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Desdobramentos das estratégias públicas e o turismo em Fortaleza

Os desdobramentos das estratégias e políticas governamentais de- monstram a relevância do turismo na produção espacial das cida- des, juntamente com os novos eventos esportivos, reforçados pelos discursos governamentais sobre os investimentos em infraestru- tura urbana. Em outras palavras, “planeja-se a cidade” muito em função do turismo.

É importante perceber a relação de continuidade entre os investi- mentos para a Copa do Mundo (intitulado PAC da Copa) e os pro- gramas anteriores, na medida em que apresentam relação direta (Prodetur/NE I, II e Nacional) e indireta (PAC) com o planejamento do território em função da turistifi cação. Observa-se, dessa manei-

ra, a trajetória de planejamento governamental: a) nos anos 1990 se inicia com o Prodetur/NE I – investimentos em infraestrutura; b) em 2003, tem-se o Prodetur/NE II; c) em 2012, o Prodetur Nacional. A última fase do programa turístico privilegia cidades do porte de Fortaleza, pois somente municípios com população igual ou supe- rior a um milhão de habitantes estavam aptos a submeter um plano individual turístico, denominado Plano de Desenvolvimento Inte- grado do Turismo Sustentável (PDITS).

Fortaleza recebeu investimentos oriundos dos planos governa- mentais de âmbito federal e estadual e posteriormente, com o Pro- detur Nacional, elaborou, na esfera municipal, seu “planejamento”, propondo a consolidação dos investimentos anteriores. O governo municipal escolheu suas ações através dos planos turístico-urba- nos. Assim, o reforço da infraestrutura urbana tinha como foco am- pliar a gama de serviços como de fi xos e fl uxos existentes na cidade, atendendo principalmente à demanda gerada inicialmente duran- te a Copa do Mundo de 2014, e vislumbrando acréscimos nos fl uxos nos anos posteriores. Concomitantemente a essas ações, o discurso econômico acerca do potencial turístico cearense e a implantação de obras de infraestrutura (notadamente em espaços litorâneos) promovem mudanças na imagem do Ceará, divulgadas tanto na propaganda ofi cial (estado) quanto na mídia local.

No Prodetur/NE I, a principal obra foi a ampliação do Aeroporto Pinto Martins. Os serviços de reforma iniciaram-se em 1996, num montante de US$ 73 milhões, tornando o aeroporto internacional – ofi cialmente classifi cado como tal em 1997, quase um ano antes mesmo de sua inauguração – e permitindo o atendimento a 2,5 mi- lhões de passageiros/ano. O aeroporto consolidou-se como o 12o maior do Brasil, com fl uxos de aproximadamente seis milhões de passageiros/ano (Infraero, 2015), dos quais três milhões são turis- tas (Setur, 2014).

O Prodetur/NE I privilegiou a cidade de Fortaleza na alocação de recursos. Uma das metas do então governo Tasso Jereissati (gestão 1995-2002) era evidente: inserir Fortaleza no hall de cidades mo- dernas e equipadas do país, concebendo o Projeto Fortaleza Atlân-

tica (CEARÁ, 2000). Ou seja, o planejamento turístico do Ceará era notadamente metropolitano, elevando Fortaleza a centro emissor e distribuidor de turistas, com infraestrutura, imagem moderna de “cidade globalizada”. Essa era a pretensão. Tal contexto refl ete os in- teresses dos grupos políticos ascendentes desde 1986, de maneira especial os empresários do Centro Industrial do Ceará (CIC). Destarte, a cidade de Fortaleza, no período de gestão de Jereissati, teve um incremento signifi cativo no número de turistas, além de investimentos privados em empreendimentos turísticos, ou seja, a principal meta do governo fora alcançada. O Ceará, principalmente Fortaleza, passou a ser um dos destinos turísticos mais importantes e conhecidos do Brasil (ARAUJO, 2013)

No Prodetur II, Fortaleza recebe mais recursos voltados ao Patri- mônio Histórico, sobretudo na restauração do Teatro Carlos Câ- mara, do Seminário da Prainha, além de investimentos diretos no fortalecimento institucional da Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) e da Secretaria de Turismo do Ceará (Setur/CE).

Através dos recursos do Prodetur Nacional são investidos US$ 100 milhões na cidade de Fortaleza em intervenções urbanas em bair- ros turistifi cados. Assim, planeja-se a reforma e a ampliação da Se- tfor, a revitalização de trechos urbanos da área central de Fortaleza (Praia de Iracema, Av. Monsenhor Tabosa, Av. Beira-Mar, Conjunto e Morro Santa Teresinha – no Mucuripe). Além disso, destacam-se também a implantação de sistema de informações e indicadores turísticos, a nova “orla” da Beira-Mar, alterações na Central de Ar- tesanato, na Praia de Iracema, e um incremento na infraestrutura da Praia do Futuro.

Quadro 1. Obras de intervenção urbana e/ou de infraestrutura na cidade de

Fortaleza (Programas turísticos, 1991 – 2015) Bairro de

Fortaleza Prodetur/NE I

Prodetur/ NE II

Prodetur

Nacional PAC COPA

Aeroporto Reforma e ampliação do Aeroporto Pinto Martins Reforma e ampliação do Aeroporto Pinto Martins Centro Restauro do Teatro Carlos Câmara e do Seminário da Prainha Praia de Iracema Revitalização urbana da orla marítima e das áreas centrais VLT Parangaba- Mucuripe, Eixo Via Expressa Mucuripe Terminal Marítimo de Fortaleza Praia do Futuro Centro de Informações ao Turista (CIT). Melhoramento na infraestrutura urbana Castelão Reforma e ampliação da Arena Castelão, da BRT Av. Dedé Brasil/Paulino Rocha/Alberto Craveiro Fonte: BNB, 2015; Gabinete da Presidência, 2015.

A escolha de Fortaleza como uma das subsedes da Copa do Mundo em 2014 incluiu a cidade na divisão de investimentos na ordem de R$ 220 bilhões. Setores e obras foram hierarquizados e tempora- lizados em duas fases iniciadas em 2011: na primeira fase, foram determinados investimentos considerados prioritários para 2014 e

relacionados diretamente com a Copa, e, na segunda, defi niram-se os desdobramentos no pós-Copa, relacionados à “infraestrutura” necessária à cidade.

No caso de Fortaleza, os investimentos foram estimados em R$ 20 bilhões e assim distribuídos: mobilidade urbana (VLTs, BRTs, vias urbanas); reforma e ampliação de terminal de passageiros do Ae- roporto Pinto Martins; construção do terminal marítimo no Mucu- ripe; reforma do estádio Governador Plácido Castelo, conhecido como “Castelão”, única obra totalmente concluída (Quadro 1). Consolida-se esse planejamento governamental nas áreas propí- cias e/ou relevantes para a atividade turística em Fortaleza. As áreas “nobres” da cidade coincidem com as áreas turísticas fortalecidas (Praia de Iracema, Mucuripe), com as submetidas a processo de ex- pansão (Praia do Futuro) e as relacionadas às novas atividades as- seguradas com a reforma da Arena Castelão, em especial os novos eventos como shows, seminários, assembleias, entre outros, além dos usos tradicionais (jogos de futebol locais e os realizados duran- te a Copa das Confederações e a Copa do Mundo 2014). Tal conjun- tura pautada em investimentos federais através dos planejamentos estaduais e municipais não excluíram “investimentos específi cos” realizados pelo Tesouro Estadual. Nesse sentido, destaca-se a cons- trução do Centro de Eventos do Ceará, inaugurado em 2012, com o custo de R$ 486,5 milhões.

Assim, novas dinâmicas e mais eventos urbanos são propostos, no intuito de diversifi car o turismo em Fortaleza, atraindo outros fl uxos e fi xando a cidade como destino nacional e internacional. Reafi rmam-se esforços governamentais na busca por novas estraté- gicas turísticas objetivando a vinculação cada vez mais forte dessa atividade à lógica urbana como a imagem da cidade.

Figura 1. Investimentos e ações governamentais turísticas na cidade de

Fortaleza (1991-2015)

Fonte: IBGE (2015); MTUR (2015).