mecanism os que os componentes da cadeia agroindustrial utilizam para desenvolver suas estratégias competitivas e as condições ambientais que as condicionam é fator ponderável para avaliar-se as reais condições de competitividade no mercado” (Matuella et al., 1995, p. 35).

Desta forma, “obter vantagem competitiva requer investimento próprio e esforço permanente para mantê-la” (Mattuella et al., 1995, p. 36). Entretanto, ressalta-se que as inovações possíveis não situam-se apenas no campo dos processos de produção ou dos produtos finais. Conforme Mattuella et al. (1995), as inovações gerenciais também são necessárias para que as empresas consigam manter sua competitividade.

Sabe-se que o produto arroz é uma commodity19, portanto, seu preço é estabelecido em bolsas de mercadorias internacionais. No intuito de descommoditizar o produto arroz e ficar livre dos preços estabelecidos pelo mercado internacional, faz-se necessário agregar-lhe valor (Giordano, 1995, Sanint, 1997).

Para agregar valor ao mesmo, existem algumas alternativas, tais como, utilizar novas tecnologias visando realizar uma PML nas lavouras; vender o produto como orgânico ou ecológico; possuir um selo verde ou ambiental20; pôr uma marca no produto; industrializá-lo em forma de biscoitos de arroz ou bolachas de arroz; arroz com sabores; arroz pré-pronto; e outras inovações. Conforme estudos realizados nos EUA, a tendência mundial é que a matéria-prima represente cada vez menos no valor agregado dos produtos que o consumidor adquire (USDA, US Rice Council, 1993 apud Sanint 1997). Ou seja, a industrialização é que propicia a agregação de valor ao produto.

Relativamente à utilização de tecnologias para realizar uma PML, encontrou-se na literatura diversos exemplos para a área orizícola que podem ser consideradas como

“tecnologias mais limpas” (TML). Eis algumas delas: cultivo mínimo; plantio direto;

sistematização de solos; plantio de pré-germinado; transplante de mudas; rizipiscicultura;

19 Commodity: mercadoria. Que é vendido para a obtenção de lucro. O termo é muitas vezes usado para descrever coisas que podem ser graduadas, como café, algodão, açúcar etc., e que são compradas e vendidas numa bolsa de mercadorias, inclusive para entrega futura (DIC, 1996). Também está inserida neste conceito a noção de que são produtos padronizados, de baixo valor unitário (Ferraz et al., 1995) e baixo valor agregado.

20 “Estima -se que nos próximos anos os selos verdes deverão estar presentes na maioria dos produtos vendidos. Estes selos têm a função de promover o uso de métodos de produção menos danosos ao meio ambiente; de prestar um aval dos aspectos positivos do produto em relação ao meio ambiente; e, de parametrizar uma medida de segurança dos mesmos. Desta forma, a qualidade ambiental passa também a ser incorporada na qualidade do produto” (Nascimento et al., 1997, p. 43).

controle de pragas através do Manejo Integrado de Pragas (MIP); alelopatias21; e, biotecnologia (ver Anexo F, p. 149, detalhamento destas TML).

Por que pode-se considerá-las como TML? Porque depreende-se, pela literatura, que estas tecnologias visam prevenir e/ou resolver problemas ambientais e porque seguem o princípio de proteger e/ou conservar o meio ambiente, evitando o desperdício de recursos e a degradação ambiental, conforme definição de TML proposta por Lemos (1998).

Isto significa que já existem alternativas tecnológicas (Secretaria da Coordenação e Planejamento do RS, 1997) para realizar-se uma PML de arroz. Portanto, a PML é uma das estratégias que pode ser adotada pelos orizicultores, visando obter vantagem competitiva.

Conforme Carmo, Comitre e Dulley (1989), a Agricultura Convencional (AC), relativamente ao seu desenvolvimento tecnológico, encontra-se amadurecida e é apoiada pela política agrícola oficial. Entretanto, a Agricultura Alternativa (AA) encontra-se em seu início de desenvolvimento técnico, e não conta com tal apoio em nível significativo.

Neste sentido, faz-se necessário salientar que quando novas tecnologias, especialmente àquelas que encontram-se no início de seu desenvolvimento técnico, começam a ser implementadas em empresas da área agrícola, estas tecnologias passam por um processo de adaptação. Na fase inicial da curva de adaptação das mesmas os custos tendem a ser maiores e a produtividade tende a cair, pois tudo é novidade ao lidar-se com a nova tecnologia.

Entretanto, com as safras subseqüentes os problemas vão sendo contornados e a nova tecnologia começa a tornar-se familiar para a empresa. É nesta fase que os custos começam a reduzir-se e a produtividade começa a elevar-se novamente. Portanto, as quedas iniciais de produtividade e os custos iniciais mais elevados não devem constituir-se em barreiras à não implementação da PML, tendo em vista que a demanda por produtos ecológicos está em fase de expansão. Aqueles que forem os primeiros a dominar os problemas relativos às novas tecnologias tendem, também, a ser os primeiros a colher o fruto desta vantagem competitiva.

O mercado internacional (principalmente países da Europa e América do Norte) está começando a pedir produtos ambientalmente corretos, produzidos sem agredir ao meio ambiente e à saúde humana (Rodrigues, 1992; Escosteguy, 1997). O consumo de produtos ditos “orgânicos”, “ecológicos” ou “naturais” está aumentando, em virtude de uma tomada de

21 Alelopatia: processo pelo qual as substâncias químicas produzidas por uma planta quando liberadas no ambiente, podem afetar outras (Rodrigues e Almeida, 1995, p. 656).

consciência, por parte dos consumidores, de que a saúde é um bem precioso e precisa ser mantida e cuidada (Barriga, 1995; Loro apud Giordano, 1995; Torres, 1996). Ou seja, a questão da segurança alimentar é uma das mais importantes tendências dos consumidores (Zylbersztajn, 1993; Escosteguy, 1997).

Assim, para aqueles que resolverem empreender e inovar, eis alguns dos possíveis resultados que a implementação da PML pode propiciar: diferenciação dos produtos; obtenção de melhores preços; redução de custos; superação de barreiras não tarifárias; obtenção de selos verdes; melhoria da vantagem competitiva; etc. Depreende-se, portanto, que a PML pode ajudar, também e principalmente, a descommoditizar os produtos.

Na próxima seção, trata-se do método de pesquisa utilizado na presente investigação.