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2. CONTEXTUALIZAÇÃO

2.10 O desenho arquitetônico

O desenho arquitetônico é, em sentido estrito, uma especialização do desenho técnico normatizado voltada à execução e a representação de projetos de arquitetura. Em uma perspectiva mais ampla, o desenho de arquitetura poderia ser encarado como todo o conjunto de registros gráficos produzidos por arquitetos ou outros profissionais durante ou não o processo de projeto arquitetônico.

Diversas teorias apareceram no campo da arquitetura com a finalidade de sistematizar a metodologia do projeto. Neste contexto, o desenho constituiu parte desses tratados e ganhou força após a adesão às tecnologias digitais por parte dos arquitetos.

O desenho de arquitetura, que se manifesta como um código para uma linguagem estabelecida entre o emissor (o desenhista ou projetista) e o receptor (o leitor do projeto), tem sofrido diversas alterações, pois fatores tais como físicos, culturais, econômicos, tecnológicos e filosóficos de uma sociedade em um espaço de tempo, estão implícitos na sua conceituação e elaboração.

Historicamente, podemos definir quatro momentos importantes para o desenho de apresentação de arquitetura: o Renascimento, período entre os séculos XVIII e XIX, o Modernismo e o século XX.

O desenho começou a ser usado como meio preferencial de representação do projeto arquitetônico a partir do Renascimento. Nessa época ainda não havia conhecimentos sistematizados de geometria descritiva, o que tornava o processo mais livre e sem nenhuma normatização.

No Renascimento, o uso da perspectiva e do desenho, como um método no projeto de grandes edificações, constituiu um marco para a arquitetura; o desenho passa a ser tratado como uma ciência com a elaboração de vários tratados; aparecem os desenhos cotados com Alberti (1404- 1472) e Vincenzo Scamozzi (1552-1616). O desenho de arquitetura passa a ser representado em planta e elevação tendo como complemento a maquete. Abaixo seguem desenhos que representam o período do Renascimento.

Figura 8: Mântua, Alberti (1472) Figura 9: Villa Rocca Pisani, Scamozzi Fonte: http://www.vitruvio.ch Fonte: http://www.architecture.com

Outro importante período é o século XVIII: o pincel é introduzido no desenho de arquitetura, tornando-o um trabalho especializado; com William Chambers (1723-1796), que recorreu à técnica da aquarela para mostrar, com seus desenhos coloridos, a decoração completa da York House, estabelecendo uma nova convenção para a apresentação de projetos de arquitetura; aparece a unidade “metro” e o sistema de escalas de redução e ampliação, fazendo com que os desenhos de arquitetura fossem elaborados em proporções reais do objeto a ser corporificado e, com Gaspar Monge, idealizando o sistema de projeções ortogonais. Essa tipologia de desenho passou a ser constituída por planta, elevação e perfil, o que fez com que o desenho fosse reduzido à pura abstração sintetizando a quantidade de informações, o que as levou a ser um modelo para o Movimento Moderno. (FRAMPTON, 1987)

Com a Revolução Industrial, os projetos das máquinas passaram a demandar maior rigor e precisão e, consequentemente, os diversos projetistas necessitavam agora de um meio comum para se comunicar e, com tal eficiência, que evitasse erros grosseiros de execução de seus produtos. Dessa forma, instituíram-se, a partir do século XIX, as primeiras normas técnicas de representação gráfica de projetos, as quais incorporavam os estudos feitos durante o período de desenvolvimento da geometria descritiva no século anterior. Por

esse motivo, o desenho técnico era naquele momento considerado um recurso tecnológico imprescindível ao desenvolvimento econômico e industrial. Abaixo, segue um desenho de Chambers, o qual representa os períodos entre os séculos XVIII e XIX.

Figura 10: Seção da York House, Chambers (1759)

Fonte: http://cumincades.scix.net/data/works/att/sigradi2005_421.content.pdf

O terceiro momento, o Modernismo, é marcado pela separação do desenho de execução do desenho de apresentação: à medida que o desenho técnico atinge um elevado grau de abstração com a inserção de simbologias e destinado à execução do objeto arquitetônico, o desenho de apresentação assume um caráter mais livre, em uma tentativa de se libertar das padronizações, buscando uma correspondência com as diversas correntes culturais que afloravam nesse período. Em 1925, Le Corbusier, em seus desenhos para a apresentação do projeto da residência da Sra. Meyer, desenhou uma sequência de vinhetas para acompanhar a descrição do projeto como um passeio guiado pela casa, em uma tentativa de dar movimento ao desenho arquitetônico (MADRAZO, 1998). Abaixo, segue um desenho de Le Corbusier.

Figura 11: Corte de um apartamento padrão da Unidade de Habitação, Marselha, Le Corbusier (1946-52). Fonte: (CHING, 2002)

A mudança maior nos sistemas de expressão gráfica aconteceu nas duas últimas décadas do século XX: a utilização do computador. O computador mudou radicalmente a nossa relação com o espaço e com o acesso às informações, influenciando a arquitetura e o espaço urbano. Os seus procedimentos operacionais não são lineares como o procedimento gráfico tradicional (TAMAI, 1995): eles exigem uma percepção global mais avançada, o que significa que está modificando a maneira de se pensar o espaço. Também o intercâmbio entre os meios de comunicação, como as diferentes culturas e concepções de mundo constituem elementos geradores de um novo paradigma, denominado paradigma científico da complexidade, embasado na perda de certezas do mundo, na interdisciplinaridade das diversas ciências, sendo explicado pela ciência da informação e apresentado na arquitetura por Charles Jencks, para responder ao aparecimento de projetos complexos elaborados, com o auxílio do computador (BALTAZAR, 2002).

A sequência de produção de um projeto na qual o desenho de apresentação era um produto final foi rompida, pois hoje podemos trabalhar com a simulação do objeto arquitetônico. Sobre a relação desse novo instrumento, o desenvolvimento da informática foi de tal ordem que ela “não constitui apenas um suporte ao projeto, mas sim como um campo de estudo capaz de modificar a própria metodologia projetual, na medida em que introduz novos conceitos e práticas” e que, “o elemento integrador de todas as etapas projetuais não é mais um conjunto de representações bidimensionais, mas um modelo computacional tridimensional do objeto, chamado de modelo geométrico” (CORBUCCI, 2003).

Como o projetar é uma atividade mental, com técnicas ou processos que apóiam o seu desenvolvimento e ferramentas para a comunicação de soluções, sabemos que o ato de projetar e a forma de representar vão se diferenciar através da influência dos meios tradicionais ou dos meios digitais (KOWALTOWSKI et al, 2000). Os meios tradicionais de

representação podem ser caracterizados pela fluidez, o que propicia o estímulo da imaginação e, consequentemente, o desenvolvimento inicial de um partido arquitetônico. Já os meios digitais exigem um maior nível de abstração geométrica e de definição do partido adotado, tendo como sua principal característica um procedimento não-linear: sua expressão gráfica apresenta um controle e uma percepção global do projeto mais avançada do que as geradas pelos procedimentos gráficos tradicionais, rompendo as fronteiras entre as fases de um projeto; a representação aliou-se ao movimento levando as animações aos projetos, o que, consequentemente, ampliou as condições de produção de projetos de arquitetura.

Diferentemente dos que muitos céticos supunham, o desenho auxiliado pelo computador criaria uma padronização entre diferentes projetos.

A normatização hoje está mais avançada e completa, embora o desenho arquitetônico tenha passado a ser executado predominantemente em ambiente CAD. Por outro lado, para grande parte dos profissionais, o desenho à mão ainda é a gênese e o principal meio para a elaboração de um projeto.

Figura 12: Desenho feito com auxílio de software 3D Fonte: (JODIDIO)

2.10.1 Os Elementos do Desenho Arquitetônico

Para que a realidade do projeto seja bem representada, faz-se uso dos diversos instrumentos disponíveis no desenho tradicional, na geometria euclidiana e na geometria descritiva. Basicamente, o desenho arquitetônico manifesta-se, principalmente, através de linhas e superfícies preenchidas.

Costuma-se diferenciar no desenho duas entidades: uma é o próprio desenho e a outra é o conjunto de símbolos, signos, cotas e textos que o complementam.

As principais categorias do desenho de arquitetura são: as plantas, os cortes, seções e as elevações.

Diversas teorias apareceram no campo da arquitetura com a finalidade de sistematizar a metodologia do projeto.

Com a computação gráfica, a maquete eletrônica que possui o recurso de visualização tanto externa como interna do objeto arquitetônico, recriando a realidade, facilita a visualização e compreensão do projeto pelo cliente ao proporcionar um realismo do projeto a ser executado. Em verdade, os recursos de representação gráfica digitais vêm sanar uma lacuna existente desde os primórdios do desenho de arquitetura: os métodos de desenhos existentes com seu caráter artesanal limitador, que não proporcionavam aos leigos um entendimento correto da leitura espacial do Projeto de Arquitetura.

Considerando que alterações significativas têm se apresentado no campo do desenho após a adesão às tecnologias de informação por parte dos arquitetos, uma investigação a respeito do Desenho de Apresentação de Projetos de Arquitetura torna-se relevante, pois este desenho, que faz a comunicação entre quem projeta e o usuário, migrou de uma tipologia de desenho no campo da arquitetura para constituir-se em um elemento de integração entre as diferentes fases da produção de um projeto.

2.10.2 Linguagem do Projeto: Representação Gráfica e Comunicação Projeto-Obra

Existem três tipos de representação gráfica ligadas ao ato de projetar: (LASEAU

apud DUARTE; SALGADO, 2002)

1. A representação como olhar, ou seja, o desenho da paisagem que visualiza, interpreta e compreende o meio ambiente no qual o projeto será inserto; 2. A representação como pensamento, isto é, o desenvolvimento das abstrações

mentais acerca do produto, através de seus esboços sobre o papel;

3. A representação como comunicação, ou seja, os desenhos elaborados com o objetivo de comunicar aos profissionais e/ou clientes envolvidos no projeto, as informações necessárias para a sua elaboração, desde diagramas e dados técnicos, até as ilustrações de apresentação do produto final.

Encaixando-se o projeto executivo nessa última visão, é de extrema importância a clareza com que os dados estão sendo transmitidos para que, efetivamente, cumpra o seu papel.

Para melhor avaliação do problema, devemos analisar separadamente as sub-fases de projeto de execução e de detalhamento. Na primeira, o enfoque é a visão geral, tendo como característica desenhos com grande quantidade de informações, de tipos variados e referentes a projetos distintos (estrutura, alvenaria, instalações, esquadrias, mobiliários fixos, etc.). Já na segunda, a importância é um determinado elemento específico, caracterizando-se por informações minuciosas e com riqueza de detalhes.

Com a transferência da produção dos desenhos da prancheta para o computador, mais intensificada em meados dos anos 90 e sendo hoje quase uma questão de sobrevivência, faz-se necessário que os escritórios de arquitetura se atualizem no uso das fermentas de informática.

Levando-se em conta esse fato, além da representação gráfica, também a organização do desenho é um aspecto relevante. Quanto à organização do desenho, dois aspectos distintos devem ser levados em conta: produtividade, ou seja, a facilidade e rapidez com que as tarefas podem ser executadas, além disso, a troca de informações entre profissionais das áreas envolvidas (instalação, estrutura, paisagismo, consultoria para itens especiais, etc.). Desde o início da etapa de um projeto, a forma como será organizado em relação aos diversos componentes é vital para uma realização eficaz e direcionada para os objetivos pretendidos.

Quanto à representação gráfica, a clareza da informação está relacionada com o cuidado na escolha das espessuras das linhas, a preocupação de diferenciar informações pertinentes a campos distintos, padronização de critérios para determinadas representações e escolha apropriada de texturas e outros itens complementares.

Ainda em relação à utilização da informática, algumas precauções devem ser tomadas, pois com a visualização na tela, perde-se a noção de verdadeira grandeza do desenho. Após a impressão do desenho, podemos observar, por vezes, erros relativos à espessura da linha, as dimensões de textos, exagero de detalhes em escalas não compatíveis com os mesmos tamanhos inadequados de pranchas. É de extrema importância o domínio por parte do operador dos vários recursos do sistema, para que o resultado possa contribuir para qualidade do projeto.

2.10.3 Características de uma Ferramenta CAD

Apesar da evolução da informática ser muito rápida e dinâmica, percebe-se que o setor da construção civil não tem absorvido de forma coordenada as potencialidades tecnológicas. Os escritórios de projeto vêm mostrando um grande interesse em minimizar o

tempo de elaboração e edição de desenhos e melhorar a qualidade dos traçados, com isso melhorar a precisão gráfica, enquadrando-se, dessa forma, ao sistema CAD.

De uma maneira geral, o que se deseja de uma ferramenta CAD para a arquitetura é o apoio informatizado ao ciclo de projeto, abrangendo desde as etapas iniciais de concepção da forma, até a etapa final de elaboração da documentação gráfica para a execução.

As ferramentas CAD vão apoiar o desenvolvimento do projeto de duas formas:

1. Facilitar a incorporação de novas informações geométricas, semânticas e numéricas ao modelo, assegurando a sua consistência interna e o relacionamento com as outras informações e,

2. Permitir o compartilhamento dos arquivos, contendo o modelo do edifício entre os diferentes membros da equipe de projeto.

São funções que dizem respeito, basicamente, ao gerenciamento das informações de projeto e são dependentes da estrutura organizacional com que se está trabalhando. Com raras exceções, o movimento que caracteriza o desenvolvimento de um projeto é de forma geral, da edificação ao detalhamento para a produção; do relevante ao preciso.

A ferramenta CAD deve oferecer uma interface e um método de agregação de dados e informações gráficas ao modelo do edifico que permita, a partir das decisões gerais sobre a forma e o posicionamento dos componentes da edificação, prosseguir detalhando-os até que estejam claramente caracterizados para a construção.

O modelo deverá ir sofrendo acréscimos, complementações, revisões e supressões de dados, à medida que decisões compartilhadas com outros autores vão sendo tomadas.

2.10.4 Automatização da Produção de Desenhos

Os obstáculos para a automatização do desenho de anotações estão em sua maioria na obsolescência da norma brasileira para o desenho de arquitetura – NB-49 de 1994 – anterior ao surgimento e à disseminação de ferramentas CAD e também ànecessidade de adesão dos profissionais e empresas do setor aos padrões estabelecidos nas normas.

Nas representações de projetos elaborados manualmente, o desenho da anotação sempre foi uma das tarefas mais demoradas e tediosas. Nessas circunstâncias, a tendência era reduzir ao mínimo necessário a anotação desenhada, transferindo essas informações para tabelas e textos em outros documentos.

As possibilidades da automatização do desenho da anotação em sistemas CAD vêm inverter esse processo. Se o desenho da anotação não é mais uma tarefa separada a ser realizada pelo desenhista, já que ela pode ser automaticamente inserta no momento em que um componente da edificação é definido, a sua utilização pode e deve ser ampliada no sentido de agregar mais informações aos desenhos que formam a representação gráfica do projeto. O posicionamento da anotação no próprio desenho e não em um documento de texto ou uma tabela à parte já é uma providência que aumenta, consideravelmente, a consistência e clareza da documentação do projeto.

As anotações que fazem parte da representação do componente ou parte da edificação tanto como as entidades gráficas, são: linha, arcos, símbolos de identificação de esquadrias, numeração dos degraus de uma escada, o sentido da declividade da rampa e telhados e o padrão de hachura para indicar o material utilizado são o tipo de anotação que normalmente defini-se em norma, e a tendência passa a ser de incrementar o número de anotação acoplada de forma que estas informações adicionais aumentem o entendimento das representações e a consistência das informações do projeto.

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